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Percepções sobre ambientes aquáticos – marinho costeiros

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Sobre percepções e conceitos

4.1.4 Percepções sobre ambientes aquáticos – marinho costeiros

“Só se protege o que se ama, só se ama o que se conhece” Aloísio Magalhães A riquíssima geobiodiversidade dos oceanos, mesmo com tanto contribuição ao Planeta Terra, na condição de fornecedor de oxigênio, mediador do clima, fonte de alimentos e tantos outros serviços ambientais, não vêm recebendo os devidos cuidados pela humanidade. A

biodiversidade marinha apresenta inúmeros problemas devido à ação antrópica desde tempos remotos. A qualidade socioambiental dos ambientes marinhos não fugiu aos diversos impactos negativos na região costeira da Paraíba.

Ao longo do tempo, tentativas de disciplinar o uso e ocupação do solo costeiro e marinho através da criação de áreas protegidas, legislação preventiva e medidas corretivas, pouco tem prosperado. Pois criar Unidades de Conservação sem um modelo de gestão para efetivá-las na prática tende a não promoção da conservação dos ecossistemas ameaçados.

Nesse contexto, insurge a Educação ambiental para integrar tais medidas gestionárias, ressaltando a importância de um conhecimento prévio da percepção do público alvo. É o que pode-se observar a seguir.

Os atores sociais participantes foram questionados quanto ao conhecimento de ambientes marinhos e as espécies animais que habitam esses espaços, conforme é apresentado no Quadro 9.

Quadro 9 - Síntese do entendimento das crianças participantes sobre ambientes marinhos.

Diante o exposto, verifica-se a divergência da compreensão das crianças participantes em relação aos ambientes marinhos. Associando de maneira geral à ambientes aquáticos, como os encontrados nas respostas: rios, lagos, piscinas. Bem como indica referências de locais específicos, como praias urbanas (bairros) e espaços visualizados apenas na televisão. Dessa maneira, considera-se que há pouco conhecimento das crianças e dificuldades de identificação dos ambientes marinhos. Já que 77% responderam positivamente a primeira questão, no entanto, destes – 59% especificaram locais que não correspondem a ambientes marinhos ou apenas praias urbanas antropizadas, chegando até mesmo a imagens audiovisuais exibidas em programas de televisão.

Em relação a segunda questão contida no Quadro 3,constata-se praticamente a mesma situação, a maioria afirma conhecer animais marinhos, no entanto, misturam com espécies terrestres e espécies que não ocorrem na costa brasileira, tampouco na paraibana. Nesse caso, indica pouca ou nenhuma intimidade com ecossistemas marinhos. Piaget (1995) ensinou que as crianças até a terceira etapa, ou seja até os doze anos possuem forte capacidade de imaginar, embora inconsciente, a criança forma pensamentos simbólicos daquilo que se torna mais interessante para seu propósito.

Já que as crianças são especialistas em criar lugares que elas vivem apenas na imaginação, tais lugares podem ganhar realidade pelo ato da criação infantil (CAPRA,2006 p. 143). O que é facilmente identificado através dos dados expostos, quando as crianças afirmam conhecer algo que na realidade não conhecem, mesmo assim criam um cenário imaginativo semelhante. Nesse aspecto, ressalta-se a importância de atividades educativas que explorem a beleza e as peculiaridades de cada ecossistemas, a fim de criar uma ligação com ele, possibilitando que as crianças observem o mundo natural com a totalidade do seu ser emocional e cognitivo (CAPRA, 2006).

Avançando, após apresentação teatral, já foi possível identificar que as crianças passaram a perceber melhor o ecossistema marinho e as espécies associadas a ele. Bem como demonstraram satisfação em obter mais informações e conhecimento sobre o ecossistema, 98% das crianças participantes afirmaram gostar de conhecer mais do ambiente marinho.

Nesse caso, uma considerável parcela do grupo demostrou gostar do conteúdo abordado através da história teatral. Quando questionados o porquê das respostas também compreende- se elementos positivos nas narrativas infantis, tais como:

“Eu aprendi mais” Criança n° 21

“Porque eu quero conhecer mais da natureza” Criança n° 34 “Porque agente aprendeu vendo os bixos” Crianças n° 29

“Pois não conhecia quase nada do mar, agora quero ir conhecer o recife de coral que o siritico mora” Criança n° 33

“Por que agora eu sei que jogar lixo pode matar eles” Criança n° 14 “Pur que a vida marítima é legal” Criança n° 12

“É um lugar muito misterioso” Criança n° 65

Nota-se nas narrativas expostas que o conteúdo foi bem compreendido e que a educação lúdica pode ser importante mediadora para a promoção de uma conexão pessoal com o ambiente, bem como capaz de sensibilizar e provocar emoções saudáveis que inspirem sentimento de solidariedade como mostra as narrativas abaixo:

“Porque é bom ter mais conhecimento e saber como ajudar os animaizinhos” Criança n° 39

“Além das pessoas se poluíram, contamina também os animais” Criança n° 43

“Porque eu aprendi como cuidar do mundo, onde é o lar de vários seres vivos” Criança n° 37

“Sim, eu vejo o problema que os peixes passam” Criança n° 20 “Nos ajuda a ser mais cuidadoso com o mar e aprendemos coisas novas sobre ele” Criança n° 13

“Assim como os outros animais, os peixes e os outros fazem parte do meio ambiente, então também temos que proteger o mar e não jogar lixo” Criança n° 70

Em resposta, nota-se crianças identificando suas experiências com o mundo natural, passando a ter uma ligação com ele.Nesse sentido, Boff (2012, p. 142) diz que a educação deve levar a “aprender a conhecer, a ser, a fazer, a conviver e se responsabilizar pela Terra e por todas as formas de vida”. Nessa mesma perspectiva Wilson (1984) acrescenta que os problemas ecológicos que o planeta enfrenta são problemas de valores. Diversos estudos revelem que é muito difícil mudar valores dos adultos, mas ao mesmo tempo percebe-se que as crianças

nascem com certos valores intactos, inclusive o sentimento de afinidade com a natureza. (CAPRA, 2006). É a chamada “Biophilia” (WILSON, 1984), todos possuem essa capacidade, mas ela parece ser mais acentuada nas crianças. Aqui a esperança é que se bem nutrida, a “biofilia” pode ser transformada em alfabetização ecológica (CAPRA, 2006), com a formação de sujeitos ecológicos (CARVALHO, 2011).

Seguindo com a exposição dos dados, pós apresentação, verificou-se uma preferência para os animais de vida marinha. Logo, observa-se o Gráfico 6.

Gráfico 6 – Qual animal marinho você mais gostou de conhecer? Coleta realizada pós teatro.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Percebeu-se que os campeões foram a Estrela-do-mar e o Plâncton ambos com 26%, a estrela-do-mar é compreensível pelo papel de destaque inicial que teve no teatro, contudo, o plâncton personagem rápido que, no entanto, chamou mais atenção do que se previu. Talvez, pelo fator desconhecimento. Não se fala tanto, nem é visto com frequência um plâncton. No entanto Tuan (1980, p. 39) ressalta que “valorizamos um elemento da paisagem quando o percebemos e imediatamente lhe conferimos um valor, um sentido, desenvolvendo um sentimento afetivo”.

Percebeu-se também comoção e compaixão nas falas das crianças em relação à situação em que os animais passaram no decorrer da história e o desejo de ajudar os animais em apuros.

Com propriedade ressalta-se que estas emoções são ativadas com o contato entre outras espécies ou ambientes naturais, variam da atração à aversão, da admiração à indiferença, da paz

à ansiedade. São reações geneticamente inerentes a todas as espécies, embora nos seres humanos, por razões claras, são pouco manifestadas na vida cotidiana. Porém durante a infância, tem-se a liberdade de expressar tais emoções sem a preocupação com os julgamentos (WILSON, 2002).

De acordo com os estudos de Wilson (2002):

Existem períodos sensíveis durante a infância e a adolescência nos quais é muito fácil aprender coisas novas e desenvolver preferências e antipatias; assim, estágios críticos da aquisição da biofilia foram levantados pelos psicólogos em estudos do desenvolvimento mental na infância e adolescência [...] Até os seis anos de idade as crianças tendem a ser egoístas, egocêntricas e dominadoras em suas relações com os animais e a natureza; muitas se mostram indiferentes e/ ou temerosas em relação à maioria dos animais. Entre seis e nove anos, o interesse por animais selvagens aumenta e mostram reconhecer que os animais podem sofrer e sentir dor. O conhecimento e o interesse pela natureza aumentam rapidamente e, finalmente, entre os treze e dezessete anos a maioria dos jovens adquire sentimentos de responsabilidade moral em relação ao bem estar dos animais e a conservação das espécies (p. 204).

Entender como as crianças percebem e valorizam os distintos ambientes é de fundamental importância, uma vez que os lugares secretos da infância sendo ou não produtos do instinto, certamente nos dispõem a adquirir preferências e a adotar práticas que, no futuro, serão importantes para a sobrevivência humana, além de germinar um cuidado especial com o meio que os cerca.