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O percurso legislativo do ensino superior no Brasil apartir de 1990, neoliberalismo,

No documento 2012Paulo Roberto Lopes Pimentel (páginas 59-66)

Desenho 1 Processo de comunicação

3 AS FACES DA EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR 55

3.2 O percurso legislativo do ensino superior no Brasil apartir de 1990, neoliberalismo,

A década de 90 é considerada de grandes transformações para o cenário brasileiro. Dentre os marcos da época, cita-se a reforma do Estado, a qual trouxe a nova ideologia neoliberal22.

Conforme Malanchen e Vieira (2006, p. 3), as políticas neoliberais foram adotadas no Brasil a partir do governo do Presidente Fernando Collor de Mello no período de 1990 a 1992. Esta nova ideologia reordenou as estruturas dos Estados nacionais, permitindo a abertura de mercados antes totalmente fechados ao capital internacional.

Em decorrência dessa abertura ao mercado internacional, houve uma defasagem das instituições públicas, pois se desencadeou uma crescente onda de privatizações de empresas estatais e dentre elas, algumas instituições de ensino superior. Além disso, a economia deixou der ser fechada, ou seja, somente para o mercado interno e com isso, houve a liberação das importações, o que acarretou na atuação de grupos privados originários de outros países.

Levando-se em consideração o que já foi abordado sobre as instituições de ensino superior até o momento, percebe-se que juntamente com a reforma do estado, ocorreu também uma reforma na educação. A mesma iniciou-se no governo do Presidente Itamar Franco (período 29/12/1992 a 01/01/1995), que desencadeou-se devido ao Plano Decenal de Educação, sendo que de acordo com Malanchen e Vieira (2006, p. 4), o mesmo somente foi implementado com o Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Para Silva Jr (apud MALANCHEN e VIEIRA, 2006, p. 5), o plano caracteriza a expressão brasileira do movimento orquestrado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), pelo Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD)/Banco Mundial e assumido pelo Brasil, a fim de orientar as

22 “O neoliberalismo é um projeto político, econômico e social de caráter hegemônico que está fundamentado na

subordinação da sociedade ao mercado livre e a não intervenção do poder público, sendo o mercado livre responsável pela preservação da ordem social” (MACIEL e NETO, 2004, p. 36).

políticas públicas para a educação, que culminaram com a reforma educacional brasileira, na década de 90. A reforma na educação realizou-se em todos os níveis, modalidades, com diretrizes curriculares, referenciais e parâmetros, produzidos por pesquisadores e professores universitários.

Sob este aspecto, comenta-se que devido à reforma do estado e os ideais neoliberais, a reforma na educação teve como influenciadora e motivadora, recomendações oriundas de organismos internacionais, como a UNESCO, o Banco Mundial entre outros. Com isso, muitas das ações implementadas levavam em consideração as idéias neoliberais que estavam sendo aplicadas em todo o mundo naquele momento.

As ações aplicadas estavam de acordo com alguns aspectos, como por exemplo, o oferecimento de conhecimentos e habilidades exigidos pelo setor produtivo, que estava passando por grandes transformações e necessitava de mão-de-obra qualificada. O foco que estava voltando-se para a análise da aprendizagem e avaliação das instituições de ensino, o redirecionamento do papel do Estado, que passou de administrador para avaliador do ensino, e ainda, há de se mencionar os financiamentos que foram surgindo para incentivar a abertura de novas instituições privadas de ensino superior.

Compreende-se que a reforma na educação veio em um momento de crescentes conflitos nesse setor. A mesma estava passando por um período de crises, tanto de eficácia e eficiência, como de produtividade. Para isso, a educação passou a ser considerada uma possibilidade de consumo, variando de acordo com a capacidade dos próprios consumidores.

Sendo assim, as reformas no Estado brasileiro na década de 90, foram tomando forma e lugar através da legislação. Leis, normas, decretos, pareceres, resoluções, foram dando forma para as novas idéias. A aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9394, de dezembro de 1996, representou um limite para a institucionalização de políticas educacionais brasileiras, planejadas e implementadas pelo Ministério da Educação (MALANCHEN; VIEIRA, 2006, p. 6). Partindo-se dela, varias ações foram sendo tomadas.

Cita-se alguns exemplos da legislação do ensino superior após a promulgação de LBD, conforme exposto na ilustração Quadro 8 a seguir.

Lei Descrição Lei 9424/96 Dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do

Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, na forma prevista no art. 60, § 7º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, e dá outras providências;

Lei 9448/97 Transforma o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP em Autarquia Federal, e dá outras providências.

Lei 9475/97 Dá nova redação ao art. 33 da Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional (ensino religioso).

Lei 9533/97 Autoriza o Poder Executivo a conceder apoio financeiro aos Municípios que instituírem programas de garantia de renda mínima associados a ações socioeducativas.

Lei 9536/97 Regulamenta o parágrafo único do art. 49 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (transferência de alunos de curso superior).

Lei 9795/99 Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Lei 9870/99. Dispõe sobre o valor total das anuidades escolares e dá

outras providências

Lei 10172/2001 Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências.

Lei 10219/2001 Cria o Programa Nacional de Renda Mínima vinculada à educação - "Bolsa Escola", e dá outras providências.

Lei 10287/2001 Altera dispositivo da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Quadro 8 - Algumas leis referentes á educação Fonte: PEDAGOGIAEMFOCO (2011a).

Percebe-se ao analisar a ilustração Quadro 8, que muitas Leis dizem respeito à alterações que foram efetuadas na Lei 9394/96, ou seja, a LDB. No entanto, cabe mencionar que cita-se somente Leis, e existem inúmeras Portarias, Resoluções e Decretos que buscam adequar o ensino superior ás necessidades e exigências da sociedade e o Estado.

Gradativamente, percebe-se que o ensino superior vem buscando adaptações e tentando de varias maneiras superar as suas crises. Com destaque para a Lei 11096, de 13 de janeiro de 2005, que institui o Programa Universidade para Todos (PROUNI), um grande avanço da educação superior, proporcionando a possibilidade de formação superior para pessoas menos favorecidas financeiramente.

Porém, há de se mencionar que a reforma do ensino universitário, de acordo com os moldes iniciais, ainda não foi implementada totalmente. Isso pode ser justificado de acordo

com Figueiredo (Disponível em: <http://www.proec.ufg.br/revista_ufg/45anos/C- reforma.html>. Acesso em: 09 nov. 2011), ao mencionar o Decreto de 20 de Outubro de 2003, o qual mantém a perspectiva reducionista de autonomia financeira, legitimando as fundações privadas nas universidades, diminuição dos recursos públicos e ampliação das parcerias e convênios com as instituições privadas. O mesmo autor comenta ainda as ações do Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (período 2003-2011), (com base em Leis, Projetos de Lei, Medidas Provisórias), que ferem a Autonomia Universitária, a mencionar:

a) Legalização das fundações privadas nas universidades, através da sua regulamentação (Decreto Nº 5.205/2004); b) Estímulo à ampliação das parcerias e convênios com as instituições privadas; c) As Parcerias Público Privado que permitem a destinação de verbas públicas para a iniciativa privada e desta para o setor público; d) O Projeto de Lei de Inovação Tecnológica, que repassa a responsabilidade de produção de conhecimento para o setor privado; e) O Programa Universidade para Todos – ProUni (MP Nº 213), que regulamenta a “compra” das vagas ociosas nas universidades particulares, destinando desta forma verba pública para salvar os empresários deste setor; f) O Projeto de Emenda Constitucional (PEC 217) da Deputada Selma Schons (PT-PR) que prevê a cobrança de impostos a ex- alunos de universidades públicas; e g) O Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior – SINAES (Lei Nº 10.861, de 14 de Abril de 2004), que pouco difere do antigo “Provão”, mantendo a utilização de critérios burocráticos e meritocrático e o ranckeamento dos curso.

Nota-se nesse aspecto que apesar de muitos pontos positivos, a reforma do ensino, ancorada pela legislação deixa muito a desejar. Todavia, conforme mencionado, ela não foi implementada totalmente e cabe analisar as ações e intervenções do Estado na sua efetividade, tendo em vista que muitas das ações até o momento praticadas vêm a contrariar os anseios da sociedade e entende-se buscar a consolidação das idéias neoliberais na educação superior brasileira.

De acordo com Feijó (apud LAURELL, 2002, p. 11), a palavra neoliberalismo possui significados múltiplos e por tanto seu uso indiscriminado torna-se perigoso ou equivocado, o autor cita a diferença de entendimento em alguns países tais como “nos Estados Unidos quando alguém é chamado de liberal, imagina-se uma pessoa de convicções democráticas muito fortes, preocupada com a justiça social e com o respeito à dignidade humana,” assim sendo, esta pessoa costuma favorecer a intervenção do Estado na economia, visando um crescimento econômico mais elevado e estável associado à distribuição de renda mais equitativa. Entende-se desta forma ser uma pessoa progressista. Para o mesmo autor na

América Latina, o termo “neoliberal é associado a posturas políticas profundamente conservadoras, defensoras do “livre” mercado e da repressão política mais brutal.” Ainda o autor Feijó (apud LAURELL, 2002, p. 12-13), coloca ainda três usos possíveis as diversas realidades do termo neoliberal. Na primeira acepção possível do termo coloca que as características comumente assumidas pela política econômica na fase recessiva do ciclo econômico, entende-se como diretrizes de política econômica tais como redução das despesas e do déficit públicos, congelamento de salários nominais e queda do salário real, liberação de preços, restrições no crédito e elevação das taxas de juros, desvalorização da moeda e liberalização do comercio exterior. Este tipo de política aplica-se em momentos de crises. Contudo em segunda colocação o termo neoliberal poderia segundo o autor denominar uma ideologia ou filosofia econômica, cujo teor reside numa visão ultra-apologética do mercado.

No plano estritamente ideológico, defende-se que o mercado ou a lei de valor assegura um aproveitamento mais pleno e eficiente dos recursos econômicos, garantindo assim o crescimento mais acelerado da produção, com um mercado livre de interferências garantindo estabilidade econômica e uma justa distribuição de renda, na medida em que cada setor for renumerado de acordo com sua contribuição na produção. Pode-se perceber nesta concepção que em determinados contextos a intervenção estatal é imprescindível e que, em outros, não beneficia o capital. Este tipo de análise equivale a questionar a própria dinâmica estrutural do sistema, a forma pela qual se avança de uma fase ou etapa a outra fase ou funcionamento. Uma terceira acepção possível de entendimento da palavra neoliberal o autor coloca que: entende-la como designando um determinado padrão de acumulação, vigente num determinado aqui e agora, vigente num determinado período histórico e em certos países da América Latina.

Apple (2001, p. 18), sintetiza a mudança da concepção de educação provocada pelo neoliberalismo:

(...) o que outrora foi um conceito e uma prática política apoiados numa negociação e diálogo coletivo é, hoje em dia, um conceito “totalmente” econômico. Atualmente, debaixo da influência do neoliberalismo, o verdadeiro significado de cidadania foi radicalmente transformado. Nos dias de hoje, em muitos países, o cidadão é simplesmente um consumidor. O mundo é visto como um vasto supermercado. As escolas e inclusive os nossos alunos (...) tornam-se mercadorias que são compradas e vendidas do mesmo modo como se compram e vendem outro gênero de mercadorias.

Nota-se que a educação vem se transformando em um “negócio”, comercializado por instituições de ensino e consumida por pais e estudantes publico alvo disputado através das práticas do capitalismo e dos instrumentos que o marketing permite as empresas de outros setores ou segmentos utilizarem-se, distanciando a educação dos seus objetivos.

Contudo, não se pode ter o pensamento ingênuo de que o empresariamento da educação ainda não consolidou-se,

(...) transformando a universidade, no seu conjunto, numa empresa, uma entidade que não se produz apenas para o mercado, mas que produz a si mesma como mercado, como mercado de gestão universitária, de planos de estudo, de certificação, de formação de docentes, de avaliação de docentes e estudantes. (SANTOS, 2004, p. 18-19).

Entende-se que quando a Universidade molda-se como lugar de inovação acompanha as tendências da mercantilização do ensino superior e as oscilações mercadológicas sendo assim vivencia um processo de transformação e aplica em si o que até então era aplicado a outros segmentos.

As ameaças e as oportunidades crescem e quando não há fronteiras para novos entrantes o mercado se amplia com a concorrência. Nesse contexto, percebe-se que a educação superior adota uma cultura de mercado, ou seja, a incorporação de estratégias voltadas para o mercado.

Baseado no tema cima propõe-se uma breve reflexão sobre o modelo de cultura que vem se alastrando na sociedade já desde o século XVI. O surgimento desse pensamento veio em resposta ao movimento modernista que vigorava entre os séculos XVI e XX. A chamada "Cultura de Mercado", também conhecida como "Economia de Mercado", situado no início na Revolução Industrial, ou na segunda metade do séc. XX.

A chamada "cultura de mercado" ocasionou um contragolpe aos ideais modernistas, uma contrapartida ao socialismo radical marxista. Essa cultura norteia-se pelo que o mercado denominou de “livre iniciativa”. Durante o seu desenvolvimento gera um desconforto social e ocasiona uma injustiça embasada na liberdade individual, provocando a desigualdade social.

Ao lançarmos outro olhar, e considerando-se as determinações históricas que o conhecimento assume na modernidade capitalista, ele perde, parcialmente, a força libertadora, e transforma os sujeitos produtores e apropriadores do conhecimento como mercadoria em

alcova do capital. Talvez o obstáculo mais ruinoso à realização do projeto emancipatório da modernidade. Diante deste contexto verifica-se que a força de trabalho produtora empobrece através da apropriação do chamado conhecimento mercadoria, [...] sob a forma aviltante da exploração do sobretrabalho em massa e da dominação por meio da ideologia técnico- científica (HABERMAS, 1997; MARCUSE, 1982). O conhecimento como mercadoria torna- se coisificado, pois provém da indústria da educação a qual engessa métodos e tenta transferir conhecimento através de apostilas e sendo assim nota-se que a força de trabalho torna-se alienada.

Para Sennett (2006, p. 108): "Em termos de trabalho, o 'potencial' humano de uma pessoa define-se por sua capacidade de transitar de um tema a outro, de um problema a outro."

Diante da afirmação de Sennett pode-se dizer que o conhecimento como mercadoria esta sendo tratado como insumo, produto produzido pelo trabalho pedagógico de docentes que qualificam e profissionalizam a força de trabalho transformando conhecimento em capital e assim consegue aliar habilidades e competências. Daí então da mesma forma que o conhecimento é tratado como mercadoria pode-se dizer que os discentes também podem ser tratados como mercadorias, produtos que vincular-se-ão em algum momento após a qualificação a uma empresa. Para entender é por esta razão, que o conhecimento e tratado como mercadoria.

No próximo capitulo descreve-se sobre as questões mercadológicas que envolvem a expansão do ensino superior.

4 QUESTÕES MERCADOLÓGICAS QUE ENVOLVEM A EXPANSÃO DO ENSINO

No documento 2012Paulo Roberto Lopes Pimentel (páginas 59-66)