• Nenhum resultado encontrado

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.2 Descrição e análise dos perfis estratigráficos

5.2.2 Perfil Colúvio Embracel Crato (CE-C)

Localiza-se nas coordenadas 7º13'57,39''S e 39º22'34,45''O, em um corte de estrada (Figura 21) dentro do perímetro urbano Crato/Juazeiro, mais especificamente ao lado da Fábrica Embracel. O perfil ocupa o compartimento encosta dissecada com cobertura coluvial do Planalto Sedimentar do Araripe a 449m de altitude. Localmente ocorre sobre uma morfologia de colina alongada, suave e com certa convexidade, em resposta à dissecação lateral do setor de encosta, com desnível em relação ao nível de base local de 39m aproximadamente. Esta encosta dispõe-se longitudinalmente balizando a escarpa rochosa, sendo recortada pelo trabalho da drenagem que atua dissecando/modelando a superfície estruturada por amplos aventais coluviais, os quais estão geneticamente ligados à litologia do Grupo Araripe, especialmente à Formação Exu.

O perfil amostrado possui 1,60m de espessura (Figura 21), apresentando três unidades deposicionais do topo para a base, as quais exibem impregnação por óxido de ferro. Contudo, por não ter sido visualizado o contato com o embasamento, a espessura do depósito pode ser ainda maior. A unidade do topo, além da presença de raízes hodiernas, tem textura de areno- síltica a silto-arenosa, com cor avermelhada e estrutura maciça, limitada na base por uma cascalheira matriz suportada. A unidade cascalheira suportada por uma matriz areno-siltosa segue a morfologia da encosta, delimitando bem no perfil a descontinuidade lateral dos processos deposicionais.

A macrofábrica da cascalheira, distribuída aleatoriamente na matriz, é pobremente selecionada, com tamanho variando desde granulo à blocos - estes com média de 10cm de diâmetro, os quais refletem as características litológicas da Formação Exu, e textura superficial caracterizada por apresentar formas predominantemente de subangulares a subarredondadas. Tais características revelam a baixa maturidade textural do fluxo de detrito, sugerindo a ação de um fluxo que sofreu variação na intensidade do transporte ao longo da deposição.

Figura 21 - Perfis topográficos traçados em relação ao ponto amostrado - CE-C (Ver Figura 17); A - Visão geral da área.

A unidade basal, de menor espessura, apresenta textura areno-síltica, com estrutura maciça, de cor avermelhada, sinais de bioturbação (túbulos de insetos) e uma distribuição de grânulos de quartzo. Embora as fácies exibam similaridade litológica, tal unidade diferencia- se do fluxo de lama do topo pela incorporação da fração grânulo (Figura 22).

5.2.2.1 Propriedades sedimentológicas, micromorfologia e idades: compilação dos dados

A análise morfoscópica constatou que as amostras são constituídas por variações de quartzo, por vezes com revestimento ferruginoso, heterogêneas quanto a forma e exibindo textura majoritariamente transparente e brilhante. Assim, quanto ao grau de arredondamento destacaram-se as classes angular, sub angular, sub arredondado e arredondados, predominando o intervalo de angular a sub arredondado, com pequenas variações entre elas. No que diz respeito ao grau de esfericidade as classes sub-discoidal e discoidal predominaram, ocorrendo contudo algumas variações de prismoidal a esférico. Esses parâmetros refletem o pouco trabalho exercido pelo transporte e, por conseguinte, a proximidade da área fonte.

Os parâmetros estatísticos de Folk e Ward (1957) confirmam a variedade das classes modais, com depósitos muito pobremente selecionados e de hidrodinâmica alta a muito alta (PEJURP, 1988). Mostraram, ainda, que ambas possuem assimetria positiva, mantendo uma diferença nos dados de curtose. Neste sentido, apenas a amostra CE-C-135 apresentou curtose mesocúrtica, de idade 40.090 ± 4.690, enquanto a amostra CE-C-070 resultou em platicúrtica com idade 22.670 ± 3.080. Assim sendo, os dados demonstram similaridade entre as unidades deposicionais, com uma certa concentração da fábrica arenosa, sobretudo na amostra CE-C- 135, em um fluído com muita água e de alta energia. Em parte, a relativa concentração de grossos sugere um controle tanto do material parental quanto dos processos de lavagem superficial responsáveis pela evacuação das frações mais finas.

Nesse perfil também foi observado uma baixa variação das classes modais silte/areia, apresentando uma pequena diminuição da fração silte e um aumento sutil da fração areia na base do perfil, característica esta que não difere muito do pacote superior que apresentou uma homogeneidade nos valores de silte/areia. Novamente, não se constatou uma mudança progressiva na distribuição vertical das classes modais ao longo do perfil. De fato, tem-se muito mais um controle do material parental - arenito psamítico - do que um controle majoritariamente do intemperismo químico in situ.

Assim como no perfil CEPS-C, a distribuição relativa dos constituintes corrobora os dados da granulometria e da morfoscopia (Figura 23). As lâminas demonstraram que as unidades coluviais comportam-se como porfírica fechada a aberta, passando a enaúlica na parte superior da lâmina CE-C-070. Os constituintes do esqueleto (cerca de 42%) estão distribuídos de forma aleatória e com estratificações nítidas no plasma (cerca de 35%), além de apresentar feições de litorrelíquias.

O plasma, no geral, encontra-se com forte impregnação de ferro, disperso no fundo mátrico e isoladamente e de forma restrita gerando feições intrusivas. A organização do plasma exibe, predominantemente, orientação indiferenciada, ocorrendo localmente orientações manchada pontilhada e granoestriada; esta restrita à unidade inferior do perfil. Possivelmente a ocorrência majoritária do plasma com orientação indiferenciada deve-se à isotropia plásmica associada à forte impregnação por óxido de ferro (PAISANI e PONTELLI, 2012). Associada ao plasma, pedofeições de hipocutãs de depleção de grão e de impregnação de grão ocorrem nas lâminas analisadas. Nódulos de ferro tanto herdados quanto formados in

situ também foram encontrados dispersos na matriz.

Em relação aos poros (cerca de 23%) foi observado um predomínio do tipo cavitário seguido do composto, além da ocorrência limitada de canais, os quais refletem a presença de bioturbação, embora não seja possível definir se contemporâneos ou não. Na amostra CE-C- 070 também foi encontrado poro fissural. Os poros cavitários demonstram feições de desmonte, com preenchimento contínuo e solto descontínuo do material plásmico. A organização do material plásmico exibe "peds" do tipo microagregados, sendo estes predominantes apenas no setor com padrão enaúlico. De um modo geral, os "peds" observados apresentam-se fracamente a moderamente separados, dispostos de forma não acomodada. Os dados de difração de raios-X revelaram que esse material plásmico possui, na LEGENDA: CE-C-070: A)1- Litorrelíquia/ B) 2 - Microestratificações/ C) 2- Poros fissurais; 3 - hipocutã de impregnação de grão; 4 - Nódulo herdado; D) 5 - Hipocutã de depleção de grão; 6 - Acumulação de ferro; E) 7- Poro cavitário com desmonte e preenchimento solto descontínuo; 8 - Microagregado; CE-C-135: F) 9- Pedorrelíquia?; 10 - Nódulo herdado; 11 - Quasicutã de impregnação de grão; G) 12 - Nódulo de ferro dentro de um poro; 13 Quasicutã de impregnação; 14 - Hipocutãn de depleção; H) - Microestratificações; I) 15 - Nódulo herdado; 16 - Formação de um nódulo.

amostra CE-C-070, argilomineral do grupo da caulinita, e na amostra CE-C-135, argilomineral do grupo da caulinita associado a ilita. As fissuras na amostra CE-C-070 não refletem situações de stress hídrico, e possivelmente, resultam do processo de acomodação do material.

Com base na sistematização dos dados pode-se apontar:

As unidades coluviais correspondem a uma sucessão de fluxos de lama intercalada por um fluxo de detrito. Assim como no perfil anterior, o fluxo de detrito comporta-se como um avental coluvial formado por movimento de massa de alta energia e baixa viscosidade, cuja capacidade de transporte remobilizou os depósitos de tálus a uma distância considerável em relação a área fonte. Essa constatação é feita sobretudo pelo tamanho e frequência dos clastos contidos no depósito. Sua disposição na seção vertical sugere a formação de um possível paleopavimento, sem contudo haver ocorrido a perda da matriz pelos processos superficiais, seja pela limitada exposição aos agentes erosivos e/ou baixa capacidade de remobilização das frações finas.

Os fluxos de lama na base e no topo do fluxo de detrito apontam para uma ocorrência espacial restrita desse material, além de dialogar com a possibilidade de uma fase de estabilidade morfogenética sob condições de expansão da cobertura vegetal precedente ao desencadeamento dos fluxos, os quais, posteriormente, foram retrabalhados ao longo das encostas, formando novas superfícies expostas aos processos de pedogênese/morfogênese.

A análise micromorfológica confirmou o caráter alóctone desses depósitos, evidenciando ainda que a componente água esteve presente tanto durante como após a deposição, nesse caso uma resposta ao retrabalhamento pelo escoamento superficial. As microfeições pós deposicionais de hipocutã tanto de depleção como de impregnação, ocorrência de poros cavitários com aspectos de desmonte e a restrita organização plásmica em granosestriada e manchada (aquela ligada apenas à unidade basal do perfil) ratificam a presença de água no sistema, bem como a sucessiva remobilização do material plásmico expressada pelo preenchimento dos poros cavitários e as feições de depleção.

A matriz porfírica aponta para o caráter viscoso dos fluxos com elevada concentração de sedimentos saturados por água, os quais, durante o processo, sofreram mudanças reológicas - fluxo de lama para um fluxo hiperconcentrado - observadas pelas microestratificações nítidas nos depósitos (PAISANI e GEREMIAS, 2010). Contudo, esse aumento de água no processo pode ser apenas uma resposta à retenção de material ao longo da encosta e não a um progressivo aumento de água no sistema. Os nódulos de ferro herdados sugerem que o material parental dos depósitos esteve anteriormente submetido a um certo teor

de umidade e com impregnação por óxidos. Tal observação, no entanto, apenas confirma a existência de condições mesológicas mais úmidas na cimeira do Planalto nas fases que antecederam a deposição, assim como verificadas por Corrêa (2001) para os colúvios derivados da remobilização dos mantos de intemperismo oriundos das cimeiras do maciço da Serra da Baixa Verde em Pernambuco, sob condições bioclimaticas semelhantes.

A fraca a moderada pedalidade e sua ocorrência pontual nas amostras associada à evidência de organização plásmica manchada/pontilhada denuncia a persistência das características deposicionais na estrutura interna do perfil, indicando, desse modo, que essas estruturas não passaram por transformações significativas associadas aos processos pedogenéticos e, consequentemente, a sua imaturidade pedogenética.

Tais informações associadas aos dados de difração de raios-X e a espessura das unidades deposicionais, suscitam que o material fonte correspondia a uma cobertura superficial moderamente espessa, com estágio moderado de evolução pedogeoquímica, testemunhando uma possível superfície com certa estabilidade geomorfológica. Os argilominerais também atestam que o clima não foi tão eficiente na evolução mineralógica dos materiais após a deposição, sobretudo no depósito da base do perfil, onde na fração argila foi reconhecido a presença da ilita. Esse depósito apresentou o mesmo padrão mineralógico encontrado no perfil CEPS-C.