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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.2 Descrição e análise dos perfis estratigráficos

5.2.4 Perfil Colúvio Seminário Crato (CSM-C)

Localizado em uma rua do Bairro seminário da cidade do Crato (Figura 27), especificamente nas coordenadas 7º14'12,72''S e 39º25'43,58''O, em uma cota altimétrica de 514m, encontra-se estruturando uma encosta de geometria cônvexo-côncava, cuja diferença altimétrica em relação ao nível de base local é de aproximadamente 65m.

Trata-se de um fluxo de detrito com alta energia sob a morfologia de um provável leque coluvial de fácie proximal, contexto este inferido a partir da dimensão das partículas arranjadas na matriz. Corresponde a uma cascalheira suportada por uma matriz silte arenosa, avermelhada, de distribuição aleatória dos clastos no fundo matricial, os quais variam de tamanho que podem atingir dimensões superiores a 50cm de diâmetro, e uma morfologia que varia de anguloso à arredondado. Os clastos possuem a mesma aparência dos blocos que constituem os depósitos de tálus recorrentes na base da escarpa e ao longo da encosta de morfologia conservada. A matriz silte-arenosa, com predomínio discrepante do silte em relação a areia, não segue o padrão das amostras anteriores. Provavelmente, esse material tenha incorporado muito material fino durante o processo e as condições ambientais não foram capazes de remover as partículas finas - silte - da matriz.

Figura 27 - Perfis topográficos traçados em relação ao ponto amostrado CSM-C (Ver Figura 17). A - Visão geral da área. B - Detalhe da área a montante da coleta.

O perfil amostrado mediu 1,60m (Figura 28), contudo esse depósito torna-se bastante espesso em direção a montante da coleta, ultrapassando os 4,5m. Nesse ponto, foi obsevado o embasamento delimitando a superfície de deposição. A escolha do local e o número limitado de amostra deveu-se a homogeneidade lateral, às dificuldades de coleta na área mais espessa devido a sua disposição vertical e a compactação do material, oferecendo resistência à obtenção das amostras.

5.2.4.1 Propriedades sedimentológicas, micromorfologia e idades: compilação dos dados

Mineralogicamente uma variedade de quartzo, por vezes ferruginoso, constitui a matriz de um fluxo de detrito de considerável dimensão. Do ponto de vista da forma, a mesma caracteriza-se pela heterogeneidade dos grãos, predominando as classes muito angular e sub- angular, de alta esfericidade, além de textura brilhante e transparente. Tais elementos fortalecem a hipótese de um fluxo de detrito cuja área fonte encontra-se muito próximo da área deposicional e que, conforme o diagrama de Pejrup, é de hidrodinâmica muito alta.

Os dados estatísticos caracterizam essa matriz como muito pobremente selecionada, de assimetria muito negativa e curtose mesocúrtica. Assim sendo, refere-se a uma matriz com concentração de finos e viscosidade, cuja hidrodinâmica corrobora com um fluxo de alta energia e considerável volume de água.

A distribuição relativa dos constituintes reflete os dados obtidos na granulometria e morfoscopia. Embora não tenha sido reconhecido estratificações no perfil, numa escala micro a lâmina mostrou nítidas estratificações (Figura 29). Trata-se de um depósito de idade 8.530 ± 1.100, cujo arranjo dos constituintes comporta-se como porfirica aberta e localmente porfírica fechada. O esqueleto (30%) está distribuído de forma aleatória e, por vezes, concêntrico. Na composição do esqueleto litorrelíquia do tipo fragmento de rocha (relicto sedimentar) foi encontrado.

Em relação ao plasma (55%) constatou-se uma moderada a forte impregnação por óxido de ferro, e ocorre de forma dispersa no fundo matricial e isoladamente gerando feições intrusivas de preenchimento incompleto denso e solto descontínuo. A estrutura do plasma exibe um misto de orientação indiferenciada e cristalina, destacando-se nesta a paralelaestriada, granoestriada e poroestriada. No contexto pedofeições mátricas foram encontrados quasicutã de impregnação e de depleção de poro, como também hipocutã de depleção de grão e hipocutã de impregnação de grão e poro. Ainda no plasma, nódulos de ferro, tanto herdados como in situ, pedorrelíquia e pápulas ocorrem aleatoriamente caracterizando o fundo matricial.

Assim como o plasma, a porosidade (15%) também exibe uma organização complexa, envolvendo diferentes categorias como poro canal, câmara, cavitários e fissurais, por vezes incipientes. Os poros canal e câmara estão preenchidos por matéria orgânica e plasma, e os cavitários exibem feições de desmonte, com preenchimento solto descontinuo do material plásmico. A organização do material plásmico em "peds" do tipo microagregados, blocos angulares com tendência a prismoidal são nítidos apenas nos setores onde ocorre a maior quantidade de poros, podendo ser classificados como de moderado a fortemente separados, assim como parcialmente acomodados a acomodados.

Nos demais setores da lâmina não se observa a formação típica de "peds". Os dados de difração de raios-X revelaram que esse material plásmico possui argilomineral do grupo 1:1, a caulinita, e 2:1, ilita.

Com base na sistematização dos dados pode-se apontar:

Trata-se da fase proximal de um leque coluvial originado por fluxo de detrito de alta energia e viscosidade. Nesse fluxo foi incorporado materiais de depósito de tálus e cobertura pedológica de espessura considerável. A micromorfologia revelou que tal depósito é realmente alóctone e que a componente água esteve presente tanto durante como após a deposição, e nesse caso uma resposta sobretudo ao retrabalhamento pelo escoamento superficial. As microfeições pós deposicionais de hipocutãs de depleção de grão e de impregnação de grão, quasicutã de impregnação e de depleção de poro associadas a ocorrência de poros cavitários com aspectos de desmonte ratificam a relativa continuidade da água no sistema e a sucessiva remobilização do material plásmico expressada pelo preenchimento dos poros cavitários e as feições de depleção.

A matriz porfírica confirma o caráter viscoso do fluxo com elevada concentração de sedimento saturado por água, o qual, durante o processo, sofreu mudanças reológicas observadas pelas nítidas estratificações (PAISANI e GEREMIAS, 2010). Esse aumento de água no processo pode ser apenas uma resposta a retenção de material ao longo da encosta. Nódulos de ferro herdados, pedorrelíquia e pápulas sugerem que o material fonte correspondia a uma cobertura laterítica (PAISANI e GEREMIAS, 2010).

O grau de pedalidade observado e a ocorrência localizada de plasma com orientação paralelaestriada, granoestriada e poroestriada apontam, ainda, a persistência das

Microagregados;/ B) Visão geral; 4- Formação de nódulo; C) 5 - Hipocutã de impregnação de ferro/ D) Orientação plásmica; E) 6- Hipocutã de depleção de poro; 7- Formação de nódulo; 8 - Poro cavitário com aspecto de desmonte; F) 9 - Preenchimento de poro por ferro e impregnação de grão; 10 - Cavitário com desmonte; G) 11- Pápula; 12 - Hipocutã de impregnação de grão; H) - 12 - Litorrelíquia.

características deposicionais na estrutura interna do perfil, indicando, desse modo, que tais não passaram por transformações significativas associadas aos processos pedogenéticos e, consequentemente, a sua imaturidade pedogenética bem como a herança genética.

Tais informações, associadas aos dados da mineralogia da argila e a espessura da unidade deposicional, sugerem que o material fonte correspondia a uma mistura de blocos incorporados a uma matriz oriunda de uma cobertura superficial espessa e com estágio moderado de evolução pedogeoquímica. Além disso, pode-se inferir,também, que o clima não foi tão eficiente na evolução mineralógica dos materiais após a deposição, ou que os processos morfogenéticos, ou melhor, que ambos não favoreceram essa evolução.