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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.2 Descrição e análise dos perfis estratigráficos

5.2.7 Perfil Riacho Bebida Nova Crato (RBN-C)

Diferente dos demais perfis, esse encontra-se em um canal a 455m de altitude, nas coordenadas 7º13'34,31''S e 39º26'14,78''O, circunscrito na comunidade Bebida Nova, zona rural do município do Crato, logo após o bairro Batateira (Figura 36). Trata-se de um canal afluente do rio batateira, localmente semi-confinado, de leito misto cuja macrofábrica - blocos de diversos tamanhos - está geneticamente ligada aos depósitos de tálus retrabalhados pelos processos de encostas e incorporados pela drenagem. Lateralmente esse canal, cuja diferença altimétrica em relação às principais drenagens é de aproximadamente 70m, apresenta sedimentação descontínua, e uma curva acentuada, voltando, a jusante, a direção principal de seu fluxo.

Figura 36 - Perfis topográficos traçados em relação ao ponto amostrado RBN-C (Ver Figura 17); A/B e C - Visão geral da área.

O perfil amostrado apresentou, da base para o topo, 4,6m (Figura 37), no qual três unidades foram reconhecidas: uma cascalheira clasto suportada com granodecrescência ascendente, contendo matriz apenas na interface dos grãos, cuja textura superficial mostra-se predominantemente sub arredondada e com tamanhos que variam de blocos com mais de 30cm de diâmetro, na base, à seixos, no topo; no meio, registra-se uma camada deposicional aparentemente de estrutura maciça, com textura de areia muito fina, mosqueada, nódulos de ferro e presença de raízes hodiernas; no topo, uma camada de textura areia fina, sem mosqueamento, com presença de raízes modernas e aparentemente de estrutura maciça, testemunhando a última deposição. Convém destacar que em alguns pontos do trecho visitado, a cascalheira clasto suportada acha-se soterrada por um tênue capeamento sedimentar, com ausência do depósito com mosqueamento, indicando uma possível remobilização, e uma incipiente formação e/ou remobilização do nível que estrutura a paisagem superficial.

5.2.7.1 Propriedades sedimentológicas, micromorfologia e idades: compilação dos dados

A presença de quartzo, por vezes com revestimento ferruginoso, e alguns grãos de ilmenita definem a composição mineralógica dos sedimentos, os quais são morfologicamente bastante heterogêneos. Predominam as classes sub angular a sub arredondado, sub discoidal a discoidal, brilhante e transparente. Apesar de integrarem um perfil disposto em um canal fluvial, os sedimentos não apresentaram uma hegemonia das classes, sobretudo do intervalo sub arredondado a bem arredondado, mostrando que tais podem ser oriundos tanto do transporte fluvial como de uma contribuição indireta dos sedimentos de encosta, acusando moderado retrabalhamento pelos processos de transporte dos sedimentos relativamente próximos da fonte.

Os dados de Folk e Ward (1957) e o diagrama de Perjup (1988) revelaram que são amostras pobremente selecionadas, de assimetria muito positiva, curtose leptocúrtica e de hidrodinâmica muito alta. Tais dados apontam para depósitos cuja dinâmica envolvida foi de muita energia, baixa viscosidade e com pouca capacidade seletiva pelo fluido. Os dados confirmam uma concentração de sedimentos da fração areia e um coeficiente de finos muito baixo, sugerindo baixa capacidade de retenção dessas partículas no material.

Assim como nos demais perfis, a análise micromorfológica refletiu os dados verificados na granulometria e morfoscopia, além de mostrar nítidas estratificações não visualizadas macroscopicamente nos depósitos in loco (Figura 38). Do conjunto de lâminas micromorfológicas essas exibiram um padrão diferenciado, sobretudo pelo aspecto considerado de esqueleto (cerca de 67%) e a baixa ocorrência de poros (cerca de 5% na amostra RBN-C-290 e 10% na amostra RBN-C-366). A distribuição relativa dos constituintes comporta-se majoritariamente como porfírica fechada a mônica, com trechos muitos pontuais de quitônica/gefurica na lâmina RBN-C-366, de idade 3.400 ± 500, cujas estratificações são aparentemente sutis quando comparadas com as encontradas na amostra RBN-C-290, de idade 7.000 ± 1.150. Na composição do esqueleto não foram observadas litorrelíquias.

O plasma (cerca de 28% a 23% respectivamente) mostrou-se bastante impregnado por óxido de ferro e preponderantemente com orientação indiferenciada, ocorrendo, muito restritamente, orientação manchada/pontilhada. Disperso no plasma, nódulos herdados e em processo de formação também foram verificados.

Figura 38: Imagens micrográficas dos depósitos RBN-C

Em relação aos poros, sua baixa ocorrência é notável, com um discreto aumento na unidade deposicional superior, os quais são pertencentes à classe dos cavitários, por vezes Legenda: RBN-C-290: A e B) Visão geral e microestratificações; C)1- Nódulo herdado; 2 - Hipocutã de impregnação de grão; RBN-C-366: D) Visão geral com microestratificação; E) Visão geral; F) 3- Formação de nódulos.

com estrutura incipiente de desmonte e com algum preenchimento de material plásmico solto descontínuo. O plasma não exibiu nenhuma organização pédica, ou seja, é um material apédico; isoladamente, alguns microagregrados com fraca pedalidade e não acomodados encontram-se em processo de formação.

Com base na sistematização dos dados pode-se apontar:

Tratam-se de três unidades deposicionais com nítidas descontinuidades: a base, cascalheira clasto suportada, de gênese ligada a um leque aluvial de alta energia e incorporação maciça dos depósitos de tálus; as demais representam fluxos difusos, possivelmente em resposta à dinâmica do canal e aos processos ligados ao escoamento superficial com retrabalhamento do material de encosta. O mosqueamento observado na unidade intermediária indica a flutuação do lençol freático.

A matriz porfírica fechada aponta para o caráter difuso do fluxo com elevada concentração de sedimento submetida à presença de água, testemunhada pelas microestratificações nítidas. Embora incipientes, os restritos poros cavitários com aspecto de desmonte evidenciam a circulação da água no ambiente pós deposicional.

A natureza apédica e a orientação indiferenciada, por vezes manchada pontilhada, mostra que a organização interna de tais depósitos exibem ainda as características dos processos deposicionais. São portanto materiais imaturos do ponto de vista pedogeoquímico.

5.3 Cronologia dos depósitos e correlação cronoestratigráfica com os eventos conhecidos