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Perfil do médio estabelecimento agropecuário no Brasil

4.2 Evolução da estrutura fundiária no Brasil de 1985 a 2006

4.3.2 Perfil do médio estabelecimento agropecuário no Brasil

O estrato, aqui designado, para o médio estabelecimento agropecuário brasileiro compreende os estabelecimentos cuja área total seja superior ou igual a 50 ha e inferior a 500 ha. Dados do censo agropecuário de 2006 (IBGE, 2009a), mostraram que existem 761.988 estabelecimentos entre 50 e 500 ha no país (Tabela 11) que representavam 15,5% do número total de estabelecimentos agropecuários brasileiros (Tabela 8). Esses estabelecimentos ocupavam uma área de 102.221.073 ha (Tabela 11), respondendo por 31% da área total destinada às atividades agropecuárias no Brasil (Tabela 8).

Pode-se constatar na Tabela 11, de maneira geral, que o Nordeste detém o maior número e área dos estabelecimentos agropecuários entre 50 e 500 ha, assim como apresentou a melhor relação VP/FT e emprega o maior quantitativo de pessoas nesse estrato agropecuário, destacando-se o Estado da Bahia, exceto na relação VP/FT e no percentual de parentes ocupados na atividade agropecuária. A região Sudeste se destacou por gerar o maior valor da produção do país, nos estabelecimentos médios, representando 43% do VP produzido pela nação nesse estrato. Essa região foi a que menos empregou parentes na atividade agropecuária, enquanto que o Norte foi a que mais empregou familiares. A região Sul se destacou apenas na captação dos financiamentos agropecuários, assim como no estrato do pequeno estabelecimento.

Conforme pode ser visto na Tabela 11, a região Sudeste foi responsável por 43% do VP agropecuário dos estabelecimentos entre 50 e 500 ha, destacando-se os Estados de São Paulo e Minas Gerais. Não por acaso, estes foram os maiores estados produtores agropecuários brasileiros. A região Sul foi a segunda maior produtora, respondendo por 27,5% do VP nacional dos estabelecimentos agropecuários médios. Destacam-se, nesta região, os Estados do Paraná e do Rio Grande do Sul, 3o e 4o maiores estados produtores, respectivamente. O Estado da Bahia revelou ser o 5o maior produtor nacional, destacando-se, mais uma vez, como o principal estado produtor do Nordeste, sendo seguido, na região, pelo Estado de Alagoas com a metade produzida, desbancando estados tradicionais como o Ceará e Pernambuco. Este resultado favorável ao Estado de Alagoas deve-se, provavelmente, à concentração da cana-de-açúcar na composição da produção agropecuária do estado entre as quatro principais culturas, cujo plantio de cana-de-açúcar concentra 66% da área do estado, considerando-se apenas no estrato do estabelecimento médio.

Tabela 11 - Estabelecimentos, área, valor da produção, financiamento total, mão de obra e número de tratores da média agropecuária brasileira em 2006

Regiões Estab. % Área (ha) % Área média VP (mil R$) % FT (mil R$) % VP/FT Pessoal % parentes Trat. Norte 151.743 19,91 18.535.346 18,13 122,15 1.942.372 4,99 259.247 4,91 7,49 530.145 86,60 10.050 RO 33.139 4,35 3.631.962 3,55 109,60 359.573 0,92 69.413 1,31 5,18 111.094 86,43 2.750 AC 13.914 1,83 1.630.625 1,60 117,19 128.277 0,33 10.240 0,19 12,53 45.987 91,92 234 AM 13.378 1,76 1.383.667 1,35 103,43 178.373 0,46 20.630 0,39 8,65 53.713 89,30 319 RR 8.022 1,05 734.461 0,72 91,56 34.636 0,09 7.764 0,15 4,46 20.852 96,45 170 PA 60.155 7,89 7.456.834 7,29 123,96 1.043.521 2,68 99.017 1,88 10,54 227.399 84,22 3.530 AP 1.681 0,22 170.703 0,17 101,55 15.260 0,04 2.426 0,05 6,29 6.623 91,85 29 TO 21.454 2,82 3.527.095 3,45 164,40 182.732 0,47 49.758 0,94 3,67 64.477 85,54 3.018 Nordeste 226.889 29,78 28.627.372 28,01 126,17 6.016.764 15,45 329.870 6,25 18,24 1.001.633 60,06 22.191 MA 41.163 5,40 5.363.027 5,25 130,29 529.485 1,36 56.707 1,07 9,34 180.913 69,60 1.942 PI 29.987 3,94 3.640.145 3,56 121,39 273.392 0,70 19.788 0,37 13,82 123.589 69,45 1.034 CE 28.211 3,70 3.650.603 3,57 129,40 847.119 2,18 48.046 0,91 17,63 122.777 61,80 2.065 RN 9.708 1,27 1.270.768 1,24 130,90 240.910 0,62 18.106 0,34 13,31 38.828 63,51 1.550 PB 12.686 1,66 1.667.228 1,63 131,42 303.934 0,78 14.038 0,27 21,65 53.090 59,60 1.280 PE 17.618 2,31 2.112.311 2,07 119,90 787.465 2,02 22.604 0,43 34,84 92.406 51,98 2.219 AL 5.374 0,71 747.235 0,73 139,05 943.559 2,42 19.523 0,37 48,33 45.684 31,03 1.443 SE 4.990 0,65 651.871 0,64 130,64 253.911 0,65 14.049 0,27 18,07 23.483 42,65 1.226 BA 77.152 10,13 9.524.184 9,32 123,45 1.836.989 4,72 117.010 2,22 15,70 320.863 57,78 9.432 Sudeste 163.766 21,49 22.655.841 22,16 138,34 16.746.729 43,01 1.830.974 34,68 9,15 836.373 39,67 109.017 MG 103.011 13,52 14.160.246 13,85 137,46 7.126.031 18,30 811.288 15,36 8,78 497.569 42,72 45.579 ES 9.828 1,29 1.170.192 1,14 119,07 690.989 1,77 84.895 1,61 8,14 66.209 40,42 3.938 RJ 7.547 0,99 1.051.817 1,03 139,37 349.671 0,90 12.142 0,23 28,80 34.881 37,42 2.666 SP 43.380 5,69 6.273.586 6,14 144,62 8.580.038 22,04 922.648 17,47 9,30 237.714 33,42 56.834 Sul 110.722 14,53 15.362.824 15,03 138,75 10.699.837 27,48 2.117.742 40,11 5,05 413.911 63,24 104.041 PR 45.019 5,91 6.737.324 6,59 149,66 5.134.497 13,19 1.053.905 19,96 4,87 193.606 52,47 43.441 SC 17.236 2,26 1.995.992 1,95 115,80 1.614.612 4,15 252.157 4,78 6,40 64.882 69,35 14.084 RS 48.467 6,36 6.629.508 6,49 136,78 3.950.728 10,15 811.680 15,37 4,87 155.423 74,10 46.516 Centro-Oeste 108.868 14,29 17.039.689 16,67 156,52 3.527.514 9,06 742.528 14,06 4,75 310.817 73,36 39.966 MS 15.064 1,98 3.006.009 2,94 199,55 774.829 1,99 198.086 3,75 3,91 43.158 64,59 10.766 MT 45.377 5,96 6.073.193 5,94 133,84 865.158 2,22 181.433 3,44 4,77 120.994 84,66 9.308 GO 47.726 6,26 7.855.278 7,68 164,59 1.718.419 4,41 345.624 6,55 4,97 141.726 67,94 19.078 DF 701 0,09 105.210 0,10 150,09 169.108 0,43 17.385 0,33 9,73 4.939 28,43 814 Brasil 761.988 100 102.221.073 100 134,15 38.933.216 100 5.280.361 100 7,37 3.092.879 60,86 285.265 Fonte: Elaborado a partir dos dados de IBGE (2009a).

Ainda segundo a Tabela 11, os médios estabelecimentos da região Sul foram os que mais captaram financiamento agropecuário, com 40% do total captado no Brasil por essa categoria, destacando-se, os estabelecimentos médios do Paraná com 50% do total da categoria na região Sul. Os médios estabelecimentos da região Sudeste foram o segundo grupo que mais captou recursos, respondendo por 35% do total financiado pelo país nesta categoria, sendo que o Estado de São Paulo captou a metade desses recursos. Os médios estabelecimentos dos Estados de São Paulo e Minas Gerais contraíram 95% dos recursos que foram destinados a essa categoria no Sudeste.

Apesar dos médios estabelecimentos da região Nordeste terem captado apenas 6% do FT destinado no Brasil a essa categoria, quando se analisa a razão entre o VP gerado e o FT captado, percebe-se que os médios estabelecimentos do Nordeste apresentaram a maior relação do país com 18,24, ou seja, a região gerou 18 vezes de VP em relação ao FT captado. Os médios estabelecimentos do Estado de Alagoas foram os que apresentaram a maior relação VP/FT do país e da região, com 48,33, seguidos dos médios estabelecimentos de Pernambuco, cuja relação foi de 34,84, a segunda maior do país e da região. Os médios estabelecimentos do Estado de São Paulo apresentaram uma relação VP/FT de 9,3.

Na penúltima coluna da Tabela 11 constata-se que o maior contingente de pessoas ocupadas nos médios estabelecimentos situou-se no Nordeste, com 32,39% do total nacional ocupado nesses estabelecimentos, seguido pelos do Sudeste (27,04%). Embora a região Sudeste tenha apresentado maior nível de mecanização na agropecuária do que a região Nordeste, aquela ainda retém grande quantidade de mão de obra agropecuária, muito em função de culturas que em determinado momento do ciclo demandam muita mão de obra, tais como a cana-de-açúcar e a laranja na colheita.

De forma geral, houve maior número de tratores nos médios estabelecimentos em todas as regiões (exceto no Sul) em comparação com os existentes nos pequenos estabelecimentos (Tabela 10). O maior quantitativo de tratores nos médios estabelecimentos foi observado na região Sudeste, seguido pela região Sul. O Estado de São Paulo respondeu pela maior frota do país nos médios estabelecimentos, seguido pela frota do Rio Grande do Sul, exatamente o inverso do ocorrido no estrato do pequeno estabelecimento.

Os dados da Tabela 9 reforçam que as agropecuárias das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste são mais intensivas em capital do que as agropecuárias das regiões Norte e Nordeste. Mas como era de se esperar, a distância tecnológica entre esses dois blocos é menor no estrato do médio estabelecimento. A relação trabalho-capital (EH/trator) nos médios estabelecimentos das regiões Norte e Nordeste situa-se entre 41 e 44 EH/trator, enquanto que

essa relação nas outras regiões é inferior a 10 EH/trator, sendo que no Sul essa relação é de apenas 3,6 EH/trator.

O maior nível de mecanização da agropecuária nos médios estabelecimentos reflete-se na produtividade do trabalho, conforme pode ser vista na penúltima coluna da Tabela 9. Os maiores níveis de produtividade do trabalho são encontrados para os médios estabelecimentos situados nas regiões Centro-Sul do país, com destaque para a região Sul atingindo R$ 28,5 mil de VP por EH. Este valor é mais alto do que o quádruplo e o sêxtuplo da produtividade do trabalho agropecuário em médios estabelecimentos do Nordeste e do Norte, respectivamente. Em suma, tem-se, na Tabela 9, que os médios estabelecimentos das regiões Sul e Sudeste são mais intensivos em capital e apresentam níveis de produtividade da terra e do trabalho bem superiores aos estabelecimentos médios das demais regiões.