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4 FORMAÇÃO INICIAL OU CONTINUUM DE FORMAÇÃO

4.5 O PERFIL DO PROFESSOR DA EJA

O tema perfil do professor/educador de EJA foi abordado por Arroyo99 (2006), responsável por problematizar esse tema que aparece no primeiro capítulo do Livro I. Em seu trabalho, ele lança uma questão: “Temos assim um desafio, vamos ter que inventar esse perfil [de educador de EJA] e construir sua formação” (ARROYO, 2006, p. 18). Em relação ao perfil desse Educador/professor, Arroyo (2006, p. 20) propõe:

Se existe algo que possamos fazer, é deixar que esse perfil plural do educador de jovens e adultos contamine o perfil do educador escolar. O inverso, porém, distancia-nos dessa dinâmica e nos levará a regular, a encaixar essa riqueza toda em um perfil definido, já fechado. [...] Essa especificidade de vida confere outra à EJA e à formação de seus profissionais. É essa particularidade da sua condição social, étnica, racial, cultural e especial (de jovens e adultos populares do campo, das vilas e favelas) que tem de ser o ponto de referência para a construção da EJA e para a conformação do perfil de educador (a) (ARROYO, 2006, p. 23).

Arroyo (2006) justifica a necessidade de se definir um perfil de educador/professor de EJA, tomando por referência características fragmentadoras dos sujeitos.

Assim, se é necessário compreendermos o perfil desse professor nos tempos de hoje, penso que também se torna indispensável que esses mesmos professores se apropriem do perfil de seus alunos de EJA. Afinal, quem e como são esses nossos alunos? (ARROYO, 2006, p. 35)

O autor apresenta essa pergunta, mas ele mesmo já a havia respondido no excerto anterior. Portanto, é uma proposta de perfil de educador/professor para atender às necessidades específicas do aluno

99

Prof. da FAE/UFMG, ex-Secretário Adjunto de Educação de Belo Horizonte, 2006.

que possui esta ou aquela característica. Opera uma homogeneização da categoria de classe social – “condição social” –, colocada no mesmo campo das categorias étnica, racial, cultural. Assim, ao ampliar a identidade do aluno para além da sua identidade de classe, desprovida dos meios de produção, provoca o obscurecimento da questão determinante do aluno da EJA. Além disso, caracteriza o aluno urbano da EJA como aquele que vive em favela. Desse modo, o perfil do educador/professor deverá ir ao encontro do perfil do aluno.

A proposta apresentada no relatório da plenária final aponta que a justificativa para a não existência de diretrizes de formação de educadores para EJA se justifica pela posição marginal que a EJA ocupa no interior das políticas, desconsiderando, portanto, a Resolução CNE/CEB nº. 1/2000 (BRASIL, 2000b), e propondo a construção de diretrizes para a formação do professor da EJA com base no delineamento de seu perfil.

A posição ainda marginal ocupada pela EJA no interior das políticas públicas faz com que não contemos com diretrizes de formação de educadores ou com centros educativos especialmente dedicados a essa formação. É preciso identificar as especificidades que delineariam o perfil do educador de jovens e adultos, a partir das quais possam ser definidas as diretrizes de sua formação, ainda em construção (SNF/EJA, 2006, p. 281).

Foram selecionados, no Livro II, dois excertos. No primeiro, Soares (2008b) alega que:

Após a aprovação das novas diretrizes para o curso de pedagogia, a questão da formação de professores em EJA adquire outros sentidos. A configuração curricular do curso deverá atribuir um novo perfil para os licenciados, baseado nas disciplinas que vão compor o novo currículo. Assim, pode-se perguntar que lugares irão ocupar as disciplinas formativas de professores em EJA nos projetos pedagógicos e curriculares das IES? Nesse contexto, as novas diretrizes oferecem um campo aberto a indagações e é, sobretudo, um desafio às tendências teórico-metodológicas desenvolvidas pela pesquisa (SOARES, 2008b, p. 65).

Contrariamente, Chaves (2008) apresenta um perfil mais crítico, não necessariamente legitimador de documentos prescritos da lei:

O que se almeja do perfil desse profissional, desse educador? Com base nesses princípios, exige-se um profissional que compreenda criticamente a sociedade e o papel do educador em seus aspectos políticos, sociais, econômicos e históricos, ou seja, que compreenda os processos históricos. [...] Então, o profissional deve passar por uma formação e um desenvolvimento humanos, sendo capaz de atuar na gestão, no que se refere ao planejamento, execução e avaliação do processo educativo (CHAVES, 2008, p. 74).

No Livro III, selecionamos duas passagens do trabalho de Freitas e Moura (2011). Na primeira, as autoras fazem referência à indefinição de políticas de formação e remete a responsabilidade de construir esse perfil para a constituição de diretrizes, o que ocorreu em 2010100.

Refletir sobre a formação do educador de jovens e adultos no Brasil não é uma tarefa fácil porque é uma modalidade constituída pela efervescência das lutas em prol de torná-la política pública. Na perspectiva de Arroyo (2005), a formação do educador da Educação de Jovens e Adultos encontra-se em processo de construção, uma vez que seu perfil ainda não está definido. [...] Isso faz com que não existam diretrizes para formação nem instituições escolares de ensino médio e ensino superior voltadas para esse fim. Isso pela necessidade de serem definidas as especificidades que delineiem o perfil do educador de jovens, adultos e idosos que possam subsidiar as diretrizes para a formação desse educador (FREITAS; MOURA, 2011, p. 99).

As autoras apontam a impossibilidade de formar futuros professores para a EJA em cursos de licenciaturas que não possuem em seus currículos conhecimentos da EJA, alegando que a dinâmica social exige um novo perfil de professor.

100

A data de publicação do Livro III ocorreu em 2011, mas o III SNF/EJA ocorreu em 2010.

A Constituição trouxe no artigo 208, das disposições transitórias, a obrigatoriedade do ensino fundamental para crianças, jovens e adultos. Ela traz explícito o direito subjetivo para aquelas pessoas que, por razões históricas, nunca estudaram ou não concluíram a sua escolarização e permanecem na busca da continuidade dos estudos, numa sociedade competitiva e excludente. Isso provocou também as discussões sobre a formação docente, atrelado ao fato de que a dinâmica social passa a exigir um novo perfil de professor, tornando-se um desafio à formação desse profissional. Um dos problemas é garantir ao professor, na sua formação inicial, conhecimentos essenciais da EJA. Sem esquecer que os cursos de formação devem preparar os docentes para atuarem em quaisquer modalidades de ensino (FREITAS; MOURA, 2011, p. 101- 102).

Moraes (2003, p. 8) alerta para o fato de que

as recomendações conciliam-se com o desiderato do Estado brasileiro [...] em reduzir gastos com as áreas sociais e em fomentar a passagem da responsabilidade pública para a esfera privada. Ademais, esses delineamentos harmonizam-se com o peculiar interesse de empresários pelo “trabalhador de novo “perfil” dotado de maiores competências técnicas e atitudinais mais adequadas à produção flexível. A formação desse novo perfil, por sua vez, gerou novas demandas para o campo educacional. Vale lembrar que a preocupação de empregadores brasileiros ultrapassou as fronteiras da educação profissional, voltando-se, especialmente nos anos 90 [2000] para a Educação Básica.

Pereira (2011)101 defende a necessidade de superar a proposição de definição de um perfil de professor, colocando em questão os aparatos prescritivos e coercitivos.

Ao contrário de demarcar ou modelar um perfil ou identidade de professor a ser perseguido, trata-se de colocar em questão o contexto e a circunstância na qual estamos imersos e, dessa maneira, buscar