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No documento Dores no corpo e dores na alma (páginas 43-50)

Somente no primeiro semestre de 2015 o ligue 180 recebeu 32.248 ligações. Dentre os tipos de violência informados nos atendimentos, os mais recorrentes foram relatos de

violência contra a mulher, 16.499 foram relatos de violência física, 9.971 relatos de violência psicológica 2.300 relatos de violência moral,629 relatos de violência patrimonial, 1.308 relatos de violência sexual, 1.365 relatos de cárcere privado e 176 relatos de tráfico de pessoas, conforme o gráfico 1:

Fonte: Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180/SPM.

A Central de Atendimento à Mulher constatou que, no tocante aos relatos de violência até junho de 2015 houve um aumento de 47,63 % no número de violências sexuais (estupro, assédio, exploração sexual), computando a média de sete registros por dia, tendo um aumento de 65,39% no número de estupros registrados, sendo em média cinco casos por dia, ocorreu o aumento de 145,5 % de relatos de cárcere privado.

Através dos dados do disque 180 é possível verificar quem liga solicitando auxílio, sendo majoritariamente procurado por pessoas do sexo feminino (60%). No entanto, verificou-se a procura da Central de outras pessoas próximas à vítima, que relataram eventos de violências contra mulheres, a exemplo dos familiares, vizinhos e amigos e amigas (conforme gráfico 2):

Fonte: Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180/SPM.

O gráfico 3 indica que 71% dos casos, as violências foram cometidas por homens com quem as vítimas têm ou tiveram algum vínculo afetivo: atuais ou ex-companheiros, cônjuges, namorados ou amantes das vítimas. Cerca de 15% dos relatos referiram familiares, amigos, vizinhos, conhecidos como autores/as da violência.

Quanto ao tempo de relação da vítima com o/a agressor(a), as relações acima de 01 ano até 05 anos corresponderam 31,33% dos registros e as que convivem há mais de 10 anos no relacionamento somam 37,05%.

Fonte: Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180/SPM.

As informações relatadas sobre a frequência em que a violência ocorre mostraram que em 39,47% dos casos a violência é diária; e em 35,60%, é semanal. Ou seja, em 75,07% dos casos a violência ocorre com uma frequência muito alta.

Em relação ao momento em que a violência teve início dentro do relacionamento, os atendimentos de 2015 apontam que 48% das violências relatadas foram iniciadas logo no primeiro ano de convivência do casal.

Fonte: Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180/SPM.

O risco de que a violência relatada acarretasse na morte das vítimas foi percebido em 31,22% dos casos; o risco de espancamento ou outro dano físico em 22,72%; e o risco de danos psicológicos em 21,36%.

Os atendimentos registrados pelo Ligue 180 revelaram que 78,59% das vítimas possuem filhos (as) e que 81,00% desses (as) filhos (as) presenciaram ou sofreram a violência.

Fonte: Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180/SPM.

Nos casos de relatos de violência, “somente” 35,5% das mulheres em situação de violência dependem financeiramente do/a agressor/a, 64,5% não dependem. Esse dado contradiz o senso comum de que a dependência financeira é a motivação principal para a permanência de mulheres em relações marcadas por violência de gênero. A violência contra as mulheres é fenômeno complexo que precisa ser avaliado em sua amplitude de fatores socioculturais.

O número de assassinatos de mulheres em condição violenta e relacionado à sua condição de mulher na sociedade a central indicou a ocorrência de 176 homicídios tentados e 49 homicídios de mulheres consumados somente entre janeiro e junho de 2015.

De acordo com os dados do Ministério da Saúde, são estimadas 5.664 mortes de mulheres por causas violentas a cada ano no Brasil, 472 a cada mês, 15,52 a cada dia, ou uma a cada hora e meia. Diante dessas estatísticas alarmantes, o IPEA () avaliou os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, e concluiu que a Lei Maria da Penha não teve o impacto esperado sobre o número de óbitos entre mulheres em decorrência da violência doméstica. As taxas de homicídio entre mulheres por violência doméstica permaneceram estáveis antes e depois da vigência da nova lei. Segundo IPEA, entre 2001 e 2006, período anterior à lei, a taxa de feminicídios foi de 5,28 mulheres a cada 100 mil. No período entre 2007 e 2011, essa taxa foi de 5,22 mulheres a cada 100 mil.

No Brasil12

, no período 2009-2011, foram registrados, no SIM, 13.071 feminicídios, o que equivale a uma taxa bruta de mortalidade de 4,48 óbitos por 100.000 mulheres. Após correção dos dados, estima-se que ocorreram 16.993 mortes, resultando em uma taxa corrigida de mortalidade anual de 5,82 óbitos por 100.000 mulheres. O relatório descreve que no primeiro ano de vigência efetiva da lei Maria da Penha, 2007, as taxas experimentaram um leve decréscimo, voltando imediatamente a crescer de forma rápida até o ano 2010, igualando-se ao maior patamar já observado no país: o de 1996.

A pesquisa do IPEA apresentou também o perfil dessas vítimas, que foram predominantemente jovens: 31% das mulheres na faixa etária de 20 a 29 anos e 23% entre 30 e 39 anos. Cerca de 30% dos feminicídios ocorreram no domicílio, 31% em via pública e 25% em hospital ou em outro estabelecimento de saúde. Além disso, ocorreram mais episódios de violência com óbito contra mulher nos finais de semana (36%).

A região do país com as maiores taxas é o Nordeste, que apresentou uma taxa de 6,9 óbitos por 100 mil mulheres, no período de 2009 a 2011, seguida pela Centro-Oeste e Norte, com 6,86 e 6,42 óbitos por 100 mil mulheres, respectivamente. No ranqueamento entre os estados brasileiros, a menor taxa foi encontrada no Piauí, com 2,71/100 mil, seguido por Santa Catarina, com taxa de 3,28; São Paulo, com 3,74; Maranhão, com 4,63; Rio Grande do Sul, com 4,64; e Amazonas, com 5,07 casos de feminicídios por 100 mil mulheres. Em situação oposta está o Espírito Santo, estado brasileiro com a maior taxa de feminicídios, 11,24 a cada 100 mil mulheres, seguido por Bahia (9,08) e Alagoas (8,84).

De acordo com o documento, os crimes de homicídio contra as mulheres "são geralmente perpetrados por homens, principalmente parceiros ou ex-parceiros". Eles decorreriam de casos de abusos no ambiente do lar, ameaças, intimidação, violência sexual ou situações nas quais a mulher tem menos poder ou menos recursos do que o homem.

O que vem acontecendo com as mulheres nos últimos anos é uma barbárie. Os crimes não fazem distinção de lugar, cultura, raça, idade, religião ou classe social. O feminicídio prospera porque as instituições públicas não estão garantindo a segurança das mulheres. O Brasil é o 7º no ranking mundial em violência contra as mulheres.

Em 09 de março de 2015, as mulheres ganharam mais um motivo para comemorar, a Lei do Feminicídio, foi sancionada pela presidente Dilma Rousself, a lei que tipifica o Feminicídio, (Lei 13.104/15) como crime hediondo (Lei 8.072/1990). A proposta havia sido concebida na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Violência Contra as Mulheres, de 2012, e foi aprovada no dia 03/03 pela Câmara dos Deputados. Segundo o texto da lei, é considerado feminicídio crimes decorrentes de “violência doméstica e familiar” ou crime de “discriminação de gênero”. A pena pode ser determinada entre 12 a 30 anos e também prevê aumento de um terço até a metade se o crime for praticado durante a gravidez ou nos três meses posteriores ao parto; contra menores de 14 anos, maiores de 60 ou vítimas com deficiência; e na presença de pais ou filhos.

No documento Dores no corpo e dores na alma (páginas 43-50)