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4 PENSANDO A RELAÇÃO ENSINO DA FILOSOFIA E CIDADANIA NA

4.3 Oficinas de filosofia como espaço de construção da cidadania: o envolvimento

4.3.1 Perfil dos estudantes

Nesta etapa será apresentado o perfil dos estudantes pesquisados, alcançado a partir da aplicação do questionário eletrônico via Google forms composto de 12 questões de múltipla escolha, considerando tais critérios como faixa etária, sexo, grau de instrução dos pais, tipo de moradia, renda familiar, equipamento utilizado para o acesso das oficinas, tipo de acesso à Internet. Seguidamente os dados obtidos foram tabulados a partir do programa Excel 2013.

Foram aplicados 23 questionários em um grupo focal de estudantes da escola que participaram da atividade em todas as etapas de intervenção prática das oficinas. Inicialmente os estudantes foram orientados a responder o questionário que foi disponibilizado via link no

Whatsapp do grupo que fora formado. Foi pedido nesse momento que as respostas fossem as

mais sinceras possíveis e de modo livre e assentido. Explicitou-se a relevância dos dados levantados para a pesquisa, sendo garantido o anonimato das informações e o uso apenas para fins acadêmicos. Em nenhum momento o pesquisador influenciou os pesquisados nas respostas. Esse primeiro questionário buscou traçar o perfil dos participantes da pesquisa. Cabe ressaltar que todos os estudantes que participaram são oriundos de uma escola pública estadual, situada na periferia de Fortaleza-CE, no qual o pesquisador trabalha como docente da disciplina de Filosofia no ano letivo de 2020. Dos estudantes que responderam o questionário 73,9% (17 estudantes do total) tinham entre 15 e 16 anos, 21,7 % (5 estudantes) tinham entre 17 e 18 anos e apenas 1 estudante tinha acima de 18 anos. A maioria se identificou como sendo do sexo feminino correspondendo a 69,6% (16 estudantes), 26,1% (6 estudantes) do sexo masculino e apenas 1 marcou a opção “outro”, mas não quis especificar.

Em relação a raça/cor verificamos que os estudantes participantes da pesquisa se identificavam quase que de modo equânime entre a raça/cor parda e branca, sendo 43,5% (10

estudantes) e 39,1% (9 estudantes) respectivamente, 2 estudantes negros, 1 indígena e 1 amarela.

Julgamos importante haver questões que levassem em consideração a moradia e renda familiar dos pesquisados, haja vista que tais fatores econômicos influenciam diretamente no modo como estes estudantes veem sua realidade e são impactados pela mesma. Em relação à moradia 78,3% (18 estudantes) residem em casa própria, e 21,7% (5 estudantes) em casa alugada. De fato, a moradia digna e uma renda mínima são fundamentais para criar e amparar os jovens em seus estudos e notadamente nas suas vidas.

De acordo com os estudos de Guerreiro-Casanova et al. (2011), o ambiente familiar é um determinante do nível educacional dos indivíduos no Brasil. Os autores classificam os recursos familiares em dois tipos: a) A renda familiar per capita: que em nossa pesquisa verificamos 47,8% (11 estudantes) com renda familiar mensal de R$ 261,00 a R$1300,00 e 52,2% (12 estudantes) entre R$ 1301,00 a R$ 3900,00 reais, com agravante de 86,9% (20 estudantes) informaram que na casa onde residem moram de 3 a 8 pessoas, enquanto que 3 estudantes moram com 1 a 2 pessoas em sua casa. A renda per capita de quase metade dos entrevistados gira em torno de R$ 433,00. Vale ressaltar que do universo de estudantes, os participantes da pesquisa são os que tinham melhores condições de acesso e recursos tecnológicos, 24 alunos não conseguiram participar devido, dentre outros motivos, à falta de estrutura e recursos; b) O nível de escolaridade dos pais: os dados mostraram que 52,1% (12 pais) não tem o segundo grau completo, variando entre fundamental completo, incompleto e sem escolaridade, enquanto que o das mães o resultado apresenta uma melhora da formação, apresentando cerca de 26% (6 mães). Com efeito, o grau de instrução dos pais/responsáveis tem importantes implicações para os resultados escolares. Segundo o relatório do Escritório Nacional de Estatística britânico (Office for National Statistics), a falta de estudo cria um forte ciclo de pobreza e fracasso, passado de pais para filhos. Os dados mostram que a probabilidade de uma criança é sete vezes menor de ter sucesso na escola se o seu pai não foi muito estudioso, em comparação com filhos de pais altamente educados. O mais curioso é que o nível de educação das mães não teve tanta influência quanto o dos pais no sucesso dos estudantes na sala de aula. O relatório aponta que uma criança seria três vezes mais propensa a ter um baixo rendimento na escola se sua mãe tivesse nível menor de escolaridade31.

31 SERAFINO, Paola; TONKIN, Richard. Intergenerational transmission of disadvantage in the UK & EU. Office for National Statistics. Disponível em: https://webarchive.nationalarchives.gov.uk/20160105214416/http://www.ons.gov.uk/ons/dcp171766_378097.pdf. Acesso em: 17 set. de 2020.

Foi feita a pergunta aos estudantes acerca do significado de estudar e aprender algo, 47,8% (11 estudantes) afirmaram que se trata de “uma forma de crescimento pessoal” e a mesma quantidade de estudantes disse que era para “adquirir conhecimento”. Chamou a atenção a noção de 1 estudante, que para ele (a) significa: “Conhecer novos mundos, descobrir

horizontes. Não se trata apenas de adquirir conhecimento, trata-se de abrir a sua mente, de moldar o seu caráter, de construir quem você é”. Essa afirmação traz consigo um entendimento

mais amplo acerca do que é a educação e sua contribuição de sermos o que somos.

Apesar dos dados sobre as ferramentas utilizadas e a forma de acesso nas oficinas serem satisfatórios, cerca de 95,7% (22 estudantes) usaram Internet via Wi-fi e um estudante usou os dados móveis do celular; 87% (20 estudantes) utilizaram smartphones, 8,7% (2 estudantes) notebook/computador e um aluno utilizou o tablet, sabemos que obviamente quem não tinha acesso não participou. Um dos fatores que mais dificultaram a realização das oficinas nesse modo virtual, adaptado ao atual contexto, foi justamente a questão da falta de recursos tecnológicos para acesso dos estudantes, onde muitos sequer puderam responder o questionário. No próprio cotidiano escolar já havia essa limitação. Segundo dados do levantamento "TIC Domicílios 2019", formulado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), aproximadamente 30% dos lares no Brasil não têm acesso à internet. As pesquisas evidenciam também outras dificuldades: casas sem espaço para estudar e sem saneamento básico; falta de equipamentos como computadores, notebooks ou smartphones, problemas de conexão à Internet, falta de formação dos professores para usar as tecnologias digitais; baixos índices de leitura32.