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Perfil, impasses e desafios da prática pedagógica do professorado em relação

5. FORMAÇÃO, CURRÍCULO E PRÁTICA PEDAGÓGICA DOS

5.1. Perfil, impasses e desafios da prática pedagógica do professorado em relação

Considerando as especificidades da Educação de Jovens e Adultos, o professorado engajado no Proeja encontra-se mergulhado em diversos desafios educacionais, como a necessidade coletiva de formação direcionada a esse segmento social, à realidade do alunado dessa modalidade de ensino.

Soma-se a necessidade, a construção de um paradigma pedagógico, de um currículo sintonizado com a realidade, assim, como a busca de compreensão do universo cultural do alunado em questão, em uma abordagem multicultural através da construção de projetos interdisciplinares para se conhecer as especificidades culturais e sociais de cada um, com metodologias que atendam a esse grupo, motivem e resgatem o elo perdido. Porém, Rummert (2005, p. 133) declara que: ―a escola tem muito a avançar no que diz respeito à construção de uma nova identidade institucional, bem como no que se refere aos fundamentos teórico-metodológicos a partir dos quais organiza suas proposições e práticas.‖

A prática pedagógica deve pautar-se nas idéias e nas experiências vividas integradas aos saberes escolar e profissional, envolvendo trabalho, ciência, cultura, tecnologia, cumprindo com as funções reparadora, equalizadora e qualificadora previstos no documento base (BRASIL, 2007), mediante conhecimentos amplos e sólidos sobre o campo da educação como prática social.

Partindo desse princípio, delinear o perfil desse professorado em particular, é bastante desafiador. O ideal é ter um profissional habilitado, comprometido, de formação humanista, pesquisador, crítico e mediador de experiências e conhecimentos. Esse/a educador(a) deve contribuir para o desvelamento dos saberes, buscando sempre uma concepção crítica. São inúmeras as características que definem esse tipo de profissional

que, para tal, necessita estar em constante formação, para que tenha condições de enfrentar os desafios do cotidiano na sua práxis pedagógica.

Porém, refletindo sobre essas atribuições, pode-se destacar que não há parâmetros acerca do perfil desse educador(a) de jovens e adultos, como afirma Arroyo,

Costumo dizer que a formação do educador e da educadora de jovens e adultos sempre foi um pouco pelas bordas, nas próprias fronteiras onde estava acontecendo a Eja. Recentemente passa a ser reconhecida como uma habilitação ou como uma modalidade, como acontece em algumas faculdades de Educação (2006, p.17).

Arroyo (2006) continua afirmando que esse perfil ainda não foi delineado porque não se tem uma definição muita clara da própria EJA, e também, nem políticas muito definidas.

A pesquisa corroborou com esta afirmação, pois no IFPA não se tem um perfil definido desse profissional e a especialização do Proeja não colaborou no sentido de demonstrar as especificidades que esse educador precisa traçar para chegar ao objetivo dessa modalidade de ensino. A especialização repercutiu muito mais como um trampolim nos dados financeiros dos especializados do que uma somatória de conhecimentos no desenvolvimento de sua prática pedagógica.

O PROEJA é uma modalidade de ensino que demanda esforços coletivos marcados por diálogos interativos entre os aspectos envolvidos (ciência, cultura, gestão, etc), com acesso à informação e à formação profissional com vistas a mudanças na prática dos educadores, gerando transformação permanente. No documento (TO, s/d), relata que

As políticas de formação continuada devem desenvolver no profissional uma atitude constantemente crítica da realidade, que saiba a melhor forma e o melhor momento de intervir, visando a contribuição construtiva de mudança de perspectiva, fortalecida de atitudes e valores, auto-estima, responsabilidade e respeito, na construção de uma política educativa de equidade e qualidade, não apenas visando o acesso à educação, ao trabalho,mas também adquirir conhecimento com o objetivo de desenvolver uma ação participativa nos processos educacionais na consolidação da cidadania e da autonomia.

Neste contexto, é imprescindível um referencial teórico-metodológico crítico para a docência comprometido com a competência de organizar e mediar situações de ensino e aprendizagem com gestos democráticos e de multiculturalidade e acima de tudo, que possibilite os educadores compreenderem as especificidades do PROEJA, interagindo, investigando, problematizando permanentemente sua prática através do fazer pedagógico.

Este é o caminho a ser delineado pelos/as educadores/as, porém, os mesmos têm encontrado dificuldades em traçá-lo, pois esta problemática não foi bem discutida e nem bem trabalhada durante a especialização, como afirmam professores/as que passaram por esta formação:

Dentre o transcurso ou processo de interação e conclusão falou-se muito em interdisciplinaridade e outras variáveis que devem ser praticadas pelo professor atualmente em sala de aula, mas não se mostrou na prática o que fazer; como fazer, ou seja, não se praticou essas atividades com fins de melhorias na atuação docente (Professor J.R).

Bem, a especialização do Proeja me deu muito subsídio teórico, entendeste? Agora, realmente, ela não trabalhou a questão da praticidade do Proeja, não. Até porque a nossa educação é utópica, eu não sei pra que tanto discurso, tanto discurso e prática nada, né? (Professora A.L). Os profissionais da educação reconhecem a necessidade da integração e suas variáveis, mas não tem conseguido atingir um patamar satisfatório por não ter um direcionamento de trabalho coletivo. Isso fica expresso no depoimento de um dos professores: ―as temáticas são necessárias à integração, contudo, essa integração somente será possível se houver direcionamento do currículo por um coletivo‖. ( Professor H.B).

O reconhecimento da articulação do currículo com a realidade é notório, mas na prática não acontece. Outro depoimento ressalta que,

A articulação vai depender... Preste bem atenção, quando tu vais para uma discussão, você está pensando num currículo para os alunos numa visão pós-moderna e a gente não está conseguindo trabalhar nem currículo numa visão crítica como exige o Proeja, numa visão de se falar em democracia, de se falar de política, de se falar de direitos, porque eles estão precisando dessa criticidade, dessa orientação (Professora A. L.). Então, nota-se que o Proeja não tem sido trabalhado dentro de uma proposta curricular integradora como apontam os documentos que norteiam essa nova modalidade de ensino.

As autoras Correa e Figueiredo (2008, p. 135) reafirmam o pensamento de como deveria ser esse profissional da educação de jovens e adultos dizendo que,

O professor não deve entender apenas do conhecimento de sua disciplina, ele precisa de um conhecimento amplo para desenvolver um currículo fundamentado na integração e trabalho, ciência, técnica, tecnologia, humanismo e cultura geral. Avaliar nesse contexto necessita que o professor conheça seus alunos, a realidade em que os educandos estão inseridos, suas histórias de vida, memórias, a forma como eles interpretam o mundo para poder selecionar os conteúdos que irão trabalhar e avaliar no processo respeitando a pluralidade dos mesmos.

Os professores precisam ir além de suas disciplinas para promover a interdisciplinaridade, mas esta é uma tarefa difícil de ser cumprida. Essa mudança no modo de agir dos professores tem sido um grande desafio dentro do IFPA, para que, os processos de contextualização no ensino-aprendizagem, previstos no documento base, aconteçam. É fundamental uma mudança de mentalidade nessa interação educacional.

Os professores do IFPA que passaram por uma capacitação e/ou uma especialização tem uma boa concepção do Proeja. Segundo à professora entrevistada:

Eu vejo o Proeja com uma proposta de política pedagógica educacional que vai possibilitar para o aluno aquela formação profissional articulada à formação geral, mas que lógico, visando àquela famosa educação de qualidade, onde o aluno não seja preparado só para o mercado de trabalho, mas para uma qualidade de vida. Mas na realidade a gente não consegue perceber aonde é que está essa educação de qualidade que eles estão recebendo e onde está também essa educação que vá possibilitar a eles, nem é mudar, mas transformar a realidade deles. Eu acho que ainda tem um caminho muito grande a ser percorrido, mas por todos da instituição, inclusive pelos alunos, (Professora A.L.).

Entretanto, se esses/as educandos/as receberem uma formação desqualificada, sua aprendizagem e sua inserção no seio da sociedade, fica também, comprometida, submetendo-lhes a trabalhos de baixos salários e/ou até mesmo desumanos. Porém, o fio condutor desse Programa é promover qualidade de vida a esse público sem acesso a uma formação profissional com compromisso e equidade.

O que tem acontecido é que, ao referir-se à formação de educadores, tudo se encaixa no mesmo modelo de formação generalista que, na prática, não funciona para essa modalidade em estudo, então, faz-se o que está acostumado a fazer. Esta prática é confirmada pelo reitor da instituição: ―[...] então é preferível você continuar com aquela prática habitual sem ir de encontro com as mudanças. É um assunto complexo, mas eu acho que a gente tem que atacar‖. (Reitor do IFPA).

O gestor geral acredita que, mesmo os profissionais mais antigos não estão querendo essa modalidade. É necessário, porém, insistir, pois a tendência é ser aceita pelos mais novos e ser reconhecida como um ganho da sociedade como já afirmou anteriormente. É um ganho fundamental de ressignificação educacional que considera o ser um humano como sujeito de direitos. Esse reconhecimento ainda não é real na prática dos profissionais que trabalham com o PROEJA no Instituto.