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3. A escola hoje

3.2. O perfil do professor

Antes da escola ter o aspecto formal que hoje se conhece era aos ‘mestres’ que se incumbia a função de ensinar. Estas pessoas faziam-no porque lhes era reconhecido, na comunidade, o conhecimento e a experiência da arte e porque gostavam de ensinar. Tratava-se de uma aprendizagem personalizada já que se iniciava quando o aprendente ia para o ‘mestre’, o que acontecia em qualquer altura do ano. A aprendizagem baseava-se na prática sendo a teoria transmitida oralmente. Estes aprendentes tinham o apoio do ‘mestre’ mas também dos colegas que dominassem, mais do que ele, a arte. O objectivo era o saber fazer, e a aprendizagem só terminava nesse momento: quando o aprendente era autónomo na arte que tinha aprendido. Era um momento decidido quer pelo ‘mestre’, quer pelo pupilo, quer pelo encarregado de educação que, regra geral, estava atento ao progresso do aprendente esperando que esse momento chegasse o mais rapidamente possível. Entretanto a escola passou a ter um rosto. A rede escolar pública começa efectivamente a desenhar-se no sec.XVIII, com a Reforma de 1772 (v. Nóvoa, 1989) Criaram-se locais específicos, escolas, para a aprendizagem e os ‘mestres’ passaram a ser pessoas formadas para o acto específico de ensinar. A aprendizagem passou a ter um carácter obrigatório que se iniciava em determinada idade e com a aprendizagem

do saber ler e escrever. O acesso à escola continuava, no entanto, a ser restrito dado que nem sempre as famílias reconheciam utilidade no que se aprendia nas escolas.

Hoje a finalidade do ensino é proporcionar condições ao aluno que lhe permitam enfrentar os novos desafios e os problemas com que se vai deparando. É este caminho que a educação se propôs encontrar com a ajuda de pessoas especializadas para o efeito: os professores.

Os professores sempre funcionaram para os alunos como “modelos” pelo que a sua forma de estar, o seu comportamento, a sua responsabilidade, as escolhas que fazem, são referências, positivas ou negativas, que têm o poder de influenciar o comportamento o modo de estar e de pensar dos alunos. O sucesso escolar e pessoal do aluno surge

“da troca de vivências, harmonizada com os conteúdos que o professor transmite, num discurso institucional que se preconiza centrado no aluno, enquadrado nas suas fases e estádios de desenvolvimento” (Tavares, 1994: 292).

Para se atingir um ensino eficaz (em que os objectivos chegam a diferentes populações de estudantes) convém que os professores estejam dotados de um vasto reportório de diferentes capacidades em que a reflexão seja o motor capaz de “mover” os alunos porque

“só reflectindo poderemos questionar-nos e questionar a realidade em que nos encontramos inseridos. [...] A reflexão sobre o seu ensino é o primeiro passo para quebrar o acto de rotina, possibilitar a análise de opções múltiplas para cada situação e reforçar a sua autonomia face ao pensamento dominante de uma dada realidade.” (Alarcão, 1996: 82).

O resultado desta prática proporciona uma verdadeira gestão flexível do currículo. Para que o desenvolvimento do aluno seja natural, o professor deverá ter uma intervenção assertiva e discreta. Só desta forma o jovem poderá crescer e aperceber-se das novas noções através da sua própria experimentação pessoal. O professor, ao mesmo tempo que se preocupa

em ensinar a aprender deve estar sempre atento à parte social e pessoal de cada aluno, criando-lhe valores democráticos e de cidadania.

Ainda de acordo com estes autores existem características comuns que definem um professor eficaz apesar de, como Galvão afirma

“a profissão de professor nunca [ter sido] fácil nem tranquila […] As competências a desenvolver no aluno baseiam-se no desejo de aprender, na mobilização de saberes diversos, na implicação do sujeito na sua relação pedagógica com o professor e com os outros” (Galvão, 2001: 9).

Para que o professor consiga desenvolver estas competências, este profissional deve, entre outras, ser academicamente eficaz, proficiente nas matérias, saber pesquisar informação e adaptá-la às necessidades dos seus alunos, deve ser sensível aos problemas dos seus alunos, nas suas variadas vertentes e zelar pelo seu bem-estar. Estas são algumas ferramentas pedagógicas poderosas e auxiliares que se pretende serem rotineiras do professor facilitador, ou seja, um mediador que conduz os alunos no seu processo de aprendizagem.

Constata-se que as relações que se estabelecem entre alunos/professor, e entre professores, é essencial para o sucesso escolar. O sucesso do professor está ligado a vários factores, entre eles o conhecimento do estilo de aprendizagem dos alunos e as técnicas necessárias para os motivar. A produtividade advém da motivação, o aluno que gosta de ir para a escola demonstra-o através da aprendizagem que faz. Daí que seja tarefa da escola e do professor criar dispositivos, em termos de organização do trabalho e do espaço de sala de aula que permitam proporcionar um ambiente são, propício ao processo aprendizagem/ensino. Os docentes devem-se reunir para partilhar com os colegas planos e resultados das investigações que estão a desenvolver, para discutir o sucesso e os desafios das abordagens, para mostrar vídeos das suas aulas aos colegas que podem servir de modelos em futuras ocasiões. Estas reuniões devem ser aceites, pelos

professores, com naturalidade pela sua pertinência no processo de formação. Sá e Andrade explicam que

“pela observação crítica, o professor em formação vai definindo (…) aquilo que é importante considerar em termos do acto de ensino/aprendizagem” (Sá, 2002: 79).

Obviamente que o preço que têm de “pagar” é a partilha de opiniões, expondo um trabalho que ainda é vincadamente individual, é sujeitarem- se a ouvir opiniões abonatórias, ou não, das suas práticas, é permitirem um controlo a que não estão habituados e obrigados, como refere Fernandes:

“muitos professores reconhecem que relativamente ao processo de ensino e aprendizagem é grande a sua liberdade de decisão, sendo quase nulo o controlo exercido na sala de aula sobre a sua actividade ...” (Fernandes, 2000: 33).

No entanto, a importância das relações interpessoais que se estabelecem entre docentes é hoje sobejamente reconhecida.

A experiência que advém deste tipo de comportamento para o professor irá contribuir para o seu crescimento enquanto profissional, em virtude de lhe permitir um desenvolvimento pessoal

“que passa muitas vezes por pequenas experiências diárias que, para o próprio, significam passos fundamentais na criação de novas formas de olhar os acontecimentos” (Galvão, 2000: 75).

É um facto que cada professor advém de um contexto socio-económico diferente. Na realidade, os professores surgem de todo o país, o que contrasta com o tipo de alunos que se encontram, na sua maioria, integrados na comunidade local, pelo que a teoria de que as escolas devem ajustar-se a todas as crianças, independentemente das suas condições físicas, sociais, linguísticas ou outras, é extensivo, também, aos professores, como por exemplo um professor que sempre viveu na

cidade e é colocado a leccionar numa aldeia ou um professor do continente que é colocado no arquipélago da Madeira ou dos Açores. Diferindo a forma de estar e os conceitos de educação de professor para professor e de professor para alunos e encarregados de educação chegou-se à necessidade de uniformizar os conceitos, para fazer cumprir a lei de acesso de todos os cidadãos à escola. Habituámo-nos a encarar o acesso ao conhecimento mediante duas vias diferentes: o saber da experiência ou a criação e o acesso àquilo que designamos por “dados científicos”. A primeira via pode ser percorrida através das convicções que se vão gerando, fruto da convivência com os outros, seja em casa, seja em qualquer outro contexto social, na sequência de oportunidades que vão surgindo. O segundo caminho, que está associado frequentemente ao primeiro, diz respeito ao contacto com o mundo da produção teórica de que o professor é um representante. A imagem do professor debitando informação numa turma calada está definitivamente desadequada. Pretende-se um profissional que contribua para que o aluno seja um aprendiz activo, o que acontecerá se, por exemplo, o professor desconstruir as certezas do aluno e o levar a explorar o desconhecido, se o incentivar a concretizar ideias. Como afirma Nóvoa

“a escola é um espaço social e cultural, o que obriga os professores, por um lado, a privilegiarem o seu frente a frente com os alunos (e não com as disciplinas) e, por outro lado, a porem de pé uma pedagogia crítica baseada na “desmontagem” dos saberes, do seu modo de produção e das suas estratégias de difusão social”. (Nóvoa, 1989: 10).

Estes objectivos devem criar expectativas positivas porque incitam o entusiasmo, enquanto que expectativas de fracasso criam, à partida, uma atitude de desencorajamento. Por isso o professor assume um papel preponderante no discurso escolar que nada tem a ver com a complexidade das matérias leccionadas mas com a capacidade/incapacidade do professor de construir e comunicar o conhecimento. Para tal, o professor deve privilegiar capacidades de

estudo específicas. Alunos diferentes assumem capacidades diferentes e, como não é possível abordá-las a todas de uma vez, o professor deve ajudar o aluno a seleccionar as mais pertinentes, contribuindo assim para a construção das “representações sociais” do seu aluno. Assim, o papel do professor tem vindo a sofrer alterações ditadas pelos objectivos dos diversos grupos que intervêm no ensino. As expectativas do aluno, dos encarregados de educação, do Conselho Executivo de cada escola, da comunidade e da própria sociedade face ao papel do professor diferem e podem não facilitar, ao aluno, a procura do melhor percurso para a sua autonomia. Cada um destes grupos apresenta diferentes expectativas acerca do papel do professor. Que perfil deve, então, o professor possuir para corresponder a todas estas solicitações?

Apesar de podermos indicar parâmetros infindáveis de qualidades e defeitos do professor, o perfil ideal nunca será conseguido devido às variáveis que cada comunidade comporta. Conhecemos já o perfil do professor tradicional: é um professor expositivo, impondo o seu ritmo de trabalho aos seus alunos sem se preocupar em conhecê-los. Privilegia o conhecimento apresentado pelo Programa e tem por objectivo principal preparar os alunos para que estes passem nos exames nacionais. Estes professores têm uma formação “viciada”: transmitem o que lhes foi ensinado por professores que por sua vez nunca tiveram oportunidade de estar inseridos num sistema de ensino com metodologias pedagogico- didácticas diferentes das dos professores que os ensinaram. Ao longo do tempo enraizaram-se formas de estar e de ser que só se encontram no grupo de professores que cada vez mais se distanciaram do mundo do trabalho.

No paradigma emergente do perfil do professor, este deve ter presente que trabalha com pessoas e que não é um simples “apresentador de actividades”; que os alunos o observam permanentemente tomando-o como modelo e exemplo; que os seus interesses como professor devem submeter-se aos dos seus alunos; que cada aluno aprende de forma individualizada num ritmo próprio, desenvolvendo a sua própria curva de

aprendizagem; que é co-responsável quer pelo sucesso quer pelo insucesso; que a única hipótese do aluno ir gradualmente melhorando, está na sua capacidade de organizar correctamente a sua actividade; que a estrutura da aula consiste na sua divisão em diferentes fases, com conteúdos e objectivos bem definidos; que as aulas devem ser específicas, variadas, progressivas no tempo e equilibradas no conteúdo; que o professor deve prestar uma atenção equivalente à necessidade de cada aluno, independentemente das suas capacidades; que só com os registos dos factos ocorridos nas aulas lhe é possível compreender e explicar os resultados obtidos; que ao dirigir-se ao grupo, deve fazê-lo em termos claros e precisos; que existem princípios de actuação que é fundamental respeitar como o respeito pela personalidade de cada um e a imparcialidade dos julgamentos. A formação é um meio para atingir esta consciência. Em Teachers in Action, James revela a importância da formação dos professores ao referir que um dos propósitos da sua obra é “to help teachers to select relevant goals for, manage the process of, and evaluate, their learning and professional development” (James, 2001: 125).

Para que o aluno aprenda mais depressa e em melhores condições é necessário que o professor transmita aos seus alunos o ciclo: planeamento, decisões, produção, avaliação. Daí que facilmente se compreenda que a gestão curricular requer, para além da análise e da contextualização do currículo, um bom planeamento dos tempos a dedicar ao estudo, facilitando o professor mecanismos de acompanhamento individualizado quando o aluno necessitar de ultrapassar um determinado ponto do Programa. O professor é uma peça fundamental para que o aluno descubra como aprende melhor. Se o aluno descobrir os métodos, as estratégias, as actividades com os quais mais se identifica, automaticamente o seu poder de concentração e a sua motivação aumentarão. Se o aluno se identificar com a aprendizagem que está a realizar, ser-lhe-á mais fácil concentrar-se. A busca do melhor método para cada aluno é, por isso, um dos papéis

mais importantes do professor. O professor deve manter-se actualizado no campo científico da sua formação, o que significa, entre outros, conhecer os resultados de investigações na área da educação como por exemplo, o desenrolar de projectos e o desenvolvimento de novos modelos de aprendizagem.

Na construção do percurso para a autonomia o professor é responsável pela aprendizagem do aluno, já que, entre outras competências atribui obrigações de trabalhos a efectuar ao seu aluno, disponibiliza mecanismos de apoio individualizado, elabora provas de avaliação e exames, atribuindo-lhe classificações. Elogiar e criticar os alunos é fundamental para que o aluno aprenda. No entanto são os elogios que permitem obter um contínuo melhoramento do rendimento, enquanto que as criticas levam a uma diminuição do rendimento. Os limites estão na sensibilidade do professor, o qual deverá estar atento às mudanças que, ao longo do percurso escolar, se operam nos seus alunos.

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