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6 O CASO DO PROJETO LEITE A PASTO DA COOPERVAP

6.2 PERFIL DAS PROPRIEDADES INVESTIGADAS

Para a melhor caracterização das propriedades que fazem parte da amostra da pesquisa de campo, seguem as informações relativas à área total, às atividades praticadas, à posse da terra e à infraestrutura dos estabelecimentos.

6.2.1 Área total das propriedades

Administrada 100% por seus proprietários, a área ocupada pelos estabelecimentos pertencentes aos produtores do Leite a Pasto (Gráfico 9), em termos absolutos, é caracterizada, principalmente, por aqueles que se enquadram nos intervalos compreendidos entre 21 e 40 e 41 e 60 hectares, o que equivale dizer que 44% afirmaram que se encaixam no primeiro intervalo, enquanto 28% respondem pelo segundo. Do restante das propriedades, 8% estão instaladas em áreas de até 20 ha, 4% entre 81 e 100 ha, 4% de 101 a 120 ha e os outros 4% na extensão de 181 a 200 ha.

GRÁFICO 9 – Número de produtores, por tamanho da área total das propriedades 1 1 2 11 7 2 1 0 10 20 30 40 50 De 1 a 20 hectares De 21 a 40 hectares De 41 a 60 hectares De 61 a 80 hectares De 81 a 100 hectares De 101 a 120 hectares De 181 a 200 hectares Área total da propriedade

P e rc e n tu a l

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2012).

Em termos médios, a área total das propriedades é de 50,45 ha, um valor bem acima dos 18,37 ha verificados no último censo agropecuário (IBGE, 2006). Quando observadas em termos agregados, as informações mostram que 76% dos produtores possuem área total de até 60 ha e 52% até 40 ha.

6.2.2 Atividades praticadas

Fora o leite, 96% das propriedades exercem outras atividades (Tabela 5).

TABELA 5 – Principais atividades desenvolvidas nas propriedades (%)

Atividades Número de produtores (%)

Agrícola Avicultura 07 28 Suinocultura 07 28 Lavoura de capim 11 44 Lavoura de cana 15 60 Lavoura de frutas 01 04 Lavoura de milho 22 88 Lavoura de sorgo 10 40 Lavoura de verduras 02 08 Não agrícola Artesanal 04 16 Beneficiamento 03 12

De acordo com os dados da Tabela 5, as atividades desenvolvidas ratificam a preocupação com a nutrição dos animais nos meses críticos do ano anunciadas no escopo do Projeto Leite a Pasto. Dos 24 estabelecimentos que diversificam a sua produção, 91,66% se dedicam ao plantio de alguma lavoura para fins de produção de silagem, como é o caso do senhor Iure Torres que, para alimentar o rebanho de 22 vacas em lactação, reserva 11 ha da sua propriedade para as lavouras de milho e de sorgo.

Merece destaque, ainda, o baixo nível de produção artesanal nas propriedades, somente 16%. Quando questionados por que as atividades de cunho artesanal, turismo rural, entre outros, não são promovidas nos estabelecimentos, os produtores argumentam que a bovinocultura do leite, por si só, solicita muito tempo de trabalho, comprometendo qualquer iniciativa dessa natureza. Apesar disso, foram registrados os trabalhos do tipo arte em cabaço, biscoito, bordado, crochê, pintura, tapete e tempero. Além de incrementar a renda da família, esses dados estão de acordo com os postulados do desenvolvimento rural em voga, qual seja, redução da vulnerabilidade da produção familiar e emprego da mão de obra disponível nos estabelecimentos.

Quanto ao beneficiamento, este se dá apenas em 12% das propriedades, seja na produção de queijo, seja na de doces, seja, no caso do senhor Evaldo da Silva, na fabricação de polpa de frutas, que, a exemplo da lavoura de verduras, são entregues ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), por meio da Cooperativa da Família (Cooperfam).

6.2.3 Posse da terra

Consoante os dados da pesquisa, a situação dos produtores com relação à posse da terra, demonstrados com o Gráfico 10, é a de que aproximadamente 50% dos produtores são assentados, enquanto os demais são proprietários ou arrendatários.

A informação sobre a condição de assentado merece reflexão, pois, como é sabido, muitos dos agraciados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) desistem das suas terras por motivos inúmeros. Entre os

participantes da pesquisa, essa realidade não se perpetuou graças ao Projeto Leite a Pasto.

GRÁFICO 10 – Condição do produtor em relação à posse da terra

48%

8% 44%

Assentado Arrendatário Proprietário

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2012).

Para melhor ilustrar a importância do Projeto na contenção do êxodo rural, um dos efeitos perversos da agricultura moderna, citar-se-á o caso do assentado senhor José Maurício de Araújo. Localizado na Rodovia Entre Ribeiro, LMG 690, o sítio Gameleira ocupa uma área de 40 ha, onde residem 03 pessoas. Produtor do Leite a Pasto desde 2010, nos períodos anteriores a família sobrevivia – não vivia segundo as palavras do produtor – do trabalho agrícola para terceiros exercido pelo senhor José Maurício. Para tanto, o aludido produtor tinha que se ausentar por longos dias da sua família, sujeitando-se, também, a outra situação no mínimo inusitada: a remuneração da atividade era efetivada com sacas de milho.

Recebido o milho, este servia de alimento para as vacas, que, com muita sorte, produziam entre 20 e 25 litros de leite por dia. Estes eram utilizados para a fabricação de queijo, rendendo meros R$ 100,00 para o sustento dele, da esposa e do filho.

Exaurido, o produtor pensou inúmeras vezes em vender a sua terra para tentar a vida na cidade. Mas, com o advento do Projeto, permitiu-se uma última tentativa e hoje não tem do que reclamar: produz, com menos animais que antigamente, uma média de 284 litros por dia; aufere uma renda média bruta mensal do leite de R$ 7.257 (valor pertinente ao ano de 2011); melhorou as instalações da

sua propriedade; adquiriu carro e moto; e, o que é mais salutar, manteve-se no campo e passou a viver em condições expressivamente mais humanas, dignas, satisfatórias.

A experiência do senhor José Maurício é, sem dúvida, o retrato de que um dos tripés do Projeto, isto é, o social, conseguiu engrandecer o “espírito do homem” tão propalado pelo Professor Benedetti.

6.2.4 Infraestruturas dos estabelecimentos

Via de regra, em todos os estabelecimentos há disponibilidade de energia elétrica, bem como de água, quer seja para o uso doméstico, quer seja para as atividades produtivas. A região é rica em água, e as propriedades são abastecidas por no mínimo duas fontes, sendo as principais cisternas e poço artesiano, ambos presentes em 32% dos estabelecimentos, sucedidos por nascente (24%), ribeirão (24%), rio (12%), vereda (8%), córrego (4%) e lagoa (4%).

Essa situação de aprovação absoluta não se replica à percepção dos produtores quanto às condições das estradas que dão acesso aos seus estabelecimentos. Assim, 52% dos produtores avaliam como péssimas e ruins, e somente 20% consideram-nas como boas (Gráfico 11).

GRÁFICO 11 – Avaliação das condições das estradas de acesso às propriedades (%)

32%

20% 28%

20%

Péssimas Ruins Regulares Boas

Quanto às instalações da propriedade, 80% confirmam ter construído e/ou reformado após aderir ao Projeto (Gráfico 12).

GRÁFICO 12 – Tipo de construção/reforma das instalações após o Projeto (%)

25% 5%

35%

5%

60%

Barracão Casa do tanque de leite Chiqueiro Curral Galinheiro

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2012).

Com o Gráfico 12, é possível notar que parte importante dos recursos foi utilizada na casa do tanque de resfriamento do leite e no curral, sugerindo a concentração de esforços dos produtores para se adaptarem às exigências de qualidade constantes na Instrução Normativa nº 51/2002.

Outra tentativa de melhora da produção pode ser verificada na Tabela 6, onde os equipamentos/implementos das propriedades estão listados, denotando a grande demanda dos produtores por ordenha, silo e tanque de resfriamento de leite.

TABELA 6 – Equipamentos/implementos agrícolas, por número de produtores

Equipamentos/implementos Número de produtores

Adquiriu(ram) após o Projeto (%) Adubadeira 01 100 Bomba 02 50 Cerca elétrica 15 93,33 Ordenha 07 100 Plantadeira 02 100 Silo 07 100 Tanque de resfriamento 21 90,47 Trator 03 100 Triturador 16 56,25

Quando indagados sobre a avaliação que as propriedades receberam com o Projeto, 88% assumem ter havido um grande aumento no componente; 8% moderado aumento; e 4% avalia que o componente não foi alterado.