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4.3 Notas sobre a Mediação de Conflitos no TJ/RS: a experiência do CEJUSC de

4.3.2 Perfil, Seleção e Formação dos Mediadores

De acordo com a Resolução n° 1026/2014 do COMAG, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em tentativa de necessário alinhamento com as diretrizes do novo CPC, determina que a atuarão nos CEJUSCs conciliadores, mediadores e facilitadores de justiça restaurativa. Salienta o art. 5º da referida Resolução, em consonância com o texto do CPC, a caracterização destes profissionais como auxiliares da justiça que exercem função de "relevante caráter público". Por outro lado, contudo, a administração do TJ/RS, realiza opção pela formação de um quadro de profissionais de nível superior sem vínculo empregatício, facultando sua atuação na modalidade voluntária e/ou remunerada.

A Resolução n° 1026/2014 do COMAG, buscando normatizar situação que já é praxe no Tribunal gaúcho, prevê a possibilidade de atuação dos servidores do Poder Judiciário como mediadores ou conciliadores, desde que de forma voluntária e que ocorra a expressa concordância do juiz da unidade onde atuam, sendo vedada a participação em procedimentos de autocomposição vinculados à vara em que estiverem lotados. Tal dispositivo parece contrariar os próprios motivos da adoção da Política Judiciária Nacional de Tratamento Adequado dos Conflitos de Interesse no Âmbito do Poder Judiciário, que, conforme discutido anteriormente, relacionam-se com a necessidade de superação da crise da jurisdição por meio de um gerenciamento mais eficiente e célere das controvérsias. Ocorre que, ao permitir o deslocamento de servidores de suas varas de origem para atuarem (diga-se de passagem, em desvio de função) como facilitadores dos métodos autocompositivos, corre-se o risco de sobrecarregar ainda mais os demais servidores atuantes nas varas judiciais, cujo contingente já é limitado304. São notórias as dificuldades contingenciais

dos cartórios diante do excesso de demandas. Portanto, deslocar servidores das varas para atuar na autocomposição talvez não seja a medida correta para implementar a nova política pública e, tampouco, para lidar com a grave crise que atinge a jurisdição.

304 Segundo dados obtidos pela OAB/RS existe carência de aproximadamente 2 mil vagas para

servidores. ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL (OAB). "O judiciário está doente": servidores de todo o RS relatam dificuldades para suprir a demanda. Porto Alegre, maio 2011. Disponível em: <www.oabrs.org.br/noticia-8035-judiciario-esta-doente-servidores-todo-rs-relatam- dificuldades-para-suprir-demanda>. Acesso em: 24 out. 2017.

Conforme destaca Albuquerque, “o NUPEMEC oferece curso básico de mediação judicial, periodicamente, para turmas com até vinte e quatro alunos”, sendo que “os cursos são ministrados por três instrutores judiciais, em codocência”. De acordo com a autora, “para realizar o Curso Básico de Mediação Judicial, o interessado deve inscrever-se, anexando currículo e respondendo a uma reflexão proposta pelo NUPEMEC”. Não fica claro, contudo, quais os critérios utilizados pelo NUPEMEC para a seleção dos candidatos. Observa-se que o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul oferta ainda uma série de capacitações além do “Curso Básico de Mediação Cível”, tais como o “Curso Avançado de Mediação Familiar”, o “Curso Avançado de Mediação em Conflitos Coletivos envolvendo Políticas Públicas”, o “Curso de Capacitação de Supervisores”, o “Curso de Capacitação de Instrutores de Mediação” e o “Curso de Instrutor em Oficina de Parentalidade”.305

Os mediadores vinculados ao NUPEMEC do Rio Grande do Sul, dentre os quais destacamos aqueles atuantes no CEJUSC Porto Alegre – Foro Central, tanto em formação quanto certificados, recebem orientação para atuação em equipes, as quais são formadas por dois mediadores (em comediação) e dois observadores. Conforme destaca Albuquerque, para fins de realização do estágio prático, os mediadores em formação são orientados a observar um número mínimo de cinco sessões de mediação antes de atuarem como mediadores306.

Ao final de cada sessão realizada no CEJUSC Porto Alegre – Foro Central a equipe de mediadores se reúne em reunião de autossupervisão para discutir as peculiaridades daquela sessão. Observa-se, contudo, que os supervisores/instrutores, via de regra, não acompanham as sessões. Da mesma forma, a realização de reuniões de supervisão individuais é rara, na maioria das vezes ocorrendo apenas diante de provocação pelo mediador.

Dentre as atividades relacionadas com a supervisão dos mediadores, aponta- se que o NUPEMEC gaúcho promove, mensalmente, grandes encontros de supervisão, nos quais todos os mediadores são convidados a participar. Nestes encontros, que são considerados parte integrante da formação continuada, são realizadas oficinas práticas, esclarecimentos, orientações e palestras de atualização.

305 ALBUQUERQUE, Dionara Oliver. O marco legal da mediação no Brasil e o mediador judicial,

sua capacitação e formação continuada: o exemplo do Nupemec – TJ/RS (Núcleo Permanente

de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos do Tribunal de Justiça do Rio Grande Do Sul). Porto Alegre: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, 2017. p. 108.

Destaca-se, ainda, que o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul disponibiliza uma plataforma de supervisão de mediação em EAD, por meio da qual propõe que os facilitadores em formação possam revisar o conteúdo e trocar experiências práticas, com o auxílio de supervisores. Trata-se de iniciativa inédita no Brasil, apresentando- se como uma ferramenta de supervisão que busca alcançar um número maior de mediadores em estágio supervisionado, sendo sua utilização pelos mediadores em formação critério obrigatório para a obtenção de sua certificação307. Observa-se que

tal ferramenta parece ser proposta como uma alternativa para suprir as reconhecidas deficiências da supervisão individual.

Segundo informações do TJ/RS, em 2016, após cinco anos de atividades do NUPEMEC, mais de mil pessoas já haviam sido capacitadas para atuar como mediadores cíveis, de família e conciliadores. Destaca-se que deste total de facilitadores capacitados, no início do ano de 2016, 600 estavam em atividade, o que representa uma taxa de aproximadamente 40% de facilitadores em inatividade, dos quais estima-se grande parte nunca exerceu atividade alguma junto aos CEJUSCs ou não completou o número mínimo de horas práticas exigidos para certificação.308