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Perfil social e académico do migrante qualificado

CAPÍTULO 4: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E DO PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO/ INTERVENÇÃO

4.1 Perfil social e académico do migrante qualificado

Como mencionamos no capítulo anterior, o inquérito por questionário foi uma das formas de coleta de dados para a presente pesquisa. Desse modo, veremos agora o perfil da população inquirida, qual seja, brasileiros com qualificações académicas de nível superior que estão vivendo em Portugal, além de uma correlação com os dados levantados nas entrevistas e no grupo de discussão, como referimos. Obviamente, esse perfil não é taxativo, mas nos indica características do que vem a ser os migrantes qualificados oriundos do Brasil.

Primeiramente, destacamos o fato de haver uma predominância feminina no movimento migratório e isso é um fator evidenciado também pelos dados oficiais do SEF. Apesar de uma diferença maior entre os sexos no questionário realizado, ele demonstra realmente o que vem acontecendo, ou seja, um aumento da migração feminina e, com referência a comunidade brasileira, Cerdeira et al (2013:58) ressalta “A imigração brasileira tem tido, desde sempre, uma componente feminina elevada, frequentemente maioritária, refletindo a importância de trajetórias autónomas entre as mulheres brasileiras.”. Corrobora ainda com essa tendência uma profissional de uma das instituições entrevistadas:

“Temos predominantemente pessoas oriundas do Brasil, temos neste momento 53% das pessoas que procuraram este serviço são mulheres, mas posso lhe dizer que até 2007/2008 não eram, tá bem? mas isto também porque há uma crescente feminilização das migrações.” (entrevista – instituição 2)

Assim, conforme gráfico 3 abaixo, vemos as respetivas percentagens de homens e mulheres que responderam ao inquérito por questionário que aplicamos, quais sejam, 76% dos participantes são do sexo feminino e 24% do sexo masculino.

67 Gráfico 3 – Sexo

Com relação ao perfil etário dos inquiridos (gráfico 4), podemos observar que a maioria está entre os 25 a 44 anos, somando um total de 87%. Dessa maneira, é possível afirmar que os migrantes estão em idade ativa para o trabalho podendo contribuir para a economia do país. Vejamos:

Gráfico 4 – Grupos etários

Em seguida, no gráfico 5, vamos analisar o ano de chegada em Portugal dos migrantes participantes do questionário:

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Gráfico 5 – Ano de entrada em Portugal

Verificamos que apenas 6% chegaram em 2016, estando em Portugal pouco mais de 3 anos. A maioria entrou em Portugal em 2017, com 50% e a outra parte significativa em 2018 com 33%. Apenas 8% chegaram no ano a decorrer, 2019.

Com base nos dados do SEFSTAT, 2016 teve um total de 397731 residentes estrangeiros em Portugal, 9000 a mais que 2015. Em 2017, um total de 421711, ou seja, 23980 residentes a mais que o ano anterior. E, 2018, fechou com 480300 estrangeiros residindo legalmente no país, um aumento de 58589 estrangeiros.

Quando falamos em migração, precisamos perceber se esse movimento foi feito de forma individual, quando uma pessoa migra sozinha, ou familiar, quando uma pessoa se desloca com um ou mais acompanhantes, normalmente cônjuge e/ou filhos. No inquérito executado o resultado foi equilibrado, ocorre tanto o perfil familiar, com 44%, quanto o perfil familiar, com 56%. No gráfico 6, apresentamos a informação citada:

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Achamos importante também, perceber se esse movimento migratório é novo ou se o migrante já migrou anteriormente para outro país. Sendo assim, apenas 15% dos participantes viveram em outro país, além do seu país de origem, como encontramos no gráfico 7:

Gráfico 7 – Migração Anterior

Logo após, no gráfico 8, analisamos quais foram os países de destino migratório anteriores a Portugal, quais sejam: Irlanda com 5 migrantes, Canadá com 2 migrantes, Estados Unidos, Bélgica, Reino Unido e França, com um migrante cada.

Gráfico 8 – País de detino (Migração Anterior)

Dos participantes do inquérito, 93% já possuem autorização de residência para viver em Portugal, 6% ainda estão no processo para conseguir a autorização e apenas 1% respondeu não ter autorização de residência (gráfico 9). Infelizmente não conseguimos obter informações do motivo para

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ainda não terem a referida autorização e também quais foram as vias de regularização desses migrantes.

Como veremos mais a frente, parte dessa população teve os estudos como motivação para a migração para Portugal, então podemos deduzir que essa parte tem autorização de residência por via dos estudos. E também que uma outra parcela trabalha por conta própria em Portugal, portanto, poderíamos dizer que utilizaram a via de regularização do artigo 89 nº 2 da Lei nº 23/2007 (Lei de Estrangeiros) que concede autorização de residência para o exercício de atividade profissional independente, com dispensa de visto de residência (SEF). Mas, deixando claro, são sugestões tendo em vista o que foi estudado previamente de quais seriam as vias de regularização, porém esse dado não foi apurado com este detalhe para o presente trabalho.

Assim, vejamos os dados a respeito da regularização em Portugal:

Gráfico 9 – Autorização de Residência

Como o inquérito por questionário foi realizado somente com migrantes que possuíam o nível de escolaridade no mínimo de licenciatura, analisamos quais as áreas de formação académica destes, como conseguimos verificar no gráfico 10. As áreas de destaque são o Direito e a Comunicação empatados com 17% cada, seguidos de profissionais da área de Tecnologia da Informação (T.I.) e Engenharias com 16% com participantes. Em terceiro lugar, encontra-se a área da Educação com formações em diversos campos, como por exemplo, história, matemática, letras e educação física com 12%.

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Gráfico 10 – Principais áreas de formação

Para finalizar essa primeira parte de análise do perfil do migrante qualificado que participou do inquérito por questionário, ressaltamos as principais razões para decidirem migrar (gráfico 11) e as principais razões para escolherem Portugal como país de destino (gráfico 12), sempre relacionando com os outros dados coletados na pesquisa.

No primeiro caso, muitas foram as razões levantadas no questionário como justificativa para a migração, em destaque está o fator “segurança” que foi elencando por 32%, sendo compreensível visto que o Brasil possui um índice alto de violência, por isso, sair do Brasil por esta questão independentemente do país de destino. De qualquer modo, Portugal, por outro lado, consegue oferecer aos seus cidadãos uma maior segurança. Após este fator, ou seja, abandonar um país inseguro, destacam-se a “razão profissional” e os “estudos” com 17% cada um, que na verdade, podemos considerá-los motivos complementares.

Quanto à escolha de Portugal esta deve-se basicamente ao “conhecimento/facilidade da língua portuguesa” e também “para estudar”, cada um com 31%. Aqui, verificamos que as principais razões estão relacionadas, pois uma vez existindo o conhecimento da língua, torna-se mais fácil ser o destino de escolha para investir nos estudos.

No entanto, além de destacarmos o fato da maioria ter feito a decisão de migrar por motivo de segurança e Portugal ter sido escolhido pelo conhecimento da língua, os dados apontam para um novo grupo motivado por outras razões, com relevo para a experiência de vida proporcionada pela migração e para como Portugal não é muitas vezes a primeira opção de escolha por parte dos migrantes:

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“E assim, que nem a gente fala no nosso caso não foi nem fugir da violência, fugir de algo que não tava bom no Brasil, foi mesmo pela oportunidade até porque Campinas não é tão violento como no Rio, como São Paulo e tudo mais, o Recife. É uma cidade grande, mas é uma cidade tranquila” (grupo de discussão – participante 1)

“Assim, eu sempre digo que minha vida era uma antes e mudou completamente após intercâmbio, você abre a mente completamente. E e eu acho que a vontade de vir pra Portugal veio muito dai assim. Eu tinha vontade de voltar a morar fora e o Canadá era uma opção antes de Portugal, só que assim, meu marido não tem o inglês suficiente pra fazer um mestrado. Então, Portugal se tornou opção a partir do momento que os dois poderiam vir estudar, fora que o preço também ajudou nessa escolha, o mestrado é muito mais barato do que no Canadá, enfim. Então, Portugal entrou na nossa pesquisa por causa disso. Eu queria morar fora, já tinha falado com ele um tempo começou um processo que Recife, nós somos de Recife, ficou uma cidade muito impossível de violência e isso passou a limitar a vida da gente, enfim, são uma série de coisas e aí foi quando gente decidiu vir pra cá. Mas a gente planejou acho cerca de um ano antes de vir pra Portugal.” (grupo de discussão – participante 2)

“Participante 5: No nosso caso, foi sair da nossa rotina um pouco, nem da violência, mas da experiência.

Participante 1: Mais pela experiência, né.

Participante 5: Portugal nunca foi a primeira opção também, Canadá seria uma opção boa. Assim, são as que brasileiro costuma muito procurar né, Canadá, Austrália, Irlanda.

Participante 3: Uhum.” (grupo de discussão)

No gráfico a seguir, apresentamos as razões elencadas pelos participantes do inquérito para decidirem deixar o seu país de origem:

Gráfico 11 – Principais razões para deixar o país de origem

Dando continuidade, anunciamos também as principais razões para estes migrantes escolherem Portugal como o país de destino:

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Gráfico 12 – Principais razões para escolher Portugal