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RESULTADOS E DISCUSSÃO DAS PERGUNTAS, OBJETIVOS E HIPÓTESES DE PESQUISA

4.3 PERGUNTA DE PESQUISA CENTRAL

Em que medida as pressões exercidas pela busca da garantia das seguranças do Nexus água-energia- alimento sobre os recursos hídricos dos municípios do submédio curso da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, quando observadas em conjunto, se relacionam com a vulnerabilidade das populações às mudanças climáticas?

A relação entre as seguranças hídrica, alimentar e energética com a vulnerabilidade foi avaliada por meio de análises qualitativa e quantitativa. O modelo I encontrou relações estatisticamente significativas entre as dimensões da segurança energética e alimentar com a vulnerabilidade das populações. A análise dos dados secundários permitiu quantificar as relações e entender prioridades que podem gerar mais externalidades positivas às populações, em dois distintos cenários que incluíssem os dados de exposição. A análise das entrevistas forneceu o contexto local, de modo que foi possível identificar as externalidades positivas e negativas das interações entre as seguranças nexus, e entre as seguranças nexus e a vulnerabilidade.

As correlações estatisticamente significativas encontradas entre as pressões e demandas das seguranças hídrica, energética e alimentar sugerem papel fundamental do acesso a energia elétrica e aos sistemas de irrigação para a mitigação da vulnerabilidade. As duas variáveis, utilizadas como proxies para as seguranças energética e alimentar, foram capazes de explicar cerca de 47% da vulnerabilidade na região. O modelo que utilizou 630 observações sobre os 92 municípios do SMSF e mais de 30 entrevistas individuais e coletivas buscou garantir que a metodologia fosse relevante à escala individual.

4.3.1 Sinergias e trade-offs entre as seguranças alimentar, energética e hídrica no SMSF e implicações para a vulnerabilidade

A Tabela 4.4 apresenta com mais detalhes as relações positivas e negativas das seguranças hídrica, alimentar e energética (de forma bi-direcional) entre si e em relação à vulnerabilidade (de forma unidirecional), considerando o contexto das mudanças climáticas e dos extremos de precipitação. As externalidades positivas foram classificadas como sinergias, enquanto as externalidades negativas foram elencadas como trade-offs.

Tabela 4.4 - Sinergias (+) e trade-offs (-) encontrados entre as seguranças alimentar, energética e hídrica no SMSF, e as implicações para a vulnerabilidade

Direção das

interações¯ Segurança Alimentar Segurança Energética Segurança Hídrica

Se gur anç a A li m ent ar

Segurança alimentar x Vulnerabilidade (+) Melhorias em saúde: nutrição, estilo de vida, hipertensão, diabetes, saúde mental, entre outras; Melhoria da qualidade de vida e bem-estar; Melhoria das qualidades do solo e dos ecossistemas pela adoção de práticas sustentáveis como agroflorestas, rotação de culturas e agricultura orgânica; Criação de empregos

(+) Viabilização de sistemas de irrigação; Facilitação das atividades de suporte: comunicação, vendas, assistência técnica; Aumento da produtividade; Viabilização da mecanização; Viabilização do processamento de alimentos e agregação de valor; Refrigeração e armazenagem de alimentos / redução de perdas

(+) Garantia de água como insumo para a produção irrigada; Manutenção de ecossistemas aquáticos, garantia da pesca; Disponibilidade de água para consumo humano e dessedentação de animais; Aumento da resiliência da produção agrícola às mudanças climáticas e eventos extremos

(-) Custos e perda de produtividade pela produção de alimentos mais seguros, livres de defensivos e variados; Redução da renda pela adoção de culturas rotativas, em relação à monocultura do côco, por exemplo; Piora da qualidade dos solos pelos sistemas de irrigação; Aumento da pegada ecológica; Agravamento das mudanças climáticas e eventos extremos

(-) Aumento do uso de recursos e da pegada ecológica; Aumento dos custos de produção; Comprometimento da vazão do rio à jusante: disponibilidade hídrica e sustentabilidade da pesca; Competição por recursos hídricos; Aumento dos custos domésticos para refrigeração e armazenagem de alimentos

(-) Aumento dos custos de produção com a irrigação; Disponibilidade de água para o processamento de alimentos; Melhorias na higienização e saúde da cadeia produtiva Se gur anç a E ne rg ét ic a

(+) Produção de biocombustíveis (biomassa para biodigestores e usinas de açúcar e álcool) Compatibilidade com geração eólica e solar

Segurança Energética x Vulnerabilidade (+) Regulação de barragens para o controle de desastres (enchentes e secas); Viabilização do acesso à água para consumo humano e para a irrigação; Viabilização da inserção e inclusão na sociedade: meios de comunicação, acesso ao conhecimento; Geração de bem-estar (iluminação, ventilação); Facilitação de processos geradores de renda (comunicação); Melhorias à saúde (substituição da lenha)

(+) Disponibilidade hídrica para a geração de energia hidrelétrica; Disponibilidade de água para irrigação de produtos para a produção de biocombustíveis; Atendimento às necessidades básicas ao bem-estar humano, estruturas de governança participativas, resiliência às mudanças climáticas, suporte à geração de renda e à segurança alimentar.

(-) Competição por investimentos e uso de recursos públicos

Aumento de sedimentos no leito do rio que retiram eficiência da geração de energia e aumenta custos de operação

(-) Elevação dos custos de vida; Aumento da pegada ecológica; Agravamento das mudanças climáticas e eventos extremos

(-) Efeitos imprevistos por mudança nas estruturas de poder após independência, custos de desenvolvimento e infraestrutura. Competição por recursos hídricos que fragilizam setores da sociedade (irrigação, saúde,

Se gur anç a H ídr ic a

(+) Aumento no curto prazo do escoamento nos rios devido à baixa capacidade de retenção dos solos pelo desmatamento;

(+) Viabilização do bombeamento de água para acesso universal; Viabilização de sistemas de tratamento de água e esgoto; Viabilização de processos de dessalinização da água

Segurança Hídrica x Vulnerabilidade (+) Preservação das funções e processos físicos de regulação e purificação da água; Controle de desastres (secas); Regulação climática; Melhoria da saúde (higiene, hidratação, saneamento)

(-) Erosão, lixiviação e sedimentação e depleção de recursos subterrâneos devido à intensificação da agricultura; Perda de biodiversidade e da capacidade de retenção de umidade dos solos pelo desmatamento e conversão de vegetação nativa em área agrícola; Intensificação das mudanças climáticas; Competição da irrigação com abastecimento humano e outros usos consuntivos

(-) Aumento da pegada hídrica e intensificação das mudanças climáticas, eventos extremos de seca

(-) Aumento da poluição pelo uso indiscriminado da água; Diminuição da disponibilidade hídrica para os ecossistemas; Aumento dos custos de irrigação

Objetivo Central: compreender a influência das dimensões das seguranças hídrica, energética e

alimentar sobre a vulnerabilidade do submédio curso da bacia hidrográfica do rio São Francisco no contexto das mudanças climáticas

As análises das relações entre as seguranças hídrica, alimentar e energética foram feitas no contexto das mudanças climáticas que afetam a região, em especial a escassez hídrica e longa estiagem que afetou o SMSF no período de 2012 a 2017. As reverberações sobre a vulnerabilidade socioeconômica e ambiental foram discutidas dentro das perspectivas locais, de acordo com a relevância apontada pelos atores locais que foram objeto e objetivo do estudo.

A Tabela 4.4 apresenta as relações em nível local entre as seguranças hídrica, energética e alimentar e as reverberações sobre a vulnerabilidade.