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MATERIAIS E MÉTODOS

3.2 MÉTODOS MISTOS

3.2.1 Processos participativos e recorte geográfico

Processos participativos e de articulação do PI SSA

O PI SSA organizou desde o início de 2016 encontro de diálogos e planejamento multiescalares e transdisciplinares com atores e partes interessadas dos processos de formulação e implementação de ações públicas e coletivas incidentes sobre a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Nestas etapas foram envolvidos atores da academia, governamentais e não governamentais, membros da sociedade civil organizada e lideranças locais em distintos níveis de governança e escala (ARAUJO et al., 2019; PI-SSA, 2017). A partir desse processo foi possível realizar o mapeamento de participantes do estudo, bem como dos territórios a serem explorados. Em especial, o processo teve como objetivo identificar comunidades mais vulneráveis, além de povos e comunidades tradicionais.

Este amplo esforço coletivo se deu através de diversas atividades paralelas. Um extenso levantamento de políticas públicas, iniciativas governamentais e não governamentais se propôs a compreender em que medida as iniciativas setoriais na região estão integradas e coerentes com os objetivos de adaptação às mudanças climáticas. Este levantamento teve como objetivo inventariar iniciativas, instituições e arranjos políticos de implementação nos níveis federal e regional (PI SSA, 2017a; MILHORANCE et al., 2019). Dentre outros resultados, facilitou a identificação de atores relevantes e mais atuantes nesta escala, nas esferas pública, privada e terceiro setor.

Em paralelo, o grupo de pesquisa organizou reuniões técnico-políticas e estabeleceu parcerias para identificação de atores e agendas dos governos federal, regional e local, além da sociedade civil. Destacam-se em nível nacional os Ministérios do Meio Ambiente (MMA) e do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA), o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA), o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), o Instituto Socioambiental (ISA) e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Em nível regional, estiveram ativamente envolvidos o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), a Articulação do Semiárido (ASA), múltiplos grupos participantes do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), a Agência Peixe Vivo (AGP), o Centro Xingó de Convivência com o Semiárido, a Embrapa Semiárido, a Articulação do Estado da Bahia dos Fundos e Feixos de Pasto, a Universidade do Vale do São Francisco (UNIVASF), e a Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do NE, MG e ES (APOINME) (PI SSA, 2017a). Ainda, foram organizados seminários de interação ciência-política que tiveram como objetivo a co-construção de conhecimento sobre vulnerabilidade e adaptação às mudanças climáticas, sobretudo considerando desigualdades de gênero e as vulnerabilidades específicas de povos e comunidades tradicionais. Essa atividade contou com a presença de autoridades do governo, da academia e da sociedade civil (PI SSA, 2017a).

Estas ações resultaram na identificação de mais de 600 atores nos níveis municipal, estadual, federal e internacional, nas esferas pública, privada, organizações não-governamentais, representações de classe, cooperativas e associações, doadores nacionais e internacionais, órgãos de fomento nacionais e internacionais, universidades e institutos de pesquisa. As interações entre estes atores foram mapeadas como na Figura 3.4, que ilustra algumas das políticas nacionais incidentes sobre a região e os respectivos atores relacionados à sua criação, decisões e implementação.

Figura 3.4 - Políticas nacionais com incidência na BHSF Fonte: PI-SSA (2017)

Além de permitir visualizar as interdependências entre os atores em um nível macro, o mapa permitiu visualizar como os diferentes setores se relacionam com os atores. Percebe-se, por exemplo, que as políticas voltadas para PCTs (em marrom) aparentam estar mais relacionadas às políticas de meio ambiente e ao MMA que aos setores produtivos. As políticas agrárias parecem estar mais conexas com as políticas sociais que de agricultura e de recursos hídricos (PI-SSA, 2017; MILHORANCE et al., 2019).

Concomitantemente, construiu-se uma estrutura de indicadores de exposição, sensibilidade e capacidade adaptativa para a região em nível municipal. Foram também especializadas a distribuição e concentração de povos indígenas, comunidades e povos tradicionais e beneficiários de políticas sociais, como indicado nos mapas elaborados pelo grupo de pesquisa do PI SSA nas Figura 3.5 aFigura 3.10 (PI-SSA, 2017). A Figura 3.11 detalha os municípios adotados para o estudo.

Figura 3.5 - Acesso à energia elétrica (% de domicílios atendidos por município) e distribuição espacial da infraestrutura de geração e distribuição

de energia – 2010. Fonte: DataSUS (2017).

Figura 3.6 - Taxa de variação da produção de lavouras temporárias (coeficiente angular) e estabilidade da produção anual (variância) por

município – 2005 a 2015. Fonte: IBGE (2020).

Figura 3.7 - Média mensal de precipitação acumulada por município e variância anual da média mensal acumulada (círculos). Dados de

2005-2016. Fonte: INPE, 2017.

Figura 3.8 - Concentração dos povos e comunidades tradicionais por município e por tipo

de grupo populacional tradicional e específico. Fonte: bases cartográficas i3GEO (MMA, 2017).

Figura 3.9 - Distribuição geográfica de povos e comunidades tradicionais e unidades de

conservação.

Fonte: bases cartográficas i3GEO (MMA, 2017)

Figura 3.10 - Abastecimento de água pela rede pública (percentual de domicílios atendidos) –

dados de 2010 Fonte: DataSUS.

Figura 3.11 - Recorte geográfico do estudo: municípios do submédio Rio São Francisco Fonte: elaborado pela autora.

A triangulação destas iniciativas serviu de base para a identificação dos territórios e comunidades mais vulneráveis, que por sua vez possibilitou a construção de uma agenda para o projeto de pesquisa e as atividades de campo. Definiu-se como recorte geográfico do projeto a região fisiográfica do submédio curso da bacia do rio São Francisco (SMSF), uma vez que ficou evidente sua situação de vulnerabilidade social e climática, sobretudo no recente ciclo de estiagem (2012- 2017) (MARENGO, TORRES e ALVES, 2016). Os participantes selecionados incluíram povos e comunidades tradicionais e grupos vulneráveis, como quilombolas, indígenas e comunidades de fundo de pasto, agricultores familiares, associações de lavadeiras e catadores de material reciclável, pescadores, bem como gestores públicos do SMSF.