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um objetivo para a educação

Resolver problemas e perguntar são processos relacionados, que constituem formas de aprender a aprender. Para identificar estas relações, é necessário examinar o que constitui o processo de resolver problemas. E para definir resolução de problemas, o conceito de problema precisa ser esclarecido. Skinner (1953; 1974) apresenta um exame sobre os diferentes tipos de condições que podem constituir um problema. Poder-se-ia considerar uma situação em que o organismo encontra-se em privação ou em condição aversiva como um “problema” – se tem fome, por exemplo, ele resolve o problema ao alimentar-se; se o sol o deixa com calor, ele resolve o problema ao esconder-se sob uma sombra. Um organismo em privação ou em uma condição aversiva pode ser considerado um problema a ser resolvido e, eliminar a privação ou a condição, como resolver o problema.

No entanto, a resolução de problemas parece sugerir algumas situações mais complexas do que as apresentadas. Uma verdadeira situação problema caracteriza-se, por exemplo, quando não existe um comportamento imediatamente disponível que elimine a privação ou a condição aversiva (Skinner, 1953), ou simplesmente

não ter um comportamento disponível em determinada situação (Skinner, 1974), seja a natureza da consequência de produção de reforço positivo ou negativo (Staats & Staats, 1963/1973). Portanto, o comportamento de interesse não pode ser apresentado até que uma determinada condição seja produzida. Por exemplo, um jogador de golfe está prestes a jogar, mas não se encontra no campo de golfe ou não possui as bolas de golfe. Ele só poderá jogar quando produzir as condições que tornem possível o comportamento de jogar golfe. Se não puder produzi-las, afirmar-se-ia que ele tem uma “situação-problema” a ser resolvida. Skinner fornece uma série de exemplos de situações que constituem problemas, a partir dessa definição, assim como uma maneira de verificar que os comportamentos de interesse serão provavelmente apresentados se aquela condição existir:

Uma gaveta trancada apresenta um problema quando o comportamento que requer uma gaveta aberta é forte e quando o indivíduo não tem a chave ou outros meios de abri-la. Infere- se da presença de respostas que anteriormente abriram a gaveta, ou do aparecimento do comportamento tão logo tenha sido aberta, a probabilidade de emissão do comportamento. Podemos dizer que um automóvel enguiçado

apresenta um problema se nenhum

comportamento que resulte na partida for disponível no momento e se o comportamento que foi anteriormente bem sucedido ao dar partida for forte ou se tivermos outros indícios de o comportamento que depende do carro em funcionamento for forte. Aros de metal intercruzados serão um problema se o comportamento de separá-los for forte e se nenhuma resposta disponível o conseguir. Um assassinato misterioso representa um problema se estivermos inclinados a descobrir o assassino, a mostrar que um nome preenche

todos os requisitos da história – e não o pudermos fazer. Comprar papel de parede para uma sala será um problema se não pudermos dizer quantos rolos serão precisos; será outro tipo de problema se tivermos medido a sala mas sem converter o resultado em rolos de papel. (Skinner, 1953, p. 270).

O conceito de problema caracteriza um tipo de relação comportamental: “nenhuma classe de contingências, nem qualquer contingência em particular, podem ser descritas como um problema até que saibamos que comportamento o organismo vai apresentar na presença daquela contingência” (Millenson, 1967, p. 312). Um problema, ou uma situação problema, constitui uma situação em que uma consequência desejável não pode ser produzida pela ausência das condições que possibilitam o comportamento que a produza.

A partir da caracterização de problema, é possível examinar melhor o que constitui resolver problemas. A solução de um problema consiste na produção da condição que possibilita o comportamento de interesse. Nos exemplos apresentados por Skinner, “achar a chave da gaveta, pôr gasolina no carro, torcer os aros de metal de uma dada maneira, emitir um nome que preencha todos os requisitos do assassino misterioso [...] são soluções desse tipo.“ (Skinner, 1953, p. 271). A solução em si, no entanto, é apenas o produto do processo de interesse, que consiste em “procurar” uma solução. Por sua vez, resolver problemas “pode ser definido como qualquer comportamento que, através da manipulação de variáveis, torne mais provável o aparecimento de uma solução”. Se a solução aparecesse por acidente (p. ex., outra pessoa chega e entrega a chave da gaveta sem ser solicitada) não seria possível afirmar que o indivíduo resolveu o problema, como agente desse processo. Resolver um problema consiste em apresentar o comportamento que produz como consequências os estímulos antecedentes que tornem provável a ocorrência de um comportamento de interesse.

Existem estratégias ou procedimentos específicos para resolver problemas. Uma maneira rudimentar de resolver problemas seria por “ensaio e erro”. Skinner (1953) descreve que “o organismo aprende como tentar” quando “emite respostas em grande número por causa do sucesso anterior e talvez de acordo com certas características do problema”. No entanto, esse tipo de resolução de problemas tem uma ênfase na variação de respostas de uma mesma classe – por exemplo, simplesmente “chutar” as combinações de um cofre. Outra maneira de resolver problemas consiste não em emitir respostas de maneira relativamente aleatória até produzir a resposta apropriada, mas em manipular as variáveis ambientais de forma a produzir a condição necessária para apresentação da resposta apropriada (Skinner, 1953). O produto desse processo não é emitir uma resposta que será uma solução, e sim descobrir os estímulos que controlam essa resposta (Skinner, 1953). Delimitando de maneira mais precisa, resolver problemas é apresentar a sequência de comportamentos necessários para produzir condições que possibilitem a apresentação da resposta que produzirá a consequência de interesse. Assim, uma situação deixa de ser problema para o organismo tão logo o comportamento que a resolva seja aprendido por ele (Millenson, 1967; Skinner, 1953).

Pozo (1998) propõe explicitamente o procedimento de resolver problemas como uma maneira de aprender a aprender. Staats e Staats (1963) sugerem uma relação implícita entre aprender a aprender e resolver problemas quando demonstram experimentalmente a importância do comportamento verbal para a resolução de problemas, citando inclusive os experimentos de Vigotski. Esta conclusão é coerente com o exame de aprender a aprender de Moreno e Martinez (2007) como um processo de nível superior e verbal, e com o exame de Martín e Marchesí (1995), que consideram a linguagem um pré-requisito para a metacognição. Millenson (1967) descreve um procedimento de solucionar problema coerente com o que Pozo (1998) denomina de utilização

estratégica de técnicas já conhecidas, e também dos processos de auto- avaliação componentes da metacognição, descritos por diferentes autores (Flavell, Miller & Miller, 1999; Wolfs, 2000; Martin & Marchesí, 1995; entre outros). Na literatura, o processo de resolver problemas é reconhecido como uma forma de aprender a aprender.

No entanto, há informações que possibilitam interpretações contrárias. Echeverría e Pozo (1998) avaliam que há duas tendências nos estudos realizados acerca de solução de problemas e do seu ensino: a primeira é que solucionar problemas consiste em algumas “estratégias gerais, de forma que uma vez adquiridas possam ser aplicadas com poucas restrições a qualquer tipo de problema”; outra tendência seria a de que solucionar problemas depende de contextos específicos. Os autores explicitam que os estudos realizados sob esta tendência demonstram que dificilmente solucionar problemas em determinada área é transferido ou generalizável para outra. Embora a relação entre aprender e resolver problemas exista, é necessário examinar com cuidado em que grau as diferentes maneiras de resolver problemas específicos interferem umas em relação às outras.

O processo de perguntar caracteriza uma forma de solucionar problemas e de aprender a aprender. Pozo (1998) não apenas estabelece relação direta entre aprender a aprender e solucionar problemas, como também os relaciona diretamente ao perguntar-se:

[...] ensinar os alunos a resolver problemas supõe dotá-los da capacidade de aprender a aprender, no sentido de habituá-los a encontrar por si mesmos respostas às perguntas que os inquietam e que precisam responder, ao invés de esperar uma resposta já elaborada por outros e transmitida pelo livro- texto ou pelo professor. (Pozo, 1998, p. 9). Ainda, Echeverría e Pozo (1998) apresentam vários quadros que sistematizam um processo de resolução de problemas, baseado em procedimentos propostos por Polya, constituídos inteiramente de

perguntas norteadoras para cada etapa da resolução de problema. Skinner faz uma descrição de sua obra:

O livro de Polya, How to solve it, tem um título muito significativo. O autor se preocupa em ensinar aos estudantes como resolver problemas não de primeira ordem, mas o problema de segunda ordem, que consiste em descobrir técnicas da primeira ordem. Na qualidade de exímio resolvedor de problemas, Polya recomenda lances úteis. Por exemplo,

sugere que o estudante pergunte a si mesmo, ‘O que é desconhecido?’. Ao responder esta pergunta, o aluno pode converter o problema

que parecia insolúvel em um ao qual se apliquem técnicas de primeira ordem. Do mesmo modo, se pergunta a si mesmo, ‘Conheço um problema parecido?’, a resposta pode sugerir uma técnica útil de primeira ordem. (Skinner, 1968, pp. 127-128, grifos nossos).

Os procedimentos propostos por esses autores são provavelmente aqueles que mais diretamente relacionam os processos de resolver problemas e o processo de perguntar. Staats e Staats (1963) demonstram e destacam que “o início da solução de um problema pode, frequentemente, depender da eliciação correta da resposta verbal pelos estímulos do meio” (p. 226), o que possibilita inferir que produzir respostas a perguntas é uma provável maneira de produzir estímulos que controlarão comportamentos que resolvem problemas.

Há ainda relações diretas entre o processo de resolver problemas por meio de perguntas como objetivo da educação. Echeverría e Pozo (1998) avaliam que o processo de resolver problemas só ocorre de maneira autônoma quando o estudante é capaz de procurar respostas para suas próprias perguntas ou problemas, e quando se habitua a questionar-se ao invés de

receber respostas já elaboradas por outras pessoas (pelos livros, pelo professor, televisão). Os autores explicitam que o objetivo final da educação é capacitar o aluno a propor-se problemas e resolvê-los como forma de aprender.

Resolver problemas consiste em apresentar a sequencia de comportamentos necessários para produzir condições (a solução) que possibilitem a apresentação de outro comportamento, que produzirá a consequência de interesse. Na literatura, o processo de resolver problemas é reconhecido como uma forma de aprender a aprender. O processo de perguntar constitui uma maneira de resolver problemas. Tanto o processo de perguntar, como o processo de resolver problemas e o processo de aprender a aprender são indicados como finalidades da educação. Desta forma, é possível relacionar todos esses processos: o processo de perguntar é uma forma de resolver problemas, que por sua vez provavelmente constitui um procedimento para aprender a aprender, que é coerente como finalidade da educação.

2.5 O processo de perguntar é uma forma de controlar as