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Peritagens e Avaliações como Base dos Contratos de Seguros de Arte

Os Seguros aplicados ao Mercado de Arte

2.2 Peritagens e Avaliações como Base dos Contratos de Seguros de Arte

“O mercado de objetos de arte é, especialmente, um mercado de peritos. Os seus

participantes caracterizam-se por conhecerem bem a matéria, pela sua experiência e descrição.” (Rück, 1984: 24)

Como já referimos, quando fazemos a avaliação de objetos de arte devemos antes de mais, proceder à sua peritagem, de modo a garantir que o objeto é avaliado de acordo com aquilo que é - e não de acordo com aquilo que parece ou tenta parecer. Só assim poderemos identificar bens semelhantes no mercado para poder avaliar o bem em causa.

Como já referimos, na execução de uma peritagem de arte, um perito deve concluir acerca da ‘verdade’ de uma peça. Isto significa que, em primeira instância, deverá certificar-se que a peça em questão é autêntica, ou seja, que não é uma falsificação. Esta é a primeira dificuldade da peritagem. Em segundo lugar, tem de se certificar sobre o estado de conservação do bem e sobre eventuais defeitos ou restauros que possua. Passado este nível - e só assim -, o perito deverá estar em condições de concluir sobre a produção do bem em questão - sendo os principais dados a conhecer, o autor, a data, o local de produção, os materiais e as técnicas empregues.

No que diz respeito à questão da autenticidade de uma obra de arte, na hora de examiná-la o perito deve, sempre que possível, basear-se na sua história, nos comprovativos de pertença e venda que a ela estejam associados (e aos quais consiga aceder), para além de todos os métodos de investigação técnicos e científicos desenvolvidos até à data. Neste contexto, também servem de grande ajuda os catálogos publicados sobre artistas e obras de arte (Rück, 1984 : 44).49

Assim, como já referimos - e nunca é de mais sublinhar -, somente após ter havido uma peritagem e a elaboração de um relatório de peritagem é que um avaliador pode - com acesso ao devido relatório - executar a avaliação de um bem.

Desta forma, apenas poderá haver um contrato de seguro eficazmente celebrado, com total segurança para ambas as partes, se houver total certeza sobre a ‘verdade’ de cada uma das obras de arte nele constantes. E essa ‘verdade’ só pode ser estabelecida pelos peritos de arte.

49 Em termos de certificação de autenticidade, ao executar uma peritagem, os peritos de obras de arte devem estar atentos a dois componentes de falsificação que são referidos por Maria Teresa Gonçalves (2013: 31): primeiro, devem estar atentos a modificações inseridas nas obras de arte, de forma a dar-lhes maior valor - ‘fakes’ (exemplos: inserção de uma assinatura, criação de uma falsa proveniência); segundo, devem conseguir identificar quando a produção de um objeto tenta imitar uma peça existente, sendo criada com o único propósito de enganar - ‘forgery’.

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Quando falamos da avaliação de objetos de arte surge-nos uma dificuldade acrescida por estarmos a tratar de bens cuja comercialização está inserida num mercado associado a um grande nível de secretismo, com ‘regras’ próprias não oficiais e afastado das vendas de objetos comuns, cuja valorização segue características únicas deste mundo.

Ao fazer uma avaliação, o avaliador precisa de ter presente os valores mais recentes praticados no mercado sobre um determinado tipo de bens que é alvo de avaliação. Através dessa análise, chegará a um montante pecuniário que será o valor do bem artístico que é objeto de avaliação - no caso de dúvidas, o avaliador terá de analisar com muita atenção os últimos valores determinados no mercado sobre esse mesmo tipo de bens, antes de concluir a avaliação. No entanto, ao aceitar avaliações executadas pelos proprietários dos bens - ou seja, pessoas ou entidades que não são reconhecidas entre os vários agentes do mercado como aptos para fazerem avaliações -, a par dos critérios objetivos, que determinam o valor dos bens artísticos com base nas mais recentes práticas do mercado e são, assim, suportados por demonstrações públicas de valorização, as companhias de seguro estão a aceitar avaliações com uma outra componente - e sem a devida consideração pelos preceitos anteriores -, que vai afetar em grande escala o valor transmitido: o critério subjetivo.

Esta subjetividade está, variadas vezes, assente na relação especial que um proprietário criou com uma obra em específico. Pode ser determinado por um estreito vínculo a uma certa manifestação artística, ou pelo valor atribuído à recordação ou herança. É um valor afetivo que uma pessoa atribui a um bem e que só existe para ela mesma.

“O seguro de um objeto de arte deve assentar num critério objetivo – comprovável e verificável - a valorização subjetiva não pode, por si só, servir como ponto de referência para as reflexões em torno do seguro.” (Rück, 1984: 7)

Apesar do fácil acesso a muitos dos intervenientes - peritos e avaliadores - do mercado de arte, as seguradoras continuam a aceitar acordos com valores estabelecidos em padrões aleatórios - muitas vezes determinados segundo valores de compra que passados muitos anos se encontram desatualizados - certificando-se apenas que conhecem o proprietário - e futuro tomador do seguro - e de que este não age de ‘má-fé’.

Ao rejeitarem os seguros executados por motivos dúbios - dolo ou má-fé - as seguradoras estão a eliminar alguns dos problemas relacionados com os seguros de obras de arte. Mas até que ponto conseguimos perceber se alguém age de má-fé? Um proprietário com as melhores intenções não pode estar alheio ao mercado de arte e valor dos bens? Ou pelo menos, a alguns sectores do mercado a que pertençam os bens que serão motivo de seguro? Um grande colecionador não pode, a certa altura, ter-se (ou ter sido) enganado na compra de um bem?

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Isto são tudo variáveis que afetam o já turbulento mundo das avaliações e seguros de arte, expondo o negócio das seguradoras a ainda maiores riscos do que aqueles em que naturalmente já se encontram.

O valor económico tem de ser suscetível de comprovação objetiva através do mercado. Em muitos casos, o preço que se pagou por uma obra de arte, será equivalente à importância necessária para a sua reposição ou substituição e serve como ponto de referência do que haveria de pagar-se, caso ocorresse um sinistro sobre o bem segurado. No entanto, se o bem tiver sido comprado já há bastante tempo, devemos considerar uma reavaliação. (Rück, 1984: 7)50 É crucial atribuir e manter valores atualizados dos bens seguros, sob pena de se estar subprotegido ou sobreprotegido.

“However imperfect, the market is the only mechanism for putting a monetary figure to art’s

intangible value at any given moment to any particular person or group of people.”

(Goodwin, 2009: 12)

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As reavaliações são uma prática quase tão importante quanto a avaliação inicial. Não queremos com isto dizer que após ser efetuado o seguro de uma coleção se tenha que reavaliar os bens todos os meses. Os profissionais do mercado de arte aconselham a avaliação, pelo menos, a cada 5 anos (Ver Anexo 7), no entanto, deve-se verificar se há alteração de valores, caso surja algum acontecimento suficientemente importante para poderem afetar generalizadamente o mercado de arte e os valores nele praticados.

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