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2K RÉGINE PERNOUD

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a fonte de chamas, um outro vento, com seus turbilhões, rugia e se espalhava por toda a esfera. Nesse mesmo invólucro, havia um fogo tenebroso que inspirava tão grande horror, que eu não podia olhá-lo, e que, cheio de tumultos, de tempestades e repleto de pedras agudas, pequenas e grandes, agitava esse invólucro com toda a força. E, enquanto ele fazia ouvir sua crepitação, o círculo luminoso e os ventos e o ar ficavam agitados de tal maneira, que os fulgores precediam o próprio estrondo, porque o fogo sentia primeiro a comoção que o tumulto produzia; mas sobre esse mesmo invólucro o céu era puríssimo e nele não havia nuvem alguma.

“E nesse mesmo céu eu distinguia um globo de fogo ardente de certa magnitude, e acima dele, duas estrelas, ostensivamente colocadas, que o detinham para que ele não excedesse o limite de seu curso. E nesse mesmo céu muitas outras esferas lumino­ sas estavam colocadas por toda a parte, entre as quais o próprio globo, que, ao transbordar um pouco, enviava sua luz por instantes; e, recorrendo ao primeiro fogo do globo abrasado, restaurava sua chama e a enviava de novo a essas mesmas esferas.

“Mas desse mesmo céu saía um sopro impetuoso de vento com seus turbilhões, que se espalhavam por toda a esfera celeste. Sob esse mesmo céu, eu avistava o ar úmido sob uma nuvem que se expandia por todos os lados, estendendo essa umidade a toda a esfera. E estando acumulada essa umidade, uma chuva súbita caiu com muitíssimo ruído. E, quando ela extravasou, suavemente uma chuva fina caiu com levíssimo rumor. Então um sopro com seus turbilhões saiu para se espalhar por toda a esfera. E no meio de todos esses elementos havia um globo arenoso de imensa extensão, circundado pelos mesmos elementos, de tal modo que ele não podia se dissipar nem num sentido nem no outro. E enquanto esses mesmos elementos com os diversos sopros lutavam juntos, eles constrangiam com sua força o globo arenoso a se mover um pouco. E vi entre o Aquilão e o Oriente (o norte e o leste) como que uma grande montanha que mantinha sombras tenebrosas em direção a Aquilão e muita luz em direção ao Oriente. [...]

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“E ouvi de novo uma voz do céu, que dizia: ‘Deus, que fez todas as coisas por Sua vontade, criou-as para conhecimento e honra de Seu nome. Não somente para mostrar nelas as coisas visíveis e temporais, mas para manifestar nelas as coisas invisí­ veis e eternas. O que é demonstrado pela visão que contemplas.

A seguir Hildegard explica essa visão. Ela, o objeto descrito no início — a esfera redonda e sombria —, é sinal de Deus. E comenta: “Primitivamente os homens eram rudes e simples em seus costumes; depois, na Antiga e na Nova Lei, tornaram-se mais instruídos e se afligiram e se molestaram mutuamente. Mas no final dos séculos terão de sofrer muitos reveses por seu endurecimento. [...]”

E assinala que o invólucro de sombra que envolve a chama designa os que estão fora da fé. “Nessa chama, o globo — de um fogo cintilante, de uma tal magnitude que ilumina toda a esfera — mostra pelo esplendor de sua claridade o que está em Deus Pai, seu Filho único inefável, o sol de justiça abrasado de ardente caridade, possuidor de uma tão magna glória que toda criatura é iluminada pela claridade de sua luz. E o globo de fogo às vezes se inclina mais para baixo [...] para significar que o próprio Filho único de Deus, nascido de uma Virgem, desceu misericordiosa­ mente à miséria dos homens, suportou todas as deficiências corporais e deixou o mundo para voltar a Seu Pai. [...] O que quer dizer: os filhos da Igreja, tendo recebido o Filho de Deus na ciência interior de seus corações, a santidade de Seu corpo elevou-se pela força de Sua divindade e, num milagre místico, a noite do secreto mistério O arrebatou para escondê-Lo aos olhos mortais, porque os elementos estavam a Seu serviço.”

Em seguida ela esclarece que um dos sopros de vento é sinal de Deus, que enche o universo de Sua onipotência, e que o outro sopro, impetuoso, que faz fúria com seus turbilhões, vem da cólera de Satanás, de onde “sai a maldade renomada [...] que se espalha em todos os sentidos da esfera porque, nos séculos, os rumores úteis e inúteis se misturam de diversas maneiras entre os povos”. Significa que o homicídio se mistura à avareza, à embriaguez, às mais cruéis perversidades.

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“Mas”, acrescenta ela, “sobre esse invólucro o céu é puríssimo e sem véu porque sob os embustes do antigo enganador a fé luminosa resplandece [...] Ela não vem dela mesma, mas está fundada em Cristo. E no céu vês um globo de fogo ardente, de grande extensão, que designa verdadeiramente a Igreja unida na fé, como demonstra essa brancura de inocente claridade, que forma uma auréola de glória; e acima dela, duas estrelas distin­ tamente colocadas [...] mostram que dois Testamentos, o da antiga e o da nova autoridade, conduzem a Igreja. [...]

“Sob esse mesmo céu, vês o ar úmido e, embaixo, uma nuvem branca que se estende em todos os sentidos difundindo a umidade por toda a esfera.” É a imagem do batismo “desvelan­ do ao universo inteiro a fonte de salvação para os crentes. [...] E dele também sai um sopro, com seus turbilhões, que se espalha por toda a esfera, porque, desde a difusão do batismo, que trouxe a salvação aos crentes, a verdadeira renomada, propagando-se pelas palavras — doutos discursos —, penetrou o mundo inteiro [...] entre os povos que renunciaram à infidelidade para abraçar a fé católica”.

Enfim, o globo arenoso designa o homem e o mundo criado para o seu uso. Aqui o comentário de Hildegard se faz prece: “O Deus, que fizestes admiravelmente todas as coisas, Vós coroastes o homem com a coroa de ouro da inteligência; e o revestistes com a soberba vestimenta da beleza vísivel; e assim o colocastes, como um príncipe, acima de Vossas obras perfeitas, que dispusestes com justiça e bondade entre Vossas criaturas. Por­ que outorgastes ao homem dignidades maiores e mais admirá­ veis do que às outras criaturas.” Momento de contemplação, em que Hildegard exprime um sentimento que, aliás, se repete em sua obra: o maravilhamento ante a beleza da criação, sentimento familiar à época em que ela vive, o mesmo que é admiravelmente experimentado e expresso na obra de um Hugo de Saint-Victor: “Deus”, diz ele, “não quis somente que o mundo fosse, mas que fosse belo e magnífico.”

Um outro aspecto intervém a seguir, quando a visionária esclarece o que significa a grande montanha que se ergue entre o Aquilão, lugar de trevas, e o Oriente, lugar de luz. Aqui é

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evocada a queda do homem “pela horrível mentira do espírito maligno que causa aos condenados as múltiplas misérias da danação”. E lembra essa “espécie de homens que Me tentam de modo opiniático com sua arte perversa, perscrutando a criatura feita para seu serviço e pedindo que lhes mostre, segundo suas vontades, o que eles querem saber. Será que podem, com as especulações de sua arte, prolongar ou abreviar o tempo de vida fixado pelo Criador? Decerto não o podem fazer nem por um dia nem por uma hora. Ou então desviar a predestinação de Deus? De modo algum. Mas, às vezes Eu permito que essas criaturas vos demonstrem vossas paixões e seus sinais distintivos, porque elas Me temem como seu Deus. [...] O insensatos, quando Me votais ao esquecimento, sem vontade de retornar a Mim nem Me adorar, e olhais a criatura para saber o que ela vos vaticina, então renunciais a Mim obstinadamente e honrais a criatura enferma, de preferência a vosso Criador”. O que é condenar todas as experiências de adivinhação. E prossegue: “Mas às vezes as estrelas, com a Minha permissão, manifestam-se aos homens por sinais, como é mostrado por Meu Filho no Evange­ lho, quando Ele diz: ‘Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas.’ O que quer dizer: pela claridade dessas estrelas os homens serão iluminados; e os tempos dos tempos serão demonstrados por sua evolução. Assim, nos tempos últimos, períodos lamentáveis e perigosos manifestar-se-ão nelas, com Minha permissão, de tal sorte que os raios do sol, o esplendor da lua e a claridade das estrelas desaparecerão, às vezes, a fim de comover o coração dos homens.”

Em seguida a visionária toma como exemplo a estrela que guiou os Magos para mostrar que, se é falso que o homem tenha uma “estrela particular” para dispor de sua vida, como o povo imbecil, que se engana, se esforça por acreditar, todavia essa estrela resplandeceu “porque Meu Filho único nasceu da gravi­ dez de uma Virgem sem pecado. Mas essa estrela não trouxe nenhuma ajuda a Meu Filho senão a de anunciar fielmente ao povo Sua encarnação, porque todas as estrelas e criaturas que O temem cumprem somente a Minha vontade. Elas não têm absolutamente outra significação, de espécie alguma, para qual­

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quer criatura que seja”. Assim ela combate a astrologia e toda a sorte de adivinhação, tudo o que desvia a piedade do homem e seu sentido do mistério divino: “Não quero que perscrutes as estrelas, o fogo ou as aves, ou qualquer outra criatura que seja, sobre as causas futuras.” E, prosseguindo nos erros e malefícios satânicos, a visionária deixa novamente Deus se dirigir ao homem: “Ó homem, Eu te resgatei pelo sangue do Meu Filho, não com malícia e iniqüidade, mas com a máxima justiça. E contudo Me abandonas, a Mim, o verdadeiro Deus, e segues aquele que é mentira. Eu sou a justiça e a verdade, é por isso que te advirto na fé, exorto-te no amor e acolho-te na penitência, a fim de que, mesmo ensangüentado pelas feridas do pecado, te ergas da profundeza da queda.”

Continuando o comentário sobre a visão, ela acrescenta esta exortação, que lhe é ditada pelo esplendor entrevisto: “Ó ho­ mens insensatos, por que interrogais a criatura sobre o tempo de vossas vidas? Nenhum de vós pode conhecer de fato o tempo de vossa vida, evitar ou ultrapassar aquilo que foi determinado por Mim. Porque, ó homem, quando se cumprir tua salvação, seja nas coisas temporais, seja nas espirituais, tu deixarás o presente século para passar àquele que não tem fim. Porque, quando o homem possui uma tão grande força que Me ame com ardor maior que as outras criaturas [...], Eu não separo seu espírito de seu corpo antes que ele tenha podido levar à maturidade seus frutos saborosos, que têm um odor suave. Mas aquele que Eu considere tão débil que não possa suportar meu jugo em meio às tentações do sedutor maligno e na pesada escravidão de seu corpo, Eu o retiro deste século antes que ele comece a murchar com o aviltamento de sua alma; porque Eu sei tudo. Quero dar ao gênero humano toda a justiça para sua salvaguarda, de modo que ninguém possa encontrar desculpa quando Eu advertir e exortar os homens a cumprir as obras de justiça, quando Eu lhes inculcar o medo do julgamento da morte, como se estivessem para morrer, mesmo que ainda tenham muito tempo para vi­ ver...”

Na visão seguinte, a quarta do Scivias, a interrogação sobre o destino do homem continua sempre de modo imagético e de

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acordo com as etapas do desenvolvimento da vida humana. “Vi um esplendor imenso e sereno, que irradiava qual muitíssimos olhos, tendo os quatro ângulos voltados para as quatro partes do mundo, que me foi manifestado num grande mistério, designan­ do o segredo do Criador supremo; e nesse esplendor sereno um outro esplendor semelhante à aurora, tendo nele a claridade de um luar purpúreo, apareceu [...] Vi como que uma forma de mulher tendo em seu seio uma forma perfeita de homem, e eis que, por uma secreta disposição do Criador supremo, esta mesma forma manifestou o movimento de vida e uma esfera abrasada, não tendo nenhum traço de corpo humano, possuiu o coração da forma, tocou seu cérebro e se transfundiu por todos os seus membros; e em seguida esta forma de homem, vivificada dessa maneira, ao sair do seio da mulher teve os movimentos igualados aos dos homens sobre essa esfera e mudou sua cor segundo as cores deles.”

Em seguida virá o tempo de atribulações para esta forma humana, que a queda expôs a todos os perigos: “Eu, estrangeira, onde estou? Na sombra da morte? Que caminho que eu sigo — a via do erro — e que consolação posso experimentar, a dos peregrinos; de fato eu deveria ter um tabernáculo de pedra mais resplandecente do que o sol e as estrelas, já que o sol posto e as estrelas moribundas não deveriam luzir nele, mas ele estaria repleto da glória angélica, porque o topázio lhe serviria de fundamento e todas as gemas formariam sua estrutura; seus degraus seriam de puro cristal, e seus átrios, revestidos de ouro, porque eu sou o sopro vivo que Deus inoculou na matéria árida; é por isto que eu devia conhecer Deus e amá-Lo. Mas, quando meu tabernáculo [o corpo do homem, tabernáculo do Espírito Santo] compreendeu que podia olhar em todos os sentidos [sinal da liberdade concedida ao homem, da possibilidade de escolha, de seu desejo de escolher por si mesmo o seu bem ou o seu mal], ele se voltou para o Aquilão [Aquilão, lugar do frio e do desespero].”

Seguem-se então todas as desgraças da criatura: “Alguns puseram-se a me cobrir de opróbrios, fizeram-me partilhar a lavagem dos porcos, e me enviaram a um lugar deserto, e

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também me deram para comer ervas amargas embebidas em mel. Estenderam-me em seguida em uma prancha, infligiram-me muitíssimos tormentos, despojaram-me de minhas vestes para me ferir muitíssimas vezes, e me deixaram entregue às feras; as serpentes e os escorpiões venenosos, as víboras e seus semelhan­ tes me capturaram e crivaram-me de veneno.” Presa de todos os suplícios, ela chama: “Tu, onde estás, Sião, ó minha Mãe. Desgraçado de mim, eu que me afastei de ti! Mas, quando eu ia derramar sobre ti, ó minha Mãe, minhas lágrimas e meus gemi­ dos, a infortunada Babilônia fez ressoar a tal ponto o rumor de suas águas, que tu não pudeste estar atenta à minha voz. E por isso que procurarei os caminhos estreitos por onde poderei fugir a meus horríveis companheiros e a meu detestável cativeiro. E depois de ter falado assim, fugi por uma vereda estreita onde me escondi, chorando amargamente, numa caverna ao lado do setentrião, porque tinha perdido minha Mãe. E eis que um odor suave, como que proveniente do doce hálito de minha Mãe, inebriou-me com seu perfume. [...] E fui presa de uma tal alegria, que o antro da montanha onde me havia refugiado retumbou com meus gritos de júbilo. [...] Eu desejava subir a uma altura onde meus inimigos não me pudessem descobrir, mas eles me opuse­ ram a um mar tão agitado, que me era impossível atravessar. Havia ali um ponto tão mínimo e tão estreito, que eu não podia transpor. Mas nos confins desse mar erguiam-se montanhas de cumes tão altos, que eu senti a impossibilidade de alcançá-los.” Retomada de pavor, a criatura invoca novamente o poder do Alto. “Então ouvi a voz de minha Mãe, que dizia: ‘O filha, corre, porque, para que voes, asas te foram dadas pelo poderoso doador, ao qual ninguém pode resistir; voa, pois, acima de todas essas contrariedades, com toda a rapidez de tuas asas.’ De novo cheguei diante de um tabernáculo edificado sobre bases indestrutíveis e, penetrando nele, cumpri as obras de luz depois de ter praticado as obras das trevas. E nesse tabernáculo, no norte coloquei uma coluna de ferro não-polido sobre a qual pendurei, aqui e ali, diversas asas que se agitavam como ventarolas; e, tendo encontrado o maná, eu o comi. Mas no oriente construí um forte de pedras quadradas e nele acendi o

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fogo e bebi o vinho doce misturado à mirra. Ao meio-dia, construí também uma torre na qual suspendi escudos de cor vermelha, e nas janelas coloquei trombetas de marfim. No meio da torre verti mel, do qual fiz um perfume precioso com outros aromas, de tal sorte que seu odor poderoso espalhou-se por todo o recinto do tabernáculo. No ocidente, não edifiquei nenhuma obra porque esta parte voltava-se para o século.” Novamente exposta a todas as agressões do ódio e da mentira, a criatura implora a ajuda de Deus: “E ouvi de novo uma voz que dizia: ‘A bem-aventurada e inefável Trindade manifestou-se ao mundo quando o Pai enviou ao mundo seu Filho único, concebido do Santo-Espírito e nascido da Virgem, a fim de que os homens, nascidos em condições muito diferentes e presos pelos elos do pecado, fossem conduzidos pelo Cristo no caminho da Verda­ de.’” E pouco a pouco são dadas as informações necessárias para que o homem se salve.

A continuação contém o esclarecimento da visão enunciada antes: “A figura feminina que vês trazendo em seu seio uma forma humana perfeita significa que, desde que a mulher recebe a semente humana, a criança se forma com a integridade de seus membros na célula escondida no seio de sua mãe. E eis que, por uma secreta disposição do divino Criador, esta forma confirma o movimento da vida porque, desde que em virtude de uma vontade misteriosa de Deus a criança recebeu o espírito no seio materno, no momento estabelecido e querido por Deus, ela demonstra pelos movimentos de seu corpo, que vive, como a terra se entreabre e deixa desabrochar as flores de seu fruto quando o orvalho desce sobre ela. De tal modo que é como se uma esfera de chamas, sem nenhum traço do corpo humano, possuísse o coração da referida forma, porque a alma [ardendo no lar da soberana ciência] distingue diversas coisas no âmbito de sua compreensão. E essa esfera não tem nenhum traço do corpo humano porque ela não é nem corpórea nem efêmera como é o corpo do homem, e porque ela lhe dá a força e a vida. E, sendo como que o fundamento do corpo, ela o rege por inteiro. [...] Essa forma humana, assim vivificada no seio da mãe, possui, ao sair, os movimentos que lhe imprime a esfera de

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chamas que está nela. E, de acordo com seus movimentos, ela muda também de cor, porque depois que o homem recebeu no seio de sua mãe o sopro de vida, depois que ele nasceu e manifestou os movimentos de seus atos segundo as obras que a alma cumpre com o corpo, o mérito lhe advém dessas mesmas obras, porque se reveste com o esplendor das boas obras e se cobre com as trevas das más.

“Essa mesma esfera de chamas mostra seu vigor conforme as energias corporais, de tal modo que, na infância do homem, ela dá provas de simplicidade, na juventude, de força, e na plenitude da idade [...] ela manifesta a potência de suas virtudes por sua sabedoria. [...] Mas o homem tem em si três veredas [três rumos ou maneiras de ser]. O que é isso? A alma, o corpo e os sentidos, e é por eles que a vida se exerce. Como? A alma vivifica o corpo e mantém o pensamento, o corpo atrai a alma e manifesta o pensamento, mas os sentidos abalam a alma e adulam o corpo. Porque a alma dá vida ao corpo como o sol faz penetrar a luz nas trevas, por meio das duas forças principais que possui: a inteligência e a vontade, que são como seus dois braços.” E, porque rejeita as interpretações simplistas, Hildegard se apressa a acrescentar: “Não que a alma tenha dois braços para se mover, mas ela se manifesta por essas duas forças, como o sol por seu esplendor.”

Inteligência e vontade são os dois meios que o homem possui para se manifestar.

Mais adiante, depois de ter descrito as possibilidades do ser humano, Hildegard exprime uma vez mais, por meio de suas visões, as tendências do homem: “A alma no corpo é como a seiva na árvore, e suas faculdades são como os ramos da árvore. Como é isso? A inteligência está na alma como o verdor dos

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