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Perspectiva da professora tutora na autoformação do professor

4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

4.2. Perspectiva de uma professora cooperante com experiência na

4.3.2. Perspectiva da professora tutora na autoformação do professor

Segundo a perspectiva da PT, baseando-se no pressuposto de que os PE’s reflectem o que se faz e ensina na instituição de formação inicial, os PC’s são influenciados na sua prática profissional através das propostas pedagógicas (ET, 03-04-06) que os PE’s fazem para o ensino e aprendizagem dos alunos. Entende que os PE’s são uma espécie de “veículo” das propostas contextualizadas e da forma como os professores da instituição superior vêem e reflectem sobre a profissão (ET, 03-04-06). Estes reflectem não só as orientações da escola superior e das equipas de tutoria, mas também a sua postura e atitude face ao ensino e à educação:

(…) esta mútua influência de estagiários, cooperantes e tutores neste triângulo, digamos,

esta influência é mútua pelo facto de vivermos um processo que é continuado de forma sistemática, que todos nós aprendemos… (ET, 03-04-06).

A PT considera um benefício triangular, na medida em que todos beneficiam das reflexões sobre as práticas realizadas em contexto, mas que o efeito provocado nos PC’s não é idêntico em todos, por que nem todos estão predispostos para a mudança:

(…) o professor não fica imune, digamos, não fica estático perante as alterações de

Verifica-se que, tal como em qualquer outra organização ou estrutura, em que uns aproveitam ou tiram partido das oportunidades e outros não, também neste processo de supervisão nem todos sabem retirar as vantagens ou os benefícios que o mesmo proporciona, tornando-se assim o processo mais pobre. Neste contexto, citando Hameline (2002) a propósito do Fedro de Platão, o mesmo refere que cette introduction du Phèdre est une sorte d`hymne à la gloire du rendez-vous de l’enseigner et de l’apprendre. Remarquez que ce rendez-vous n’en est pas un, au sens littéral de l’expression en francais dont l’usage masque la bizarrerie sémantique (…) La rencontre est chose qui arrive, donc qui pourrait ne pas arriver (p.26).

Desta forma, também no processo de supervisão, para que este encontro se verifique, é preciso aproveitar ao máximo o que ele tem para oferecer e aderir com disposição, confiança, entusiasmo, responsabilidade e espírito de abertura (Dewey, 1933, Zeichner, 1993). O PC deve estar pronto não só para participar no planeamento e na acção dos PE’s, mas também para aceitar sugestões que criem outras dinâmicas e outras aprendizagens, porque só agindo de acordo com as três atitudes necessárias para a acção reflexiva: espírito de abertura,

responsabilidade e sinceridade (Zeichner, 1993, pp. 18-19), o PC poderá

reelaborar a sua prática e construir a sua autoformação.

(…) para mudarem não basta alterações de pormenor, têm que ser alterações bem profundas, alterações que têm a ver com referenciais teóricos, alterações que têm a ver com quadros de referências e de valores sobre a educação… (ET, 03-04-06).

Com vista a minimizar as fragilidades encontradas no decurso do estágio, bem como o curto período em que o mesmo decorre, a PT recorre à modalidade dos seminários na procura de soluções para os problemas encontrados:

(…) os seminários que nós temos nas escolas e que são seminários participados por todos

os intervenientes. Estes seminários, do nosso ponto de vista são a partir dos problemas e das dificuldades que os nossos alunos encontram, são respostas ou pretendem ser respostas ou problematização dessas mesmas questões, não só para os alunos, mas também para os cooperantes que privilegiamos sempre a sua presença… (ET, 03-04-06)

A PT é da opinião que por si só os seminários não são suficientes para colmatar certas dificuldades apresentadas pelos PC’s em relação a algumas áreas do currículo ou áreas disciplinares. Considera também que a prática reflexiva dos PC’s, ao nível da supervisão, não deveria ficar unicamente pela gestão curricular. Tal como Perrenoud (2002), a formação dos professores deve conjugar diversas modalidades: a transmissão de saberes e a sua apropriação; a “imitação inteligente” de gestos profissionais; a construção de competências e de posturas em função de um treinamento quase reflexivo; a construção do habitus profissional por meio da interiorização de limites e da estabilização de esquemas

de acção (p. 77). No entanto, para a PT, no fundo tudo é curricular,

designadamente a gestão do tempo, do espaço, da diferenciação pedagógica, da organização, etc. Por isso acha que se deveria ir mais longe na reflexão apostando na resolução de problemas de ordem didáctico-metodológico nas várias áreas curriculares:

(…) alguns professores cooperantes não têm uma reflexão pelo menos do ensino da matemática, quem diz sobre o ensino da matemática (…) sobre o ensino da escrita e de leitura, sobre a questão, enfim, como se ensina a escrever a partir daquilo que as crianças

Considera que nem todos os PC’s estão aptos para o exercício da supervisão, na medida em que para o PC supervisionar …

(…) é preciso que ele próprio tenha integrado na sua prática formas de estar perante o

ensino, que tenha tido também uma reflexão sobre qualquer coisa… (ET, 03-04-06)

Na sua perspectiva é muito difícil a um PC que segue um modelo de carácter mais tradicional e que esteja habituado, por exemplo, a praticar o método sintético ou outro ainda mais tradicional, na leitura e escrita num primeiro ano de escolaridade, aderir a uma iniciativa que promova uma abordagem da leitura e da escrita de uma forma mais interactiva. Refere que, em relação à aprendizagem da escrita e da leitura, adoptam com os PE’s uma perspectiva mais…

(…) interactiva, e em situações de intervenção numa sala mais tradicional, procuram que

os alunos promovam actividades com sentido para eles, mas simultaneamente com sentido para as crianças e em que estas últimas sejam postas em situação de descoberta, em situações de cooperação, diferenciando o ensino, etc… Ora, se o professor não tiver esta perspectiva, a certa altura torna-se muito difícil e pode haver mesmo rupturas… (ET, 03- 04-06).

Trata-se de uma problemática em que os PE’s fazem propostas educativas e promovem actividades de acordo com os quadros teóricos que aprenderam na escola de formação inicial, conforme o currículo nacional. Mas acontece que nem todos os PC’s acreditam no trabalho que os PE’s veiculam e desenvolvem, podendo mesmo desencadear-se algumas rupturas. Daí a PT entender que há ainda todo um trabalho a desenvolver:

(…) acho que nós tínhamos ainda que desenvolver, que estimular outras formas de acompanharmos a formação dos cooperantes, mas esse acompanhamento deveria ser uma formação integrada, porque também não creio que a via disciplinar, por exemplo, sei lá, uma grande formação em matemática, por exemplo vinte horas, outras vinte para a língua portuguesa, etc., não creio que seja por aí que as coisas mudem… A formação tem que ser mais integrada e tem que contar com os elementos da gestão da sala de aula, etc., mas simultaneamente com a perspectiva disciplinar (ET, 03-04-06).

O PC deve possuir um conjunto de características e qualidades adequadas ao exercício da supervisão. Deve, por um lado, deter à partida certos conhecimentos e competências e, por outro, estar motivado e predisposto para participar em actividades que fomentem a especialização na referida área. Neste âmbito, a PT considera que nem todos os PC’s têm o perfil adequado para a prática da supervisão, embora tenha havido ultimamente uma certa evolução na qualidade e estabilidade do corpo docente:

(…) cada vez mais, todos os anos, nós termos um corpo de professores cooperantes estável, de pessoas muito sérias que se têm empenhado fortemente, digamos, na construção dos nossos alunos como professores e portanto, nós confiarmos bastante neles. Porque inicialmente era uma questão de linguagem, quer dizer, a questão mesmo em anos recuados, nós não fazermos seminários com todos, era mesmo por uma questão de linguagem. Quer dizer, a certa altura falávamos linguagens diferentes e em alguns casos ainda falamos, porque as pessoas também não se expõem muito, não explicitam as suas práticas… estou convencida que um pouco com receio de que estejam a ser avaliadas… (ET, 03-04-06).

Relativamente à questão da avaliação de que os PC’s possam ser alvo, a PT não considera que os mesmos estejam a ser avaliados, antes pelo contrário, encara-os como parceiros no processo de supervisão e deseja contribuir para a sua autoformação:

(…) a nossa função não é a formação dos cooperantes, nem sequer os cooperantes estão sobre avaliação. Nem somos nós que os vamos avaliar. Nós queremos ser parceiros com eles e queríamos e gostáramos, eu pessoalmente, falo por mim, naturalmente, gostaria que de facto, pudéssemos ser também uma mais valia para a sua autoformação, para a sua formação. (ET, 03-04-06).

Não obstante, considera-se que a questão da avaliação também se coloca no processo de supervisão, porque quem intervém, coordena e executa (…) perante e em relação a outros, terá e será sempre avaliado pelos seus actos e atitudes. Mas a avaliação que se faz é que pode ser mais formal ou informal, consequente ou inconsequente, direccionada ou percepcionada (…) consoante o fim a que se

avaliação também não deverá ser excepção, mas ocorre mais a um nível informal e pode ter como consequência que o PC avaliado negativamente não seja convidado a participar no ano seguinte.

Concluindo, pode-se inferir desta entrevista que a autoformação do professor cooperante é sentida, da parte da PT, com algumas interrogações: por um lado, a convicção de que os alunos estagiários podem veicular práticas inovadoras e novas reflexões, por outro, a consciência de que a formação dos PC’s se tem de inscrever em novos quadros teóricos de referência.