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4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

4.4. Síntese das diferentes perspectivas

Da análise comparativa do conteúdo das entrevistas aos diferentes sujeitos investigados – professores cooperantes (PC’s), professora cooperante com experiência de tutoria institucional (PCi) e professora tutora (PT) com responsabilidade na formação inicial –, relativamente à eficácia e ao aproveitamento que cada PC faz ao nível dos processos formativos e em que medida este entra em processos de auto-formação a partir da recepção de PE’s na sala de aula, constata-se que, no essencial, todos concordam que o processo de supervisão promove mudanças e que propicia a auto-formação dos PC’s. Mas as perspectivas apresentadas, pelos diferentes sujeitos entrevistados, nem sempre são coincidentes quanto à forma como cada um interioriza ou pode interiorizar aquelas aprendizagens.

Todos os PC’s consideram a prática da supervisão pedagógica uma experiência positiva, porque modifica substancialmente a sua atitude e postura na sala de aula e promove a sua reflexão sobre a prática e a auto-formação. São unânimes em considerar que o exercício de supervisão transporta consigo o desafio de novas aprendizagens e de mais atenção ao funcionamento de cada um, veiculado por outras propostas de trabalho, quer da autoria dos próprios PE’s, quer da PT, quer dos professores das disciplinas específicas. Também o sentir de uma responsabilidade acrescida, na formação de novos profissionais, induz os PC’s a procurarem mais formação e a documentar-se adequadamente para poderem corresponder àquilo que deles esperam.

A PT também considera que os PC’s saem, de um modo geral, enriquecidos com o processo de supervisão, designadamente porque os PE’s reflectem o que se faz e ensina na instituição de formação inicial e transportam para o lugar do estágio as propostas e a forma como os professores vêem e reflectem a profissão. Depois há ainda todo um conjunto de interacções que se estabelecem entre os intervenientes no processo, uma mútua influência de estagiários, cooperantes e tutores neste triângulo (ET, 03-04-06), com vista à resolução de problemas pontuais, preparação e acompanhamento do estágio, seminários (…) que constituem também momentos privilegiados de formação que a todos beneficia e enriquece. No entanto, a PT entende que o processo de supervisão, por si só, não garante aprendizagens efectivas nem promove a auto-formação dos PC’s porque, para que haja mudanças, é preciso haver…

(…) alterações bem profundas, alterações que têm a ver com referências teóricas, alterações que têm a ver com quadros de referências e de valores sobre a educação (PT, 03-04-06).

Referem-se quadros de referência que obviamente não se alteram de um momento para o outro. Trata-se de concepções e formas de estar que levaram anos a construir e que se inserem num determinado percurso de vida. Desta forma, qualquer mudança que rompa com quadros de referência anteriormente adquiridos exige tempo, esforço, empenho e predisposição, na medida em que é preciso haver um tempo suficiente e também motivação e espírito de abertura (Dewey, 1933) para interiorizar outras propostas de trabalho e alterar comportamentos. Na óptica de Dubar (2003) querer fazer passar os indivíduos de uma forma identitária para uma outra constitui um objectivo muito ambicioso que lhe exige, ao mesmo tempo, que mude a configuração dos saberes e a relação vivida no trabalho. Se estes elementos não mudarem, há muito poucas

hipóteses de a formação modificar quem quer que seja (p. 51).

A PCi encara a supervisão como uma oportunidade para se reflectir sobre o acto pedagógico, privilegiando a reflexão escrita que mantém com os PE’s, as reuniões quinzenais de carácter informal com o conjunto dos PC’s da escola e os PE’s, bem como a permanente reflexão em situações formais e informais (E1i, p. 13). Considera redutora a participação da equipa de tutoria, ao nível das disciplinas, porque não há abertura nem compreensão do que é a monodocência...

(…) muitas vezes há uma abordagem do 1.º Ciclo como se fosse um currículo mosaico (…) e esta abordagem deveria ser repensada, tal como o papel dos professores especialistas [refere-se aos professores das metodologias](…) que deveria ser um apoio de retaguarda” (EG, P1i, 10-07-06).

Como decorre da análise às entrevistas, significa que os professores das metodologias vêem o 1º ciclo, à semelhança dos 2º e 3º ciclos, como se fosse uma via de ensino que é compartimentada, porém, no entender da cooperante, o 1º ciclo tem que ser tratado como uma monodocência em que todas as áreas estão interligadas. Ao contrário de um tratamento como se de um currículo mosaico se tratasse, antes se deve considerar a interdisciplinaridade, devendo os professores das especialidades exercer um apoio de retaguarda. Também outros PC’s partilham desta ideia, acentuando que os professores das metodologias deveriam reunir oportunamente nos momentos de planificação e não surgir extemporaneamente, com uma atitude um pouco individualista e fechada, introduzindo alterações às planificações anteriormente elaboradas. Mas os PC’s também vêem nos professores das metodologias a oportunidade de aprofundarem os seus conhecimentos a partir do diálogo com estes e os PE’s. Deste diálogo abrem-se novas perspectivas teóricas e abordam-se outras formas de fazer menos centradas numa só pessoa, o que ajuda à descentralização do poder de decisão e a uma melhor harmonização de condutas e formas de entendimento.

Quanto à organização dos estágios, todos os PC’s, incluindo a PCi, estão de acordo que é preciso “aferir linguagem”, negociar instrumentos e critérios de avaliação, bem como clarificar e especificar competências de todos os intervenientes logo no início do processo de supervisão…

(…) é através da negociação, do tal aferir de linguagem e através de instrumentos de avaliação, tal como nós fazemos com os meninos a avaliação, não é no final, é no início, ou seja, temos que começar no início por comunicar, clarificar objectivos (…) [também os PE’s] têm que se apropriar dos aspectos que os professores cooperantes e os professores

da instituição de formação inicial exigem deles, enquanto apropriação, atitude, etc. (EG, P1i, 10-07-06).

Para os PC’s era importante um melhor acompanhamento dos estágios, devendo instituir-se momentos de trabalho entre a equipa de tutoria, os PC’s e os PE’s, acerca da planificação, funcionamento, articulação e aprofundamento, onde se debatessem também as questões problemáticas e se fomentasse a realização de seminários, participados pela pluralidade das valências que integram os estágios, em todos os momentos do processo de supervisão.

Assim sendo, as perspectivas a que nos referimos não são propriamente díspares. Convergem em grande parte, raramente seguem caminhos opostos e conflituam de forma residual.