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Procedimentos de recolha, análise e tratamento dos dados

3. METODOLOGIA DO ESTUDO

3.2. Procedimentos de recolha, análise e tratamento dos dados

Como referido, foi utilizado para este estudo o método qualitativo, apoiado em entrevistas semi-estruturadas feitas a partir de guião aberto, onde se pretende captar, por meio de relatos, as influências ocorridas no percurso profissional de cada docente. Procura-se sobretudo obter dados, a partir de contactos, experiências adquiridas e actividades prático-reflexivo, determinados pelas interacções decorrentes da prática profissional enquanto professor cooperante em matéria de supervisão pedagógica.

Poderá dizer-se que o estudo consiste também numa observação participante, na medida em que a investigadora detém um duplo papel – observa e participa. Observação participante é aquela em que se dá a transferência do indivíduo total para uma experiência imaginativa e emocional na qual o investigador aprendeu

a viver e a compreender o novo mundo (Lacey citado em Bell, 1993, p.162).

A investigadora, revisitando Vasconcelos (1997) “Ao Redor da Mesa Grande” a propósito da metáfora do quadro de “Las Meninas” de Velázquez, em que a autora, tal como o pintor, se considera elemento dentro e objecto do seu próprio estudo, também a autora da presente investigação se pode considerar parte da mesma e na mesma, na medida em que não há qualquer possibilidade de a investigadora se colocar fora da investigação. Ela tem de se colocar dentro da investigação, tal como Velázquez se colocou dentro da sua própria pintura. Ao investigar a vida de outras pessoas, a investigadora coloca-se a si mesma dentro da investigação, ou seja, torna-se também ela objecto dessa investigação (Vasconcelos, 1997, p. 41). Esta ideia sai ainda mais reforçada porque a investigadora vive no mesmo mundo profissional e partilha em concreto das mesmas experiências pedagógicas e sentir dos entrevistados. Daí que, no caso em apreço, nem seja preciso recorrer previamente à integração do investigador no grupo investigado – como atrás se referiu ao citar Lacey em Bell (1993) – uma vez que, por força das circunstâncias em que se desenvolve a actividade dos intervenientes, já preexiste essa integração no grupo analisado. Tal facto permite

melhor recolha de dados, decorrente do conhecimento prévio do campo a explorar e de um certo à-vontade dos entrevistados, permitindo-lhes ser mais criativos e desinibidos na exposição das ideias, assuntos e factos ocorridos. Vasconcelos (1997, p. 56) citando Douglas, refere-se à entrevista criativa, – em que duas pessoas – criativa e abertamente partilham as suas experiências uma com a outra numa busca mútua de um melhor entendimento de si mesmas (p. 56).

Trata-se de um estudo que assenta numa relação construída anteriormente, entre investigador e sujeitos, versando uma área de ensino/aprendizagem comum a todas as partes envolvidas no estudo, onde por força do exercício comum de funções, a partilha de informação e conhecimento é uma constante. Daí não ser necessário proceder a trabalhos de adaptação ao meio, dando-se logo início à entrevista que, como refere Bogdan e Biklen (1994), nos estudos de observação participante, o investigador geralmente já conhece os sujeitos, de modo que a

entrevista se assemelha muitas vezes a uma conversa entre amigos (p. 134). Os

mesmos autores também referem que o investigador, em situações em que já conhece o sujeito, deve passar logo à entrevista. No entanto o investigador deve manter uma atitude de vigilância sobre si próprio, decorrente da exigência de rigor científico, que só por esse meio pode ser alcançado, uma vez que tem um papel activo no desenrolar da intervenção que está a ser pesquisada.

Afonso (2005) realça que é este esforço reflexivo que permite ao investigador “distanciar-se” epistemologicamente do objecto de estudo que vai construindo, tornando “estranho” o que era “familiar” e pondo em causa o que parecia

óbvio (p.50). Também neste estudo a ideia central que se pretende sublinhar é a

de que o investigador não surge de “mãos vazias” perante a necessidade de conceber e desenvolver o seu projecto. Pelo contrário, deve inventariar e avaliar os seus adquiridos experienciais, mobilizando-os criticamente como mais-valias,

em vez de os (re)negar como se fossem obstáculos ou limitações (Afonso, 2005,

p.50).

A técnica de entrevistas individuais e a entrevista de grupo de enfoque, complementadas com momentos de observação participante, foram os procedimentos empregues no âmbito deste estudo. Os textos finais da transcrição das diversas entrevistas foram submetidos à técnica de análise de conteúdo (Huberman e Milles, 1991; Bardin, 1994; Vala, 2001; Afonso, 2005). Este procedimento permitiu efectuar inferências, tendo como base uma lógica explicitada sobre mensagens inventariadas e sistematizadas dando origem ao desenvolvimento de temas que permitiram, por um lado, identificar o modelo implícito à problemática da investigação e, por outro, a obtenção de ideias- chave/temas que se tornaram necessários esclarecer e aprofundar com recurso à entrevista de grupo de enfoque (focus group). Esta entrevista de enfoque foi aplicada no início de Julho de 2006, revelando-se oportuna face à evolução da investigação.

Dado que neste estudo se procura obter informação específica numa determinada área, foi necessário proceder à enumeração de tópicos que permitissem recolher dados de interesse para a elaboração do mesmo. Não se recorreu ao questionário, mas foram seleccionados tópicos a partir dos quais se elaborou o guião de entrevista (apêndice B) permitindo ao entrevistado uma margem considerável de

movimentos dentro desta estrutura (Bell, 1993, p. 141). Foram feitas

determinadas perguntas, mas os entrevistados têm a liberdade de falar sobre o assunto e exprimir as suas opiniões. O entrevistador limita-se a fazer habilmente as perguntas e, se necessário, a sondar opiniões na altura certa; se porém, o entrevistador se mover livremente de um tópico para o outro, a conversa poderá fluir sem interrupção (ibidem).

3. 2. 1. Elaboração dos protocolos

Terminada a realização das entrevistas transcreveu-se o seu conteúdo e procurou- se ser tão fidedigno quanto possível nas transcrições que deram origem a sete protocolos. Os dados de caracterização pessoal ou que permitiram a identificação foram transcritos sob uma forma já codificada. A cada um dos entrevistados foi atribuído um código – E1i, E2, E3, E4, E5 – que se refere às entrevistas individuais aos professores cooperantes; EG para a entrevista de grupo aos professores cooperantes, a seguir identificados por P1i, P2, P3, P4 e P5, sendo que o E2 corresponde ao P2 e assim sucessivamente. (Nota: A professora

cooperante que já exerceu anteriormente o papel de tutora numa instituição foi codificada com a sigla E1i na entrevista individual e para a de grupo de enfoque usou-se a sigla P1i). A sigla ET corresponde à entrevista do professor tutor que fez a ligação entre a Escola de Formação Inicial e as Escolas dos professores cooperantes. Ao conjunto dos Professores Estagiários foi atribuída a sigla PE e aos Professores Cooperantes PC’s. Ao professor tutor corresponde a sigla PT. Todas as entrevistas foram numeradas e manteve-se esse código ao longo de todo o estudo (cf. apêndices).

Feitas as entrevistas, individualmente aos cooperantes (Fevereiro e Março de 2006), operou-se a análise de conteúdo para encontrar pontos em comum e temas emergentes. O conteúdo desses temas emergentes seriam devolvidos ao grupo de professores numa entrevista de grupo de enfoque realizada numa segunda fase. A entrevista de grupo de enfoque foi realizada já no final do trabalho de campo (início de Julho de 2006) e, dado que uma entrevistada já tinha desempenhado o papel de professora tutora de uma instituição de formação inicial, tornou-se possível desenvolver uma perspectiva simultânea de alguém que tinha uma dupla perspectiva decorrente dos dois papéis – cooperante e tutora. Por fim, entrevistou-se o professor tutor que faz a ligação com a escola dos professores cooperantes, para perceber os aspectos relacionados com a organização dos estágios e de que forma estes também contribuem para a reflexão e mudança das práticas dos professores cooperantes (Abril de 2006).

Convém realçar que o acto de perguntar está associado à observação. Assim, à medida que se foi recolhendo informação verbal também se captou uma série de outros sinais que são indicadores da disposição, das atitudes e do estado de espírito em que os entrevistados se encontravam e daí a necessidade de também se registarem os dados após a entrevista. Teve-se consciência que, quanto mais tempo passasse, sem se fazer o registo, mais pormenores ficavam por registar. Como forma de procurar garantir a maior objectividade, neste tipo de informação, procurou-se não confundir dois aspectos importantes quando se faz um registo: a descrição da situação e a interpretação do investigador acerca dela. Estes registos poderão ainda vir a ser confirmados ou infirmados por registos posteriores e daí a necessidade de separar os acontecimentos das interpretações que se possam fazer a partir deles.

As entrevistas foram realizadas no contexto da escola onde cada professor leccionava, em espaços e tempos que garantidamente possibilitavam a realização das mesmas de forma tranquila e sem interrupções. A duração das entrevistas variou entre uma hora e uma hora e meia, à excepção da entrevista de grupo de enfoque que teve a duração de três horas e meia.

Relativamente à forma de recolha, por se afigurar mais adequado aos objectivos pretendidos, optou-se pela entrevista oral gravada, na medida em que se institui um ambiente menos tenso enquanto factor determinante de recolha fidedigna. Numa primeira análise das transcrições retiraram-se algumas repetições e

bordões de linguagem muito frequentes no discurso oral. Procurou-se, na medida do possível, registar o ritmo dos enunciados por meio da indicação de pausas (…) e captar a ocorrência das entoações – interrogativa (?) e exclamativa (!). Sempre que o entrevistado imprimia um ritmo mais acelerado utilizou-se o (itálico) como forma de assinalar esse tipo de discurso. A ausência destas notações significa uma entoação declarativa ou assertiva. Depois de transcritas as entrevistas, as mesmas foram remetidas aos entrevistados para que as pudessem confirmar ou reformular, sublinhar ou acrescentar. O professor tutor procedeu a alguns cortes na transcrição da sua entrevista que, de acordo com os seus critérios, foram integralmente respeitados. Nas entrevistas dos cooperantes apenas uma professora sentiu necessidade de realçar o género dos nomes, de forma que, quando se referia ao género masculino acrescentava também o género feminino (alunos/as).

3. 2. 2. Análise de conteúdo

Transcritas todas as entrevistas, estas foram cuidadosamente lidas. A leitura realizada num segundo momento tornou possível o desenvolvimento de inferências e categorias iniciais através da identificação de palavras e frases que se repetem ou destacam, de padrões de comportamento, formas dos sujeitos pensarem, acontecimentos (Bogdan e Biklen, 1994). Estas categorias foram sendo modificadas e completadas no decurso de nova leitura dos dados.

As categorias e subcategorias construídas inicialmente prendem-se com dados de identificação; conhecimento de como o professor cooperante integrou a supervisão; representações dos professores cooperantes relativamente ao modo como fazem a supervisão; percepções dos professores cooperantes acerca da influência dos professores estagiários na sua prática pedagógica. Por sua vez, esta categoria subdivide-se em subcategorias: receptividade do professor cooperante face a outras práticas veiculadas pelos alunos estagiários; de que modo são influenciadas as práticas de planificação; de que forma a supervisão de professores estagiários influencia a postura e a prática pedagógica dos professores cooperantes.

Como já foi referido anteriormente, fez-se uma entrevista individual a cinco professores cooperantes, sendo que um já tinha exercido o papel de professor tutor numa instituição de formação inicial e, posteriormente, a análise de conteúdo das referidas entrevistas. Cerca de três meses depois fez-se uma entrevista colectiva de aprofundamento utilizando como metodologia o grupo de enfoque (focus group). Dado o facto de a metodologia “grupo de enfoque” ser uma área nova de pesquisa, para a qual não há muitos dados disponíveis, foi preciso uma investigação mais intensa.

Experimentar uma entrevista de grupo (na modalidade de grupo de enfoque) foi um processo muito enriquecedor, porque se debateram temas que emergiram ao

longo da análise às entrevistas individuais. A entrevista em grupo possibilitou comparar e cruzar os dados recolhidos nas entrevistas iniciais.