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CAPÍTULO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 GESTÃO DO CONHECIMENTO

2.1.4 PERSPECTIVA EVOLUTIVA DA GESTÃO DO CONHECIMENTO

Segundo Sveiby (ibid.), a partir dos anos 80, pesquisadores e executivos começaram a levar em consideração os aspectos do conhecimento para os negócios. Por volta de 1986, nos Estados Unidos, o termo ‘gerenciando o conhecimento’ foi utilizado pela primeira vez no âmbito da Inteligência Artificial por dois grupos distintos de pesquisadores. Um grupo liderado por Karl Wiig, avaliava o contexto do conhecimento na condução dos negócios; outro, liderado por Debra Amidon, buscava entender como a tecnologia poderia contribuir para a melhoria do processo de aprendizagem. Wiig foi o primeiro autor a fazer uso do termo Gestão do Conhecimento. Segundo Firestone e McElroy (2002), o trabalho de Wiig, publicado em 1989, estabelece a Gestão do Conhecimento como um campo de estudo.

Na fase inicial dos estudos sobre a Gestão do Conhecimento, a condução dos trabalhos foi fortemente influenciada pela Tecnologia da Informação (DAVENPORT; MARCHAND, 2000; KOENIG, 2002 apud FIRESTONE; MCELROY, 2002; MCELROY, 2003a). O enfoque era a aplicação de tecnologia para promover a distribuição e a coordenação do conhecimento existente dentro das organizações. Naquela época, não havia forte diferenciação entre a Gestão do Conhecimento e a Gestão da Informação.

Nenhuma ênfase era dada à produção do conhecimento (MCELROY, 2003a). Com isso, as tentativas de promoção da Gestão do Conhecimento com foco apenas em Tecnologia

da Informação não se mostraram eficazes (ALBRECHT, 2004).

Por volta desse mesmo período, um grupo de pesquisadores japoneses, conduzidos por Ikujiro Nonaka e Hirotaka Takeuchi, iniciava seus estudos sobre o sucesso de desenvolvimento de novos produtos nas empresas japonesas. Anos depois, esses estudos resultaram na publicação do livro Criação de Conhecimento da Empresa em 1995 (NONAKA; TAKEUCHI, 1997), traduzido para o português em 1997, tomando como base o conceito de conhecimento tácito de Michael Polanyi. Segundo Sveiby (2001, p. 3), Nonaka “lembrou-se da epistemologia e voltou-se para o trabalho de Michael Polanyi e o seu conceito de ‘conhecimento tácito’ ”. Sveiby aponta o livro como referência fundamental e afirma, ainda, ter, esse, redefinido o ramo da Gestão do Conhecimento. Outros pesquisadores da área também apontam esse trabalho e a popularização do modelo SECI (Socialização, Externalização, Combinação e Internalização), ambos de Nonaka e Takeuchi, como um marco para o campo de estudo da Gestão do Conhecimento (SNOWDEN, 2002, KOEING, 2002, FIRESTONE; MCELROY, 2002).

Por ser considerado uma referência, o modelo SECI será resumidamente apresentado nos parágrafos seguintes.

O modelo de Nonaka e Takeuchi (1997) sugere que o processo de criação e compartilhamento do conhecimento move-se em uma espiral que envolve a socialização, externalização, combinação e internalização, sendo o conhecimento, dessa maneira, transferido, difundido e reutilizado dentro de uma organização.

A promoção da espiral do conhecimento, interação contínua e dinâmica entre o conhecimento tácito e o explícito, dá-se por meio de um trabalho de interação e de relacionamento entre as pessoas envolvidas, dinamizando as relações interpessoais e melhorando o desempenho.

autonomia, flutuação/caos criativo, redundância e variedade de requisitos. Essas condições capacitadoras estão diretamente relacionadas às atitudes das pessoas, tanto como indivíduos quanto como uma equipe. Além disso, o modelo compreende cinco fases, que caracterizam o processo que promove a criação do conhecimento organizacional: i) compartilhamento do conhecimento tácito; ii) criação de conceitos; iii) justificação dos conceitos; iv) construção de um arquétipo4; v) difusão interativa do conhecimento.

A criação do conhecimento dentro das organizações surge como resultado da interação dos conhecimentos individuais de cada empregado, formando, assim, um amplo conhecimento organizacional. Esta conjunção de conhecimentos ocorre por meio das relações interpessoais – “diálogo, discussões, compartilhamento de experiências ou da observação” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 280).

Retornando à perspectiva evolutiva da Gestão do Conhecimento, ressalta-se que Karl- Erik Sveiby, pesquisador Sueco, foi um dos primeiros a publicar um livro com o termo Gestão do Conhecimento em seu título, apresentando uma abordagem estratégica para a gestão dos recursos do conhecimento e para os trabalhadores do conhecimento, sem fazer menção à Tecnologia da Informação (SVEIBY, 2001).

Do mesmo modo que o enfoque exclusivo em tecnologia da informação levou a Gestão do Conhecimento a ser vista com reserva, o enfoque exclusivamente humanístico também pode conduzir ao descrédito. Não obstante, é inegável a necessidade de maior atenção aos aspectos humanísticos, principalmente no processo de criação do conhecimento. Segundo Loureiro (2003), o componente humano tem prioridade sobre o componente tecnológico – hardware e software – de tal maneira que se pode ter Gestão do Conhecimento sem tecnologia, mas não sem pessoas.

Dessa forma, sem deixar de fazer uso de alta tecnologia, adequada às necessidades, as

4“modelo ou exemplar originário, de natureza transcendente, que funciona como essência e princípio explicativo

organizações estão à procura do componente humano e de competências pessoais necessários à criação e à utilização do conhecimento, ou seja, na essência, a Gestão do Conhecimento caracteriza-se como um processo que visa potencializar o que as pessoas sabem, aprendem e como aprendem para criar valor e diferencial dentro das organizações.

Como observado no início deste trabalho, a Gestão do Conhecimento tem passado por várias críticas e questionamentos, devido às distintas definições e abordagens associadas ao tema. É interessante notar que, apesar das marcantes divergências conceituais, há consonância sobre a ocorrência de transformações na concepção da Gestão do Conhecimento que caracterizam um período de transição, independente de ser este período intitulado de segunda ou terceira geração (MCELROY, 1999; SNOWDEN, 2002; SVEIBY, 2001).

A percepção do campo por uma perspectiva social e a preocupação com o tema criação/produção do conhecimento destacando-se dos processos de integração do conhecimento, como retenção, compartilhamento e reutilização, instigaram uma nova abordagem de estudo, tanto no âmbito acadêmico, quanto no das organizações.

Firestone e McElroy (2002), em uma detalhada investigação sobre as gerações da Gestão do Conhecimento, distinguem e analisam o trabalho de três autores com visões distintas sobre as transformações e os estágios de evolução da Gestão do Conhecimento: Mark Koenig, David Snowden e Mark McElroy. Nesse estudo, Firestone e McElroy buscavam evidências que justificassem os cortes entre gerações.

A conclusão do estudo sobre as três visões analisadas ressaltou que a principal diferença entre as proposições encontra-se na metodologia selecionada por cada autor para justificar as divisões propostas. Como resultado, sugeria ser a visão5 de McElroy a mais adequada6, visto ser a única das três a considerar a forma como se dá o processamento do conhecimento, compreendido nas distinções de produção do conhecimento e de integração do

5relativa à mudança de gerações

conhecimento. E, por conseguinte, tomando essa abordagem por base, pode-se dizer que a Gestão do Conhecimento encontra-se atualmente em sua segunda geração.

A abordagem feita pela primeira geração da Gestão do Conhecimento manifestava-se basicamente pela preocupação em garantir que o conhecimento existente dentro das organizações fosse distribuído, compartilhado e utilizado. O conhecimento existente precisava ser colocado em prática e, para isso, valia-se quase que exclusivamente das ferramentas de TI. Não havia preocupação com a produção do conhecimento, apenas com a manutenção e emprego do conhecimento existente. Nota-se que a aplicação dessa abordagem ainda é comum nos dias de hoje.

A abordagem tratada pela segunda geração da Gestão do Conhecimento, por sua vez, não contradiz a primeira geração, pelo contrário, adiciona ao contexto a preocupação em constantemente promover a produção de conhecimento novo e em estudar como isso pode ser feito. A principal preocupação é a produção do conhecimento e, dada a sua criação, surge, então, o interesse pela sua distribuição, seu compartilhamento e seu uso. Vale-se não apenas da TI como ferramenta poderosa, mas principalmente das pessoas, dos processos e das iniciativas sociais. O conhecimento é visto como resultante de um processo sistêmico de interação social.

Ante o exposto, selecionou-se a abordagem de McElroy (1999a; 1999b; 2000; 2003a; 2003b) referente à Gestão do Conhecimento, primeiramente designada de Segunda Geração da Gestão do Conhecimento’ e, hoje, denominada A Nova Gestão do Conhecimento (TNKM – The New Knowledge Management) – após, segundo os criadores, passar por alguns ajustes conceituais para servir como referencial teórico para o desdobramento deste trabalho de pesquisa.

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