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PERSPECTIVAS DE HUMANIZAÇÃO DA SAÚDE E O LÚDICO

Aplicação à realidade (prática)

3.7 PERSPECTIVAS DE HUMANIZAÇÃO DA SAÚDE E O LÚDICO

A presente pesquisa aborda o uso da Ludicidade como instrumento para facilitar o aprendizado em noções básicas de saúde, no que se refere a utilização correta e segura de medicamentos e o entendimento e cuidados da própria saúde. Vários estudos afirmam que o lúdico exerce melhora na saúde; facilita às crianças e seus cuidadores a utilizarem seus medicamentos; diminui o stress da hospitalização infantil; contribui para a humanização no tratamento, no ambiente de saúde e a resposta ao tratamento (ARAÚJO e GUIMARÃES, 2009; MOTA e ENUMO, 2002; OLIVEIRA e OLIVEIRA, 2008). Estes estudos demonstram que tanto os palhaços, os jogos, o brincar, quanto as brincadeiras, as brinquedotecas e recursos visuais causam um resposta positiva para os hospitalizados, sendo eles crianças em tratamento oncológico, idosos, portadores de doenças crônicas e ou terminais. Segundo Oliveira e Oliveira (2008), os “palhaços atuam como agentes facilitadores, atentando para o fato de que brincadeiras e brinquedos constituem recursos que podem e devem ser utilizados no contexto hospitalar, acarretando novos significados ao cuidar”. Para Masetti, 2005, a humanização é uma prática necessária para a vida das pessoas, para a relação humana e para o entendimento da complexidade das coisas do ser e dos fatos em saúde. Para a autora, a medicina, em seu movimento de capitalização, está se afastando desse sentir, ameaçando as pessoas à medida que essa riqueza cultural é privatizada e inserida numa lógica econômico-mercadológica.

3.7.1 Procura pelo Cuidado do SER

A inserção do brincar e do lúdico, em hospitais, motivou estudos sobre a humanização hospitalar, sendo que seus resultados indicam sua aplicação terapêutica à crianças por trazerem diminuição de estresse, segurança (LINDQUIST, 1993) ou alegria ao ambiente, bem como amenizando as sensações desagradáveis da hospitalização, humanizando o contexto hospitalar (MASETTI, 1997; FRANÇANI et, 1998). Outros estudos relacionam o brincar e as brincadeiras como ferramentas de suporte para estimular o desenvolvimento infantil e a aprendizagem escolar. Cordazzo e Vieira (2007) relatam que os resultados de pesquisas sobre o brincar e os processos de aprendizagem e desenvolvimento oferecem aos profissionais da saúde e da educação a oportunidade de reverem e, se necessário, reestruturarem seus planos de trabalho para deixá-los mais atrativos e eficazes no trabalho com crianças. Outros autores referem que se percebe que os

profissionais de saúde estão preparados para lidar com padrões considerados “de normalidade e anormalidade, mas tem dificuldade em promover a saúde das pessoas” (OLIVEIRA; OLVEIRA, 2008, p. 2). Portanto, os profissionais devem ter e ou buscar uma compreensão do ser humano, que se encontra doente, bem como de seus desejos, necessidades, medos e capacidades, de modo a atuar no indivíduo, na sua essência

saudável, na sua saúde e não na sua doença e ou parte do corpo afetada, destacando-se que

os profissionais de saúde devem deslocar o foco de atenção da doença para a saúde. Deve- se valorizar o bom e, por meio dele, recuperar e/ou auxiliar para que o ser doente tenha condições psicológicas, mentais e sociais de enfrentamento da doença e da situação em que se encontra; confluindo para que a assistência prestada seja mais eficiente.

De acordo com Masetti (2005) existe um aumento pela procura de terapias alternativas (acupuntura, cromoterapia, arteterapia, musicoterapia), provavelmente como resposta a um questionamento da medicina oficial. "Um momento de ambiguidades, em que convive o modelo médico capitalista americano implantado em hospitais hotéis (ou serão hotéis–hospital?) e os hospitais públicos” (MASETTI, 2005, p. 457).

De acordo com os autores apresentados acima, nota-se que, em hospitais o lúdico proporciona uma melhora na saúde do paciente (redução de stress, medo, ansiedade, aceitação da hospitalização, aceitabilidade para receber e seguir o tratamento farmacoterapêutico). Uma pergunta surge desse contexto: como seriam os resultados na atenção básica no que se refere ao aprendizado de questões básicas em saúde, relacionado a administração e seguimento do tratamento farmacológico utilizando-se estratégias envolvendo o lúdico? Se pretende, ao final da pesquisa, responder se a utilização do Lúdico no repasse de informações básicas em saúde será capaz de proporcionar melhor compreensão, por parte dos usuários atendidos, das questões relacionadas ao como cuidar de si, como fazer o uso correto de medicamentos, como cuidar melhor da sua saúde e de compreender/entender melhor seu problema de saúde.

3.7.2 Caminhos para melhores resultados em Saúde

Os resultados dos programas e projetos de saúde existentes no País estão condicionados, à resposta do usuário, a qual é permeada por seus hábitos, costumes e por seu padrão de comportamento, via o que o mesmo considera certo ou errado. Isto é particularmente importante no caso dos processos de utilização de medicamentos por ser efetivado – a utilização do medicamento – nas suas residências, em um ambiente fora do

controle dos agentes e profissionais de saúde. No ambiente usual do usuário, o mesmo, age conforme suas convicções e certezas.

A utilização de medicamentos é um processo complexo com múltiplos determinantes e envolve diferentes atores. As diretrizes farmacoterápicas adequadas para a condição clínica do indivíduo são elementos essenciais para a determinação do emprego dos medicamentos. Entretanto, é importante ressaltar que a prescrição e o uso de medicamentos são influenciados por fatores de natureza cultural, social, econômica e política (FAUS, 2000; PERINI et. al, 1999, grifo nosso).

O uso de tratamentos alternativos para melhoria da resposta do usuário frente a um problema de saúde tem sido investigada pelas mais diversas áreas, e o campo da Educação em Saúde, deve reconhecer estas alternativas como um recurso, entre outros, utilizados pelos usuários e deste modo buscar estabelecer acordos e saberes coletivos, de modo que o usuário e a comunidade se beneficie dessa alternativas que melhor se adequam a sua necessidade. “Dessa forma, é preciso que a diversidade cultural dos indivíduos e sociedades seja reconhecida e incorporada não apenas na sua generalidade, mas em ações específicas para mudança de comportamentos” (BANIWA, 2008, p. 72).

3.7.2.1 Conhecimento do Contexto Local da Comunidade para ações em Saúde

De acordo com os resultados apresentados na dissertação de mestrado de GALGANE (2013) discute-se a importância da análise do perfil socioeconômico das populações não apenas para os estudos e conhecimentos dos determinantes sociais em saúde de uma determinada comunidade/localidade. Mas por poderem ser indicadores, tendo em vista que as desigualdades regionais e populacionais são de interesse para a formulação ou reformulação das política de saúde no Brasil, sabendo que o país é de grande extensão e apresenta diferentes realidades socioeconômicas e culturais. Logo, a Política Nacional de Saúde , Lei 8080/1990, deve refletir as intenções em promoção, proteção e acesso a saúde e insumos médicos para essa população nacional tão distinta. Atentando-se para o fato que o âmbito de atuação das políticas se dá em todo território nacional é de grande interesse que se avalie e se conheça as características das populações de modo a propiciar políticas e ações de saúde em consonância e dirigidas as especificidades das populações à que se destina. Os resultados da pesquisa, acima referida, confirmam a importância da consideração do perfil socioeconômico populacional para que

o atendimento e a prestação dos serviços farmacêuticos, nas Farmácias Básicas Municipais, estejam de acordo com as características dessa população (GALGANE, 2013). Na referida pesquisa, embora 100% dos farmacêuticos tenham dito ter conhecimento da realidade social da população, apenas 14,29% consideraram esse conhecimento durante o atendimento. Os Usuários que utilizaram esse serviço 83,75% pertenciam a classe de baixa renda, com a visão da farmácia como local de entrega de medicamento; 45,45% dos usuários saiam da farmácia sem saber como utilizar os medicamentos e 61,43% relataram não adesão ao tratamento. Esses achados corroboram com resultados encontrados em outras pesquisas de adesão ao tratamento, atenção farmacêutica e uso correto e seguro de medicamento (BARATA DELGADO; LIMA, 2001; SABATÉ, 2003; AGGARWAL, 2010; O’CARROL et al., 2010; ROEBUCK, 2011). O fato de que os indicadores atuais utilizados para avaliação e acompanhamento do sistema de saúde se pautarem no produtivismo numérico (VASCONCELOS, 2001), sendo voltados para número de atendimento e medicamentos dispensados, não são, portanto centradas no usuário (ARAUJO, UETA, FREITAS, 2005; ARAUJO, FREITAS, 2006). Entendendo, portanto, a necessidade de mudanças nos serviços farmacêuticos, prestados as comunidades, de modo que esses sejam voltados para as populações que se destinam, dentro dos princípios de humanização do cuidado, filosofia de prática de atenção farmacêutica e do uso correto e seguro de medicamentos.

A necessidade do conhecimento do contexto local, da realidade da comunidade/usuários atendidos e da inserção do profissional de saúde no contexto da comunidade, bem como a compreensão da importância do trabalho coletivo, dialógico, da convivência e da construção do saber coletivo; são as bases para a construção do processo educativo transformador e duradouro (FREIRE, 1993; DANTAS, 2010).