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3.3 Empreendedorismo e suas definições

3.3.1 Perspectivas econômica, sociológica e comportamental

O empreendedorismo é um campo multidisciplinar que utiliza conceitos da economia e psicologia social – áreas do conhecimento que possibilitam suporte teórico e insigths sobre o processo empreendedor (SINGH; NOBLE, 2003). Fontenele (2010) acrescenta que a relação entre empreendedorismo e outras áreas de conhecimento é de fato complexa, dotada de amplitude de diversas oportunidades para o desenvolvimento de pesquisas, em especial quando associada ao crescimento econômico.

Inicialmente, definições preliminares apresentadas por economistas, relacionaram o empreendedorismo a assunção de riscos, concessão de capital financeiro, patrimônio e coordenação de fatores de produção e associando-o à criação e gestão de pequenas empresas (MORRIS; LEWIS; SEXTON, 1994), enquanto os comportamentalistas (psicólogos, sociólogos e outros especialistas) associam o empreendedorismo a sistema de valores, necessidade de realização e de poder e potencial criativo e intuitivo (FILION, 1999).

Segundo Filion (1999), os economistas pioneiros, no campo empreendedor foram Richard Cantillon e Jean-Baptiste Say, que demonstraram interesse pela criação de novas empresas, desenvolvimento e gerenciamento dos empreendimentos. Cantillon percebia o empreendedor como o indivíduo que corria riscos, uma vez que comercializava produtos por preço incerto de vendas, enquanto Say reconhecia o empreendedor como um mediador, que produzia bens em função dos fatores de produção (VALE, 2014).

Martinelli (2004) destaca que economistas, com exceção de Schumpeter e Kirzner, tratavam o empreendedorismo como uma variável dependente de fatores econômicos, e que as atividades empreendedoras se manifestavam em decorrência das condições econômicas, gerando a maximização do lucro. No entanto, o empreendedorismo não é uma resposta às condições de mercado, uma vez que a interação entre empreendedorismo e ambiente é que determinam o desenvolvimento econômico.

Schumpeter (1997) associa o comportamento econômico ao empreendedorismo, uma vez que o significado da atividade econômica é a satisfação das necessidades, sendo estas criadas pela ação empreendedora, na qual o empresário educa os consumidores a desejarem novos produtos e/ou serviços, acarretando uma “destruição criativa”, na qual há substituição de produtos ou hábitos por novos promovendo, por meio da inovação, o desenvolvimento econômico.

Essa visão econômica também é compartilhada por Kirzner (1973), ao destacar a importância do empreendedorismo para a atividade econômica. No entanto, o autor postula que o elemento empreendedor permeia toda ação humana e não pode ser analisado apenas sob a perspectiva econômica, maximização ou critérios de eficiência, posto que é primordial

reconhecer características pessoais que determinam o sucesso do empreendedor, condições sociais e econômicas que promovem e determinam o sucesso do empreendedorismo. Portanto, “a contribuição do empreendedor ao desenvolvimento econômico ocorre fundamentalmente pela inovação que introduz e pela concorrência no mercado” (BARROS; PEREIRA, 2008, p. 977).

Segundo Franco e Gouvêa (2016), os cientistas sociais demonstraram interesse em realizar pesquisas acerca do empreendedorismo, devido à utilização de conceitos econômicos que dificultavam a inserção de empreendedores nos modelos vigentes. A perspectiva econômica falha ao tentar compreender os motivos que conduzem um empreendimento ao sucesso, pois considera o empreendedor como um agente isolado que, por meio de suas habilidades, explora o ambiente econômico (CAMPOS; DUARTE, 2013).

Schumpeter (1997) declara que o desenvolvimento econômico é um fenômeno que não pode ser explicado, exclusivamente, pela economia, mas pelas mudanças oriundas da iniciativa individual que exigem adaptação da economia. Assim, sob a perspectiva sociológica, o ambiente no qual os indivíduos estão inseridos, suas experiências e aspirações, a sociedade e as instituições exercem influência pela adesão ao empreendedorismo (FRANCO; GOUVÊA, 2016), uma vez que a atividade empreendedora é coordenada por vários atores devido à rede de cooperação que está inserida nas práticas de trabalho (CAMPOS; DUARTE, 2013).

O empreendimento, na concepção de Campos e Duarte (2013), resulta da combinação de interesses de todos os agentes sociais que exercem um papel ativo na construção do negócio, posto que este não é introduzido no meio social, mas construído, por meio da cooperação de todos os envolvidos na rede, exigindo do empreendedor habilidades sociais.

Já os pesquisadores da área comportamental buscaram investigar as características individuais capazes de explicar o perfil e o comportamento empreendedor (FRANCO; GOUVÊA, 2016). Segundo Davidsson (1995), estudos norte-americanos pioneiros sobre empreendedorismo buscaram explicar a formação de novos negócios por meio da psicologia. O autor destaca que os resultados das pesquisas que buscam definir características dos empreendedores são recorrentes, posto que os modelos criados são insuficientes para explicar o empreendedorismo, uma vez que os traços psicológicos dos empreendedores são heterogêneos, sendo necessário analisar outras variáveis como a relação entre características sociodemográficas e econômicas de determinada região e índice de formação de novas empresas.

Se o empreendedor reconhece oportunidades de negócios, de onde deriva a percepção sobre tais oportunidades? É com esta questão que Krueger (2003) defende a importância de se compreender a cognição empreendedora a fim de se entender a essência do empreendedorismo, posto que a estrutura cognitiva sustenta a atividade empreendedora.

Sob a perspectiva comportamental, McClelland (1961) postula que há três necessidades que motivam o comportamento empreendedor: realização, afiliação e poder. A necessidade de realização influencia o desejo de mudança do empreendedor, direcionando para a concretização de ideias que distinguem o comportamento do empreendedor das atitudes dos demais indivíduos. A necessidade de afiliação refere-se à necessidade que o indivíduo exprime em constituir relacionamentos interpessoais, buscando aprovação de outras pessoas. Já a necessidade de poder refere-se à preocupação em controlar meios para influenciar outros indivíduos (MCCLELLAND, 1961).

Shane, Locke e Collins (2003) postulam que as motivações humanas influenciam o processo empreendedor. Tais motivações compreendem locus de controle, desejo de independência, paixão e motivação. Esses autores sugerem que algumas ou todas as motivações influenciam a transição dos indivíduos nos estágios do processo empreendedor. Entretanto, as motivações não são únicos influenciadores, uma vez que fatores cognitivos, incluindo conhecimentos e habilidades, também são importantes, pois a ação empreendedora resulta da combinação de motivação individual e de fatores cognitivos.

Franco e Gouvêa (2016) apontam que o cerne da literatura sobre características psicológicas na atividade empreendedoras centra-se na necessidade de realização pessoal do indivíduo e no locus de controle, pois indivíduos possuidores de locus de controle interno acreditam que seu comportamento interfere nos resultados das suas ações.

Assim, por meio das habilidades pessoais e cognitivas, o empreendedor é apresentado como indivíduo capaz de planejar e ordenar atividades organizacionais, predisposto a relacionar-se com as mudanças contextuais oriundas da interdependência do mercado (SOUSA, 2014).

Diante das perspectivas apresentadas, infere-se que esta pesquisa foi desenvolvida dentro da abordagem da psicologia comportamental.