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Perspectivas futuras para inclusão de estudantes surdos e as

CAPÍTULO 4 – RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO

4.2 A ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO DOS SURDOS NO ENSINO SUPERIOR

4.2.5 Perspectivas futuras para inclusão de estudantes surdos e as

No processo de ingresso, permanência e sucesso de estudantes com deficiência nos diferentes níveis da educação, e nesse caso da pesquisa na Educação Superior, é importante que as perspectivas dos atores envolvidos sejam ouvidas, avaliadas e consideradas, pois através das experiências é possível propor melhorias e novas estratégias para a inclusão dos surdos.

Quando perguntado aos participantes da pesquisa sobre as suas perspectivas, foi possível identificar que muitos avanços já aconteceram.

Na perspectiva dos gestores, G1 considerou que independente dos desafios, percebe-se que há uma cultura de inclusão sendo criada, e que apresenta seu progresso: devagarzinho a gente está cada vez mais compreendendo e aceitando essa nova dinâmica, essa nova posição, na qual todas as pessoas têm o seu lugar, em que todas as pessoas podem participar desse processo. O gestor G2, com relação a política de inclusão em relação ao aspecto mais positivo, considerou que é a participação do interessado, o próprio estudante com deficiência, e o próprio surdo, e relatou: uma coisa que me incomoda particularmente até como gestor e como ex-aluno, é saber que muitas demandas pertinentes e justas vão demorar a serem atendidas. E nesse sentido exemplificou: É como o caso do elevador, o aluno que demandou isso, nunca usou esse elevador, ele saiu da universidade e não viu o elevador. Essa fala ressalta a defasagem entre as políticas consolidadas pela legislação e a efetiva aplicação prática às reais necessidades dos estudantes. Ou seja, o que é enunciado nos normativos tarda, e às vezes bastante, a se configurar no tempo e nos espaços escolares. A distância temporal entre o que é estabelecido no âmbito legislativo nacional e a concretização dos direitos da pessoa surda, atualmente representa um dos grandes desafios da área de Educação Especial e Inclusiva. Se, por um lado, existem avanços nessa seara, por outro, a prática, que se inicia com mudanças de atitude frente às diferenças, caminha a passos lentos. Essa realidade torna claro que, por força de lei, muitos direitos são garantidos, mas mudanças significativas em relação ao modo de compreender o outro e lidar com suas diferenças requer conteúdo ético, empatia e consciência, práticas que ainda não se processaram na sociedade como um todo.

E quando se trata da acessibilidade à inclusão do surdo, o G2 reconheceu a necessidade da comunicação com os surdos, pois no próprio Plano Nacional de Educação, a Meta 4 prevê a garantia da oferta de educação bilíngue, em Língua Brasileira de Sinais - Libras como primeira língua, e na modalidade escrita da Língua Portuguesa como segunda língua, aos (às) alunos (as) surdos e com deficiência auditiva (ver Tabela 4). No Distrito Federal, o acesso de pessoas surdas nas universidades tende a aumentar e seguir a série histórica de evolução de matrícula apresentada no Censo da Educação Superior, anteriormente referida, uma vez que foi criada a Escola Bilíngue Libras e Português-Escrito de Taguatinga, escola pública especializada na educação bilíngue em Libras e Português-Escrito, com oferta de educação integral, criada pela Portaria Nº 171, de 02 de julho de 2013, da SEDF, em cumprimento à Lei nº 5.016, de 11 de janeiro de 2013, que estabelece diretrizes e parâmetros para o desenvolvimento de políticas públicas educacionais voltadas à educação bilíngue para surdos, a serem implantadas e implementadas no âmbito do Distrito Federal. Possui aproximadamente 350 alunos matriculados e funciona nos turnos matutino, vespertino e noturno, sendo o turno vespertino o principal turno de oferta da educação integral, embora todas as atividades da Escola Bilíngue voltem- se à educação integral dos estudantes da creche ao Ensino Médio (SEDF, 2014).

As escolas bilíngues são aquelas em que a língua de instrução é a Libras e a Língua Portuguesa é ensinada como segunda língua, após a aquisição da primeira língua; essas escolas se instalam em espaços arquitetônicos próprios e nelas devem atuar professores bilíngues, sem mediação de intérpretes na relação professor - aluno e sem a utilização do português sinalizado.

Quando se trata dessa integração entre as estratégias oferecidas pelos serviços, em cumprimento aos normativos vigentes, Polydoro et al. (2001) consideram que a integração à universidade é um processo multifacetado, construído no cotidiano das relações que se estabelecem entre a instituição e o estudante, através dos serviços e programas oferecidos pelas IES e que estão previstos nos documentos orientadores do Programa Incluir (BRASIL, 2013).

Na perspectiva dos docentes, o docente D2 considerou que as políticas e práticas em torno das estratégias de acessibilidade para a inclusão do surdo no ensino superior, estão se ampliando, reiterando:

Eu acho que o acesso vai ficar cada vez mais amplo, pois os surdos estão se organizando cada vez mais como comunidade, eles têm uma visão política mais consistente, da importância de ter a LIBRAS como primeira língua, de ter uma educação que, de fato, possibilite o acesso à informação, ao conhecimento.

Essa organização social e a manifestação da cultura surda na luta pelos seus direitos, pode ser compreendida como resultante da regulamentação e do reconhecimento da Língua de Sinais no Brasil. Na Educação Superior, o ingresso de estudantes surdos vai ser cada vez maior, pois o número de estudantes surdos que assumem essa condição, também é significativo devido a implantação de políticas educacionais inclusivas que visam o favorecimento da inclusão dos surdos, e a vigência dessas políticas possibilitam que eles assumam a condição e reivindiquem o direito ao intérprete, o direito à educação adaptada para as condições deles.

Em relação às perspectivas do futuro profissional dos surdos, o docente D1 destacou que:

O processo inclusivo vivenciado durante a formação inicial continuará contribuindo para que o estudante seja um profissional “linkado” com a atualidade e que com isso, ele também transformará outras vidas, aonde ele quer que ele vá, assim como a vida dele está sendo transformada agora.

Valentini e Bisol (2012) consideram que o professor pode manter uma qualidade em seu trabalho, com boas perspectivas para os surdos, se souber criar estratégias didático-pedagógicas que minimizem as dificuldades de seus alunos, e da mesma forma se beneficiar para que a formação desse futuro profissional seja concluída com sucesso.

As expectativas mais otimistas foram descritas pelos intérpretes que estão em contato direto e diário com os estudantes surdos.

O TILS 1 acredita que a acessibilidade ainda esteja engatinhando para obtenção de boas estratégias de inclusão para os surdos, mas reitera que a comunidade surda não deve ter medo em relação a isso, e que deve procurar cada vez mais se aperfeiçoar, ingressando no ensino superior, para também se transformandlo em profissionais:

A gente vê que a realidade mudou muito ultimamente, nós já vemos aí surdos mestres, doutores, e isso é uma conquista fantástica. Eu acredito assim! E isso tem que servir de exemplo para os que estão vindo.

Na visão do TILS 2 a perspectiva de futuro para inclusão do surdo no ensino superior é positiva, pois para essa profissional há um interesse muito grande para que ocorram investimentos nas estruturas, tanto para a acessibilidade de comunicação, com melhor capacitação dos intérpretes, quanto nas diversas adaptações para receber esses alunos, reiterando:

Na minha expectativa existem profissionais bastante qualificados, tanto os professores quanto intérpretes, que tem se organizado, ao menos aqui no Distrito Federal e na IES 2, em grupos de trabalho, tentando pensar em políticas voltadas às estratégias e possibilidades de atuação, em ações voltadas para os surdos, e há uma pressão internacional inclusive, para que isso aconteça também.

As expectativas dos estudantes surdos também são fundamentais para esse processo de inclusão no ensino superior. A ES 1a declarou seu interesse para que os professores aprendessem Libras:

Gostaria que a aula fosse bilíngue, é difícil olhar para o professor e entender a interpretação que é feita pela intérprete às vezes o professor mostra o slide e o intérprete tem que parar ou o contrário, quando se tem muitos slides eu peço para o professor ir mais devagar para que eu possa acompanhar a interpretação e também entender os slides que estão sendo mostrados.

Já o ES 1b destacou a importância da competência e habilidade do intérprete: quero um bom intérprete que possa ser a minha voz na presença dos ouvintes e que também saiba a minha língua. E registra como sugestão a necessidade de os surdos conhecerem melhor a Língua de Sinais. Acrescenta-se a isso a necessidade de investimentos na formação do professor, em relação aos processos de avaliação da aprendizagem. Segundo o estudante,

É preciso ter provas mais adaptadas seja na aplicação como correção, se tivermos no futuro provas escritas com a presença de intérpretes ou toda prova em Libras, como vídeo para comparar escrita e sinais, seria melhor o uso de gravuras e recursos visuais.

Quando em sua pesquisa Valentini e Bisol (2012) apresentam as implicações na prática pedagógica para a elaboração de estratégias acessíveis na inclusão dos surdos, uma das recomendações apresentadas é condizente com as necessidades descritas pelos dois estudantes surdos da IES 1. Para esses estudantes, o docente necessita repensar seu posicionamento, revendo as exigências que costumam vir dos surdos, ou elencadas pelos intérpretes. Alterações nas estratégias de ensino

podem contribuir muito para o desenvolvimento das habilidades do surdo, mesmo que o professor não utilize a Libras.

Na IES 2, as perspectivas dos estudantes surdos retomam as acessibilidades estruturais e de comunicação com seus pares dentro da instituição. Como sugestão para a melhoria da qualidade do processo de inclusão e acessibilidade para os surdos, o ES 2a relatou a necessidade de mais intérpretes em todos os lugares da instituição. Sugerindo ter postos de webcam em alguns locais específicos, pois sua comunicação é visual, isso facilitaria a comunicação dos surdos com vários departamentos da instituição. Esse estudante recomendou ainda que o site precisa ser mais inclusivo. Para ele é necessário ter legenda com intérprete.

Já o ES 2b tem como expectativa a ampliação de cursos acessíveis à comunicação bilíngue. Eu gostaria que no futuro tivéssemos cursos de nível superior próprios para turmas de surdos, como engenharia civil, em que os professores soubessem Libras e não ficassem dependendo do intérprete sempre. E confirmando sua satisfação em ter ingressado no ensino superior, reitera: Antes eu não acreditava porque eu não conhecia a Lei de Libras que me abriu novas possibilidades e caminhos de melhor qualidade de vida.

A fala desse estudante surdo remete ao que está previsto no Decreto nº 5.626/2005, no cap. IV, Art. 14:

As instituições federais de ensino devem garantir, obrigatoriamente, às pessoas surdas acesso à comunicação, à informação e à educação nos processos seletivos, nas atividades e nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidades de educação, desde a educação infantil até à superior (BRASIL, 2005).

Após esse Decreto, normativos e políticas foram criados com o objetivo de assegurar a garantia do ingresso, permanência e conclusão do curso por pessoas com deficiência, como o Decreto nº 7.611/2011, que dispõe sobre a Educação Especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências.

Ao finalizar as entrevistas, foi solicitado aos surdos que deixassem uma mensagem para outros surdos sobre essa temática da acessibilidade e inclusão para o ensino superior:

ES 1a Minha mensagem para os surdos é que vocês que são Surdos possam

ES 1b A minha mensagem para os surdos é que, eu gostaria que a

Universidade investisse em cursos de Letras Libras, na formação dos intérpretes, no ensino da Liras e na formação dos professores, porque estamos formando profissionais que poderão contribuir para a melhor qualidade de vida para os surdos.

ES 2a: A minha mensagem é que vocês surdos são capazes, eu também

pensava que não conseguiria chegar até aqui, tem muitas possibilidades de ingresso como Enem e outros. Espero que a inclusão seja boa para a comunidade surda. Não quero somente a inclusão social, quero melhores condições para a acessibilidade do surdo no ensino superior.

ES 2b: O mais importante, quero que os surdos do Brasil abram suas mentes

e mostrem aos ouvintes que com esforço são capazes de evoluir, de aprender e crescer, para ter melhor qualidade de vida, começando pela implantação da escola bilíngue em todo o Brasil.

As mensagens deixadas pelos surdos permitem perceber a importância das políticas inclusivas dentro das instituições de ensino superior, principalmente com a disponibilização dos núcleos de acessibilidade, conforme previsto no Decreto nº 7.611/2011, Art. 5º, § 2º e 5º, que visam eliminar barreiras físicas de comunicação e de informação que restringem a participação e o desenvolvimento acadêmico e social de estudantes com deficiência.

Finalizando essa subseção, as questões de pesquisa serão aqui retomadas para compatibilizar com os resultados apresentados e discutidos a fim de concretizar os objetivos desse estudo.

Quais são as políticas públicas que amparam o desenvolvimento e a execução de estratégias acessíveis voltadas para a inclusão de estudantes surdos na Educação Superior?

O trabalho de revisão da literatura e a análise documental propiciaram ampla visão dos normativos e da legislação vigente, o que permite considerar que existem políticas públicas consolidadas para a efetivação da acessibilidade e do processo inclusivo nas instituições de ensino superior. Com destaque para o atual Plano Nacional de Educação, que em sua Meta 4 define-se como marco maior da política inclusiva. Para responder a esta primeira questão, o elemento basilar aqui considerado como uma política pública é o reconhecimento das diferenças linguísticas inerentes à pessoa surda e a garantia de direito ao acesso, e à permanência, na perspectiva do sucesso educacional, materializadas na Lei nº 10.436/2002, e sua regulamentação pelo Decreto nº 5.626/2005, marco mais expressivo dos avanços e conquistas nessa perspectiva, ao disporem sobre a

Língua Brasileira de Sinais - Libras, como meio legal de comunicação e de expressão. Quanto as IES pesquisadas compreendem-se que, nas IES 1 e IES 2, não existe documento institucionalizado como “Política de Inclusão”, mas existem outros normativos e resoluções que amparam e orientam na prática, o desenvolvimento de estratégias de acessibilidade aos estudantes com deficiência, e estão de acordo com o previsto nas políticas públicas de inclusão existentes no Brasil.

Quais são os atores envolvidos no processo de acolhida e de inclusão dos estudantes surdos, na Educação Superior, e que funções são desenvolvidas por eles, para a garantia da acessibilidade, da permanência e do sucesso do estudante até a conclusão do curso?

Foram identificados três atores, o gestor do espaço de inclusão, o docente que ministra a aula para o estudante surdo, e o profissional Tradutor e Intérprete de Libras. Nas duas IES os gestores afirmaram que as estratégias oferecidas aos estudantes surdos, sempre que possível, são desenvolvidas em parcerias com as direções dos cursos, os estudantes surdos e outros colaboradores ouvintes. O destaque na fala de estudantes e de professores quando questionados sobre os atores do processo inclusivo, foi destinado ao papel desempenhado pelo profissional Tradutor e Intérprete. Como figura central, esse profissional se percebe responsabilizado pelo processo inclusivo e muitas vezes sobrecarregado. Infere-se que além das funções específicas que essa tríade de profissionais desempenha no trabalho de sensibilização para a diversidade, investe em alternativas para o combate ao preconceito e discriminação acerca das deficiências, e acolhem e se responsabilizam pelo estudante surdo dentro dos espaços institucionais.

Quais são as estratégias de acessibilidade oferecidas pelas instituições de Ensino Superior, públicas e privadas, que possibilitam o processo inclusivo de ingresso, de permanência e de formação de estudantes surdos?

A principal estratégia de acessibilidade apontada pelos participantes acerca da educação da pessoa surda no ensino superior referiu-se a presença do Tradutor e Intérprete em sala de aula, em face de a principal barreira ser a comunicação. No entanto, é imprescindível fortalecer o papel do professor nesse processo, uma vez

que o docente é o responsável por elaborar e conduzir pedagogicamente as estratégias de acessibilidade, tendo em vista o aprendizado do estudante surdo, visando sua formação humana e profissional. As estratégias de acessibilidade precisam contemplar o acesso e compreensão a Libras, garantir a flexibilização do currículo prescrito, o uso de variados recursos visuais e assistivos, adaptações para correção de atividades escritas que atendam a estrutura da Língua de Sinais. Estratégias mais ampliadas, como formação para a compreensão da cultura surda não foram identificadas.

Como os estudantes, professores, gestores e interpretes percebem as estratégias inclusivas em suas respectivas IES?

Os estudantes percebem as estratégias inclusivas em suas instituições de modo heterogêneo. Os da IES pública demonstram mais segurança quanto às estratégias adotadas em seu processo de inclusão e parecem estar satisfeitos com o apoio que recebem. Esses estudantes reconheceram que há uma tentativa por parte dos professores de tornar a aula mais acessível. Os estudantes da IES particular ressentem-se de diretrizes mais definidas quanto ao que a IES lhes oferece. Esses estudantes criticaram a postura de alguns professores e enfatizaram a dificuldade dos mesmos em adequar a dinâmica da aula, considerando a presença de um estudante surdo. De modo similar, os estudantes das duas IES apontaram o papel do intérprete como aspecto mais positivo do processo inclusivo.

Os professores destacaram os avanços da educação inclusiva e consideraram que no caso do estudante surdo, a adoção de estratégias que o ajudem a superar as barreiras na comunicação é o principal investimento, pois para eles é essa condição que favorecerá o desenvolvimento em igualdade de condições com os demais. Os professores revelaram dificuldades em relação a comunicação, e afirmaram que se sustentam basicamente na presença do intérprete para interagir com o estudante surdo. Reconheceram as limitações com relação às estratégias no contexto da sala de aula, corroborando a percepção dos próprios estudantes. Os professores intencionam estratégias que possam promover o acesso à educação, mas acreditam que o futuro profissional do discente tem que ser considerado no estabelecimento das ações de inclusão.

Os gestores reconheceram os avanços nas políticas e a dificuldade de implementação das ações inclusivas no cotidiano da instituição. Mas possuem percepções positivas sobre o processo e percebem que as mudanças são gradativas, tendo apresentado melhorias no atendimento ao surdo.

Os Tradutores e Intérpretes possuem uma percepção otimista em relação às estratégias atualmente adotadas pelas instituições e relataram satisfação com o seu trabalho. Esses profissionais traçaram perspectivas bastante avançadas para o futuro da educação dos surdos.

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