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PERSPECTIVAS REGULATÓRIAS PARA O SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO

A transformação pela inovação tecnológica, cuja velocidade caracteriza esta época, chegou ao mercado de energia elétrica e exige respostas de todos os agentes envolvidos, inclusive as dos reguladores, que têm a missão de elaborar regulamentos que viabilizem a modernização, preservando a modicidade tarifária para os consumidores.

Nesse sentido, a Agência Nacional de Energia Elétrica foi instituída pela Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996, para regular e fiscalizar a produção, a transmissão, a distribuição e a comercialização de energia elétrica, em conformidade com as políticas públicas estabelecidas.

Seu papel, necessariamente dinâmico, tem acompanhado a evolução tecnológica da indústria de energia no Brasil e no mundo. Desde o início das atividades, a Aneel persegue a missão de proporcionar condições favoráveis para que o mercado de energia elétrica se desenvolva com equilíbrio entre os agentes e em benefício da sociedade.

No segmento de distribuição, a evolução tecnológica permite aos André Pepitone

da Nóbrega está na Aneel desde

2000 e se tornou diretor-geral da agência em abril de 2018

consumidores participar mais ativamente, receber mais informações e novos serviços. Na atividade de distribuição, a tecnologia possibilita o aperfeiçoamento da gestão de ativos, a eficiência energética, a redução de custos operacionais, a melhoria da qualidade da energia e o combate a perdas comerciais.

Entre essas tecnologias, mencionam-se a medição eletrônica, as telecomunicações, a automação, a tecnologia da informação, o georreferenciamento e outras ferramentas de sensoriamento e capacidade computacional. As redes de distribuição, integradas às novas tecnologias, tornarão a rede elétrica de baixa tensão a nova supervia, para transportar elétrons e dados. Despontam ainda a geração e o armazenamento distribuídos, além da estrutura de abastecimento a veículos elétricos.

Com relação a temas específicos que envolvem novas tecnologias, destacam-se as seguintes iniciativas da Aneel:

1. Criar o Sistema de Informações Geográficas – SIG66, em que a distribuidora deve manter informações de parâmetros elétricos, estruturais e de topologia dos sistemas de distribuição de alta, média e baixa tensão, bem como informações de todos os usuários da rede.

Possibilita a redução da assimetria de dados com as distribuidoras, o que facilita as ações de regulação, acompanhamento e fiscalização. O SIG já foi utilizado por diversas universidades, Ipea, IBGE, Anatel, Aeronáutica (Decea/ICA) e Ministério da Agricultura;

2. Propiciar condições para o acesso de microgeração e minigeração Distribuída67 aos sistemas de distribuição, com a criação do Sistema de Compensação de Energia Elétrica: a geração de pequeno porte a partir de fontes renováveis constitui tendência em diversos países e os estímulos à geração distribuída (localizada próxima aos centros de carga) devem ser tais que sejam justificados pelos benefícios que essa modalidade pode proporcionar,

67 REN n° 482/2012

66 Resolução Normativa (REN) n° 395/2009 e Módulo 10 dos Procedimentos de Distribuição

como a postergação de investimentos em expansão nos sistemas de distribuição e transmissão, o baixo impacto ambiental, a redução no carregamento das redes e a diversificação da matriz energética. A regulamentação propicia que o consumidor brasileiro gere a própria energia elétrica, cedendo o excedente à distribuidora local, com seu consumo compensado por essa energia;

3. Criar a Tarifa Branca68: modalidade tarifária em que unidades consumidoras do Grupo B69 passam a poder pagar valores diferentes em função da hora e do dia da semana e, se adotados hábitos eficientes que priorizem o uso da energia fora do período de ponta, reduzir o valor de sua conta;

4. Definir Sistemas de Medição para Faturamento70, que simplificaram requisitos de medição e procedimentos para consumidores, distribuidores e alguns geradores conectados em sistema de distribuição, cujos ativos sejam modelados na CCEE. Estabelecem, também, o término em 2020, para que os dados de medição pela CCEE sejam obtidos da distribuidora, por coleta passiva ou integração de sistemas;

5. Recarregar veículos elétricos71, o que qualificou como atividade econômica livre; qualquer interessado pode implantar uma estação de recarga (uma distribuidora ou qualquer outro empreendedor) e o modo de exploração comercial fica a cargo de quem o implantar, inclusive a preços livremente negociados. O normativo afasta incertezas regulatórias para empreendedores que queiram investir na mobilidade elétrica, evitando externalidades negativas para os consumidores de energia elétrica.

69 Iniciada em 2018 para as unidades com média anual de consumo superior a 500 kWh mensais, estará disponível para todos os consumidores em 2020

68 REN n° 733/2016

70 REN n° 759/2017

71 REN n° 819/2018

Além disso, disciplinou a instalação e a operacionalização das estações de recarga e regulou as interações entre os setores de mobilidade e de energia;

6. Armazenar energia elétrica (storage): a Aneel, por meio da “Chamada de Projeto e Desenvolvimento - P&D Estratégico nº 21/2016”, aprovou 23 projetos objetivando criar condições para o desenvolvimento de base tecnológica, propriedade intelectual (patentes) e infraestrutura de produção nacional. Os projetos contemplam diversas tecnologias de armazenamento, tais como baterias de íon de lítio e de chumbo-ácido, hidrogênio, usinas hidrelétricas reversíveis e estocagem de ar comprimido em cavernas de sal. A previsão é de que cerca de R$ 400 milhões sejam investidos.

Tal avanço tecnológico beneficia toda a sociedade, abrangendo empresas de energia elétrica e consumidores, cabendo à agência reguladora o desafio de definir regulamentos visando ao equilíbrio e à correção das falhas de mercado, observando que:

1. O ambiente regulatório deve ser propício à evolução tecnológica, eliminando obstáculos, mitigando riscos e conferindo estabilidade e segurança aos interessados em investir em novas tecnologias do setor elétrico e;

2. A aplicação das novas tecnologias deve ocorrer de maneira sustentável em longo prazo, preservando o equilíbrio de interesses dos envolvidos, especialmente dos consumidores mais vulneráveis, maximizando os benefícios globais auferidos pela sociedade.

Para tanto, a Aneel define as responsabilidades de cada agente, concentrando-se no estabelecimento “daquilo que deve ser feito”, deixando ao agente setorial as opções empresariais acerca de “como deve ser feito”.