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THE AMERICANIZATION OF THE PORTUGUESE ARMY IN THE DECADE OF 50: A HISTORICAL PERSPECTIVE

B. PERSPETIVAS DE INVESTIGAÇÃO E FONTES

É sobre a dimensão militar multidimensional da americanização que este estudo procura aprofundar o conhecimento histórico da experiência portuguesa nos anos 50, como tal influência penetrou e teve expressão no Exército português.

Sobre esta matéria os estudos são realmente escassos e superficiais. Entre eles destacam- se dois. Um deles, é realizado pelo Estado Maior do Exército (1988), Subsídios para o estudo do esforço militar português na década de 50, os compromissos com a OTAN (2 vols, 1988). O volume I faz uma abordagem sistemática das mudanças processadas na organização do Exército após os compromissos assumidos com a NATO, evolução que se evidenciou no campo da instrução, logística e mobilização. Nele se constata que foi produzida uma transformação no Exército decorrente dos compromissos internacionais assumidos por Portugal. O volume II centra-se na adoção e aplicação de novas metodologias de instrução e na criação de novos serviços e especialidades focadas na preparação da componente operacional do Exército para a integração das forças conjuntas referindo que isto decorre da “influência americana”.

No segundo estudo, da autoria de António Paulo David Silva Duarte (2005), intitulado A Era Santos Costa: Política de Defesa e a Estratégia militar durante o Estado Novo (1919-1958), é traçada a evolução e a ameaça do paradigma das organizações política militar das Forças Armadas Portuguesas nos períodos entre as guerras e no imediato à 2ª Guerra Mundial. Segundo o autor, a adesão de Portugal à NATO decorreu da valorização geoestratégica do Atlântico, da latente ameaça soviética e da diminuição da influência inglesa. No Exército ocorreu a maior reestruturação

verificada nas Forças Armadas Portuguesas, com destaque para a criação do Conselho Superior de Defesa que institucionalizou a subordinação definitiva do poder militar ao poder político. Ao ramo terrestre foi-lhe atribuída a missão de organizar uma divisão tipo americano para combater no sul de França [Duarte 2005].

António José Telo faz uma análise de Portugal e da NATO no período compreendido entre 1949 e 1976 quanto à modernização das Forças Armadas Portuguesas e da sua organização em consequência da mudança das políticas de defesa e militar nacional entre 1949/1959. Releva a influência da NATO na transição de Portugal para o sistema democrático considerando as Forças Armadas como instrumento fundamental nesse processo [Telo 1996].

O que se propõe é um estudo histórico sobre a natureza desta “ajuda” militar, das modalidades em que se concretizou e na incidência que teve nas Forças Armadas Portuguesas. É um estudo de caso qualitativo e quantitativo centrado no Exército português.

Para a elaboração do estudo procedeu-se à consulta documental unicamente dos arquivos nacionais. No Arquivo Nacional da Torre do Tombo consultámos a documentação sobre a reorganização e o emprego das forças terrestres em situação de guerra na defesa da Península Ibérica e da Europa Central e a necessidade de proceder ao rearmamento e mobilização para a formação de uma divisão tipo americano para cumprimento dos acordos com a NATO. O Arquivo da Direção de Infraestruturas do Exército (ADIE) permitiu recolher informação sobre o Campo de Instrução Militar de Santa Margarida (CIMSM), em particular quanto à expropriação e aquisição de terrenos, revelando lacunas documentais quanto à sua construção. Aqui recolhemos a identificação dos proprietários expropriados, das suas dimensões e do custo da maioria das parcelas de terrenos adquiridos pelo Estado para a construção do Campo Militar. Na consulta do Arquivo Histórico Militar foi possível obter as listas dos militares e civis que fizeram formação no exterior com maior incidência nos EUA ou em escolas americanas localizadas na Alemanha. O

Arquivo do Ministério da Defesa Nacional facultou o programa de defesa mútua para o Exército quanto ao fornecimento de equipamento e armamento americanos para a constituição de uma divisão tipo americano. Permitiu também obter a relação de vagas para militares portugueses nas escolas americanas para o ano económico de 1951.

Da consulta dos arquivos nacionais constatámos também insuficiência de fontes relativas ao quantitativo e à designação das especialidades necessárias para a constituição da divisão do tipo americano e sobre o processo de mobilização.

O capítulo 1, designado por «Introdução», aborda a americanização em diversas perspetiva quanto à difusão cultural dos EUA. São também apresentadas as fontes que contribuíram para a elaboração do tema.

O capítulo 2, intitulado «O esforço português e a reestruturação no Exército: a inclusão parcial do “modelo americano”» apresenta as reformas que se processaram na estrutura política ministerial, no comando do Exército, nas unidades e na indústria militar, durante a década de 50, decorrentes da adoção (parcial) do modelo americano e com o apoio americano. O capítulo 3, designado «Reequipamento do Exército português: armas e saberes americanos» faz uma análise centrada no reequipamento de uma divisão tipo americano criada de raiz, dotada com meios, técnicas e saberes americanos, e nas implicações que teve na “vida militar”. Após a discussão sobre o reequipamento, e em sua consequência, o capítulo 4, denominado «A formação no Exército decorrente da experiência americana», procura interpretar as exigências produzidas no processo formativo dos militares, pela criação de novas especialidades baseadas em estágios e cursos ministrados no estrangeiro e pela edificação de novos quartéis adequados ao pessoal e aos novos meios fornecidos a Portugal. A reflexão sobre as necessidades em pessoal consta do capítulo 5 - «Mobilização militar», que analisa a evolução da mobilização no Exército para o preenchimento

dos quadros orgânicos das unidades militares. Por último o capítulo 6, intitulado «Conclusão», salientam-se os aspetos mais relevantes da investigação que materializaram a tese.

2.

“O ESFORÇO MILITAR PORTUGUÊS” E A REESTRUTURAÇÃO DO EXÉRCITO: A INCLUSÃO DO “MODELO AMERICANO”

Neste capítulo propomos analisar a reestruturação do Exército português após a adesão de Portugal à NATO com base num sistema de defesa composto por divisões destinadas à defesa interna do país, à defesa da Península Ibérica nos Pirenéus e defesa do território francês integradas nas forças da Aliança Atlântica. A reforma foi estudada, programada e concretizada com a adoção parcial do “modelo americano” e com o apoio dos americanos para a formação de novas forças de escalão divisão apetrechadas com equipamentos inovadores fornecidos fundamentalmente pelos EUA, para integrarem as forças NATO na defesa da Europa, em território francês, com a missão de barrar a progressão das forças do Pacto de Varsóvia em caso de invasão. Aqui se analisam também as alterações provocadas ao nível dos cargos diretivos do Exército e a implementação de uma nova dinâmica no sistema industrial militar para alimentar as necessidades logísticas dos três ramos das Forças Armadas Portuguesas.

A. O ENTENDIMENTO DE SALAZAR SOBRE A DEFESA NACIONAL E AS SUAS