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A FORMAÇÃO NO EXÉRCITO PORTUGUÊS DECORRENTE DA EXPERIÊNCIA AMERICANA

E. CAMPO DE INSTRUÇÃO MILITAR DE SANTA MARGARIDA 1 A inevitabilidade da existência de um espaço de instrução

3. Projeto de construção

3.2. Tipologia geral das infraestruturas

Após feita a inventariação do conjunto dos imóveis para aquartelar os militares em Santa Margarida, e depois de realizada a prospeção dos recursos existentes no mercado nacional, concluiu-se que em Portugal não existia indústria de pré fabricação para proceder à edificação das infraestruturas, tendo sido necessário recorrer a materiais provenientes do estrangeiro para concretizar o projeto no tempo previsto.

Para a definição do modelo de infraestruturas foi efetuado um concurso entre os oficiais de engenharia para a elaboração de um projeto de edifício “tipo”, construído num espaço designado por Casal do Pote, junto à EPE em Tancos, modelo que foi assumido para a generalidade dos imóveis a edificar, com 38,5m de comprimento, por 10,2 m largura e 3,5 m de altura por piso. Na parte frontal, abrangendo quase a totalidade do seu comprimento, existia um alpendre com 3 m de largura utilizado em formaturas ou instrução em condições climatéricas adversas. Na traseira, com cerca de 2/3 do seu comprimento, localizavam-se as instalações sanitárias. Cada edifício permitia a instalação de 90 beliches (180 militares correspondentes ao efetivo de uma companhia de infantaria) distribuídos por dois pisos [Mascaranhas 2011: 21].

FOTOGRAFIA Nº 7 – Edifício tipo de um piso

Atoleiros, CIMSM

Os edifícios [Martins 1999: 20-21]88 foram projetados a partir de um modelo base para redução de custos, que permitia, com pequenos ajustes, ser configurado interiormente em conformidade com a sua finalidade. A tipologia estava reduzida a 3 protótipos: o de maior número servia simultaneamente para caserna, arrecadação de material pesado, refeitório de praças, messe de oficiais e de sargentos, edifício de comando e alojamento de graduados; outro para os sanitários gerais e outro para balneários [Macedo 1984: 82; EME 1988: 256].

88 Os edifícios eram suportados por estruturas de betão armado, interligados por paredes de pano de tijolo de 9 furos, cobertura em telha, tetos com isolamento térmico constituído por um aglomerado de fibras, madeira silicatada e cimento, tudo material antifumígeno. As cozinhas tinham os tetos revestidos a madeirite para evitar a formação de fungos provocados pelo vapor de água na confecção alimentar, chão em betonilha de cimento e, em determinados casos, revestido por tacos de madeira. Dispunham de uma estrutura igual em número de peças e tipo de portas e janelas. Era possível melhorar o conforto dos edifícios através da remodelação dos pavimentos, paredes e tetos. O pavimento da maioria dos edifícios era em cimento com exceção dos destinados ao comando e messes. Estudo da 3ª repartição do Serviço de Fortificações e Obras Militares da Direção da Arma de Engenharia, assinado pelo diretor da obra capitão de engenharia Vasco Esteves Ramires em 11 de maio de 1954, p. 3, aquisição de terrenos para o CIM, processo do PM 1, Constância, arquivo geral, nº 3, ADIE.

FOTOGRAFIA Nº 8 - Planta do edifício dos sanitários

Cada unidade de escalão batalhão tinha um balneário geral e instalações sanitárias próprias [QG/CIMSM 2002: 55-58]89.

FOTOGRAFIA Nº 9 – Edifício tipo de dois pisos

Atoleiros, CIMSM

Para alojamento das praças, por regimento, foram construídas 12 casernas, edificadas na segunda fase do projeto, com exceção da unidade de cavalaria que se antecipou com a criação do centro de instrução de carros de combate [QG/CIMSM 2002: 55].

89 Cada balneário geral tinha 52,5 m de comprimento e 6,4 m de largura com capacidade de utilização simultânea para 96 homens sendo a água aquecida por uma caldeira a gasóleo com 2 m3 de capacidade. A abertura da torneira de água era individual, acionada por uma corrente junto do chuveiro por razões económicas. As condições climatéricas de Santa Margarida, fundamentalmente nos períodos de maiores amplitudes térmicas, não aconselhavam a utilização deste tipo de balneário por se encontrar fisicamente separado das casernas. Para minimizar o incómodo dos militares foram posteriormente construídos novos locais de banho incorporados nas casernas de cada companhia. As instalações sanitárias tinham 24,5 m de comprimento por 5,6 m de largura com divisórias em betão, com ou sem porta giratória. Os compartimentos individuais tinham uma disposição oposta e perfilada longitudinalmente para escoamento dos detritos para uma vala comum, coberta por placas de betão fixas por uma fina camada de argamassa para facilitar a limpeza dos resíduos. As bacias dispunham de sifões largos, em cimento, para precaver os entupimentos das canalizações.

As instalações do QG eram compostas por dois edifícios ligados por um corredor com uma entrada frontal virada para a avenida principal e uma outra em posição oposta por questões de segurança [QG/CIMSM 2002: 57].

A aquisição dos materiais de construção foi efetuada na base de concursos públicos [Borges 2002: 5].

O projeto de construção do CIMSM sofreu alguns ajustamentos ao longo da sua execução para fazer face a condicionantes que não faziam parte do planeamento inicial, como aconteceu com a necessidade da criação de espaços apropriados ao parqueamento e manutenção dos carros de combate M/47. A totalidade dos blindados deveria ter sido encaminhada para a escola prática de cavalaria, sediada em Torres Novas, local de formação de blindados a nível nacional, não estando prevista qualquer incompatibilidade com as instalações aí existentes. As dificuldades surgiram quando os carros de combate, de dimensões consideráveis, revelaram embaraço ao manobrarem dentro do espaço urbano, aos estragos efetuados nos pavimentos de circulação e aos incómodos sonoros provocados nos habitantes [Macedo 1984: 32; EME 1988: 255-256].

Uma vez mais a responsabilidade de construção dos espaços para acondicionamento dos carros de combate coube à direção da arma de engenharia na edificação dos hangares que tinham características diferentes das dos restantes edifícios. Este projeto constituiu mais um desafio pela complexidade da estrutura e pela heterogeneidade dos materiais empregues na construção, tendo sido necessário recorrer ao laboratório de engenharia civil para colaborar na edificação de um protótipo com padrões de firmeza, dimensionamento funcional e economia de verbas [QG/CIMSM 2002: 76-79]. Este projeto foi concluído em 18 de agosto de 1955 tendo sido realizada uma visita ao local pelo comandante da divisão e o general Liebel, chefe da missão MAAG em Portugal, que concluíram que tinha condições equiparadas às dos outros exércitos,

apesar das restrições logísticas, escassez de quadros especializados e carência de verbas [Macedo 1984: 28; EME 1988: 215].

A linha férrea, que fazia a ligação entre o Entroncamento a Abrantes, necessitava de alguns melhoramentos na estação de Santa Margarida, local mais próximo do CIMSM, para facilitar a movimentação de pessoal e cargas, nomeadamente para permitir o desembarque dos carros de combate americanos. Coube ao batalhão de serviços de caminho-de-ferro os trabalhos de assentamento das linhas férreas [Mascaranhas 2011: 21], de 4 vias de desvio, a construção de 2 cais de topo e 2 longitudinais com previsão de mais 2 vias [Macedo 1984: 32; EME 1988: 255].

FOTOGRAFIA Nº 10 – Planta da estação de caminho-de-ferro de Santa Margarida

ADIE/Aquisição de terrenos para o CIM/Processo do PM 1, Constância/Arquivo geral/nº 2