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PERU: LEI Nº 30035 PARA CRIAÇÃO DO REPOSITÓRIO NACIONAL

3 POLÍTICAS E INICIATIVAS DE ACESSO LIVRE E

3.3 PERU: LEI Nº 30035 PARA CRIAÇÃO DO REPOSITÓRIO NACIONAL

Em 15 de maio de 2013 foi aprovada no Peru a Lei nº 30035 que regula o Repositório Nacional Digital de Ciência, Tecnologia e Inovação de Acesso Aberto. Após um ano de sua aprovação, em consulta realizada em maio de 2014, a lei continuava aguardando regulação para então dar início à sua implementação de modo a disponibilizar a infraestrutura necessária para seu cumprimento.

Mesmo que na prática o Peru ainda não esteja vivenciando os resultados de uma política de acesso livre baseada em repositório nacional, o texto da lei é de interesse para este trabalho. Ele representa uma iniciativa pioneira na América Latina, podendo tornar-se referência para outros países interessados em aderir a este tipo de estrutura centralizada.

A lei apresenta como princípios fundamentais do repositório estabelecer e adotar estratégias e políticas para garantir o acesso livre e aberto à produção de ciência, tecnologia e inovação; garantir a adequada gestão, divulgação e preservação de longo prazo da informação nele depositada; garantir a segurança e a qualidade da informação

e as condições necessárias para assegurar a propriedade intelectual e os direitos do autor e da instituição; incentivar o fortalecimento da rede científica.

O documento é composto por seis artigos e disposições finais. Em seu Artigo 2, define o repositório como o site centralizado onde se mantém informação digital resultado da produção de ciência, tecnologia e inovação, incluindo: livros, publicações, artigos de revistas especializadas, trabalhos técnico-científicos, programas informáticos, dados processados e estatísticas de monitoramento, teses acadêmicas e similares. Institui que essas informações são de acesso livre e aberto, sem fins lucrativos e sem solicitação de registro, inscrição ou qualquer pagamento e está disponível para ler, baixar, reproduzir, distribuir, imprimir, pesquisar ou linkar textos completos, para isso considerando os direitos de autor daquele país (Decreto Legislativo 822 – Ley sobre el Derecho de Autor). A lei observa que algumas informações, por sua natureza confidencial, podem não ser difundidas, devendo-se justificar de forma explícita e detalhada os motivos que impedem sua divulgação.

A lei se aplica às seguintes entidades e pessoas: a) Entidades do setor público;

b) Entidades do setor privado ou pessoas naturais que desejem voluntariamente compartilhar sua informação, com as restrições técnicas e acadêmicas estabelecidas no regulamento;

c) Entidades privadas ou pessoas naturais cujos resultados de pesquisa tenham sido financiados com recursos do Estado;

d) Entidades e pessoas naturais que realizam atividades no âmbito da ciência, da tecnologia e da inovação que compõem o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação Tecnológica (Sinacyt), que cumpram os requisitos estabelecidos no regulamento.

O Artigo 4 institui como administrador do repositório o Consejo Nacional de Ciencia, Tecnologia e Innovación Tecnológica (Concytec), o qual assume as seguintes funções:

a) Implementa, integra, padroniza, armazena, preserva e gerencia o adequado funcionamento do repositório nacional, assim como estabelece as políticas que regulem sua segurança e sustentabilidade;

b) Oferece assistência técnica integral aos participantes do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação Tecnológica para a geração e gestão de seus

respectivos dados e informações, assim como estabelece os mecanismos e padrões de interoperabilidade do Estado com o do Repositorio Digital Nacional de Ciencia, Tecnología e Innovación de Acceso Abierto, para o qual conta com o assessoramento da Oficina Nacional de Gobierno Electrónico e Informática (ONGEI);

c) Promove o uso e o aproveitamento da informação disponível no Repositorio Digital Nacional de Ciencia, Tecnología e Innovación de Acceso Abierto; d) Implementa os mecanismos internos necessários para a correta aplicação da

presente lei.

Enfim, o Artigo 6 prevê a obrigatoriedade do depósito no Repositório Digital Nacional através da inclusão de cláusulas contratuais nos projetos com subsídio, financiamento ou empréstimo provenientes do Estado ou dos membros do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação Tecnológica. Também, os contratos para concessões de bolsas de estudo devem autorizar expressamente a inclusão da versão final do trabalho de pesquisa ou desenvolvimento, depois de aprovados por autoridade competente. Quando os trabalhos estiverem protegidos por direitos de propriedade, deve-se prever a obrigatoriedade de depósito dos metadados no Repositório e o compromisso de entregar o trabalho completo assim que finalizado o tempo estabelecido para sua liberação, sem prejuízos à Lei sobre o Direito de Autor.

Podemos identificar neste documento pontos fortes e pontos fracos os quais poderão ser úteis em nossa análise comparativa. Como um ponto forte, a lei tem o mérito de nomear um responsável pelo repositório nacional e suas funções – no caso, a Concytec. Assim, posiciona o ator do Sistema Nacional de C&T que manterá os recursos necessários (materiais e humanos) para seu funcionamento, inclusive estabelecendo padrões. Isso reduz o que poderia ser um labirinto burocrático, evitando disputas e jogos de responsabilização.

Outro ponto forte é determinar a quem se destina a lei e sob quais condições os autores serão solicitados a realizar o depósito de suas produções. Inclui de forma ampla todos os projetos com subsídio, financiamento ou empréstimo provenientes do Estado ou dos membros do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação Tecnológica, bem como os beneficiários de bolsas de estudo e pesquisa. Os meios serão os contratos, com a inclusão de uma cláusula. Desta forma, entendemos que também foi simplificada

uma etapa burocrática que seria a necessidade da formulação de políticas mandatórias por cada instituição.

Entretanto, em sua tentativa de simplificar os processos, a Lei comete um equívoco: restringe os resultados da produção científica a poucos tipos de documentos (livros, publicações, artigos de revistas especializadas, trabalhos técnico-científicos, programas informáticos, dados processados e estatísticas de monitoramento, teses acadêmicas  e  similares).  Mesmo  incluindo  o  termo  genérico  “similares”,  o  texto  poderia   ser mais abrangente, de modo a não excluir outras e novas possibilidades, inclusive documentos multimodais.

Ainda, como ponto fraco, em suas Disposições Complementares Finais, a lei não prevê novos recursos para o desenvolvimento do Repositório Digital Nacional, afirmando que o responsável deverá utilizar os recursos aprovados na lei anual de orçamentos. Isto poderá retardar sua implementação, bem como limitar seus resultados por falta de investimentos.

Enfim, reconhecemos no documento peruano o esforço em declarar a adesão do governo federal ao acesso aberto, inclusive com a decisão de fornecer uma infraestrutura própria para sua viabilização em todo o país.