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Política de progressão e promoção na carreira científica

4 UMA PLATAFORMA DE CIÊNCIA ABERTA PARA O BRASIL

4.1 PLATAFORMA POLÍTICA

4.1.2 Política de progressão e promoção na carreira científica

Para o crescimento da Filosofia Aberta entre os cientistas brasileiros propomos uma revisão da política de progressão e promoção na carreira científica condizente com a prática científica da Sociedade em Rede. Os critérios para avaliação curricular poderiam incluir atividades como a criação, manutenção e curadoria de dados científicos em rede, atividades colaborativas, número de depósitos e de atividades realizadas na Plataforma de Ciência Aberta, como iremos apresentar quando da descrição das macrofunções da infraestrutura de comunicação em rede.

Nossa proposta parte do princípio que grande número dos cientistas brasileiros atuam em órgãos públicos, sejam instituições de pesquisa ou universidades. Também, que o setor privado utiliza como referência a carreira científica pública, muitas vezes adotando critérios semelhantes de promoção e progressão. Nosso argumento está

baseado nos indicadores11 apresentados pelo MCTI, que apresentam um número total de 234.797 pesquisadores no Brasil em 2010, sendo 7.667 lotados no Governo, 188.003 no Ensino Superior, 41.317 no setor Empresarial e 1.013 no setor Privado sem fins lucrativos.

Podemos distinguir duas principais carreiras públicas para os cientistas brasileiros: Pesquisador de C&T e Magistério Superior (professores universitários). A primeira carreira é regida pela Lei nº 8.691 de 28 de julho de 1993 que dispõe sobre o Plano de Carreiras para a área de Ciência e Tecnologia da Administração Federal Direta, das Autarquias e das Fundações Federais e dá outras providências. Como veremos, a citada Lei refere-se a uma Avaliação de Desempenho como item a ser considerado em processos de progressão e promoção na carreira, tendo sido os critérios definidos pelo Decreto nº 7.133 de 19 de março de 2010.

Já a carreira de Magistério Superior é regida pela Lei nº 12.772 de 28 de dezembro de 2012 e alterada pela Lei nº 12.863/2013 que trata da Reestruturação da Carreira de Magistério Superior. Também nesse caso considera-se a Avaliação de Desempenho do servidor para fins de progressão e promoção, tendo seus critérios estabelecidos por Resolução do Conselho Universitário de cada instituição. A título de exemplo, vamos analisar a Resolução nº 03/2014 do Conselho Universitário da Universidade Federal de Pernambuco.

Assim, apresentamos aqui os principais itens destes documentos referentes aos critérios para progressão e promoção de modo a possibilitar o debate sobre possíveis mudanças na política nacional relativa à carreira científica.

São regidos pela Lei nº 8.691/1993 vinte e quatro instituições citadas no documento, incluindo órgãos ligados ao MCTI, MEC, Ministério da Saúde, Ministério da Marinha, Ministério da Aeronáutica, Ministério do Exército, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Não são incluídas nesta lei a Fiocruz, o IBGE, o Inmetro e o Inpi, instituições federais que também empregam pesquisadores, mas que contam com uma lei específica para suas carreiras: Lei nº 11.355 de 19 de outubro de 2006. Tal diferenciação já se coloca como algo questionável dentro da estrutura governamental. Nossa análise não abarcará este último documento.

11 Indicadores MCTI. Dados disponíveis em: <

http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/5858/Brasil_Pesquisadores_e_pessoal_de_apoio_envolvid os_em_pesquisa_e_desenvolvimento_P_D_em_numero_de_pessoas_por_setor_institucional_e_categoria. html>. Acesso em: 15 set. 2014.

A lei nº 8.691/1993 prevê três carreiras para o setor: de Pesquisa em Ciência e Tecnologia; de Desenvolvimento Tecnológico; e de Gestão, Planejamento e Infra- Estrutura em Ciência e Tecnologia. No momento, interessa-nos a carreira de Pesquisa em C&T, que conta com quatro níveis: Titular, Associado, Adjunto e Assistente. O Artigo 5º estabelece como pré-requisitos para ingresso, progressão e promoção na carreira:

I - Pesquisador Titular:

a) ter realizado pesquisas durante, pelo menos, seis anos, após a obtenção do título de Doutor; e

b) ter reconhecida liderança em sua área de pesquisa, consubstanciada por publicações relevantes de circulação internacional e pela coordenação de projetos ou grupos de pesquisa e pela contribuição na formação de novos pesquisadores;

II - Pesquisador Associado:

a) ter realizado pesquisa durante, pelo menos, três anos, após a obtenção do título de Doutor; e

b) ter realizado pesquisa de forma independente em sua área de atuação, demonstrada por publicações relevantes de circulação internacional, e considerando-se também sua contribuição na formação de novos pesquisadores;

III - Pesquisador Adjunto: a) ter o título de Doutor; e

b) ter realizado pesquisa relevante em sua área de atuação;

IV - Assistente de Pesquisa: a) ter o grau de Mestre; e

b) ter qualificação específica para a classe.

O Capítulo III da referida Lei – Do Conselho do Plano de Carreira de Ciência e Tecnologia (CPC) – é criado para auxiliar na elaboração da Política de Recursos Humanos para a área de Ciência e Tecnologia, cabendo-lhe:

I - propor normas legais ou regulamentadoras, conforme o caso, dispondo sobre ingresso, promoção, progressão e desenvolvimento nas carreiras de que trata esta lei, bem como sobre a avaliação de desempenho nas mesmas;

II - acompanhar a implementação e propor alterações neste Plano de Carreiras; III - avaliar, anualmente, as propostas de lotação das Unidades das Instituições relacionadas no parágrafo único do art. 1º;

IV - propor critérios, para atribuir habilitações equivalentes, referidos nos arts. 8º e 13;

V - examinar os casos omissos referentes a este Plano de Carreiras.

Entendemos, a partir da leitura da presente lei, que o ingresso e progressão na carreira científica regida pelo Governo estão baseados no nível de formação do

pesquisador (doutor ou mestre), em seu tempo como pesquisador atuante e em suas contribuições no desenvolvimento de pesquisas e novos pesquisadores. Titulação e tempo como pesquisador são critérios objetivos e facilmente verificáveis. Falemos então das   “contribuições”.   Seus   critérios   são   estabelecidos   pelo   formulário   de   Avaliação   de   Desempenho, que segundo o Decreto 7.133/2010 que regulamenta os critérios e procedimentos gerais a serem observados para a realização das avaliações de desempenho individual e institucional e o pagamento das gratificações de desempenho, tem sua nota final máxima de 100 pontos composta pela pontuação institucional (até 80 pontos) e pela pontuação individual (até 20 pontos). A avaliação de desempenho deve ser realizada a cada 12 meses, de acordo com as metas estabelecidas no início do período pela instituição e pelas equipes de trabalho, devendo cada servidor estar ligado a pelo menos um projeto pelo qual será avaliado. O conceito atribuído a cada item da avaliação individual será composto na proporção de quinze por cento (15%) pelo próprio avaliado, sessenta por cento (60%) pela chefia imediata e vinte e cinco por cento (25%) pela média dos conceitos atribuídos pelos demais integrantes da equipe de trabalho.

Segundo o Artigo 4º, parágrafo 1º, na avaliação de desempenho individual, além do cumprimento das metas de desempenho individual, deverão ser avaliados os seguintes fatores mínimos:

I - produtividade no trabalho, com base em parâmetros previamente estabelecidos de qualidade e produtividade;

II - conhecimento de métodos e técnicas necessários para o desenvolvimento das atividades referentes ao cargo efetivo na unidade de exercício;

III - trabalho em equipe;

IV - comprometimento com o trabalho; e

V - cumprimento das normas de procedimentos e de conduta no desempenho das atribuições do cargo.

A partir desses fatores mínimos, cada instituição desenvolve seu próprio formulário de avaliação, definindo seus parâmetros de qualidade e produtividade. Podemos citar como exemplo o formulário da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), regida pela presente Lei, que estabelece como fatores de produtividade: tempo utilizado, qualidade dos resultados, uso dos recursos disponíveis.

Quando tratamos da avaliação institucional, importa diretamente as metas estipuladas para as áreas finalísticas da instituição, dividindo-se entre metas globais

(elaboradas, quando couber, em consonância com o Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual) e metas intermediárias, referentes às equipes de trabalho. As metas devem ser objetivamente mensuráveis, levando-se em conta, no momento de sua fixação, os índices alcançados nos exercícios anteriores. Trabalhando novamente o exemplo da Fundaj, tivemos como metas em 2013 para a Diretoria de Pesquisas Sociais: Meta I - Realizar 6 (seis) estudos e pesquisas nas áreas das Ciências Sociais e Humanas; Meta II – Divulgar a produção do conhecimento através de 35 artigos em periódicos científicos nacionais e internacionais. Veja-se que para ser “objetivamente  mensurável”  foi  preciso  trabalhar  com  metas  numéricas.  

Alcançar boas avaliações de desempenho permite ao pesquisador progredir na carreira. Mas a promoção, ou seja, a ascensão vertical, segundo a Lei, além do tempo como pesquisador, considera sua reconhecida liderança, publicações relevantes de circulação internacional  e  formação  de  novos  pesquisadores.  Diferente  dos  critérios  “objetivamente   verificáveis”  solicitados  na avaliação de desempenho, tais parâmetros não nos parecem muito  objetivos.  O  que  poderá  definir  uma  “reconhecida  liderança”?  Quem  tem  o  poder   de reconhecê-la? Por que apenas as publicações internacionais são válidas? O que envolveria a formação de novos pesquisadores? Formação de alunos de graduação, bolsistas PIBIC, mestrandos, doutorandos – teriam igual peso?

Mas nosso principal questionamento em relação aos atuais critérios para promoção na carreira científica é sua desconexão com o Currículo Lattes. Os vários itens que compõem o currículo, entre produção, publicação, popularização da C&T, realização e participação em eventos científicos – poderiam compor parâmetros capazes de identificar liderança, produtividade, formação de pesquisadores – não são diretamente citados. Da mesma forma, a Plataforma de Ciência Aberta poderia auxiliar na definição de critérios para progressão e promoção na carreira científica, fazendo valer as diversas atividades hoje desenvolvidas por um pesquisador da Sociedade em Rede como citamos no princípio deste tópico.

Entendemos que o Conselho do Plano de Carreira de Ciência e Tecnologia, em seu papel propositivo, seria o órgão capaz de liderar as discussões sobre uma nova política de progressão e promoção na carreira científica, auxiliando assim na formação da agenda de discussões da plataforma política para o desenvolvimento da Ciência Aberta no Brasil.

Falemos agora da carreira de Magistério Superior, na qual se encontra o maior número de pesquisadores brasileiros, lotados principalmente nas Universidades Federais, regidos pela Lei nº 12.772/2012; e Estaduais, com suas legislações próprias.

O cargo em magistério superior federal tem como atividades aquelas relacionadas ao ensino, extensão e pesquisa. O desenvolvimento na carreira é explicitado no Artigo 12 da presente Lei. Para a progressão na carreira, considera-se o cumprimento do interstício de 24 (vinte e quatro) meses de efetivo exercício em cada nível e sua aprovação em avaliação de desempenho. Para promoção, consideram-se os mesmos critérios da progressão, acrescidos de nova titulação (de graduado para mestre, e de mestre para doutor) e no caso de Professor Titular em nível E, lograr aprovação de memorial que deverá considerar as atividades de ensino, pesquisa, extensão, gestão acadêmica e produção profissional relevante, ou defesa de tese acadêmica inédita.

Semelhante ao cargo de Pesquisador de C&T, a Lei prevê como critérios tempo, titulação e avaliação de desempenho. Cabe aos Conselhos competentes no âmbito de cada Instituição Federal de Ensino regulamentar os procedimentos do processo de avaliação de desempenho. Por isso, como exemplo, vamos analisar o documento produzido pelo Conselho Universitário da Universidade Federal de Pernambuco.

Na Resolução nº 03/2014, estão previstos os critérios constantes da avaliação de desempenho docente. Eles são divididos em grupos e subgrupos, recebendo diferentes pontuações e pesos na formulação da nota total máxima de 10 pontos. São considerados diferentes itens de acordo com a classe em que se encontra o docente, sendo a lista mais extensa aquela para as classes A, B e C, que resumimos nos números a seguir:

a) Grupo 1 – Atividade: Ensino. Divido em quatro subgrupos, num total de 23 itens. b) Grupo 2 – Atividades: Produção científica, técnica, artística e cultural. Composto

por dois subgrupos, num total de 31 itens.

c) Grupo 3 – Atividade: Extensão. Conta com dois subgrupos e 14 itens.

d) Grupo 4 – Atividade: Formação e capacitação acadêmica. Não é dividido em subgrupos, sendo composto por cinco itens.

e) Grupo 5 – Atividade: Gestão. Também não tem subgrupos, composto por oito possíveis cargos de gestão.

Cumprido o prazo de 24 meses, o docente deve apresentar seu requerimento e documentação comprobatória para progressão ou promoção ao Diretor do Centro Acadêmico, que encaminhará o processo à Comissão Avaliadora no prazo de até cinco dias úteis.

Os 81 possíveis itens que compõem a avaliação de desempenho docente da UFPE exemplifica o esforço em considerar as várias atividades realizadas no exercício do cargo, de acordo com as diferentes disciplinas. Eles refletem também as atividades registradas no Currículo Lattes, sem ainda incluir a recente aba do sistema referente à Educação e Popularização da C&T.

Entretanto, mesmo contando com tantos itens, não abarca atividades primordiais para o desenvolvimento da Ciência Aberta, como aquelas relacionadas à geração e curadoria de dados científicos abertos, depósito em repositórios digitais ou compartilhamento de informações em plataformas online. Por isso, voltamos a repetir que o cientista da Sociedade em Rede assume novas responsabilidades, e a partir do desenvolvimento de uma Plataforma de Ciência Aberta, elas poderiam ser reconhecidas para fins de progressão e promoção na carreira.