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5 TRAJETO METODOLÓGICO PARA ENTENDER A AÇÃO DE

5.2 PESQUISA-AÇÃO

Para diferenciar a pesquisa-ação das pesquisas convencionais, Thiollent (2003) estabelece que na pesquisa-ação “... é possível estudar dinamicamente os problemas, decisões, ações, negociações, conflitos e tomadas de consciência que ocorrem entre os agentes durante o processo de transformação da situação”

(THIOLLENT, 2003, p. 19), ou seja, há a participação do pesquisador junto ao grupo envolvido na situação observada.

Os aspectos da pesquisa-ação — que neste trabalho tem o objetivo voltado “...

para a produção de conhecimento que não seja útil apenas para a coletividade considerada na investigação local.” (THIOLLENT, 2003, p. 18) — são elencados por Thiollent (2003) como “resolução de problemas, tomada de consciência ou produção de conhecimento” (p. 19). No caso desta pesquisa, os aspectos adequados à situação

são a “tomada de consciência e a resolução de problemas”, ainda que de forma pontual. Mas os objetivos deste método de pesquisa são mais abrangentes, conforme aponta:

A coleta de informação original acerca de situações ou atores em movimento;

a concretização de conhecimentos teóricos, obtida de modo dialogado na relação entre pesquisadores e membros representativos das situações ou problemas investigados; a comparação das representações próprias aos vários interlocutores, com aspecto de cotejo entre saber formal e saber informal acerca da resolução de diversas categorias de problemas; a produção de guias ou regras práticas para resolver os problemas e planejar as correspondentes ações; os ensinamentos positivos ou negativos quanto à conduta da ação e suas condições de êxito; possíveis generalizações estabelecidas a partir de várias pesquisas semelhantes e com o aprimoramento da experiência dos pesquisadores. (THIOLLENT, 2003, P.

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De acordo com Thiollent (2003, p. 77), a pesquisa ação contempla a pesquisa de formas de comunicação alternativas, como as populares e militantes, bem como é cogitada e “(...) discutida como possível meio de crítica à comunicação de massa”

(Idem). O autor, já na época, salientava que a crítica a grandes meios de comunicação de massa como a televisão, se tornava uma prática cada vez mais frequente no meio das pesquisas. Tal crítica era atribuída devido à forma capitalista de administração das grandes empresas de comunicação, que para o autor, possibilita a concentração do poder nas mãos de poucos. Mas tal controle, salienta (p.78), é relativo, pois parte do público tem a capacidade de interpretar os conteúdos de forma crítica. Além disso, este grupo crítico concebe meios de comunicação alternativos, como jornal, vídeos e filmes para enfrentar seus opositores e, mesmo divulgando de forma diferenciada, não são ameaça para as empresas hegemônicas da comunicação.

Para Thiollent (2003) a pesquisa-ação tem outras funções para além da criticidade e que foram observadas na comunidade do bairro Costa e Silva no grupo de ativistas:

Além da sua função crítica, a pesquisa-ação pode igualmente ser aplicada de modo construtivo para permitir uma maior participação dos grupos interessados em torno de diversas ações comunicativas: criação de um jornal, de uma rádio, espaço de lazer ou transformação de uma política de informação. (THIOLLENT, 2003, p. 78).

Mas a pesquisa-ação também tem o poder de fazer circular informações sobre as condições daqueles que não tem voz nas empresas comunicacionais hegemônicas:

Há também casos de transformação que ocorrem quando, a partir de uma pesquisa, torna-se possível produzir e fazer circular informações ou conhecimentos que são tradicionalmente excluídos ou menosprezados por parte dos meios de comunicação de massa. (THIOLLENT, 2003, p. 79).

Neste sentido, é possível afirmar que o enfrentamento de problemas socioambientais encontra na pesquisa-ação um grande reforço em prol de sua causa, pois sua dinâmica também pode agir como fator de engajamento em mobilizações sociais. Além disso, a pesquisa-ação pode ser aplicada em diversas áreas do conhecimento, como comunicação, educação e serviços sociais:

Na concepção das práticas educativas ou políticas, os partidários da pesquisa-ação adotam frequentemente uma orientação crítica, mais ou menos radical, voltada para a conscientização ou para a mobilização popular.

(THIOLLENT, 2003, p. 94).

Tais características são fomentadas durante a captação das informações empíricas, como reuniões, discussões com membros da comunidade, entrevistas coletivas e outras formas de captação. Mas isso não implica que a técnica seja resumida a simples observação ou mensuração de uma situação — Thiollent (2003) deixa claro que o método da pesquisa-ação surge durante o período crítico à mídia dos EUA, em 1940. Tal origem também implica na flexibilidade desse método em relação a outros com padrões mais rígidos.

O autor recomenda doze passos para a pesquisa-ação, sendo: a “fase exploratória”, em que o pesquisador identifica e elenca o campo de pesquisa e identifica as pessoas interessadas, os problemas e as expectativas elencados pelos atores; o “tema da pesquisa”, que estabelece o diálogo entre o que será pesquisado e o respectivo campo de conhecimento, determinados pela natureza do problema; a

“colocação dos problemas”, que dará o sentido e direcionamento para a investigação;

o “lugar da teoria”, um passo em que, segundo Thiollent (2003), a natureza sociológica, política ou tecnológica é enquadrada à questão; nas “hipóteses”, o pesquisador busca soluções ou explicações possíveis ao problema investigado; o

“seminário” é um passo muito importante, pois baliza as demais técnicas de forma a organizar as ações da pesquisa; o “campo de observação, amostragem e representatividade qualitativa”, objetiva a delimitação do campo empírico, geograficamente, por amostragem ou por representatividade em um contexto sócio-político; na “coleta de dados”, o pesquisador ou grupo de pesquisadores busca os

elementos empíricos em campo, utilizando técnicas como questionários, entrevistas individuais aprofundadas, busca evidências no local dos fatos bem como reúne documentos sobre a questão; outro passo previsto por Thiollent (2003) é a

“aprendizagem”, ou seja, a pesquisa-ação tem como função prática cotejar a aprendizagem dos atores: “de modo geral, as diversas categorias de pesquisadores e participantes aprendem alguma coisa ao investigar e discutir possíveis ações cujos resultados oferecem novos ensinamentos. (THIOLLENT, 2003, p. 66); o “saber formal e o saber informal” são fomentados durante a pesquisa para estabelecerem comunicação entre os diversos universos culturais dos envolvidos na pesquisa; a forma como a ação será aplicada junto aos grupos é um dos passos fundamentais apontados pelo autor, pois é ali, no “plano de ação”, que serão definidos aspectos como os atores e local da intervenção, relações convergentes entre atores, comunidades, instituições e situações conflitantes e como dar continuidade às ações elencadas para atingir os objetivos; o último passo recomendado pelo autor é a

“divulgação externa”, que prevê a disseminação dos conhecimentos resultantes da pesquisa em diversos veículos de circulação pública.

Porém a sequência desses doze passos é flexível em seu setor intermediário, ou seja, apenas a “fase exploratória” e a “divulgação dos resultados” tem posição fixa na ordem sequencial (THIOLLENT, 2003).

Já Peruzzo (2015) afirma que a pesquisa-ação não segue uma fórmula pronta, pois os grupos pesquisados são diferentes em vários aspectos e isso influencia nas fases da pesquisa, que para a autora, partem das seguintes bases: estudo exploratório, sendo que nesta fase são identificados os aspectos da situação investigada; o próprio processo de investigação dessas situações; adaptação do desenho metodológico à realidade do objeto; o trabalho de campo e obtenção de elementos para investigação; elencar os resultados obtidos e aplicação destes no relatório final da pesquisa.

6 ANÁLISE DE UM PROCESSO DE MOBILIZAÇÃO SOCIAL NA ÁREA