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BEHAVIORISMO AO ESTRUTURALISMO

2.2. O LUGAR DO ESTUDO DE CASO NA CIÊNCIA

2.2.1. A PESQUISA QUALITATIVA E QUANTITATIVA: ALGUMAS ESTRATÉGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE ESTUDO DE

CASO

Conforme alguns estudiosos, entre eles: Freitas e Jabbour (2011), Johansson (2004, 2003), Neves (1996) e Stake (1994), a base do estudo de caso insere-se na chamada pesquisa qualitativa.

Para Freitas e Jabbour (2011), a pesquisa qualitativa pode apresentar as seguintes características: o pesquisador é o instrumento-chave, o ambiente é a fonte direta dos dados, não requer o uso de técnicas e métodos estatísticos, tem caráter descritivo, o resultado não é o foco da abordagem, mas sim o processo e seu significado (FREITAS E JABBOUR, 2011, p.9).

Além das características destacadas acima, podemos inferir também que ao desenvolver pesquisa qualitativa ao invés da quantitativa, o pesquisador pode tentar construir

99 compreensões e/ou interpretações subjetivas acerca de seu objeto de estudo, levando em consideração o contexto e não a observação das variantes de forma exata ou com precisão lógica- típica da abordagem quantitativa-, que além dessa característica busca testar hipóteses, formular regras por meio da análise estatística dos dados quantizados.

Por meio da leitura de Godoy (1995), Freitas e Jabbour (2011) desenvolveram um quadro (destacado abaixo), no qual podemos compreender melhor algumas das especificidades da pesquisa qualitativa e quantitativa.

Quadro 10: Especificidades da abordagem qualitativa e quantitativa (FREITAS E JABBOUR, 2011). Pesquisa Qualitativa Pesquisa Quantitativa

- a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural com a fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental;

- a pesquisa qualitativa é descritiva; - o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida é a preocupação essencial do investigador;

- pesquisadores utilizam o enfoque indutivo na análise de seus dados;

- a pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ou medir os eventos estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise dos dados;

- parte de questões ou focos de interesses amplos, que vão se definindo à medida que o estudo se desenvolve;

- envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada,

- condução da pesquisa com hipóteses claramente especificadas e variáveis operacionalmente definidas;

- preocupa-se com a medição objetiva e a quantificação dos resultados;

- busca a precisão, evitando distorções na etapa de análise e interpretação dos dados;

100 procurando compreender os fenômenos

segundo a perspectiva dos participantes da situação em estudo.

De acordo com o quadro acima, podemos averiguar que as principais diferenças entre a pesquisa qualitativa e quantitativa são: a pesquisa qualitativa privilegia o contexto, o ambiente natural, o pesquisador, a interpretação, além de ser indutiva e descritiva ao passo que a pesquisa quantitativa é desenvolvida por meio de hipóteses e da busca objetiva e precisa de dados que são quantificados.

Embora as abordagens qualitativas e quantitativas apresentem elementos diferenciados, muitos pesquisadores são favoráveis à utilização de elementos de ambos os métodos para desenvolver suas pesquisas (MATTOS, 1999; MOITA LOPES, 1996, HOLMES, 1992; LARSEN-FREEMAN &LONG, 1991 e ALMEIDA FILHO, 1984). No que diz respeito ao estudo de caso, essa pode ser considerada uma prática comum, visto que: Nada impede que o pesquisador, em estudo de casos, inicie a investigação com uma pesquisa qualitativa e não obstante, se necessário, finalize a investigação validando as evidências obtidas por meio de uma pesquisa quantitativa. Este tipo de pesquisa em que se mesclam métodos de pesquisa é chamada triangulação metodológica, ou, mais recentemente, de mixed- methodology, baseada no uso combinado e sequencial de uma fase de pesquisa quantitativa seguida de uma fase qualitativa, ou vice-versa. A combinação metodológica é considerada uma forma robusta de se produzir conhecimentos, uma vez que se superam as limitações de cada uma das abordagens tradicionais (qualitativa e quantitativa) (FREITAS E JABBOUR, 2011, p.9).

Além disso, Duffy (1987 apud NEVES, 1996) aponta os benefícios da combinação entre os métodos qualitativos e quantitativos. Eles são:

1. Possibilidade de congregar controle dos vieses (pelos métodos quantitativos) com compreensão da perspectiva dos agentes envolvidos no fenômeno (pelos métodos qualitativos);

2. Possibilidade de congregar identificação de variáveis específicas (pelos métodos quantitativos) com uma visão global do fenômeno (pelos métodos quantitativos);

101 3. Possibilidade de completar um conjunto de fatos e causas associados ao emprego de metodologia quantitativa com uma visão da natureza dinâmica da realidade;

4. Possibilidade de enriquecer constatações obtidas sob condições controladas com dados obtidos dentro do contexto natural de sua ocorrência;

5. Possibilidade de reafirmar validade e confiabilidade das descobertas pelo emprego das técnicas diferenciadas (NEVES, 1996, p.2).

Ainda sobre a escolha metodológica, Stake (1994) afirma que alguns estudos de caso podem ser qualitativos, alguns não, uma vez que cabe aos pesquisadores a escolha de desenvolver esse tipo de estudo bem como a maneira de fazê-lo.

Além do tipo de abordagem que pode ser selecionada pelo investigador, existem algumas estratégias que podem ser utilizadas para o desenvolvimento de um estudo de caso. Na figura a seguir, Johansson (2003) destaca como diferentes estratégias podem ser contempladas para a construção desse tipo de pesquisa.

Figura 9: Diferentes estratégias no Estudo de Caso (JOHANSSON, 2003, p.3)

Segundo a figura destacada acima, podemos observar a existência de diversas estratégias que podem ser utilizadas para o desenvolvimento de estudo de caso. Elas são: a

102 lógica/ argumentação, a interpretativa- histórica, a qualitativa, a correlacional, a experimental e a simulação.

Conforme Johansson (op.cit), a pesquisas qualitativa e interpretativa têm em comum uma abordagem holística para o desenvolvimento do tema de pesquisa, mas com diferentes perspectivas temporais. A pesquisa correlacional, por outro lado, compartilha com a pesquisa qualitativa ao focalizar a ocorrência natural das circunstâncias, mas é dependente dos dados quantitativos. Já a experimental também é caracterizada por sua dependência pelos dados quantitativos, mas apresenta como exigência que o pesquisador possa ser capaz de manipular variáveis isoladas de forma controlada e manipulada. Por sua vez, a argumentação lógica – que inclui, por exemplo, análise de sintaxe espacial – desenvolve ações simuladas com ênfase na abstração. Por fim, a pesquisa interpretativa-histórica é dependente dos construtos lógicos da interpretação.

Por ser possível a combinação dessas diferentes estratégias, Johansson afirma que o estudo de caso pode ser denominado de meta-método. Além disso, o autor desenvolveu um esquema que retrata como o estudo de caso pode ser analisado e pesquisado, levando em consideração a complexidade do mundo, como podemos observar na figura abaixo:

103 Figura 10: A análise do estudo de caso por diferentes estratégias (JOHANSSON, 2003, p.4).

Por meio desse esquema, Johansson (op.cit) considera que um estudo de caso normalmente focaliza a história em um caso, levando em consideração o contexto, a partir da utilização de múltiplas variáveis e qualidades, que podem ser descritas por meio de três estratégias: explicativa, experimental e redutora.

A estratégia "explicativa" é utilizada em oposição a "experimental", que é uma unidade de análise de algumas variáveis isoladas, já a estratégia "redutora" é caracterizada por muitas unidades de análise e algumas variáveis (JOHANSSON, 2003).

Ainda para Johansson, a relação entre o estudo de caso e a história requer atenção especial. Ao desenvolver estudo de caso, o pesquisador desenvolve uma metodologia de estudo que se insere no âmbito das Ciências Sociais, sendo que um dos pré-requisitos para o desenvolvimento desse tipo de pesquisa é a contemporaneidade, característica dessa ciência. Além disso, o autor assevera que o objeto de estudo possui um contexto próprio e um contexto de utilização que podem ser separados no tempo, mas que muitas vezes são

104 igualmente importantes para a compreensão do caso estudado. Dessa maneira, estudos de caso podem, muitas vezes tornam-se mais ou menos estudos de caso histórico.

No item a seguir, propomos estender nossa discussão sobre como se deu o desenvolvimento do estudo de caso, abordando sua origem.