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Histórias de Vida

1. Pessoas/espaços marcantes

Pedro - A minha infância pode dizer-se que foi por um lado bastante securizante, foi muito protegida pela minha família e ao mesmo tempo beneficiei daquilo que se pode dizer uma "socialização de rua", isto é, ao mesmo tempo que havia uma força que me obrigava a estar no meio da família defendido e outra que eu fugia para a rua para brincar com os meus colegas. E era aí que nós nos socializávamos, portanto pode dizer-se que construi toda a minha infância, embora vivendo no Porto, em meio rural.

Na zona de Ramalde era uma zona em que quase não haviam casas, eram tudo campos, andávamos por longa extensões de terreno para jogar à bola e com pessoas de diferentes sítios de Ramalde.

meus pais eram operários

Luísa - Nasci e vivi até aos 15 anos no centro da cidade do Porto, na Praça da República e num aglomerado de casas a que chamam «ilha»;

A minha família restrita era composta pelos meus pais e irmão mais velho existindo ainda uma família alargada composta por todos os vizinhos.

É esta ideia de grande família por um lado e de sentimentos de liberdade e de alegria pelo outro que me fazem sentir bem, sempre que recordo a infância. Guardo na memória as quentes noites de Verão em que os vizinhos se juntavam no espaço comum a cantar e a dançar; as brincadeiras no jardim; os odores das flores; as festas populares; o despertar dos primeiros jogos amorosos...

Entretanto o Bairro continuava a ser o meu porto seguro, o meu parque infantil e o espaço de solidariedades.

Jorge - O meu pai era pintor de automóveis a minha mãe contínua numa escola primária em Gaia. Vivíamos no Porto, onde eu ficava em casa dos meus avós maternos. Era o seu primeiro neto. Ao longo dos anos mantive uma relação privilegiada com aquela casa, com aquela rua e com aquela vizinhança.

Aos 4 anos matricularam-me no Jardim-Escola João de Deus coisa rara no tempo e praticamente inédita para um rapazinho proveniente de uma família tão modesta como a minha. Aprendi a 1er pela cartilha maternal, o que acabou por ser uma mais valia que rendeu os seus juros com a minha entrada para a escola primária.

Marta - Fui a oitava de nove irmãos e a última das cinco raparigas. O meu pai era construtor civil (diplomado, como ele insistia em acrescentar, para se diferenciar dos que não eram). Começou por ser empregado de escritório do meu avô (a empresa de construção Soares da Costa), apaixonou-se pela minha mãe, e ela por ele (tratou-se, sem duvida, de um casamento de amor), e casaram. O meu pai criou a sua empresa [...] e vieram viver para Gaia. A minha mãe fez só a quarta classe, embora os irmãos estivessem afazer cursos universitários quando o meu avô faleceu, tinha a minha mãe 15 anos: na família, achava-se que as mulheres não precisavam de estudar (desgosto que a minha mãe sempre teve).

Lembro-me de mim pequenina, antes de ir para a escola: sobretudo nos dias frios, de sol e céu azul, que sempre adorei ver, de dentro da casa quentinha e de janelas ressoadas; sobretudo da azáfama do natal que nos envolvia a todos qualquer que fosse a idade - toda a gente fazia qualquer coisa, desde o grande presépio, que sempre fazíamos, as canções que se passavam à máquina para todos cantarmos, ao presépio, na noite de Natal.

Lembro-me, depois, de estar mortinha por ir para a escola e de, ao primeiro dia, me ter arrependido de alguma vez ter pensado assim.

Eu era a menina mais novinha e era muito afectiva. Lembro-me de mim enroscada à minha mãe, quase sempre que podia, e lembro-me dos mimos da minha mãe. Com o meu pai era diferente (era pai), mas um e outro nunca me bateram ou ralharam muito (com outros irmãos, às vezes batiam e ralhavam; penso e ouço dizer que eu era muito bem comportadinha). É verdade que me recordo na infância como sendo muito bem tratada pelos meus pais e irmãos: enfim não era a mais nova mas era a rapariga mais novinha (costumo relacionar tudo isto com o facto de, ainda hoje, ser a única a ser chamada com diminutivo). Uma outra pessoa me protegia e me queria especialmente: a minha tia Ritinha, com quem dormi até aos treze anos. Era ela que me levava à escola primária, juntamente com a minha irmã. A sua simplicidade e abnegação, quase franciscanismo, sempre me marcaram muito.

Inês - A minha educação na infância foi tradicional, visando os valores humanitários e a responsabilização de atitudes e valores na postura da vida.

Beatriz - Fui educada pelos meus pais, sendo afilha mais velha de um casal com quatro filhos.

Os valores que pautaram a minha educação foram a solidariedade para com a família mais próxima, a responsabilidade, a aceitação da autoridade dos mais velhos, o espírito de sacrifício e a valorização do trabalho.

A minha mãe, pessoa determinada e empreendedora, tinha sempre imenso trabalho e mantinha uma relação com os filhos marcada por uma autoridade incontestável e uma afectividade contida. Eu, sendo afilha mais velha e única rapariga, era o seu braço direito nas múltiplas tarefes que tinha a seu cargo.

O meu pai , por seu lado, embora não fosse muito autoritário, também não era muito dado a manifestações afectivas.

Aquilo que mais me marcou na infância foi o facto de quase não ter tido tempo para brincar, ocupada que estava com as tarefas que me atribuíam e que me espoliaram do direito de viver a minha infância. Nasci numa aldeia transmontana

Diogo - Infância reveste-se sempre de um carinho especial. [...] As brincadeiras de faz-de-conta, a descoberta de um mundo ainda tão pequenino: os carreiros de formigas nos recantos alvos da cal da parede, os caracóis que subiam e desciam muros e folhas de plantas, as nuvens de mil formas que iam para longe... A educação era saudável: com algumas regras, sem grandes exigências.

Francisca - Nasci numa aldeia transmontana onde vivi até aos 9 anos. Sou a mais velha de 5 irmãos. Fui criada com os meus pais e irmãos, junto dos meus avós e muitos primos e primas.

Apesar da minha família não ser abastada, era uma família já escolarizada (não há na família alargada, nem mesmo ao nível dos avós e bisavós, pessoas analfabetas, o que era significativo naquela altura). O meu avô paterno gostava de juntar os netos e contar histórias, especialmente retiradas da Bíblia.