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Ser ou não do bairro

Das 55 pessoas inquiridas, 35 são do bairro e 20 nunca lá viveram. De entre as que moram ou moraram no bairro, a sua ligação a este parece de uma grande consistência. Com efeito, as três pessoas que têm estadias mais curtas são três homens, por motivos pessoais diversos: Júlio, um jovem crescido na grande Lisboa que, ainda adolescente, fugiu de casa e após um período de vida na rua, veio ‘parar’ ao bairro com 15 anos, onde vive desde 2004; o Ermelindo, em trajeto de imigração que no início da sua estadia em Portugal viveu em vários lugares, tendo estabilizado durante cinco anos no bairro. Trazia já o hábito de dinamizar a juventude em torno de eventos musicais e da expressão plástica, que desenvolveu além das outras atividades que mantém até hoje na Associação, mesmo já não morando no bairro há cerca de oito anos. Finalmente o Renato, português ‘branco’, veio morar para o bairro em 2011 por escolha de um ambiente mais informal e humanizado, em oposição aos prédios, que considera estarem cheios de regras e onde predomina o anonimato.

As restantes pessoas deste grupo têm uma residência mínima de treze anos13, o que aponta

para uma relação profunda e duradoura com o bairro, que é mantida por via dos laços criados, na sua maioria por consanguinidade. Excetuando cinco pessoas, a larga maioria do grupo das pessoas com relação de residência atual ou passada no bairro referem ter familiares diretos de várias gerações: filhos, tios, primos, irmãos, pais, netos. Como a imigração se faz por via da pessoa individualmente ou com o cônjuge e filhos, a mudança de residência, em família nuclear, está na origem de deixarem de ter familiares no bairro; a emigração dos filhos, caso recorrente, é outro motivo da ausência de família no bairro. No entanto, estas referem os laços com outras pessoas do bairro, que se mantêm mesmo após terem mudado de habitação. Outras apontam a casa que seus pais construíram e que é/será deles. Guardam, assim, uma relação à Cova da Moura ancorada num património herdado que além de afetivo, também é físico.

Quero ressaltar que entre as pessoas do bairro inquiridas, há três pessoas que são ‘brancas’: uma das mais antigas moradoras do bairro, Eliana, que veio do interior norte de Portugal, que integrou o grupo de portugueses que vieram na vaga do êxodo rural para as cidades e estrearam este, como tantos outros bairros autoconstruídos; o Renato, o morador mais recente já referido, e a Rosa que tendo vivido e criado família num ambiente socioeconomicamente favorecido, veio mais tarde a encontrar-se em Cabo Verde com o povo e a cultura daquele país, onde encontrou aquele que é hoje seu marido. Ao regressar a Portugal, em 1998, Rosa foi morar com este novo amor, na Cova da Moura e continuar o trabalho com as crianças caboverdianas, iniciado naquele país.

Género e idade

O estudo abarcou pessoas dentro do leque de idades que vai, exatamente, dos 20 aos 69 anos. Conforme se pode ver na tabela 1, a maioria das pessoas são mulheres, os homens correspondendo a pouco mais do que um terço de todos os inquiridos, proporção curiosamente parecida quer se trate das pessoas com ou sem relação de residência com o bairro. A relação está de acordo com a feminização dos trabalhos nas áreas sociais, embora haja ali a preocupação em incluir os dois géneros, a que não será alheio o facto de ter inquirido a taxa relevante de um terço de homens. Já quanto às idades, também se nota uma                                                                                                                          

13Das pessoas que já não moram no bairro, nove não referiram quando saíram. No entanto, cremos que os dados

certa homogeneidade entre os dois grupos, na medida em que predominam as pessoas com idades inferiores a 40 anos. Estamos, portanto, perante um grupo jovem, provavelmente associado a uma ainda recente (desde os anos 90) exigência regulamentar de atribuir determinadas tarefas profissionais a pessoas certificadas para o efeito, ou com níveis de escolaridade mínimos.

Nota-se igualmente que de entre as seis pessoas com cargos associativos que se disponibilizaram para responder ao inquérito, também três são de idade inferior a 40 anos. Quando foram aplicados os inquéritos, tinham acontecido eleições para a nova direção, que fizeram entrar novos e jovens elementos do bairro.

Não estão assinalados três elementos que indicaram ser suplentes. São de diferentes faixas etárias e esta condição, sinaliza a sua potencial disponibilidade para assumir outras funções, caso seja necessário.

Tabela 1 – distribuição das pessoas inquiridas por género e por idade. Entre parêntesis estão contabilizadas as pessoas com cargos associativos.

Habilitações escolares e académicas

Pela tabela 2 percebemos que há uma aposta significativa numa qualificação ao nível universitário das novas gerações. Da população ‘do bairro’, dez têm no mínimo frequência universitária, cinco dos quais estão atualmente a estudar, acumulando os seus estudos com a sua atividade na Associação (uma delas é voluntária, os outros trabalham e estudam).

idades 35 ‘do bairro’ 20 de ‘fora do bairro’

mulheres homens mulheres homens

total 20-29 4 (1) 5 (1) 4 4 17 (2) 30-39 7 5 (1) 3 15 (1) 40-49 5 (1) 4 1 10 (1) 50-59 3 (1) 1 2 6 (1) 60-69 2 2 2 6 NS 1 (1) 1 (1) Total 22 13 13 7 55

escolaridade

35 inquiridos ‘do

bairro’ 20 inquiridos de ‘fora do bairro’

mulheres homens mulheres homens

total nenhuma 1 1 até 4º ano 4 2 6 até 9º ano 8 (2) 5 1 13 (2) até 12º ano 3 (1) 2 (1) 2 1 8 (2) frequência universitária 2 1 2 5 licenciatura 4 (1) 7 2 13 (1) mestrando/a 1 2 (1) 1 4 (1) mestrado 1 1 2 doutoramento 2 2 Total 23 12 13 7 55

Tabela 2 – distribuição das pessoas inquiridas por género e por escolaridade. Entre parêntesis estão contabilizadas as pessoas com cargos associativos.

Nos cursos escolhidos predominam, em ambos os grupos com ou sem ligação de residência com o bairro, os relacionados com intervenção social, por vezes explicitamente em contextos de vulnerabilidade: serviço social, intervenção social, reabilitação e inserção social, desenvolvimento social, psicologia forense e da exclusão social; outros remetem para a instituição educativa: ensino básico, educação de infância, ensino especial; finalmente aparece um leque de cursos em áreas diversas das humanidades e ciências sociais como sejam: filosofia, comunicação e cultura, gestão, arquitetura, economia, política social. Não será de estranhar que, entre aqueles que ‘não são do bairro’ predominem as habilitações de nível universitário. Tal corresponde, em grande medida, às exigências regulamentadas de profissionais com aquele grau de certificação para poderem desempenhar determinadas funções.

Várias pessoas mencionam o Moinho no apoio à escolaridade em idade adulta, que ocorre quer através do encaminhamento e informação sobre as escolas e datas em que se podem inscrever, bem como através da promoção de cursos com componente escolar. Em especial, todos os anos se realiza o curso de alfabetização. Recorde-se, nomeadamente, que muitas pessoas vieram de Cabo Verde sem nenhuma ou com uma parca escolaridade. No âmbito de uma oficina com jovens do bairro efetuou-se uma recolha de testemunhos de vida a pessoas emblemáticas, entre os primeiros habitantes. Foi um trabalho desenvolvido em 2006 no âmbito do projeto Sabura – projeto de valorização e promoção do património cultural do bairro. De entre os catorze testemunhos, a larga maioria tinha uma escolaridade em geral até

à 4a classe. Faz então sentido o testemunho de Lucinda, aquando do inquérito: ‘quando fiz a

4a classe [no Moinho] fiquei muito contente. Ajudaram-me. Eu tinha lutado tanto em Cabo

Verde e não tinha conseguido’.

Trabalho prestado

Todas as pessoas inquiridas são prestadoras de um trabalho à Associação com regularidade, pelo menos semanal. Se de entre as pessoas ‘do bairro’, a sua prestação se faz na condição de voluntário ou remunerado, é nas pessoas que não são do bairro que a dispersão se faz notar. As três mulheres voluntárias deste grupo apresentam situações muito diferentes entre si: a Anne Marie iniciou ainda nos anos 80 a sua colaboração voluntária na Associação, passou vários anos em situação remunerada e voltou, já reformada, a prestar voluntariamente apoio. A Elisa veio, por amizade, substituir uma pessoa doente num trabalho de catalogação bibliográfica, após o que decidiu prolongar e ampliar a sua participação que lhe ocupa atualmente dois dias semanais. Finalmente a Eunice, tendo conhecido há vários anos este bairro e esta Associação por ter vindo emprestar panos típicos de Cabo Verde, onde vive, resolveu oferecer um pouco do seu tempo no apoio pós-escolar às crianças, uma vez que está em Portugal para tratamento médico e sabendo que tal lhe faz bem.

Entre as pessoas do bairro, o voluntariado parece entrar numa lógica de troca, não sujeita a uma contabilização, mas tratando-se mais de um modo de relacionamento. É o caso, por exemplo, de Moisés que, reformado, foi fazer um curso profissional no âmbito do qual teve de fazer um estágio na área de informática. Escolheu o Moinho que não conhecia, mas era perto da sua casa. O estágio deu-lhe a conhecer esta casa de que gostou e onde encontrou um lugar para continuar a dar apoio em informática.

35 inquiridos ‘do

bairro’ 20 inquiridos de ‘fora do bairro’

mulheres homens mulheres homens

total voluntário/a 2 5 3 10 trabalhador/a remunerado 20 (4) 8 (2) 9 4 41 (6) estagiário/a 3 3 investigadora 1 1 total 22 13 13 7 55

Tabela 3 – distribuição das pessoas inquiridas por género e por condição na Associação. Entre parêntesis estão contabilizadas as pessoas com cargos associativos.

Ser membro

Tal como referido acima, alguns mencionam que são, ou que familiares seus foram, membros fundadores. Noutros, desta geração que esteve na base da criação do Moinho, ser membro, enquanto condição formal, torna-se secundária. Algumas não se lembram se são, ou nem se lembram a que corresponde essa designação (Berta, por exemplo). Para os mais novos a situação é diferente, parecendo ter a noção clara de quando se tornaram membros, que normalmente corresponde ao momento em que se inserem numa atividade formalizada da Associação, enquanto formandos de um curso ou quando estabelecem um vínculo laboral. Tal acontece normalmente, mas não sempre, após um vasto percurso de ‘frequência’ de atividades no Moinho, em que por vezes assumem papéis de liderança. O trajeto de participação no Moinho irá ser desenvolvido posteriormente.

No grupo dos de ‘fora do bairro’ apenas 5 são membros. Destes, dois são-no desde que iniciaram a sua atividade voluntária do Moinho, no período inicial da sua história, anos 80 e início dos anos 90. As restantes três membros (mulheres) inscreveram-se no momento em que iniciaram um desempenho profissional específico, o que faz interrogar se assumiram a sua nova função numa perspetiva que além da profissional comporta uma dose de militância associativa.

Ligação em família à Associação

Os laços familiares à Associação merecem um destaque. Foi perguntado às pessoas se algum familiar frequenta atividades do Moinho. Apenas sete pessoas, das trinta e cinco que moram ou moraram no bairro, disseram que nenhum familiar frequenta atividades no Moinho, um deles tendo acrescentado ‘Já não’ (Nuno). Embora não tivesse desenvolvido, creio que terá a ver com a idade dos familiares, pois entre as atividades mais mencionadas estão as de apoio à infância, juventude, mas também aos idosos – que vão da creche (para bebés), ao apoio escolar (Bem passa ku nós, para jovens adolescentes em 2º e 3º ciclo), seguidas de outras como desporto, teatro, dança, música, grupo de batuque ou grupo do Kola San Jon, Espaço Intergeracional. A morada atual fora do bairro, associada à ausência de familiares ali

residentes, também pode afastar os seus familiares da frequência da Associação. Por outro lado, este ‘Já não’ do Nuno remete para uma situação em que houve, tal como poderá haver futuramente, procura de atividades desenvolvidas no Moinho da Juventude, conforme testemunham sobretudo jovens adultos que falam em ‘oportunidades que surgem’ (Filipa). Por contraste, nenhum inquirido não morador do bairro afirmou frequentar qualquer atividade. Nota-se, então, uma grande ancoragem da Associação no bairro. Pelos inquéritos obtidos, as pessoas que promovem a Associação têm, na sua larga maioria, familiares a quem são dirigidas as atividades.

A própria promoção no Moinho parece assimilar-se a um ato familiar. Apesar de os discursos serem muito individualizados, cada pessoa conta o seu envolvimento com o Moinho da Juventude sem fazer referência a familiares também ligados a esta casa, excetuando um ou outro caso em que assinalam que os pais participaram na sua construção ou que já eram membros. No entanto, quer quando mencionam outros familiares que frequentam o Moinho, quer por ocasião de algum relato de um momento específico, notam-se fortes ligações familiares dentro da Associação. Entre as 55 inquiridas, 12 pessoas afirmaram ter familiares que assumem alguma responsabilidade, prestam algum trabalho, independentemente de serem ou não remunerados, no momento em que foram auscultadas. Estes foram ditos espontâneos ou, em alguns casos, são informações do conhecimento prévio da investigadora. Apesar de não ter sido introduzida uma pergunta sobre a dimensão familiar na implicação com a Associação, há situações em que a ligação ao Moinho parece dar continuidade a um gesto que já foi de familiares entretanto idosos ou falecidos.

A Associação Cultural Moinho da Juventude

Construir e construir-se (n)a Associação

Através das respostas à pergunta sobre o modo como iniciou a sua participação no Moinho da Juventude, atravessamos praticamente toda a história desta casa, conforme se pode ver na tabela 4, que se segue.

Obras mais significativas (mencionadas nos trajetos pessoais)

Anos 80 Anos 90 Anos 2000

Grupo de batuque:

batuque espontâneo na fila da bica de água biblioteca primeira sede compra e reconstrução da segunda sede ‘atividades no bairro’ 1ªs equipas de futebol e dança Núcleo de jovens: jovens responsáveis intercâmbios 1º grupo de RAP intercâmbios Desporto: grupo de basquete grupos de futebol (masculino e feminino) Cursos de formação: Mediadores interculturais economia de bairro mães adolescentes Grupo do Kola San Jon

Creche familiar Berçário

Estúdio de música e criação de cd’s

Dança: Wonderfull KovaM Criação e participação em filmes

Biblioteca muda de ‘mãos’ Centro Intergeracional de apoio a Idosos Cursos de formação: Agentes de interligação, Peritos de Experiência Bairros Críticos (processo de qualificação) Tabela 4 – etapas da vida da Associação em que participaram as pessoas inquiridas.

Há pessoas que estão presentes nesta história desde os primeiros encontros, por exemplo, musicais: o grupo de batuque teve início espontaneamente enquanto as mulheres esperavam na fila da bica de água, antes sequer de se pensar em criar a Associação. Várias destas pessoas são ainda hoje participantes assíduas e ativas:

‘No início foi duro porque no começo a Junta de Freguesia tinha oferecido uma sede na rua de S.

Tomé. Depois fecharam a sala [...]. Fomos à Junta de Freguesia muitas vezes mas não nos queriam receber. Mas com a Lieve que é mulher batalhadora, comprámos esta barraquinha. Não havia nada. Com todos a ajudar um bocadinho... uns davam 500 escudos, uns davam comida, outros mão-de-obra... cada um levava um prato para comer e um banquinho para sentar. Por isso falamos do djunta mon’ (Lucinda).

‘Antes eu trabalhava aqui na construção... Esta casa aqui fui eu que construí desde a primeira pedra. Quando era preciso ajudar na construção do Moinho, também cá estava. Quando se começou a fazer a festa do S. João [Kola San Jon] é que passei a frequentar mais o Moinho. Conheço o Moinho de alto a baixo. Ia ajudando. Não recebia nada! Era outra época. Hoje o Moinho tem-me apoiado bastante.’ (Tomé).

‘O batuque veio desde o início. Algumas pessoas entretanto já morreram. Passámos mal para construir o Moinho. Fizemos espetáculos e o dinheiro era todo para ajudar a construir a Associação’ (Berta).

‘Iniciei a minha participação em 1988 ainda na rua de São Tomé e Príncipe antes de ser oficialmente uma IPSS. Fiz parte da direção e trabalhei durante dez meses, como OTJ [programa de Ocupação Temporária de Jovens]. Regressei em 1992 como monitora do ATL [atelier de tempos livres]’ (Neuza).

A participação e o envolvimento que tiveram foram diversos. Depreendemos destes relatos que a Lucinda se envolveu na edificação da Associação de forma global, participando de reuniões, tomadas de decisão e outros e, claro, na construção do próprio edifício. Já Tomé parece ter estado mais envolvido no processo de construção, num processo de entreajuda coletiva, o djunta mon.

Mas de entre os ‘primeiros’ também se contam dois que são de fora do bairro, e que:

‘Com voluntariado, primeiro através do conhecimento da Lieve e do Eduardo. Um voluntariado pontual no verão, em férias com um grupo de estudantes. Depois entrei no curso do Horizon14, no

primeiro projeto financiado. Construiu-se o espaço jovem, havia muita formação na área da construção civil.’ (Jorge)

‘Pela amizade com a Lieve, fui conhecendo o bairro, as primeiras atividades da Associação nas quais pouco a pouco me fui integrando, assumindo cada vez mais responsabilidades na área da formação’ (Anne Marie)

Se Anne Marie afirma, com orgulho, que está entre os primeiros membros da Associação, outros têm uma presença tão consistente nas atividades que nem se lembram se são ou não membros. Entre os mais novos, vários referem, com naturalidade que os pais eram ou são                                                                                                                          

14 Programa da Comunidade Económica Europeia, como era então designada a União Europeia, que financiava projetos de formação profissional e escolar para jovens.

membros, que ajudaram a construir a Associação ou que participaram nas primeiras atividades.

Também há testemunhos de participação infantil e juvenil, do início dos anos 80. Desde logo porque não havia outro tipo de apoio à infância que não a escola neste bairro. O Ângelo comenta:

‘Sem a Associação, não sei como é que isto estava, andávamos pé no chão [descalços], os nossos

pais iam trabalhar e nós ficávamos por aqui largados. Só quem não mora aqui é que não sabe o que isso é porque o pessoal todo da minha idade e mais novos andámos todos aqui na Associação. Quem é que ia nos agarrar?’

e conta a sua história pessoal:

‘O Moinho era lá na minha rua, tinha um espacinho muito pequenino. Nós é que demos o nome

de ‘Ninho de Jovens’. Sabíamos que era o Moinho mas queríamos dar um outro nome, mais nosso. Trabalhei lá, pintei, dei todo o contributo. Esteve fechado, depois tornaram a abrir. Eu vi a porta aberta e fui lá espreitar. Estavam duas monitoras a limpar e fiquei logo a ajudar a limpar’. (Ângelo)

Noutra ocasião que não a do inquérito, o Ângelo comentava a história do bairro e da Associação: ‘todos aqui no bairro já deram o seu contributo para esta casa, todos já deram aqui a mão. Todas as pessoas já puseram do seu trabalho’ (notas e conversas, nov 2011). Várias contam que em crianças participavam nas ‘atividades no bairro’, na biblioteca, no futebol: ‘[comecei em 1984] era voluntária na biblioteca’ (Ivone). Ou, por exemplo o Carlos conta como se iniciou a sua participação no Moinho: ‘Desde os meus 6 anos joguei à bola e dancei’ e, mais adiante na conversa, completa: ‘Eu ajudei o Moinho a conquistar as taças e a ser conhecido por mérito.’ Nesta afirmação ele inscreve-se na história desta Associação de uma forma ativa e não como mero ‘beneficiário’. Aliás, esta afirmação é feita num momento em que ele explica o espírito de ajuda mútua: ele explica que foi ajudado pelo Moinho num momento mais recente da sua vida, mas apresenta-o como um processo natural de intercâmbio, tal como ele ajudou há uns anos o Moinho a criar um lugar de reconhecimento.

Aparecem também testemunhos que denotam a estreia ou até mesmo a criação de uma dada atividade, como a Patrícia que conta com alegria que ‘Comecei no grupo de jovens adolescentes, com o primeiro grupo de dança e primeiro grupo de jovens e primeiro grupo de jovens a fazer intercâmbio. Tínhamos 15 ou 16 anos’. Ou a Laura, que diz ‘comecei a frequentar a Associação quando o Moinho abriu a sala de jardim-de-infância e a minha filha entrou nesse ano para uma sala do jardim de infância’.

O Telmo, por outro lado, conta a sua entrada no Moinho, em que sobressai a criação: ‘Com o basquete. Tínhamos um grupo e viemos falar com o Jacinto. Como eu era o mais velho, fiquei o responsável.’ Desde então, o Telmo tem vindo a promover o basquete, é treinador dos jovens, levando já no Moinho cerca de 10 anos (intercalados) desta atividade em regime de voluntariado, de que é coordenador geral. Formou-se e tem trabalhado na área da educação e da mediação, mas frequenta atualmente a universidade para aprofundar ‘Gestão do Desporto’.

Também é o caso do Ermelindo que se iniciou com ‘a participação num grupo de RAP. Era responsável do grupo até 1998, quando mudei [de casa para outro bairro]. Em 2003/2004 vim para trabalhar. Fui falar com a Lieve. Eu estava a fazer um curso de web design com o Emprego Apoiado, fiz 4 meses de estágio num bairro com população cigana. Em Setembro de 2003 fui para essa formação em contexto de trabalho. E em Janeiro de 2004, com o Edy e o Jorge, reconstruímos a sala. Foi preciso tirar a parede do meio, partimos outra parede e começámos a montar a sala de informática, com o Miguel. Eu vim abrir a sala de informática