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Cidadania Participativa

O projeto Cidadania Participativa corresponde a um trabalho de intervenção social e comunitária. O projeto continuou, mas a apresentação e análise aqui que lhe são feitas dizem respeito apenas ao seu primeiro ano de existência, 2009. No texto que o formaliza são sumariadas as ideias-chave, que passo a transcrever:

‘O Contrato-Programa com o Governo Civil e com a Comissão para a Igualdade de Género concretiza um sonho de envolvimento de 2 grupos marginalizados no nosso bairro: a população mais idosa e @s (ex-)reclus@s, mobilizando os jovens para este objetivo. [...] A intervenção a ter lugar baseia-se na descoberta de capacidades adormecidas ou escondidas, revelando as potencialidades existentes, incentivando a complementaridade, encaminhando para a sinergia: “Um outro mundo é possível, se a gente quiser” (p. 3)’.

Mais concretamente, o projeto visa toda a área do bairro, para o que foi dividido em sete zonas. Cada uma delas foi trabalhada por uma equipa territorial constituída por três pessoas – um/a estudante ou técnico/a académico da zona; um/a técnico/a de experiência ou agente de interligação da zona; um/a voluntário/a externo/a ao bairro – que envolveu idosos e ex- reclusos (moradores da zona respetiva) e abordou vários temas propostos. Desta forma, pretendia-se responder aos seguintes objetivos, estabelecidos no contrato-programa do projeto:

1. Promover a cidadania no Bairro da Cova da Moura

2. Implementar a Teoria de Interligação em conjunto com os jovens (Delinquência = falta de “link”, ligação):

Ligação com o próprio corpo e as emoções Ligação com a própria cultura

Ligação com a cultura dos outros Ligação com os objetos

Ligação com a natureza

3. Promover a capacitação dos moradores do Bairro da Cova da Moura ao nível de 3 temas: Promoção da igualdade de Género

Prevenção da Violência Doméstica e da Violência no Namoro Participação cívica nos atos eleitorais (recenseamento) e 2 grupos:

Valorização da população mais idosa Interligação com @s reclus@s e ex-reclus@s

Os idosos, os reclusos e as famílias mais carenciadas ou em dificuldade (este grupo posteriormente incluído como foco de atenção no projeto) eram acompanhados nas áreas em que se verificava necessitarem de apoio: legalização de documentos, acesso a cuidados de saúde, educação, mercado de trabalho, proteção social, entre outros. Foi realizada uma abordagem particularizada em função da situação pessoal e familiar, por exemplo, a marcação ou o acompanhamento de pessoas a consultas médicas, ou ajudar a pessoa a reunir os documentos necessários para a sua legalização.

Cada equipa de zona efetuou uma observação e análise da sua área de residência a partir da técnica swot, acrónimo em inglês para as dimensões: forças, fraquezas, oportunidades e ameaças. A presença privilegiada, em cada equipa territorial, de um morador da zona respetiva, contribuía para um conhecimento aprofundado das pessoas, do lugar e suas dinâmicas. A partir de então foram estabelecidas metas para cada zona e desenharam-se propostas para eventos comuns, a realizar com todas as pessoas envolvidas no projeto.

Também contribuiu, para a proposta e realização de atividades, a presença de alguns voluntários que disponibilizaram o seu saber e trabalho: dois jornalistas que se propuseram fazer um livro com memórias do bairro, um fotógrafo que pretendia fotografar o bairro e cujas exposições, no Chiado e em Beja, foram motivo de visita e passeio de todos os envolvidos no projeto, uma estagiária em teatro que realizou ensaios para uma peça com os idosos sobre a história do bairro.

As atividades desenvolvidas foram de ordem muito variada, passando pela animação sociocultural valorizando pessoas, espaços, comércio de cada uma das zonas em separado ou em conjunto, ou dinamizando um dos temas propostos. Um grupo de formandos de um curso de Agentes de Interligação realizou o estágio neste projeto, integrando-se nas equipas de zona. No decorrer do curso, criou-se um grupo de teatro-fórum que encenou uma peça de teatro sobre a violência doméstica e no namoro. A peça foi apresentada em espaços públicos das zonas do bairro, e constituiu uma base importante para trabalhar as relações de género em debate coletivo entre os moradores.

Foram efetuadas melhorias urbanas no bairro através de processos comunitários. Em especial, e com o apoio da Junta de Freguesia que forneceu os materiais, foi possível fazer uma escada numa ladeira íngreme onde por diversas vezes houve quedas e acidentes. Reuniu- se um conjunto largo de moradores que fizeram a obra, seguindo a tradição do djunta mon. A recolha de testemunhos sobre a história da construção do bairro também passou a fazer parte do trabalho das equipas.

As equipas de zona foram apoiadas e acompanhadas pela coordenação do projeto que regularmente (no mínimo, mensalmente) se reunia com cada uma. Havia, sobretudo que atender aos casos individualizados, por vezes complexos.

Quinzenalmente toda a equipa do projeto se juntava para uma sessão de duas horas, aproximadamente, em que eram debatidos os assuntos do projeto, em especial as questões que se levantavam às equipas de zona, analisando e pensando em conjunto como lidar e resolver, e a organização de iniciativas comuns, como foi o caso de um churrasco em Monsanto, de uma excursão a Beja para ver a exposição de fotografias, das apresentações da peça de teatro- fórum em cada zona, ou de um festival gastronómico para angariação de fundos, simultâneo com a construção das escadinhas da rua B.

Apresentarei seguidamente uma leitura da dinâmica observada no decorrer deste projeto com recurso à terminologia desenvolvida por Sousa Santos (1993) e por Arriscado Nunes (1995), que distinguiram e definiram Estado e Sociedade Providência como duas lógicas distintas de proteção social. Procurei perceber os indicadores que apontam para cada uma das lógicas, uma de pendor mais administrativo e burocratizado e outra de cariz mais comunitário, potenciando relações e modos de agir existentes no bairro.

Sociedade providência

Desenvolver o trabalho no quadro da rede social e de laços que constitui a vida comunitária tem sido um dos princípios norteadores da ação no Moinho da Juventude. A origem do bairro é identificada como processo de entreajuda no enfrentamento das dificuldades e na criação conjunta de soluções aos problemas e obstáculos. Numa contextualização do trabalho a menção é feita, no caso do projeto Cidadania Participativa, através da referência a estes laços com que foi edificado o bairro: ‘construir num ‘djunta mo’ uma habitação condigna para acolher a família que ficou em África. [...] Mais de 5000 moradores colocaram aqui alicerces duma comunidade’ (ACMJ, 2008).

A descrição da ação a desenvolver e a argumentação reportam-se às redes sociais de apoio. Por exemplo, a meta a promover com este projeto apareceu ainda em 2008, sendo descrita pelo objetivo de ‘apadrinhar, em tandem12, pessoas em situação de risco ou solidão (financeiro,

psicológico) numa perspetiva de empowerment’. (ACMJ, 2009). Está-se, portanto, perante uma intenção de promover laços personalizados, similares a laços de parentesco (o apadrinhamento), assentes no carácter continuado do interconhecimento criado pela situação de vizinhança e, ainda, promovendo (através do empowerment) a capacidade de perceber e agir no bairro como uma unidade de pertença comunitária.

Pode assim, identificar-se um conjunto de características no trabalho desenvolvido que se reportam a uma atuação num quadro de sociedade providência, isto é, segundo uma lógica comunitária. Passo a sistematizar um conjunto daquelas que podem, talvez, ser consideradas as mais significativas.

. Recrutamento da equipa entre os moradores – residência

Como aparece na definição das intenções e na determinação das equipas, a escolha de trabalhar com pessoas do bairro é uma opção que representa uma condição e uma estratégia para cumprir os objetivos propostos, por exemplo o primeiro: ‘promover a cidadania no bairro’. Se o projeto define o seu público-alvo como sendo os grupos de idosos e de ex- reclusos, não é dada menor importância aos jovens, mesmo que na qualidade de profissionais: agentes de interligação ou técnicos de experiência. Há nesta atuação uma escolha por valorizar o fator vizinhança, pela residência no bairro, como, inclusive, na zona específica de intervenção. Esta particularidade constituiu um elemento importante dentro da própria equipa, referida com frequência nas reuniões em comentários do género: ‘muitas pessoas, se não fosse comigo, não se abriam. E naquela zona, às vezes preciso do sr. Teodoro porque a mim não me conhecem […] para ir falar com as pessoas é melhor ir um técnico ou voluntário com um coordenador, é mais fácil porque ele já conhece o bairro’ (Sysa, notas de campo, 22. 08. 2009).

Estamos, portanto, a falar de um vetor de integração da solidariedade primária assente na relação de cooptação, isto é, de partilha de uma área residência e, geralmente, de partilha de                                                                                                                          

12 conforme descrito anteriormente, o tandem corresponde a uma dupla formada por um técnico académico – psicólogo, assistente social, ou outro técnico de formação universitária – e um técnico de experiência. A dupla realiza o trabalho em conjunto.

uma vida de imigrante, sujeita a um conjunto de aspirações, condicionantes e vivências próprias.

O volume de trabalho exigido – de 24 ou 35 horas mensais – e a consequente remuneração não deixam que esta seja a condição profissional de cada um dos participantes. De modo geral as pessoas têm os seus trabalhos, que não raramente exercem no bairro, no comércio ou em serviços. As pessoas que trabalham no projeto mantêm, de certa maneira, as suas ocupações anteriores, a que acrescentam uma outra forma de estar no bairro e de participar na sua dinâmica.

. Função de mediação

No texto explicativo do trabalho dos agentes de interligação há um enquadramento do conjunto de dificuldades acentuadas com que se confrontam os imigrantes:

‘Contratos a prazo, situações de ilegalidade, insegurança e acidentes frequentes na construção civil e nas limpezas, confronto com uma cultura diferente, ausência do apoio estabilizador dos pais e avós que ficaram nos países de origem, preocupações com familiares que vivem as consequências das guerras em Angola, Guiné-Bissau, são alguns dos fatores que incentivam uma fuga no consumo e posterior abuso de álcool e drogas, com as inevitáveis e conhecidas consequências nos dinamismos pessoais e sociais, aumentando a delinquência infantil e juvenil’. (www.moinhodajuventude.pt/associacao/cursoAgentes.htm)

Por outro lado, o mesmo texto refere, adiante, as qualidades espontâneas de agir como 'mediadores informais'. Todo o trabalho de acompanhamento, de dinamização, de organização, é um trabalho de mediação entre vizinhos, familiares mas também – e talvez sobretudo – com instituições, todas aquelas que compõem o Estado Social, na resolução de problemas ou facilitação do acesso a direitos. Neste sentido, trata-se de potenciar e capacitar práticas de cuidado e acompanhamento já existentes na comunidade.

Estes dois elementos – recrutamento do essencial da equipa entre os moradores; e função de mediação – evidenciam uma estratégia que faz do próprio trabalho um processo de dinamização do bairro no seu conjunto, uns no papel mais marcadamente de recetores (idosos, nomeadamente) e outros com um papel mais ativo, potenciando capacidades e modos de agir já caraterísticos. Inclusive, contam-se entre os recrutados, três pessoas que são ex- reclusos, fazendo com que o próprio recrutamento faça parte do fator dinamizador. Outros elementos mostram sinais desta proximidade entre ‘destinatário e remetente’, em que a ação

se faz na consciência de se agir para o coletivo em que os benefícios e as dificuldades reportam a todos. Alguns deles são: desempenho em tempos e espaços que tocam a vida pessoal; o entusiasmo na referência ao ‘nosso bairro’; conhecimento profundo do ‘público’; indefinição entre o profissional e o ‘utente’; a vivência de vários momentos do projeto – reuniões, datas celebrativas – como rituais de comensalidade.

. Desempenho em tempos e em espaços que cruzam a vida pessoal

O trabalho de acompanhamento pessoal não se confina a um horário de tipo laboral, das 9h às 17h. Pelo contrário, não só pela natureza do trabalho como pelo modo complementar que em geral exerce na vida de cada pessoa, relativamente a outra atividade profissional, as suas tarefas são com frequência realizadas em horários extras. Fins-de-semana, finais de dia, ou a combinação de um dia da semana conveniente para cada elemento da equipa. Com frequência as pessoas conjugam a sua atividade no projeto com afazeres pessoais e familiares, ou relatam que durante o seu tempo privado estavam a passar numa rua onde mora um idoso ou qualquer outro morador para conversar com ele no quadro do projeto Cidadania Participativa. Uma das dinamizações consistia em levar o grupo de teatro ‘8 vidas’, formado pelo grupo de agentes de interligação, a apresentar duas peças de teatro-fórum sobre violência doméstica e no namoro. Aconteceu nalgumas situações que a ocupação do espaço, no exterior, implicou um corte, momentâneo, da rua ao trânsito. Ora tal não teria sido possível sem um ambiente de informalidade em que os organizadores sabem que podem gozar desse espaço, por também ser um pouco ‘deles’.

. Conhecimento e entusiasmo: o nosso bairro

É grande o conhecimento que toda a equipa tem do bairro e dos moradores. Muito do conhecimento diz respeito a conhecimentos pessoais, que podem ter longos anos, por vezes identificados por famílias (é o primo de, ou o filho de …), ou por gerações (‘ele é da minha criação, estou à vontade para falar com ele’ JS, notas de campo, 12. 08. 2009). Pelo contrário, uma moradora justificava que não conhecia nenhum ex-recluso porque ‘só tenho 2 anos no bairro’ (Simone, notas de campo, 22. 08. 2009).

A organização dos eventos ganha com o contributo que cada pessoa dá sobre a sua previsão de acolhimento de determinada atividade em função desse conhecimento. Por exemplo: para a organização do festival da gastronomia, foi apresentada uma proposta de folheto de

divulgação no bairro a discutir em grande equipa (do projeto). Algumas pessoas diziam, a partir de um conhecimento técnico: ‘um folheto nunca deve ter muito texto porque as pessoas deixam de ler’; mas outras, contextualizando o meio e as pessoas que o iam receber, contestaram: ‘mas as pessoas que estão paradas nos cafés gostam de ficar a ler e querem saber mais, por isso o folheto pode ter mais texto em consideração para com elas’ (Letícia, notas de campo, 23. 09. 2009). A opção recaiu em fazer um folheto com o texto mais explicativo. Há igualmente um conhecimento das dificuldades que estão agora em posição de apoiar e intermediar. É o caso, em especial, da relação com as instituições oficiais como Junta de Freguesia, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Segurança Social, etc. Há como que uma solidariedade com os que seriam apelidados ‘utentes’, aqueles com quem trabalham, por já terem experimentado pessoalmente aquelas dificuldades: sobre uma das instituições que impõe uma série de exigências e obstáculos para passar um documento, entre outros cobrando uma quantia – ilegal –, várias pessoas da equipa comentavam, com a zanga de quem estava familiarizado com a situação: ‘eles são corruptos’ (Bibia, notas de campo, 12. 08. 2009). Seria possível apresentar outros exemplos, como o trato das pessoas entre si pelo ‘nominho’, também designado ‘nome de casa’ e não pelo nome oficial, que consta na certidão, quer sejam pelas pessoas da equipa, quer sejam muitas das que apoiam.

. Indefinição entre o profissional e o ‘utente’

No seguimento destes aspetos referidos, nota-se que há com frequência uma confusão ou até reversibilidade de papéis entre quem é o profissional e quem é o ‘utente’ ou ‘beneficiário’, uma vez que muitos problemas que a equipa do projeto procura resolver ou facilitar são problemas que também dizem respeito individualmente aos membros da equipa. É comum, ao abordar- se uma qualquer temática no projeto, as pessoas comentarem por referência a situações pessoais que vivem ou conhecem (o meu irmão, o meu vizinho, a minha mulher, uma amiga, o meu pai, etc.). Neste caso, por diversas vezes assumiam o papel de ‘utentes’ cujo conhecimento ou prática para lidar ou simplesmente debater uma dada situação adquirem um interesse pessoal.

Inversamente, para resolver alguns casos, as pessoas recorrem a familiares ou outras pessoas do seu circuito pessoal, como uma pessoa que contava que o seu namorado havia desmontado o carro da sua mãe para o adaptar e poder levar aos tratamentos um senhor que anda de cadeira de rodas (Sysa, notas de campo, 06. 01. 2010). Para os eventos, era usual haver contribuições de familiares: uma mãe que faz um cuscuz para o festival gastronómico, a loja

de um familiar que oferece alguns ingredientes, uma pessoa que oferece o terraço da sua casa para os debates, etc.

. A vivência de momentos do projeto como rituais de comensalidade

Durante o ano de observação, coube a esta grande equipa organizar momentos de dinamização, por zona ou no bairro por inteiro. Vários deles têm por base festividades com origem em tradições caboverdianas recuperadas e que se realizam anualmente no bairro e fora dele, como a festa do Kola San Jon. Mais uma vez, ao organizar um conjunto de eventos, com a participação de pessoas que integram a equipa do projeto, está-se simultaneamente a ‘trabalhar’ para o projeto e a exercer um momento cultural e de convívio no qual já participavam antes.

Também ao nível de encontros regulares como as reuniões, em diversas ocasiões estiveram presentes namorados, netos, familiares ou outras pessoas trazidas pelos elementos da equipa. Há uma porosidade ao permitir-se levar, para uma reunião, entes queridos. No decorrer do trabalho, na sua organização, nos momentos de descontração, nota-se uma informalidade e intimidade que lembra os rituais de comensalidade em que se atualizam histórias, valores, onde se afirmam as fronteiras da familiaridade.

Estado providência

No ponto anterior procurou-se mostrar uma diversidade de traços que manifestam uma dinâmica de tipo comunitária e de relativa informalidade, que se pode enquadrar numa relação de cuidado, de prestação, numa ótica de sociedade providência, em que predominam as unidades sociais vinculadas a uma partilha de identidade – a imigração e/ou a residência no bairro – e a laços baseados no interconhecimento mútuo. No ponto que se segue, procura- se sistematizar os componentes indicativos de uma dependência ao Estado Providência.

. Lógica de projeto (metas, calendarização, grupos alvo, etc.)

A estruturação do projeto foi claramente elaborada segundo uma lógica de submissão a um financiamento externo, como aliás acontece em grande parte dos apoios à intervenção social levada a cabo por IPSS’s. São sobejamente conhecidas as suas componentes: os objetivos delineados com uma linguagem própria, uma proposta de atividade previamente desenhada

para um calendário circunscrito, levada a cabo por profissionais, legitimados através de diplomas, e dirigido a pessoas agregadas segundo alguma caraterística comum que passa a constituir uma condição perante a sociedade, um ‘grupo alvo’ seja ele: idade, residência, nível de escolaridade, situação perante o trabalho, condição social ou física, ou outra.

Embora o conteúdo desenvolvido no Cidadania Participativa se inscreva no trabalho que vem sendo realizado na Associação e apareça formulado no seu relatório de atividades da Associação inclusive em períodos anteriores ao deste projeto, este é formulado segundo os trâmites necessários para a obtenção de apoios pecuniários, como as intenções delineadas cuja concretização aparece em detalhe, incluindo dados de execução quantificados. Por exemplo lê-se, no que respeita ao trabalho com os jovens: ‘utilização da ‘caixa das emoções’ em 7 grupos de jovens; 4 músicas versando as 5 ligações da Teoria de Interligação; organização de 4 visitas de jovens do bairro a prisões; organização de 2 debates entre jovens ex-reclusos/as e grupos de jovens’ (ACMJ, 2008).

Há uma relação contratual que medeia a participação da maior parte das pessoas que integram a equipa, excetuando os voluntários que, aliás constituiu o grupo de participação mais inconstante ao longo do tempo em que decorreu a observação. Tal como referido acima, há um conjunto de colaborações feitas a título voluntário que, mesmo não integrando a equipa, vão acompanhando todo o processo. Falamos de familiares, amigos, e até os envolvidos – alguns idosos, por exemplo, que prestam este tipo de colaboração graciosa.

. Submissão a regras e procedimentos técnicos

Muitos dos problemas tratados, nomeadamente todos aqueles que dizem respeito à relação com as instituições estatais (saúde, segurança social, SEF, Junta de Freguesia, etc.), exigem procedimentos específicos, por vezes complexos. Várias vezes foram realizadas sessões mais ou menos formais – umas explicitamente pensadas enquanto sessões de formação, outras em que se convidava alguém que trabalha na área a participar na reunião para esclarecer questões e articular trabalho. Com efeito, trata-se de apoiar um leque significativo de assuntos, cada um deles, com exigências particulares quer a nível administrativo, quer a nível relacional, por