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É sabido que as praias urbanas da cidade de João Pessoa são as embocaduras de muitos rios. Assim, esta foto aérea de Picãozinho na orla de Tambaú deve ter sido registrada em uma época de poucas chuvas. Destarte, explica-se a cor azul-

esverdeada do mar. Caso contrário, se a foto tivesse sido tirada em uma época chuvosa, a água estaria turva, devido aos sedimentos naturais dos rios, que, quando estão cheios, deságuam no mar. Outra questão relevante é que o fotógrafo escolheu o momento em que o nível da maré estava baixo, deixando a areia mais próxima da superfície da água, tornando esta mais cristalina.

Quanto ao mais, se nesta Foto 8 havia algum material poluidor, como detrito urbano ou até mesmo um barco sobre os arrecifes, jamais poderemos confirmar isso, pois, devido ao conhecimento técnico e aos recursos tecnológicos que a fotografia alcançou e que fizeram a imagem ficar envolta em uma desconfiança sobre o que de fato é a realidade.

Alguns escritores, como Flaubert, não aceitavam a ilustração, pois acreditavam que a imagem sintetizaria o universal ao singular, devido à ideia de que uma imagem está superficialmente completa, finalizada, aliciada pela memória do observador. No caso da literatura, o conceito que se constrói é, a cada vez que lido, construído de uma forma diferente. Fica patente, assim, que a percepção, da imagem e das palavras envolve as experiências receptivas do observador.

Ao contrário das imagens, a escrita transborda os limites da página. Mesmo assim, a sua existência é aprisionada em uma rede de palavras em um determinado número de laudas e de tempo que o leitor concede para a leitura. Já as imagens estão limitadas à sua superfície e moldura. Com o passar dos anos, o observador de uma mesma obra visual descobre mais detalhes e associações que outrora seu arcabouço intelectual não possibilitara (MANGUEL, 2001).

A diferença entre um livro e uma obra de arte está no entendimento de que a imagem sempre existe. Esta, mesmo que não seja observada por um tempo determinado, é utilizada continuamente pelo cérebro, para fornecer significado daquilo que se lê ou se vê. Tendo em vista que todo processo de pensamento envolve uma imagem, o espírito humano jamais pensa sem a imagem mental, ou seja, o homem é estruturado por uma alma pensante (MANGUEL, 2001).

De acordo com Sontag (2004), as palavras possuem um posicionamento mais importante do que as imagens. Esta autora acredita que a foto pela foto é silenciosa, necessitando do auxílio de um texto. As legendas, mesmo que possam alargar a visão, são impossibilitadas de fincar eternamente o significado de uma

imagem. A legenda é a voz que falta na imagem, mas é ela que restringe a pluralidade de significados que toda foto contém.

Para Benjamin (1983), os moralistas marxistas almejam a salvação das palavras na imagem, o oposto dos curadores de artes, que, com a finalidade de tornar a fotografia mais artística, expõe-na sem as legendas. Neste sentido, o citado autor aconselha os escritores a fotografarem para que pudessem esclarecer o texto.

Pelo viés do espectador, o debate do uso da legenda fica entorpecido na atividade associativa quando é colocado em frente das fotografias cada vez mais sem referenciais, como ocorreu no caso do fotógrafo Atget, quando produziu imagens de uma Paris diferente da comumente conhecida, com prédios e ruas que não faziam parte do imaginário da cidade, foram percebidas como locais criminais e documentos policiais. Desta forma, pode-se entender a importância da legenda; no entanto, o fotógrafo pode ser culpado por esses equívocos, porque, no momento do enquadramento para capturar a imagem na lente da câmera, não se preocupa em focalizar algum vestígio que contextualize a foto. O close mostrado na Foto 73 de uma escultura no Convento de São Francisco, é um forte exemplo desta falta de contextualização, pois não há nada que permita ao espectador uma leitura mais apurada. Aliás, nas imagens descobertas no material investigado, encontraram-se muitos casos deste tipo de imagem nas publicações do FIC. Talvez este descompromisso com o referencial concreto na imagem seja explicado pelo fato de que são trabalhos destinados à arte propriamente dita, de modo que são feitas para um conceito artístico visual, como forma, cores e luzes. São mais importantes do que o observador saber onde a foto foi tirada ou então, isto pode ser uma provocação do fotógrafo em envolver um certo mistério sobre o lugar fotografado. Tudo isso, provoca a discussão, muitas vezes culpando-se o fotógrafo por não introduzir referenciais nas fotos; contudo, há ainda de se considerar que, para muitos futuristas, o analfabeto não será quem não identifica as letras, e sim as pessoas que ignoram a importância do ato fotográfico. Assim, apenas se pode perceber algo identificável, como acontece no ato de ler, em que é necessário conhecer a sintaxe, a gramática e o vocabulário. Esse pensamento é o resultado do consumo da imagem, onde cada vez mais os imaginários podem ser transcritos em formas, cores e luzes, como afirma Gastal (2006, p. 212):

Como o olhar é, agora, o sentido hegemônico, a materialização dos imaginários será, fundamentalmente, na forma de imagens: a cultura da imagem sobrepondo-se à cultura da palavra. Ao mesmo tempo, um real mais antigo, constantemente submetido à máquina, parecerá diluir-se ante os sentidos.

Há de se entender que a arte visual deve possuir algum sentido para o observador, mesmo que seja subjetivo. Caso contrário, se torna obsoleta nos processos interativos de que é ferramenta indicativa e testemunho. Isto se evidenciou nas leituras dos turistas sobre a Foto 73 (vide QUADRO 6 na página 120), os quais, apesar de não saberem a localização da estátua, perceberam que se tratava de um monumento histórico, como afirmou um deles: “Não sei, ainda não visitei...mas é história”. (BENJAMIN, 1994; MARTINS, 2009; BACON, 1985).

Então, como se denega qualquer tipo de legenda por alguns fotógrafos. Com as 112 fotos da categoria sociocultural e as 64 da categoria ambiental, a autora sentiu a necessidade de buscar maiores informações sobre elas, uma vez que as legendas nas publicações eram reduzidas ou não correspondiam ao mostrado. Por exemplo, no livro “Terra da Gente Paraíba”, o autor explicou nas legendas a cena mostrada e a cidade onde foi feita a imagem, no livro de Antônio David, as legendas apenas foram colocadas no final do livro, como um anexo em que constam as imagens e suas legendas apenas com o nome da cidade com o Estado onde a foto foi tirada. No livro “Sendas da Linha”, o autor colocou nas legendas títulos subjetivos, como no caso da Foto 75: “Homem na Praia” ou da Foto 43: “Barco e escada”; no entanto, foi colocado o nome da cidade e o ano do registro fotográfico. Já nos catálogos da PBTUR, “Paraíba para viagem” (2010), “Paraíba sinta-se em casa” (2010), “Brasil Paraíba” (2009) e “Paraíba para conquistar você” (2005), havia legendas explicativas com o nome do lugar e com o da cidade, mas não havia o ano; contudo, nas legendas das fotos 10 e 11, verificou-se que a legenda não condizia com a imagem, pois na Foto 10 a legenda indica que se trata da Mata do Buraquinho e na verdade a foto é do Zoológico da Bica, como pode ser vista a semelhança com a Foto 9 de um site:

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