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Ciente disto, a divulgação do turismo pelos meios massivos de comunicação, dentre eles a fotografia, permite organizar sua operação sob critérios para selecionar o que é digno de informar, pois se vale daquilo que García (2010, p. 93) chama de “técnicas de opacidad” que sobrepujam a beleza, vencendo o paradoxo em mostrar o comum do destino, ou seja, a tradição, o prestígio, a uniformização, pela a inovação, o atual, a melhora e o diferente. Assim, formulam uma ilusão de diferenciação explicada pelo fato de a base do serviço oferecido ser praticamente o mesmo em todos os lugares visitados por turistas. Uma vez que o diferencial está no formato por meio do qual o lazer é vendido e realizado, levando-se em consideração uma premissa antiga: o importante é que a realidade encontrada pelo turista no período de sua visita tenha alguma referência com a realidade oferecida pelas fotografias.

Nesse entendimento, os estudos que determinam o caráter do belo nas produções naturais e artísticas contribuem para a explicação de contextos políticos, éticos e de justiça social com a estética, pois, no atual panorama cultural econômico, existe uma simplificação, onde tudo se tornou imagem e mercadoria. Este entendimento é frisado por Adorno & Horkheimer (1985, p. 138), que afirmam que o oferecido em uma viagem não seria o lugar em si, mas sim a promoção do testemunho de sua existência, de acordo com aquilo que foi prometido, onde o “Belo é tudo o que a câmara reproduza”, ou seja, um belo utilitário em favor das campanhas de marketing. Desta forma, o mercado se caracteriza por uma estética idealista do consumo, cujo preço é mais importante do que o valor em si mesmo. Vê-se que, com a globalização, a sociedade dispõe de incontáveis imagens que compõem uma iconografia contemporânea de feitios e formas que possibilitam uma leitura balizada pela Internet, televisão e outdoors que registram o belo e o caos (GÂNDARA e HACK, 2008).

A fotografia organiza as expectativas ou elucubrações mentais com as viagens que poderiam ser feitas. Quando se viaja, documenta-se a experiência por meio de fotos que, inconsequentemente ou não, guiam a visita, posto que se escolhem lugares para ir que mereçam ser fotografados. Baseado nisso, Urry (1996) elabora oito características essenciais da fotografia que envolvem o universo do turismo:

QUADRO 2 - Relações entre a fotografia e o turismo. 1. Encenação do turismo para a fotografia

Fotografar é apropriar-se, de certo modo, do objeto que está sendo fotografado. É uma relação de poder/conhecimento. Ter conhecimento visual de um objeto é, em parte, ter poder sobre ele, ainda que momentâneo. A fotografia doma o objeto do olhar.

2. A foto é uma prova de que a viagem de realizou

A fotografia parece ser um meio de transcrever a realidade. As imagens produzidas não parecem ser afirmações sobre o mundo, mas parcelas dele ou até mesmo fatias em miniatura da realidade. Assim, um fotógrafo parece fornecer a prova de que algo aconteceu de fato, de que alguém estava realmente presente ou de que a montanha se encontrava realmente à distância. Pensa-se que a câmera não mente.

3. O turista faz recortes fotográficos para embelezar o lugar

As fotografias são o resultado de uma significante prática ativa, na qual aqueles que fotografam selecionam, estruturam e moldam aquilo que vai ser registrado. Existe uma tentativa de construir imagens idealizadas, que embeleza o objeto que está sendo

fotografado.

4. O poder da fotografia em mostrar apenas aquilo que seu produtor deseja

O poder da fotografia deriva de sua capacidade de apresentar-se como uma miniaturização do real, sem revelar sua natureza construída ou seu conteúdo ideológico.

5. A fotografia ensina semiótica

À medida que todos se transformam em fotógrafos, todos também se transformam em semióticos amadores. Aprendemos que as ondas se arrebentando nas pedras significa a natureza selvagem e indômita ou, sobretudo, que uma pessoa com uma máquina pendurada no pescoço é, sem dúvida, um turista.

6. A democratização por meio da foto

A fotografia envolve a democratização de todas as formas de experiência humana, transformando tudo em imagens fotográficas e permitindo que qualquer pessoa as fotografe. Faz parte do processo de modernização. Cada coisa fotografada passa a ser o equivalente da outra, interessante ou desinteressante. Independente de classe social transforma a arte em documento cultural.

7. A fotografia é o guia de viagem

A fotografia dá uma forma à viagem. É o motivo para se parar, tirar uma foto e prosseguir. Implica obrigações. As pessoas sentem que não podem deixar de ver determinadas cenas, pois, caso contrário, as oportunidades de fotografá-las serão perdidas. As agências de turismo passam muito tempo indicando onde as fotos devem ser tiradas. Com efeito, boa parte do turismo torna-se uma busca do fotogênico. 8. A influência das fotos dos catálogos do marketing turístico

Há uma espécie de círculo hermenêutico envolvido em boa parte do turismo. Aquilo que se procura durante as férias é um conjunto de imagens fotográficas, como as que se vêem nos folhetos das excursões distribuídos pelas agências de turismo ou em programas de televisão. O turista, quando está viajando, se põe a buscar essas imagens e as captura para si. No final, os viajantes demonstram que estiveram realmente em determinado lugar, exibindo sua versão das imagens que haviam visto originalmente, antes da viagem.

Fonte: Urry, 1996, p.186-187.

No primeiro item: encenação do turismo para a fotografia, pode ser

percebido quando nascem locais turísticos que são montagens de cenários artificiais, parecidos com aquelas informações que o turista levanta antes de viajar. O resultado disto é uma fabricação cultural de clichês turísticos, como exemplifica Krippendorf (2003, p.56): “A excursão entre os autóctones da África negra – muito fotogênicos, pobres, mas felizes – constitui um clichê turístico (...)”.

Nas comunidades indígenas da Rocky Mountain American West, nos Estados Unidos, existe uma criação da fantasia com apropriação, inversão ou transformação de símbolos e rituais, onde se recriam condições de vivência, possessões e personalidades de um homem que viveu na montanha entre 1825 e 1840, por meio de um personagem dotado de roupas e maneiras que parecem contundentemente contra- culturais, rústicas e únicas no mundo contemporâneo (BELK e COSTA, 1998).

Isto pode ser percebido no Centro Histórico de João Pessoa que, como já foi dito, não obteve a visitação pretendida, mesmo com toda a encenação produzida no local em uma tentativa de sustentar uma realidade muitas vezes encenada, que nos faz crer que existe um cenário turístico, uma autenticidade cênica. MacCanell (1999) iniciou uma discussão, que perdura até hoje, sobre as manifestações culturais para o turismo, no tocante à sua autenticidade, pois estuda a estrutura urbana do atrativo turístico, dividindo-a entre regiões de frente, as que estão abertas à visitação e as regiões dos fundos, que são as de uso restrito dos autóctones. Como se pode ver, nas fotos abaixo, existe uma grande diferença entre as imagens do lugar feitas para o FIC (vide Foto 59) e para a PBTUR (vide Foto 60).

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