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Pilares da Psicologia Positiva

No documento joseaugustorentocardoso (páginas 70-73)

CAPÍTULO 3: A VIRTUDE NA PSICOLOGIA POSITIVA

3.2 Pilares da Psicologia Positiva

Após apresentar uma definição de Psicologia Positiva cabe agora delimitar seus principais pilares que podem ser entendidos como seus objetivos específicos. O objetivo principal é, como já visto, o estudo do ótimo funcionamento humano. Mas o que está por trás desse ótimo funcionamento? O que o determina?

De acordo com a Psicologia Positiva três são os seus objetos de estudos: a experiência subjetiva positiva, caracterizada aqui principalmente pelas emoções positivas como o bem- estar, o contentamento, o otimismo, a experiência de fluxo (flow), a felicidade. (Salovey, Rothmari, Detweiler e Steward, 2000; Diener, 2000; Buss, 2000; Diener, Helliwell e Kahneman, 2010); os traços individuais positivos, englobando as virtudes, forças de caráter, talentos, pontos fortes, habilidades interpessoais (Baltes e Staudinger, 2000; Aspinwall e Ursula, 2003; Peterson e Seligman, 2003; Peterson e Seligman, 2004; Pawelsky, 2003; Park, 2004; Clifton e Harter, 2003); e as instituições positivas, consideradas desde o nível grupal e que abrangem o trabalho ético, a cidadania, a responsabilidade (Myers, 2000; Csikszentmihalyi, Damon e Gardner, 2004; Fredrickson, 2001; Diener e Seligman , 2004).

A experiência subjetiva positiva certamente é o marketing da Psicologia Positiva, a tal ponto da mesma ser denominada por alguns de seus críticos como “a ciência da felicidade” (Miller, 2008). Seligman (2011) tenta de alguma forma concertar isso. Seus esforços são vistos principalmente quando o mesmo reformula sua teoria sobre a felicidade.

Em 2004, em seu livro Felicidade Autêntica (2002/2004), Seligman propõe que a experiência de felicidade humana é constituída por três elementos: emoções positivas, engajamento, marcadamente conhecida como experiências de fluxo ou flow e sentido na vida. Saber o quanto uma pessoa é feliz passaria por medir tais elementos na vida da mesma.

De acordo com Froh (2009, p. 711) as emoções positivas são:

experiências breves de bom sentimento no presente e uma chance maior de sentir-se bem no futuro. Eles parecem ser ingredientes essenciais na receita de viver uma boa vida. Compreender as emoções positivas é um objetivo central da psicologia positiva.55 (Froh, 2009, p. 711)

Fredrikson (2001) pode ser considerada uma das especialistas no campo e buscou definir uma teoria das emoções positivas denominada por ela de ampliar e construir. De acordo com essa teoria, emoções positivas discretas, como alegria, orgulho, amor, possuem a capacidade de ampliar momentaneamente os repertórios de pensamentos e comportamentos, contribuindo para construção de recursos pessoais duradouros, recursos estes que podem ser físicos, psicológicos ou sociais. Um exemplo de tal ampliação é que pessoas alegres têm mais chance de serem criativas (Fredrikson, 2004).

Tal aproximação às emoções foi bem criticada. Uma dessas críticas vem de Lazarus (2003) defendendo que a delimitação das emoções em positivas e negativas leva a perder aspectos fundamentais da experiência que as mesmas proporcionam. Aspectos fundamentais que têm influencia da particularidade dos sujeitos em cada situação e, em alguns momentos uma emoção pode ser neutra, nem positiva nem negativa, levando em conta todo o conjunto situação e particularidade.

No que diz respeito ao engajamento, este é conhecido pelos estudos de Csikszentmihalyi (1997/1999), O autor define a experiência de engajamento como experiência de fluxo, “a sensação de ação sem esforço experimentada em momentos que se

55 Positive emotions are brief experiences that feel good in the present and increase the chances that one will

feel good in the future. They seem to be essential ingredients in the recipe of living the good life. Understanding positive emotions is a core objective of positive psychology. (2009, p. 711)

destacam como os melhores de suas vidas” (1999, p. 36). Csikszentmihalyi (1997/1999) define então as características de tal experiência: a) o fluxo geralmente ocorre quando a pessoa está diante de um conjunto claro de metas onde se requer respostas apropriadas; b) as atividades de fluxo proporcionam um claro entendimento sobre o desempenho da pessoa, ou seja, têm um feedback imediato; c) existe uma forte relação entre as habilidades da pessoa e a atividade desempenhada, ou seja, as atividades que levam ao fluxo geralmente são exigentes mas a pessoa possui habilidades para realização da mesma; d) há uma intensa concentração, com perda da autoconsciência e grande envolvimento na atividade; e) não há experiência de felicidade no momento da atividade e sim após a mesma, ou seja, ao olhar para trás e relembrar o momento a pessoa fica cheia de gratidão pela felicidade; f) é uma experiência que “age como um imã para o aprendizado” (1999, p. 39), quer dizer, a experiência de fluxo é uma marca para o desenvolvimento pessoal.

Por fim, o terceiro elemento da felicidade de acordo com a teoria da felicidade autêntica de Seligman (2002/2004) seria o sentido, definido como a utilização das forças e virtudes para a realização de algo maior do que si próprio, um senso de ligação e propósito com algo que se manifesta como superior a você – não sendo esse algo superior necessariamente Deus.

A partir desses três elementos, Seligman (2002/2004) define felicidade e bem estar como “os resultados desejáveis da Psicologia Positiva” (p. 287) e, coloca na vida plena todos os elementos antes citados.

Finalmente uma vida plena consiste em experimentar emoções positivas acerca do passado e do futuro, saboreando os sentimentos positivos que vêm dos prazeres, buscando gratificação abundante no exercício das forças pessoais e aproveitando essas forças a serviço de algo maior, para obter significado. (p. 289).

Contudo, em 2011 o próprio Seligman (2011) critica essa teoria, apontando que ela colocava peso demais sobre as emoções positivas, mesmo tendo três outros elementos como constitutivos da felicidade e, com isso, reformulou-a. A nova teoria foca sobre o constructo bem-estar subjetivo, que possui isoladamente cinco elementos, passíveis de serem medidos separadamente e, que em si, são isoladamente suficientes para determinar o bem-estar. O resultado que Seligman (2011) aponta como sendo o desejável para Psicologia Positiva também modificou-se, agora é o florescimento humano.

Os cinco elementos da nova teoria, são os três da teoria anterior, acrescidos de realização e relacionamentos positivos. Realização significa a própria motivação por conseguir certas conquistas e, relacionamentos positivos aponta para a importância dos relacionamentos interpessoais para o bem-estar subjetivo. Tem-se assim uma breve apresentação de duas das grandes pesquisas no campo da experiência subjetiva positiva: a nível de emoções positivas e da felicidade ou bem-estar subjetivo.

Fica claro também o papel das virtudes e forças do caráter. Além de serem aspectos da excelência humana, elas estão ligadas a felicidade. Vários nomes da Psicologia Positiva lançam mão desse relação e, por isso, aproximam a teoria das virtudes e forças do caráter que estão desenvolvendo da desenvolvida por Aristóteles. Não só Seligman (2002/2004) como vários outros autores buscarão defender que tais conceitos são a aproximação científica às virtudes de Aristóteles (Park e Peterson, 2009)

Outro dos pilares da Psicologia Positiva são as instituições positivas. Esse é um dos campos que ainda não contém um grande número de pesquisas. Contudo, alguns autores dedicam-se principalmente a busca de relações entre felicidade e a economia de um país, seguindo o modelo da FIB – Felicidade Interna Bruta, medida desenvolvida pelo governo do Butão em 1972 que vem sendo estudada pela Psicologia Positiva.

Também são relevantes os aportes sobre capital psicológico positivo e o papel de certas virtudes nas empresas. Snyder e Lopez (2007/2009) citam, por exemplo, as características do emprego gratificante e pesquisas que buscam compreender o que as pessoas felizes no trabalho encontram em sua organização. Dentre as características os autores citam a variação nas tarefas realizadas, a experiência de bons desempenhos e do alcance de objetivos, relações interpessoais positivas no trabalho, etc.

No documento joseaugustorentocardoso (páginas 70-73)