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4.3 ENCARGOS FISCAIS DA FOLHA DE PAGAMENTO

4.3.1 Encargos Sociais

4.3.1.3 PIS/PASEP

O Programa de Integração Social (PIS), criado pela Lei Complementar 07/70, visa beneficiar os empregados da iniciativa privada, com caráter exclusivamente fiscal, não gerando direitos de natureza trabalhista nem incidência de qualquer contribuição previdenciária em relação a quaisquer prestações devidas, por lei ou por sentença judicial, ao empregado (art. 10). Enquanto que o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP) foi criado pela Lei Complementar 08/70 com o objetivo de beneficiar os servidores públicos. (BRASIL, 1970a, 1970b).

Com isso, o PIS /PASEP, como são conhecidos, são contribuições sociais de natureza tributária, devidas pelas pessoas jurídicas, com objetivo de financiar o pagamento do seguro-desemprego, abono e participação na receita dos órgãos e entidades para os trabalhadores públicos e privados. (BRASIL, 1970a, 1970b).

4.3.1.4 Salário Educação

De acordo com o Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação, o salário-educação, instituído em 1964, é uma contribuição social voltada para o financiamento da educação básica pública e que também pode ser aplicada na educação especial, desde que vinculada à educação básica. (BRASIL, 2015a).

Essa contribuição está prevista no artigo 212, § 5º, da Constituição Federal, regulamentada pelas Leis nºs 9.424/96, 9.766/98, Decreto nº 6.003/06 e Lei nº 11.457/07, onde são recolhidos 2,5% sobre o valor total das remunerações pagas

ou creditadas pelas empresas, a qualquer título, aos segurados empregados, ressalvadas as exceções legais. (BRASIL, 1988, 1996b, 1998, 2006a, 2007c).

Assim, o Salário-Educação “não tem caráter remuneratório na relação de emprego e não se vincula, para nenhum efeito, ao salário ou à remuneração percebida pelos empregados das empresas contribuintes”, nos termos do art. 3º da Lei 9.766/98. (BRASIL, 1998).

De acordo com o texto constitucional, art. 173, § 2º, são contribuintes do salário-educação as empresas em geral e as entidades públicas e privadas vinculadas ao Regime Geral da Previdência Social, entendendo-se como tal qualquer firma individual ou sociedade que assuma o risco de atividade econômica, urbana ou rural, com fins lucrativos ou não, sociedade de economia mista, empresa pública e demais sociedades instituídas e mantidas pelo poder público. (BRASIL, 1988).

4.3.1.5 Sistema S

De acordo com o glossário legislativo do Senado Federal, o sistema S tem por objetivo o treinamento profissional, assistência social, consultoria, pesquisa e assistência técnica, feitos a partir de entidades corporativas de características organizacionais similares. (BRASIL, 2015h).

Na década de 40 foram criados por lei: o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - Senai (Decreto-Lei 4.048/42); o Serviço Social do Comércio - Sesc (Decreto-Lei 9.853/46); o Serviço Social da Indústria – Sesi (Decreto-Lei 9.403/46); e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio – Senac (Decreto-Lei 8.621/46). (BRASIL, 1942, 1946a, 1946b, 1946c).

A partir da Constituição Federal de 1988, instituiu-se também o Sebrae; o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar); o Serviço Social de Transporte (Sest) e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat). (BRASIL, 1988).

Para Hely Lopes Meireles (2012, p. 430-431), esse Sistema representa os:

Serviços Sociais autônomos, instituídos por lei, com personalidade jurídica de direito privado, para ministrar assistência ou ensino a certas categorias sociais ou grupos profissionais, sem fins lucrativos, sendo mantidos por

dotação orçamentária ou contribuições parafiscais. São entes paraestatais de cooperação com o Poder Público, com administração e patrimônio próprios, revestindo-se na forma de instituições convencionais particulares (fundações, sociedades civis ou associações) ou peculiares ao desempenho de suas incumbências estatutárias.

A cobrança compulsória das contribuições cobradas por esse sistema está balizada na Constituição de 1988 (art. 240), uma vez que estabelece a obrigação dos empregadores em recolher esses encargos sobre a folha de pagamento, nas mesmas alíquotas da seguridade social, destinando-os às entidades, privadas de serviço social e de formação profissional, vinculadas ao sistema sindical. (BRASIL, 1988).

Assim, de forma a dispor um tratamento diferenciado às MPEs, a LC 123/06, art. 13, § 3º, dispensa, às MPEs optantes pelo Simples Nacional, o pagamento das contribuições instituídas pela União, inclusive as destinadas às entidades relacionadas acima. (BRASIL, 2006b).

Esse tratamento diferenciado demonstra que essas contribuições tem um forte impacto sobre o custo do empregado. Essa desobrigação, então, desonera a folha de pagamento, ao passo que contribui para o aumento da competitividade da MPE, incentivando a geração de emprego.

4.3.2 Encargos Trabalhistas

Ao contratar um empregado, devem-se levar em consideração os encargos sociais tratados anteriormente, bem como os encargos trabalhistas, que são os valores pagos ao empregado junto com seu salário. Os encargos trabalhistas são recolhidos obrigatoriamente por todas as empresas, além dos benefícios oferecidos livremente pelo contratante. (PORTAL BRASIL, 2014).

Mesmo sendo um assunto controverso, quanto a serem ou não componentes do salário, alguns direitos trabalhistas foram estabelecidos na Constituição de 1988, conforme disposto em seu art. 7º:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos;

VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria; [...]

XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998); [...]

XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; [...] XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal;

XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias;

XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei; [...]

XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei;

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;

XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;

XXIV - aposentadoria;

XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006); [...]

XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;

XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000). (BRASIL, 1988).

Alguns desses direitos designados aos trabalhadores caracterizam-se como encargos trabalhistas e refletem no custo da folha de pagamento das empresas no Brasil. Dessa forma o legislador regulamentou e instituiu os direitos, mediante leis, decretos, medidas provisórias, entre outros. Sua principal fonte orientadora dos direitos do trabalhador esta constituída pelo Decreto-Lei 4.542/43, mais conhecida como Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). (BRASIL, 1943).

Assim, apresentam-se, individualmente, alguns custos trabalhistas que refletem no custo da folha de pagamento das empresas (BRASIL, 1943, 1962,1985):

a) 13º salário, benefício correspondente a 1/12 (um, doze avos) do salário mensal do trabalhador, a ser pago no final de cada ano, em uma ou duas vezes, a título de gratificação de natal (Lei 4.090/62);

b) adicional de remuneração, com relação a atividades penosos, insalubres e perigosas, cujo percentual varia de de 5% (cinco por cento ) a 40% (quarenta por cento), conforme art. 192 e 193, CLT;

c) adicional de férias, com pagamento de 1/3 (um terço) do salário por ocasião do gozo de férias anuais remuneradas (art. 130, 146 e 147, CLT);

d)

ausência remunerada, por motivo de doação de sangue; retirada do título de eleitor; casamento; falecimento do cônjuge, companheiro, pais, madrasta, padrasto, enteado, menor sob guarda ou tutela e irmão; por período de alistamento ou serviço militar; comparecimento em juízo; prestar prova de vestibular em instituição de nível superior e reuniões sindicais oficiais (art. 473 CLT);

e) férias de trinta dias a cada doze meses de trabalho, podendo ser acumuladas até dois períodos, salvo nas hipóteses de legislação específica (art. 129 e 130 da CLT);

f) repouso semanal remunerado, de no mínimo onze horas consecutivas para descanso, entre duas jornadas de trabalho e um descanso semanal de 24 (vinte e quatro) horas consecutivas, o qual, salvo motivo de conveniência pública ou necessidade imperiosa do serviço, deverá coincidir com o domingo, no todo ou em parte (art. 66 e 67, CLT);

g)

repouso remunerado em dias feriados nacionais e feriados religiosos, nos termos da legislação própria (art. 70, CLT);

h)

aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo mensalistas, no prazo mínimo de trinta dias de antecedência (art. 487, CLT);

i) vale transporte ou auxílio transporte, cujo benefício visa o custeio parcial das despesas realizadas com transporte coletivo municipal, intermunicipal ou interestadual, nos deslocamentos de servidores de suas residências para os locais de trabalho e vice-versa. O valor custeado pelo trabalhador é de 6% (seis por cento) (Lei 7.418/85);

j)

indenização por tempo de serviço no ato de demissão (13º salário proporcional, férias proporcionais);

k) outros benefícios oferecidos ao trabalhador (que não são considerados como salário), tais como vestuário para prestação do serviço; gastos com educação em estabelecimento de ensino; gastos com transporte destinado ao deslocamento para o trabalho e retorno; assistência médica, hospitalar e odontológica, prestada diretamente ao trabalhador; seguros de vida e de acidentes pessoais; e previdência privada (art. 258, § 2o , CLT).

Com isso, apresentam-se, a seguir, duas vertentes referentes ao percentual de encargos sobre a folha de pagamento. A primeira conforme visão enfática do sociólogo e especialista em relações de trabalho e desenvolvimento

institucional, José Pastore e a segunda, conforme interpretação adotada pelo DIEESE.

4.4 PERCENTUAL DE ENCARGOS SOBRE OS SALÁRIOS SEGUNDO

JOSÉ PASTORE

Para Pastore (1994), o custo do trabalhador para a empresa é composto pela remuneração – valor recebido pelo trabalho realizado – pelas despesas decorrentes da legislação e dos pagamentos pelo trabalho não realizado. Para o autor, salário é o que trabalhador recebe diretamente pelo empregador referente ao trabalho efetivamente realizado, considerando, por exemplo, o 13º salário como encargo social sobre o salário.

Dessa forma, para o especialista em relações de trabalho, as empresas chegam a pagar cerca de 102% (cento e dois por cento) de encargos sociais sobre o valor dos salários, conforme tabela a seguir:

Tabela 1 – Encargos Sociais para setor industrial

Diante do exposto, para Pastore (1994), os encargos sobre o salário podem ser divididos em: obrigações sociais, tempo não trabalhado I, tempo não trabalhado II e reflexos dos itens anteriores.

Os custos com as obrigações sociais chegam a 35,80% (trinta e cinco inteiros e oitenta centésimos por cento) e incluem: previdência social, FGTS, salário- educação, acidentes do trabalho e contribuições do sistema S.

O encargo com o tempo não trabalhado I é calculado pelos percentuais referentes ao repouso semanal, férias, feriados, abono de férias, aviso prévio e auxílio enfermidade, totalizando 38,23% (trinta e oito inteiros e vinte e três centésimos por cento) sobre o salário. O cálculo do tempo não trabalhado II abrange o percentual do 13º salário e despesas de rescisão contratual, impactando em até 13,48% (treze inteiros e quarenta o oito centésimos por cento) sobre o salário pago ao trabalhador.

Os reflexos dos itens anteriores com a incidência cumulativa e a incidência do FGTS sobre o 13º salário impactam em até 14,55% (quatorze inteiros e cinquenta e cinco centésimos por cento) sobre os salários. Com isso, Pastore sugere que o peso dos encargos sociais sobre o salário por hora trabalhada recebido pelos trabalhadores chega a 102% (cento e dois por cento).

Além dos custos apresentados anteriormente, o autor apresenta outros componentes que aumentam ainda mais os custos do empregado para o empregador, tais como os benefícios, as despesas decorrentes de normas públicas e das despesas decorrentes de licença, treinamentos e adaptação e transferência de funcionários. (PASTORE, 2012).

O custo com benefícios são aqueles concedidos pelo empregador e já estão estabelecidos de forma geral em vários setores da economia, como na indústria de transformação. São eles: participação nos lucros ou resultados (PLR); auxílio-alimentação; auxílio-creche; convênios médicos; previdência privada, entre outros. Já as despesas decorrentes das normas públicas são referentes, por exemplo, as cotas para deficientes e aprendizes; as medidas de saúde e segurança; o custo do contencioso trabalhista e das indenizações, entre outros. (PASTORE, 2012).

Dessa forma, o autor amplia sua concepção a respeito do custo do empregado para o empregador, a medida que reflete sobre o impacto desse custo nas relações de competitividade da indústria na economia:

Agora que quase todo mundo concordou com os 102,43%, resolvi abandonar esse número. Ele serve apenas para denotar as despesas sobre os salários. Mas nada diz sobre os gastos acima indicados que, se puderem ser matematizados, elevarão ainda mais o custo unitário do trabalho, piorando sobremaneira a doença da baixa competitividade da indústria de transformação. (PASTORE, 2012).

Com isso, é fundamental que o Estado proporcione um ambiente favorável ao desenvolvimento das MPE, a partir de um tratamento diferenciado a cerca dos custos e despesas da folha de pagamento. Dessa forma, a redução dos encargos sociais, se feita de forma estratégica e coerente, pode desobstruir o canal do emprego, uma vez que potencializa a oferta de emprego. Além disso, pode acomodar parte da mão-de-obra que hoje está no desemprego ou no emprego informal, gerando renda, e, consequentemente, aquecimento da economia no Brasil.

4.5 PERCENTUAL DE ENCARGOS SOBRE OS SALÁRIOS SEGUNDO

O DIEESE

O DIEESE (2011), ao contrário de José Pastore, considera que os encargos sociais são resultado da diferença entre o que a empresa desembolsa e a remuneração total recebida pelo empregado. Dessa forma, a metodologia aplicada pelo DIEESE, não considera os encargos sociais como sinônimos de obrigações trabalhistas, sendo aqueles, apenas, parte das obrigações trabalhistas.

Assim, o DIESSE (2006), exemplifica vários tipos de obrigações trabalhistas, conforme quadro a seguir:

Quadro 3 – Exemplos de obrigações trabalhistas

Fonte: Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (2006).

Dessa forma, o DIEESE (2006), conclui que o responsável pela superestimativa do peso dos encargos na folha de pagamento nos estudos de Pastore se deve a não distinção entre os conceitos de encargos sociais e obrigações trabalhistas.

Portanto, para o DIEESE (2011), a remuneração média mensal do trabalhador compõe-se em duas partes. A primeira parte refere-se ao salário médio mensal recebido, de fato, anualmente pelo trabalhador, enquanto o mesmo se encontra empregado, incluindo o salário contratual registrado na carteira, mais a proporção mensal do 13º salário (8,33%) e do adicional de 1/3 de férias (2,78%).

Logo, a primeira parte equivale a 111,11% do salário contratual mensal e representa a base de cálculo dos encargos sociais recolhidos ao governo.

Ainda na mesma metodologia, a segunda parte da remuneração média mensal do trabalhador é composta pelo percentual de recolhimento do FGTS (8% sobre o salário contratual mensal, sobre o 13º salário e sobre o adicional de 1/3 de férias) e pelo percentual relativo à proporção mensal do impacto das verbas indenizatórias, nos casos de rescisão contratual sem justa causa por iniciativa do empregador, sobre o valor do salário contratual.

Já os encargos sociais incidentes sobre a folha de pagamento na média mensal, totalizam 27,8% (vinte e sete inteiros e oitenta centésimos por cento), composto pelo INSS (20%); seguro contra acidente de trabalho (2,0%); salário educação (2,5%); Incra (0.2%); Sesi ou Sesc ou Sest (1,5%); Senai ou Senac ou Senat (1,0%); Sebrae (0,6%). (DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS, 2011).

Diante dessas informações, o DIEESE (2011), conclui, que um trabalhador com salário contratual hipotético de R$ 1.000,00 custará um total de R$ 1.538,00, considerando a remuneração média mensal total recebida integral e diretamente pelo trabalhador (R$ 1.229,11), bem como os encargos sociais sobre a folha de pagamentos média mensal (R$ 308,90), conforme mostra a tabela a seguir: Tabela 2 – Composição da remuneração média mensal total do trabalhador

Assim, de um custo total do trabalho de R$ 1.538,00, R$ 1.229,11 correspondem à remuneração total do trabalhador, enquanto R$ 308,89 referem-se aos encargos sociais. Por conseguinte, o DIEESE (2011), estabelece que o custo total do trabalho, incluindo os encargos sociais, chega a 25,1% do valor da remuneração total média mensal do trabalhador, percentual muito aquém dos 102% do cálculo de Pastore.

Mesmo sendo um assunto controverso e polêmico, tem-se a discussão do impacto dos encargos fiscais na folha de pagamento como peça fundamental a ser debatido entre Estado e as organizações. Com isso, às MPEs devem ficar atentas as modificações legislativas e fiscais, de modo a reduzirem os impactos dos encargos incidentes na folha de pagamento, conforme apresentado a seguir.

4.6 REFLEXOS DA DESONERAÇÃO DA FOLHA DE PAGAMENTO

A partir da previsão constitucional (1988) para um tratamento diferenciado às micro e pequenas empresas (MPE), o Estado vem alterando a forma tributação desse segmento, a partir da criação do Estatuto Nacional da MPE, bem como a criação Simples Nacional (LC 123/06) e a universalização do Simples Nacional (LC 147/14). Além disso, desde 2011, o Governo Federal vem modificando a forma de tributação referente ao financiamento da previdência social das empresas, de modo a reduzir os encargos incidentes na folha de pagamento de alguns setores, conforme atividade exercida ou tipo de produto comercializado, a chamada desoneração da folha de pagamento (Lei 12.546/11). (BRASIL, 1988, 2006b, 2011a, 2014b).

Dessa forma, a desoneração da folha de pagamento iniciou-se por intermédio da Medida Provisória n° 520 em 2 de agosto de 2011, convertendo-se em Lei em 14 de dezembro de 2011 (Lei 12.546/11). Essa lei determinou a substituição das contribuições previstas na Lei n° 8.212/91, artigo 22, incisos I e III, ou seja, da contribuição patronal referente aos 20% (vinte por cento) sobre a folha, por uma contribuição atualmente de 1% (um por cento) ou 2% (dois por cento), conforme segmento da empresa, sobre a receita bruta. (BRASIL, 1991a, 2011a).

Alguns segmentos beneficiados pela desoneração em 2011 foram: serviços de TI – Tecnologia da Informação, TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação, callcenter, setor hoteleiro, TIPI – indústria, alguns segmentos de

comércio varejista, construção civil, transporte, entre outros. A ampliação da desoneração para outras atividades e setores foi feita por seis medidas provisórias seguintes, sendo quatro convertidas em lei (Lei nº 12.715/12, Lei nº 12.794/13, Lei nº 12.844/13, Lei nº 13.043/14). (BRASIL, 2015b).

Segundo Ministério da Fazenda, do ponto de vista econômico, a Desoneração da Folha foi uma política anticíclica, que visa reduzir custos com mão- de-obra e aumentar a competitividade da indústria, bem como estimular a criação de empregos. (BRASIL, 2015b).

Contudo, a implantação prática da desoneração no Brasil gera impactos no âmbito estatal, empresarial e social, uma vez que: aumenta desequilíbrio fiscal; aumenta a cumulatividade do sistema tributário; escolhe arbitrariamente os setores beneficiados; estimula o emprego no pleno-emprego; e o prejuízo do setor industrial em detrimento do benefício do setor de serviços. (PELLEGRINI; MENDES, 2014).

Em consonância com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) a receita pública precisa acompanhar a despesa, de modo a financiá-la. Assim, a desoneração da folha de pagamento gera redução de receita para os cofres públicos, de modo a aumentar o déficit público, o que impacta no superávit primário, refletindo, negativamente, no cenário macroeconômico (inflação, juros mais altos, desequilíbrio no balanço de pagamentos). (PELLEGRINI; MENDES, 2014).

Ainda no entendimento do Ministério da Fazenda, com a diluição do vínculo entre as contribuições e os beneficiários, empresas que faturam muito, mas que têm poucos empregados contribuem mais, enquanto empresas com muitos empregados e pouco faturamento, contribuem menos. Isso acaba por refletir no financiamento previdenciário, à medida que impacta no equilíbrio fiscal. (BRASIL, 2015b).

Outro risco da incidência do encargo no faturamento é a possibilidade de alguns setores serem tributados mais que outros em função de especificidades do processo produtivo. Logo, produtos de cadeia produtiva mais simples (por exemplo, alimentos em natura) terão carga tributária menor que outros mais sofisticados (por exemplo, automóveis). Isso pode incentivar as empresas a produzir internamente seus insumos, desestimulando a especialização, impactando negativamente, na produtividade e qualidade do processo produtivo. (PELLEGRINI; MENDES, 2014).

Para Pellegrini e Mendes (2014), a inclusão arbitrária de setores beneficiados durante a tramitação legislativa das medidas ou mesmo depois de

aprovadas é outro problema da política de desonerações, visto que o Estado interfere na escolha dos contemplados, ao passo que cria privilégios e incentiva a prática do lobby. Ademais, eleva o custo administrativo da medida, pela complexidade da mensuração da base de cálculo, bem como pelo aumento da burocracia.

Em relação ao mercado de trabalho, os efeitos da desoneração da folha de pagamentos refletem na geração de milhões de empregos no ultimo anos, reduzindo a taxa de desemprego e o custo de contratação. No entanto, isso acaba elevando os salários e, consequentemente, o custo das empresas, levando os setores não contemplados por desonerações a arcar com o custo mais alto de mão de obra sem o correspondente ganho de redução de impostos. (PELLEGRINI; MENDES, 2014).

Ainda, do ponto de vista dos consultores legislativos do Senado Federal, Pellegrini e Mendes (2014), o setor industrial foi o mais atingido pela perda competitividade do país. Assim, desonerar a indústria sem desonerar o setor de serviços seria uma forma de reequilibrar a situação da indústria, visto que parte significante o setor de serviços não pode ser negociado no mercado internacional. Contudo, o setor de serviço também teve estabelecida a desoneração em diversas atividades, anulando, pelo menos parcialmente, o efeito positivo da desoneração para a indústria.

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