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2 HISTÓRIA, TÉCNICA, ESTÉTICA E LINGUAGEM DO CINEMA 3D ESTER

2.1 VISÃO ESTEREOSCÓPICA

2.1.2 Pistas Binoculares

Como as pistas monoculares fornecem uma base para experimentar a profundidade e a distância para uma imagem plana (bidimensional), a tecnologia estereoscópica também proporciona a sua própria percepção de profundidade. O par- estéreo fornece a mesma imagem para que os olhos - esquerdo e direito-, descrevendo a profundidade indicada apenas pelas pistas de profundidade monocular.

Contudo, quando o par-estéreo se funde, concebendo o filme estereoscópico, passa-se a ter, além das pistas monoculares, pistas binoculares (ou pistas S3D); ou seja, as pistas realmente estereoscópicas. Compreendê-las é essencial para entender como a tecnologia funciona e, consequentemente, perceber seus efeitos de sentido nos filmes. Essas pistas são consideradas fisiológicas porque como vimos estão estritamente ligadas aos processos cerebrais a partir da visão binocular. Seguem abaixo:

Acomodação Visual: Do mesmo modo que a lente de uma câmera se utiliza do foco para evidenciar algum elemento no plano cinematográfico, as lentes dos olhos humanos se contraem ou se dilatam para focalizar o objeto a sua frente. Esse esforço muscular fornece um retorno para medir a profundidade e a localização do que está sendo visto, dessa forma, os olhos se acomodam para perceber os objetos a sua frente. Esse processo é chamado de acomodação visual.

A Convergência Ocular: “[...] é a capacidade da musculatura que controla os olhos de direcionar os dois eixos ópticos para um único ponto de interesse localizado a uma determinada distância do observador” (GODOY DE SOUZA, 2013, p.03). De forma sucinta, quando olhamos para um ponto fixo, os olhos se convergem para enxergar este ponto. A convergência está diretamente ligada à acomodação visual. Ambas são duas limitações para assistir filmes em S3D, portanto, espectadores que possuem deficiências neurológicas com a acomodação e a convergência ocular podem sentir dores de cabeça ao assistir filmes estereoscópicos.

A Paralaxe ou Disparidade Binocular: É a distância horizontal entre a imagem esquerda e a direita (par-estéreo) do mesmo elemento que aparece para o

8 Só é possível enxergar em 3D graças a visão binocular, ou seja, é a visão no qual os dois olhos humanos

são utilizados em conjunto para unir o par-estéreo e perceber o efeito estereoscópico. André Bazin escreveu um ensaio sobre esse processo chamado A New Stage in the Process: Math Equations for 3D presente no livro André Bazin´s New Media (2014).

observador. Contudo, se o espectador tem uma forte miopia no olho direito a imagem do olho direito ficará diferente do olho esquerdo, consequentemente, ele não poderá enxergar bem tridimensionalmente, pois a sua disparidade retinal não é igual. Assim, podemos afirmar que a paralaxe e a disparidade da retina são similares. A diferença é que a paralaxe é medida na tela de projeção, já a disparidade na retina, é medida, a partir do observador. Tecnicamente o que interessa para a estética do filme estereoscópico é a paralaxe.

Figura 10 – Representação da disparidade binocular.

Fonte: Andrade, 2012, p.15.

A paralaxe é um indutor de profundidade binocular que define onde um objeto está posicionado no espaço, propiciando a sensação de volume e de distância espacial. Do mesmo modo que Bordwell (2013) divide o plano cinematográfico em zona frontal, para se referir aos elementos que estão no primeiro plano; em zona intermediária, para se referir aos elementos que estão no segundo plano; e zona de fundo, para se referir aos elementos que estão no último plano. O cinema 3D estereoscópico também se utiliza de suas próprias zonas de profundidade, que são tecnicamente chamadas de: paralaxe negativa, positiva e zero; são elas que compõem a estética S3D.

Desta forma, existem três tipos de paralaxe, a primeira é quando o espectador tem a sensação de que os objetos estão dentro da superfície da tela, no universo diegético9, mais afastado do espectador do que a tela de projeção, nesse caso a paralaxe é chamada de positiva; a segunda ocorre quando os objetos parecem saltar da tela, estando entre a tela e o espaço do auditório, nesse caso, é chamada de negativa. Por fim, quando não há evidências de nenhuma das paralaxes, nem a positiva e nem da negativa, os objetos estão em paralaxe zero. Resumidamente, as paralaxes são técnicas de profundidade da estereoscopia que podem configurar-se tanto mais à frente do filme,

9O termo diegético ou diegese é um conceito fundamental da narrativa fílmica. É tudo que ocorre dentro

quanto mais a fundo no filme nenhum – paralaxe zero –

disso, só podem ser visualizadas com óculos 3D TRICART, 2017).

A figura 11 em 3D anaglífico

primeiro elemento da cena está em paralaxe negativa, enquanto a nuvem mais ao fundo está em positiva. Tricart (2017) observa que as paralaxes podem ser percebidas em uma imagem anaglífica através das sombras das cores.

direito e a azul do lado esquerdo significam que a paralaxe estar negativa; já em relação ao oposto, quando a cor azul está do lado direito e a vermelha do lado esquerdo significa que estar em paralaxe positiva. É importante memorizar essa combinação caso o leitor não utilize óculos anaglífos para observar as figuras. Também é importante destacar que para observar

está localizada a última sombra azul no último plano. Figura 11– O primeiro frame r

Of Pi, Ang Lee, 2012) para ser visto com óculos anág

demarcações das sombras vermelho/ciano para serem vistas sem óculos.

Fonte: Frame capturado do filme

Em virtude do que foram mencionadas as pistas monoculares

criaram a sensação de profundidade; contudo, as pistas ainda são muito simples em comparação ao verdadeiro espaço tridimensional: o estereoscópico. Para uma percepção mais imersiva e realista, as pistas binoculares são obrigatórias. Elas e

10Conforme vimos na introdução des

no método de visualização 3D an

apenas de um óculos com lentes de celofone vermelho/ciano e uma forma, através desse método, e possível

características técnicas e estéticas.

quanto mais a fundo no filme – no espaço profundo – ou não se posicionar em lugar –, tornando-se um elemento próprio da sua estética. Além isualizadas com óculos 3D (MENDIBURU, 2009; BENOIT, 201

em 3D anaglífico10 ilustra esse aspecto em um único plano. O primeiro elemento da cena está em paralaxe negativa, enquanto a nuvem mais ao fundo (2017) observa que as paralaxes podem ser percebidas em uma imagem anaglífica através das sombras das cores. Na figura 11, a cor vermelha do lado direito e a azul do lado esquerdo significam que a paralaxe estar negativa; já em relação cor azul está do lado direito e a vermelha do lado esquerdo significa que estar em paralaxe positiva. É importante memorizar essa combinação caso o leitor não utilize óculos anaglífos para observar as figuras. Também é importante a paralaxe positiva é necessário, rigidamente, averiguar onde está localizada a última sombra azul no último plano.

O primeiro frame representa as paralaxes no filme As aventuras de Pi para ser visto com óculos anáglifos. O segundo frame mostra as demarcações das sombras vermelho/ciano para serem vistas sem óculos.

Frame capturado do filme As aventuras de Pi (2012) 01h15m44s e Imagem da Autora. Em virtude do que foram mencionadas as pistas monoculares sozinhas sempre criaram a sensação de profundidade; contudo, as pistas ainda são muito simples em comparação ao verdadeiro espaço tridimensional: o estereoscópico. Para uma percepção mais imersiva e realista, as pistas binoculares são obrigatórias. Elas e

na introdução dessa dissertação, frames de filmes 3D estereoscópicos serão exibidos no método de visualização 3D anáglifo vermelho/ciano. É um método de baixo custo que necessita apenas de um óculos com lentes de celofone vermelho/ciano e uma tela LCD para sua visualização.

e possívelvisualizar um filme estereoscópico preservando todas as suas estéticas.

ou não se posicionar em lugar se um elemento próprio da sua estética. Além (MENDIBURU, 2009; BENOIT, 2013;

ilustra esse aspecto em um único plano. O primeiro elemento da cena está em paralaxe negativa, enquanto a nuvem mais ao fundo (2017) observa que as paralaxes podem ser percebidas em uma a cor vermelha do lado direito e a azul do lado esquerdo significam que a paralaxe estar negativa; já em relação cor azul está do lado direito e a vermelha do lado esquerdo significa que estar em paralaxe positiva. É importante memorizar essa combinação caso o leitor não utilize óculos anaglífos para observar as figuras. Também é importante a paralaxe positiva é necessário, rigidamente, averiguar onde

As aventuras de Pi (Life

lifos. O segundo frame mostra as demarcações das sombras vermelho/ciano para serem vistas sem óculos.

(2012) 01h15m44s e Imagem da Autora. sozinhas sempre criaram a sensação de profundidade; contudo, as pistas ainda são muito simples em comparação ao verdadeiro espaço tridimensional: o estereoscópico. Para uma percepção mais imersiva e realista, as pistas binoculares são obrigatórias. Elas existem graças à frames de filmes 3D estereoscópicos serão exibidos glifo vermelho/ciano. É um método de baixo custo que necessita para sua visualização. Desta visualizar um filme estereoscópico preservando todas as suas

visão binocular; ou seja, os dois pontos de vistas separados por uma distância horizontal. Ross (2015) acrescenta que as pistas estereoscópicas são mais “tangíveis” do que as monoculares justamente por serem representações tridimensionais ligadas à fisiologia.

Assim, como dito inicialmente, a visão estereoscópica é igual à soma das pistas monoculares (indícios psicológicos) com as pistas binoculares (indícios fisiológicos) (MENDIBURU, 2009; BLOCK, MCNALLY, 2013; TRICART, 2017; ANDRADE, 2012; GODOY, 2011).

Além disso, uma informação importante é que para o cérebro entender essa soma é preciso de um tempo que leva no mínimo 0,5 segundos, dependendo da qualidade e consistência dessas pistas,isso precisa ser levado em consideração quando se está filmando em S3D. Deste modo, o cineasta não precisa compreender todos os fundamentos técnicos da visão estereoscópica – isso é papel do estereógrafo11 – contudo, o diretor precisa compreender quais as consequências disso, em termos de composição do quadro, na mise-en-scéne que ele organiza. Por exemplo, esse dado técnico faz com que a mise-en-scène S3D, inicialmente, não se encaixe com cortes rápidos em uma cena.

Por fim, uma vez compreendidas as questões da visão estereoscópica, podemos seguir caminho para perceber a organização do espaço estereoscópico dentro do plano cinematográfico, bem como conhecer seus aspectos técnicos, tecnológicos e estéticos pertinentes a sua linguagem.

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