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2 HISTÓRIA, TÉCNICA, ESTÉTICA E LINGUAGEM DO CINEMA 3D ESTER

2.3 SISTEMAS DE CAPTAÇÃO E VISUALIZAÇÃO DO CINEMA 3D

2.3.2 Sistemas de Visualização

Da mesma maneira que existem modos de captação estereoscópica também há seus métodos de exibição. Entre eles os mais comuns são o anáglifico, que surgiu na época da lanterna mágica, e a projeção por luz polarizada, que no cinema 3D veio a se tornar padrão na década de 50.

De acordo com Hayes (1998), Zone (2007) e Morgan e Symmes (1982), o primeiro longa da história do cinema 3D estereoscópico foi projetado no sistema de exibição anaglífico, um filme mudo, de drama, chamado O Poder do Amor (The Power Of Love, Nat G. Deverich, Harry K. Fairall, 1921). Contudo há registros da patente da técnica anaglífica em meados de 1893 por Louis Ducos du Hauron.

O sistema de exibição anaglífica foi utilizado na primeira fase da história do cinema S3D, fase esta que Zone (2009, 2012) intitula como período de novidade23 que vai de 1921 a 1952. Durante essa época eram necessários dois projetores para exibir os dois rolos de película captados pela câmera 3D. Assim, era colocada uma imagem monocromática com a visão esquerda em azul (ou verde), justaposta a mesma imagem com a visão direita em vermelho. Logo, quando essas imagens após combinadas eram colocadas através dos óculos com filtros coloridos trocando os lados das cores, a profundidade era obtida.

Essa técnica anaglífica perdura até os dias atuais, sendo a de maior custo/benefício, podendo ser reproduzida em qualquer tela de dispositivo eletrônico ou impressa em papel. Em contrapartida, a desvantagem desta técnica, é que as cores das imagens ficam prejudicadas; há uma perda de cor afetando a qualidade final da imagem (ANDRADE, 2012; ZONE, 2007).

O outro método de exibição é o polarizado. Esse sistema surgiu na década de 50 através dos investimentos dos estúdios hollywoodianos que visavam atrair o público,

23 Leny Lipton (1940) destaca cerca de 15 filmes de curtas-metragens lançados em S3D anáglifo nessa

primeira fase do cinema – a maioria perdidos. Até mesmo Abel Gance utilizou o sistema de projeção anáglifa no seu filme Napoleon (1927) – o resultado nunca foi visto pelo público –, e os irmãos Lumière no remake em 3D do curta A chegada do Trem na Estação (1935).

novamente, para as salas de cinema. Um dos motivos é que as bilheterias estavam em queda, devido à chegada da televisão nos lares americanos, como também os produtores visavam melhorar a qualidade da projeção 3D. O método polarizado não trabalhacom cores vermelho/ciano, mas emite ondas de luz, preservando as cores naturais do filme, sendo necessária a utilização de dois projetores para exibir o par-estéreo ou um único projetor com uma lente especial. Ele é um dos métodos mais eficientes, além disso, se baseia no fato de que a luz é uma energia que se irradia de forma ondulatória, assim as ondas vibram em direções perpendiculares à direção do deslocamento.

Nesse sentindo, quando um filme é projetado deste modo, o espectador pode mover-se na cadeira, girar, se contorcer e não sairá do espaço estereoscópico do filme, isso implica dizer que por mais que o espectador se movimente em frente à tela, os efeitos, bem como, a imersão do dispositivo não serão perdidos. O que não acontece na projeção anáglifa, porque se o espectador precisa estar centrado e estático, se por acaso ele sair do foco da tela, causará um dano ao efeito 3D, uma vez que ele não poderá ser visto perfeitamente.

Zone (2012), Tricart (2017) e Benoit (2013) acrescentam que entre os dois métodos, o mais eficaz é o polarizado, pois neste método é apresentado mais clareza da imagem e do efeito 3D, contudo há algumas restrições, pois é um método mais caro e necessita de uma tela, óculos e projetores especiais com filtros polarizadores, além disso, é um sistema que não pode ser impresso. Na figura 20 abaixo podemos observar tanto uma representação dos óculos: polarizado quanto do anáglifo.

Figura 20 –Representação do óculos anáglifo e polarizados.

Fonte Tricart, 2017, p.64 e p.84.

Atualmente também existem os seguintes sistemas de projeção polarizado: Imax 3D, Real D, Dolby 3D e XPand 3D. No Brasil esses sistemas podem ser encontrados nas redes de cinema Cinemark, Cineespaço e Cinépolis. Por fim, outro fator que implicara na projeção do filme estereoscópico é a chamada zona de conforto no qual explicaremos no próximo item.

2.3.2.1 Zona de Conforto

Conforme apontado repetidamente durante este trabalho, o par-estéreo depois de captado é projetado através de um suporte estereoscópico. O fato é que a mídia estereoscópica precisa estar enquadrada no que os estereógrafos denominam de: zona de conforto.

A zona de conforto está diretamente conectada com a ideia de que a visão estereoscópica todas as vezes que recebe um par-estéreo, converge e acomoda a imagem dentro da zona de conforto dos olhos humanos. Assim, a zona de conforto é a demarcação do espaço dentro do campo de visão dos olhos, no qual as fibras óticas podem convergir-se e acomodarem-se em diferentes distâncias de profundidade, sem causar fadiga ocular, dores de cabeça ou náuseas (MENDIBURU, 2009; BENOIT, 2013; TRICART, 2017).

Desta forma, quando se assiste a um filme em 3D, a visão estereoscópica se converge constantemente, dependendo de onde o espectador está olhando no espaço profundo e largo da tela. Mendiburu (2009), Benoit (2013) e Tricart (2017) observam que a área de acomodação dos olhos humanos em uma produção cinematográfica sempre fica na tela, localizada onde a imagem está sendo focada. Assim, se um efeito fora da tela – em paralaxe negativa – saltar para o espectador, por exemplo, a musculatura dos olhos humanos precisará convergir-se novamente e olhar para o objeto diegético. Logo, concluímos que no filme S3D, a visão estéreo estará o tempo todo se convergindo, sendo necessário que os elementos do plano cinematográfico estejam sempre dentro da zona de conforto dos olhos humanos.

Bernard Mendiburu (2009, p.82) elaborou um modelo para representar a zona de conforto na tela de projeção, no qual foi replicada e traduzida na dissertação de Tiago Andrade (2014, p.44).Na figura 21, podemos perceber que os elementos que estão entre as cores brancas e cinzas podem ser articulados livremente na mise-en-scène do filme, já os elementos que estão entre as cores cinzas e preto são os que precisam convergir-se e acomodar-se, excessivamente, logo precisam ser poupados.

Figura 21 - Representação da Zona de Conforto

Fonte: Eugênio, 2014, p.44

A responsabilidade técnica dos elementos do quadro dentro dessas zonas é do estereoscopista, o diretor precisa apenas tomar conhecimento que a cinematografia estereoscópica necessita ser trabalhada dentro delas em prol do conforto do espectador. Ou se, em caráter experimental, o diretor almejar trabalhar essas zonas em prol da estilística do filme.

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