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2 HISTÓRIA, TÉCNICA, ESTÉTICA E LINGUAGEM DO CINEMA 3D ESTER

2.3 SISTEMAS DE CAPTAÇÃO E VISUALIZAÇÃO DO CINEMA 3D

2.3.1 Sistemas de Captação

A captação estereoscópica pode ocorrer de três modos distintos, utilizando uma câmera verdadeiramente estereoscópica, utilizando duas câmeras iguais colocadas sob uma estrutura lado a lado, ou utilizando apenas uma câmera com um adaptador estereoscópico.

A filmagem com uma câmera efetivamente estereoscópica é a mais utilizada atualmente, quando os cineastas criam um filme pensado para este suporte. Essas câmeras possuem um corpo único com duas lentes, acopladas lado a lado, popularmente chamada de câmera 3D ou câmera binocular. De acordo com Zone (2012, p.90) e Tricart (2017, p.68), dentro da história do cinema estereoscópico, o primeiro registro de câmeras de filmagem 3D de corpo único utilizadas no cinema aponta para o inglês Lucien Bull, datado em 10 de junho de 1910.

Lucien Bull também havia desenvolvido um dos primeiros sistemas de projeção 3D, exibindo as primeiras imagens estereoscópicas públicas da história do cinema sendo dirigidas por Willian E. Wandell e Edwin S. Porter – este último foi um cineasta conhecido por ter dirigindo o filme O Grande Roubo do Trem (The Great Train Robbery, Edwin S. Porter1903). Por outro lado, na contemporaneidade, uma das câmeras genuinamente em 3D mais eficiente é a Fusion 3D19 utilizada no filme Avatar

(Avatar, James Cameron, 2009) (ZONE, 2012; TRICART, 2017). A Fusion 3D, é uma câmera de realidade virtual criada por James Cameron e seu diretor de fotografia Vince Pace, e consiste em permitir ao diretor observar todos os elementos técnicos e estéticos – no qual vimos no item 1.2 – do cinema estereoscópico em tempo real; seja em live-

action (ação ao vivo) ou em CGI (animação), facilitando a direção de cena. Ambas as

câmeras são apresentadas na figura 18.

Figura 18 – Lucien Bull e James Cameron, ambos com suas câmeras estereoscópicas

Fonte: TRICART, 2017, p. 2020

O segundo modo de filmagem estereoscópico acontece com duas câmeras iguais colocadas lado a lado21, fixadas em um rig (suporte para colocar as câmeras para captar em 3D). Zone (2009, 2012) relata que esse esquema em rig começou a ser desenvolvido nos anos 50, sendo também utilizado nos dias atuais. As câmeras em rig podem estar lado a lado, em eixos convergentes, ou ainda, com um espelho22 fixados no meio formando um ângulo de 90º. Essa última opção é normalmente utilizada quando o diretor almeja perda de iluminação em set, pois o espelho absorve a luz. Já nos dias atuais é, geralmente, usado em cenas externas para reter a luz solar.

De acordo, com Zone (2012, p.182), na década de 50 o sistema de câmera lado a lado que estava sendo desenvolvido por Lothrop Worthfoi o NaturalVison. Este formato de câmera estéreo foi utilizado para lançar o filme em 3D O Diabo (Bwana Devil, Orch Oboler, 1952), filme que foi o estopim para a era de ouro do cinema estereoscópico. Logo após o sucesso imediato de O Diabo (1952) perante o público, o proprietário do estúdio Warner Bros, Jack Warner, comprou a patente da câmera NaturalVision para também lançar filmes em 3D. Assim o primeiro filme lançado em 3D da Warner Bros foi Casa deCera (1953).

20 Disponível em:<https://www.hollywoodreporter.com/news/james-cameron-vince-pace-announce

176951> Acesso em: 18 de novembro de 2017. 21

No Brasil na Universidade Federal de São Carlos foi criado um protótipo de câmera lado a lado estereoscópica e produzido o curta-metragem Ciranda. O artigo sobre esse projeto pode ser encontrado na

revista de Radiodifusão v.3 n.3 Disponível em:

<http://set6.tempsite.ws/revistaeletronica/index.php/revistaderadiodifusao/article/view/156> Acesso em: 27 de abril de 2017.

22 Este tipo de estrutura com espelho no meio das câmeras lado a lado e chamado de mirror ou

Com o sucesso do filme Casa de Cera (1953), em vez de continuar licenciando a patente da câmera NaturalVision, Warner decidiu fazer novos investimentos. Assim, o departamento de óptica da Warner Bros projetou uma nova câmera 3D chamada All-

Media, que também foi utilizada para filmar novos lançamentos em 3D da Warner, bem

como seu maior sucesso Disque M para Matar (Dial M for Murder, Alfred Hitchcock, 1954). Bob Furmanek e Greg Kintz explicam sobre a câmera All-Media que:

Semelhante ao sistema de câmera Dynoptic 3-D da Technicolor, que utilizou um par de câmeras de três faixas, a plataforma Warner Bros. Colocou câmeras padrão de 35mm em um ângulo de 90 graus um para o outro com um espelho semi-prateado entre eles. Este método não restringiu o uso de lentes curtas (até talvez 25mm) e foi capaz de distância interoculares de 0 “a mais de 6”. As principais desvantagens foram o alinhamento crítico do espelho e a perda de luz pesada, até 50%. Como resultado, a iluminação no set deveria ser aumentada duas vezes e meia para compensar. No entanto, a câmera All-Media ofereceu maior flexibilidade em comparação a outros sistemas de câmera 3-D e permitiu ao diretor e cinematógrafo uma enorme flexibilidade em como eles queriam apresentar sua visão estereoscópica (FURMANEK;KINTZ, 2017, tradução nossa).

Figura 19 – Câmera All Media (formada por duas câmeras lado a lado) utilizada para filmar Disque M para Matar (1952)

Fonte: Disponível em:<http://www.3dfilmarchive.com/dial-m-blu-ray-review> Acesso em: 18 de novembro de 2017.

Por fim, o último grupo de câmeras estereoscópicas são aquelas que utilizam uma única câmera com um adaptador estéreo acoplado. Sammons (1992, p.3) explica que esse sistema surgiu na Europa em meados de 1930 e 1940, sendo o par-estéreo gerado por um prisma angular ou uma única lente especial. Block, McNally (2013) e Zone (2012) também argumentam que imagens estereoscópicas podem ser adaptadas no ambiente digital através da pós-produção, dentro do processo de conversão de 2D para 3D. Os filmes sem 3D manipulados, desta forma, terá mais sucesso se os diretores pensarem o filme incorporando sua própria linguagem estereoscópica cinematográfica.

Nesses casos o ambiente virtual possibilita que as imagens que não são possíveis em

live-action sejam gravadas, como um voo de um pássaro ou uma câmera que retrate o

ponto de vista de um personagem no espaço. As possibilidades são inúmeras em prol da narrativa, mas além de um suporte de câmera para filmar em 3D é necessário outro suporte para exibi-lo.

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