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2 HISTÓRIA, TÉCNICA, ESTÉTICA E LINGUAGEM DO CINEMA 3D ESTER

2.2 ASPECTOS TÉCNICOS E ESTÉTICOS DO CINEMA 3D ESTEREOSCÓPICO

2.2.1 Roteiro de Profundidade

Outra particularidade importante tanto do aspecto técnico quanto no estético do cinema 3D estereoscópico é o roteiro de profundidade. O profissional que cuida desse roteiro é chamado de estereoscopista ou estereográfo. Ele elabora o roteiro de acordo

com as escolhas estilísticas do diretor. Do mesmo modo em que um músico dispõe de uma partitura e o pintor da paleta de cores, o estereoscopista trabalha o arco emocional das cenas através do controle artístico da profundidade no filme. Mendiburu (2009) relata que “o roteiro de profundidade se refere ao 3D geral do filme” (MENDIBURU, 2009, p.84, tradução nossa).

Zone (2012) e Block, McNally (2013) expõem queum filme realmente pensado para o formato 3D estereoscópico se utiliza do roteiro de profundidade. Através dele tem-se a oportunidade de olhar para toda a históriae debater, previamente, os tipos de planos e ângulos, sendo capaz de analisar uma sequência com antecedência e ver se funcionou, é refazê-la, novamente, se for preciso, o que só foi possível com a era digital. Dessa maneira, o estereógrafo desenvolve o roteiro de profundidade para cada take ou cena do filme como Ray Zone observa “...um roteiro de profundidade deve mostrar a conexão entre o uso da profundidade e os arcos narrativos da história ou encenação dos personagens (ZONE, 2012, p.279, tradução nossa).

Matthew Blute, estereográfo do filme S3D Transformers: A Era da Extinção, (Transformers: Age Of Extinction, Michael Bay, 2014), relata que o roteiro de profundidade pode ser muito eficaz se a encenação dos atores for pensada plano a plano (TRICART, 2017). Na figura 14, por exemplo, a primeira imagem representa um modelo do roteiro de profundidade aplicado pelo estereoscópista do filme

Coraline(Coraline, Henry Selick, 2009). Nesse modelo, o espaço da paralaxe negativa é

a linha amarela, é o espaço da paralaxe positiva é a linha azul escuro, já a linha preta representa, simbolicamente, o plano da tela de cinema.

Assim, neste filme o diretor quis trabalhar o roteiro de profundidade de duas formas diferentes. Basicamente a narrativa se passa em dois mundos paralelos: um mundo real e um mundo da fantasia. No mundo real a profundidade foi minimizada, como podemos observar no gráfico real world, já no mundo da fantasia a profundidade foi exagerada, como podemos observar no gráfico other world. Mas, por quê? O que isso implica esteticamente?

Para responder essas perguntas primeiramente é primordial compreender o contexto narrativo do filme. Coraline é uma menina que acabará de se mudar para uma nova vizinhança com os seus pais escritores. Enquanto ela percorre a sua nova casa, Coraline descobre uma porta secreta que a leva para outro mundo, um mundo igual ao dela, só que aparentemente melhor. Lá ela não só encontra pais mais atenciosos, mas todos os seus sonhos se tornam realidade.

Assim, esteticamente o diretor Henry Selick, utilizou no mundo real de Coraline planos mais achatados, sem cores, e com efeitos 3D de paralaxe positiva para mostrar que este mundo é mais superficial, mais monótono. Já no mundo fantasioso, Selick, utilizou-se de ângulos mais largos, cores mais vivas, e efeitos 3D de paralaxe negativa, apresentando um mundo mais extremo eimprevisível. O diretor de fotografia do filme explica:

Junto com o arco da história, o arco de iluminação e roteiro de cor, decidimos impor um complemento o “Arco estéreo” no show. Henry queria usar a profundidade do 3D para diferenciar o mundo real do mundo fantasioso especificamente em sincronia com o que Coraline estava sentindo. Para fazer isso, mantivemos o mundo real com uma profundidade estéreo reduzida, sugerindo a perspectiva plana de Coraline, e usamos o 3D completo no outro mundo. No início, o 3D completo abre um melhor mundo para Coraline, mas quando as coisas ficam ruins para ela, nós exageramos cuidadosamente a

profundidade estéreo para combinar com sua angústia (Higgins, 2012 p.203,

tradução nossa).

Deste modo a mise-en-scène do filme criou uma sensação de confinamento para sugerir os sentimentos de solidão de Coraline e aborrecimento em seu mundo real, além de uma provável “liberdade” no mundo fantasioso. Assim o uso do 3D seguiu as emoções da personagem principal Coraline, que está aborrecida com sua vida real e acha que o mundo da fantasia é mais divertido e colorido. Observe os frames abaixo ainda da figura 14 que representam está encenação esteticamente.

Figura 14– Roteiro de Profundidade do filme Coraline (2009) e Cenas representando o mundo real e fantasioso habitado por Coraline

Fonte: Tricart, 2017, p. 183 16m54s.

Portanto, o que podemos avaliar introdutoriamente é que o plano cinematográfico estereoscópico é uma unidade complexa. A

plano através da composição dos elementos em cena, tais como: cenário, ilu

figurino, encenação dos atores, dentro do contexto formal do filme. Contudo, ao analisarmos a estética do cinema S3D, percebemos que outros elementos são incorporados na sua mise-en

, p. 183 e frames capturados do filme Coraline (2009) 43

Portanto, o que podemos avaliar introdutoriamente é que o plano cinematográfico estereoscópico é uma unidade complexa. A mise-en-scène

plano através da composição dos elementos em cena, tais como: cenário, ilu

figurino, encenação dos atores, dentro do contexto formal do filme. Contudo, ao analisarmos a estética do cinema S3D, percebemos que outros elementos são

en-scène. Elementos, esses, que alteram tanto a profundidade

(2009) 43m04s, 16m17s e

Portanto, o que podemos avaliar introdutoriamente é que o plano

scène integra este

plano através da composição dos elementos em cena, tais como: cenário, iluminação, figurino, encenação dos atores, dentro do contexto formal do filme. Contudo, ao analisarmos a estética do cinema S3D, percebemos que outros elementos são . Elementos, esses, que alteram tanto a profundidade

quanto o volume da composição em diagonal (eixo Z), e que podem ser representados em um roteiro de profundidade especificamente para este segmento de filmes.

Desse modo, já vimos como a profundidade pode ser alterada através da utilização das paralaxes no plano, agora, iremos observar como o volume dos elementos cinematográficos podem ser alterados. A responsável tecnicamente por esta mudança se chama distância interocular ou interaxial.

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