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6. Área 1 Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem

6.1 Planeamento

Segundo Bento (2003, p. 16), “a planificação é o elo de ligação entre as

pretensões, imanentes ao sistema de ensino e aos programas das respetivas disciplinas, e a sua realização prática. É uma atividade prospetiva, diretamente situada e empenhada na realização do ensino, que se consuma na sequência: elaboração do plano, realização do plano, controlo do plano e confirmação ou alteração do plano, etc”.

O planeamento foi fundamental. Permitiu-me escolher e avaliar os ca- minhos a seguir, compreender a minha realidade de forma a poder contornar todas as minhas limitações, e assim, construir todo o processo ensino- aprendizagem.

Sem dúvida, esta é uma tarefa importantíssima e complexa em termos da organização, sistematização e seleção da matéria a lecionar. Assim, tendo em conta as indicações presentes no Programa Nacional de Educação Física para o 9º ano, as decisões do Grupo de Educação Física da escola, as condi- ções da escola, as características da turma, o nível dos alunos, foi realizado o planeamento nos diversos níveis (Planeamento Anual, Unidade Didática e Pla- no de Aula).

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6.1.1. Planeamento Anual

A primeira tarefa que me foi destinada logo após a primeira reunião na escola foi o plano anual. Já tinha recebido um documento do Grupo de Educa- ção Física da escola a mencionar as modalidades a serem lecionadas por perí- odo assim como uma pequena sugestão de uma percentagem de aulas a dedi- car a cada uma delas tendo em conta o número de aulas previstas a lecionar por período. A distribuição das modalidades foi feita da seguinte forma: no pri- meiro e segundo períodos deveriam ser lecionadas as modalidades de basque- tebol, voleibol, atletismo e unióquei, e no terceiro período as modalidades de futebol, andebol e patinagem.

Para além de todas as aulas dedicadas a cada uma das modalidades também era necessário contar com uma aula para os alunos realizarem um teste teórico, e para realizarem a bateria de testes Fitnessgram (para além da tradicional aula de apresentação aos alunos).

A minha primeira ideia foi lecionar de forma consecutiva cada uma das modalidades, começando pelo basquetebol, seguido do atletismo, e no segun- do período lecionar voleibol e terminar com unióquei. Mas após aconselhar-me com o Professor Cooperante e ter tido o primeiro contacto com a turma na aula de apresentação achei por bem mudar um pouco a estratégia e intercalar as modalidades que tinha para lecionar.

A principal razão para a minha escolha foi a justificação que o Professor Cooperante deu, decorrente da sua experiência, referindo que os alunos satu- rarem-se após um longo período de tempo a praticar a mesma modalidade. E após refletir sobre essa justificação e tendo em conta as características da tur- ma decidi seguir o conselho e intercalar as modalidades com maior percenta- gem de tempo a dedicar com as de menor percentagem de tempo. A minha escolha foi baseada na formação multilateral de atletas defendida pelo Profes- sor Paulo Colaço. Esta teoria baseia-se numa formação multidesportiva que leva a que os atletas, neste caso alunos, não percam o desejo de treinar ou competir pelo excesso de repetições do mesmo tipo de treino/aula. E assim, considero que fui bem sucedido pois os alunos nunca reclamaram pelo facto de ser sempre uma modalidade ou sempre outra.

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A parte inicial das aulas, numa fase inicial, era constituída por jogos lúdi- cos e temáticos. Como por exemplo, os jogos de 10 passes, o jogo da serpen- te, entre outros. No entanto, a necessidade de afirmação de grande parte dos alunos da turma levou-os a pensar que estariam a ser tratados como crianças. Dessa forma e também após aconselhamento com o Professor Cooperante, percebi que os alunos naquela escola estavam “formatados” relativamente a um tipo de ativação inicial, de caraterísticas mais formais e tradicionais, com rotação de membros superiores, rotação do tronco, elevação de joelhos, etc. Assim optei por ser eu desde início a liderar o aquecimento dessa forma mais formal o que me obrigava a uma intervenção mais ativa, e também dirigia al- guns alongamentos consoante os conteúdos abordados no exercício seguinte.

Um dos elementos que o Professor Cooperante sugeriu que sempre es- tivesse presente nas nossas aulas foi o trabalho de força (força média, força superior e força dorso lombar). Numa fase inicial optei por realizar este trabalho no fim da aula como forma de relaxamento, mas esta estratégia só funcionava se agisse como um comandante. Todavia, neste caso, apenas alguns conse- guiam acompanhar o ritmo. Numa segunda fase optei por colocar as séries nos intervalos de exercícios, o que começou a resultar melhor pois não sentiam tanto a carga. A partir de determinada altura do ano (2º Período) o trabalho de força passou a ser implementado imediatamente após o aquecimento, tendo tido com este procedimento melhores resultados. A minha forma de controlo era dar a conhecer aos alunos que um deles, sem eu lhes referir qual, estaria a ser avaliado neste momento da aula.

6.1.2. Unidades Didáticas

Segundo Bento (2003, p.75) são “unidades fundamentais e integrais do

processo pedagógico e apresentam aos professores e alunos etapas claras e bem distintas de ensino e aprendizagem”.

Ao elaborar uma unidade didática contemplava informações relativas às habilidades motoras, cultura desportiva, condição física e conceitos psicossoci- ais a desenvolver durante o ensino da modalidade.

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Numa fase inicial a sua elaboração era um processo um pouco confuso e moroso mas com a prática esta tarefa tornou-se mais fácil e sempre que foi necessário reajustar algo o tempo perdido foi sempre menor.

6.1.3. Plano de Aula

Este foi o documento que mais tempo e dedicação exigiu. Em todas as aulas tinha de elaborar o plano do que ia fazer, mesmo se essa aula não dife- risse muito do que tinha sido lecionado na aula anterior.

Segundo Bento (2003, p.63) “tendo em atenção a matéria, os pressu-

postos dos alunos e as condições de ensino bem como os dados fornecidos pela análise das etapas anteriores, na preparação da aula tem lugar uma pre- cisão dos seus objetivos (já estabelecidos no plano da unidade); é planificado o seu decurso metodológico e temporal”. Este planeamento tinha que assentar

em todo o planeamento a longo prazo elaborado anteriormente.

Numa fase inicial, recordo-me que passava muito tempo em torno do planeamento da aula seguinte a pensar que estratégias utilizar, que exercícios se adequavam melhor à turma e ao espaço que iria ter disponível, como orga- nizar a turma para que o tempo de empenhamento motor fosse o maior possí- vel, entre outras preocupações. Tudo isto para criar uma aula a mais atrativa possível. Umas vezes consegui outras vezes não. E apesar de ser algo que se deve fazer o mínimo possível, o erro demonstra a face humana do professor.

Uma das coisas que aprendi na elaboração de planos de aula foi que es- te documento serviria apenas de linha orientadora para os noventa ou quarenta e cinco minutos de aula. Existiam inúmeros fatores que me poderiam fazer alte- rar tudo o que tinha sido planeado, desde a quantidade de alunos que não iri- am fazer aula por doença ou incapacidade, até ao simples facto de não haver material suficiente para fazer aquilo que estava planeado, e nesse momento entra a capacidade de adaptação de um professor.

Apesar de não figurar na forma formal do plano de aula, os alunos que não realizavam a aula também tinham de ser tidos em conta. Numa fase inicial, por inexperiência minha optei por ignorar o facto de não fazerem a aula man-

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tendo apenas a sua ordem. Numa segunda fase comecei a tornar o facto de não fazer aula desconfortável de forma a preferirem realizar a prática pedagó- gica do que estar apenas sentados a assistir. A minha estratégia passou por ir dando tarefas como a recolha de material, a arbitragem, de jogos e a realiza- ção de relatórios da aula. Essas estratégias foram diminuindo o número de alunos dispensados gradualmente, até que foi rara a dispensa de alunos da aula.

6.1.4. A Condição Física

Uma das maiores epidemias do séc. XXI é o sedentarismo. E a conjun- tura económica atual não permite que a maioria das crianças possam praticar desporto em outro lugar que não as aulas de Educação Física.

Como profissional desta área coube-me a mim durante as minhas aulas ter uma especial atenção ao desenvolvimento das capacidades coordenativas e condicionais. Com o desenvolvimento destas capacidades foi possível pro- mover o aumento da aptidão física por parte do aluno, assim como um desen- volvimento motor completo ao longo do seu processo de formação.

Tendo em conta o Plano Anual elaborado para a condição física apenas me foquei no trabalho de força superior, de força média e de força dorso lom- bar. Todas as outras capacidades eram trabalhadas de forma específica tendo em conta a modalidade a ser abordada.

Através da aplicação da bateria de testes Fitnessgram tive a oportunida- de de medir a evolução dos alunos desde o início ao fim do ano. Na grande maioria foi possível denotar uma grande evolução e inclusive uma perda de peso naqueles que se situavam para além do peso recomendável. No entanto, alguns alunos tornaram os resultados destes testes menos fidedignos pois fa- ziam apenas o que lhes apetecia, não testando os seus limites.

No geral a aptidão física da turma era bastante boa havendo apenas dois casos de sobrepeso que possivelmente por mérito meu e por alguns con-

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selhos que me pediram perderam peso melhorando o seu índice de massa corporal.

6.2. Realização

Na minha opinião, a realização pessoal está na base de tudo o que fa- zemos, e o nosso sucesso é a base dessa mesma realização. Durante o meu enquadramento biográfico, disse que o retorno que recebemos por algo que tem o nosso toque é a melhor sensação do mundo. E, na minha opinião, essa é a sensação que qualquer professor quer ter.

Na vida nem tudo é um mar de rosas. E, durante este ano de estágio os primeiros dois meses foram por momentos angustiantes. Primeiro pela falta de atividade pois apenas estava dedicado a cem por cento à escola. Segundo porque tinha delineado objetivos pessoais focados unicamente em terminar o estágio e o mestrado, para poder seguir o meu coração e rumar para fora de Portugal. O tempo passava demasiado lentamente. Essa falta de atividade jun- to com a irreverencia dos alunos a quererem testar o novo professor, levou a que tivesse alguma dificuldade no controlo da turma.

No fim do mês de Outubro após uma ausência de Portugal durante cinco dias a minha vida mudou. Tive de refazer todos os meus objetivos e ponderar todas as opções a tomar, após ter passado por alguns problemas pessoais. Cheguei a por em causa a minha continuidade no mestrado. Mas com o acon- selhamento das pessoas certas, com o apoio tanto da Professora Orientadora como do Professor Cooperante, eu renasci. Criei novos objetivos, voltei a ser treinador e o Ricardo líder, aquele que decidiu ser Professor de Educação Físi- ca estava de volta.

Para controlar a turma usei unicamente os sábios aconselhamentos do Professor Cooperante. Este aconselhou-me a lecionar um menor número de conteúdos mas sim a focar-me em manter a turma na tarefa, envolvida na aula e sobretudo que sentisse a minha presença, a minha liderança.

O regresso aos treinos fez como que a minha colocação de voz voltas- se, pois estava um pouco amorfa devido à falta de atividade. Com isso os alu-

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nos começaram a sentir que havia um ser que lhes transmitia alguma seguran- ça e saber. A partir desse momento comecei a obter um rendimento dos alunos muito superior. Isso traduziu-se sobretudo na evolução de vários alunos no Basquetebol, que era a modalidade que estava a lecionar maioritariamente na- quela fase do plano anual. Segundo Rosado e Mesquita (2009, p. 70) “é in-

questionável o papel exercido pela comunicação na orientação do processo ensino-aprendizagem, qualquer que seja o contexto em que se estabelece. A transmissão de informação é uma das competências fundamentais dos profes- sores e treinadores, sendo evidente a sua importância na aprendizagem”. Este

foi o início dos meus sucessos como Professor de Educação Física desta tur- ma.

Tomado o controlo da turma, iniciei uma nova fase, que denominei de “a autonomia controlada”. Numa fase inicial demonstrei uma sequência de exercí- cios de ativação geral, para que estes decorassem, pois aleatoriamente seria escolhido um aluno para liderar essa parte inicial da aula. Como adolescentes à procura de formação de identidade gostaram dessa responsabilidade e auto- nomia, e cumpriam as tarefas. Aqueles que não cumpriam teriam tarefas extra durante a aula, tais como a recolha de material ou aumento da carga no traba- lho de força. Esta mudança permitiu-me ganhar tempo para a fase fundamental da aula, montando os exercícios enquanto era realizada a ativação geral.

6.3. O Feedback Pedagógico

O feedback é uma ferramenta de extrema importância na vida de um professor, tanto pela sua eficácia pedagógica como pelo processo de comuni- cação como o aluno.

Segundo Metzler (2000), “uma das funções de instrução mais importan-

tes do professor é proporcionar aos alunos informações sobre a adequação do desempenho em tarefas concluídas. Esta é uma informação chamada de feedback, e é crítica para o processo de aprendizagem” (p. 102)

Uma das coisas que aprendi no treino foi importância do feedback peda- gógico no desenvolvimento, neste caso, do jogador. Segundo Fishman e Tobey

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(1978), o feedback pedagógico “é o comportamento de reação do professor à

resposta motora do aluno, tendo por objetivo modificar essa resposta, no senti- do da aquisição ou realização de uma atividade”.

A minha formação como atleta e, como estudante, abarcou uma larga variedade de modalidades. Por isso, não senti muitas dificuldades na deteção dos erros e, por conseguinte na sua correção. No futebol, modalidade em que me considero especialista tive muito mais facilidades em todos os aspetos, desde o feedback à correção e à demonstração.

6.4. A realidade pós planeamento

“O ensino é criado duas vezes: primeiro na conceção e depois na reali- dade. O ensino real tem naturalmente mais facetas do que aquelas que po- dem ser contempladas no seu planeamento e preparação. No processo real de ensino existe o inesperado, sendo frequentemente necessário uma rápi- da reação situativa” (Bento, 2003, p. 16).

Esta é uma grande realidade para quem ensina e para quem treina. No momento da planificação da aula podemos ter em mente mil e uma coisas, po- demos pensar em todos os pormenores, e até ter vários planos, mas depois na “hora h” tudo pode mudar. E, isto por razões várias, desde as condições atmos- féricas à falta de material, até à súbita doença de grande parte da turma.

A capacidade de adaptação do professor e de reajuste à nova situação é importantíssima para o desenvolvimento e crescimento como professor.

Recordo-me de um episódio, que se passou nos primeiros dois meses de aulas, em que numa aula de 45 minutos, com as equipas todas planeadas, cheguei ao pavilhão e por alguma razão eu tinha todo o pavilhão para dar a aula. Na minha mente isso era fenomenal pois poderia ter toda a turma na tare- fa e ia dando as explicações campo a campo. Mas a realidade foi outra. A tur- ma, devido a ser ainda uma fase em que me estava a testar, usou e abusou do facto de estar mais dispersa e por momentos penso que quase perdi o contro- lo. Lembro-me que fiquei sem reação. Na minha cabeça só pensava em dar a aula por terminada e em marcar uma falta disciplinar coletiva. Mas penso que

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no fim tomei a decisão mais correta. Sentei a turma, chamei-os à razão, mos- trei-lhes que havia uma hierarquia a cumprir e subi ao meu trono de professor e lembrei-lhes quem ditava as leis. Essa, considero que tenha sido a pior aula de todo um ano de estágio, e por curiosidade antecedeu essa minha ausência do país que mudou a minha vida. Neste episódio eu não soube adaptar-me nem reajustar as coisas de forma a nunca perder o controlo.

Em contraste, por várias outras razões, e em outra fase do ano de está- gio tive de reajustar completamente o que estava previamente planeado e não tive qualquer problema. Desde aulas de atletismo que tiveram de ser dadas no meu terço de pavilhão porque as previsões meteorológicas não me permitiram usar o exterior como planeado, à simples falta de material.

Mesmo tendo em conta o planeado por vezes temos de refletir na hora se o que foi feito estará adaptado ao momento. Por vezes fui obrigado a retro- ceder no desenvolvimento da matéria a lecionar porque era um passo demasi- ado largo para a capacidade de alguns dos alunos. Devido à minha capacidade crítica consegui reajustar a situação de forma a tornar a aprendizagem dos alunos mais eficaz.

6.5. O Papel da Reflexão

Todas as tarefas que se realiza na vida ou que se manda realizar ne- cessitam de uma reflexão final. Na minha opinião, é fundamental apontar o que correu bem, o que correu mal, como melhorar, entre outros aspetos.

Segundo Cunha (2008, p. 74) “o educador profissional (professor) de-

fronta-se, na sua prática pedagógica, com situações complexas, instáveis e únicas, que se definem, entre outros aspetos, pela especificidade dos locais, dos agentes interventivos e das culturas. Esta diversidade e complexidade exige do professor um conhecimento científico, técnico, rigoroso, profundo e uma capacidade de questionamento, de análise, de reflexão e de resolução de problemas, impondo-se necessariamente, um novo conceito de professor – o professor reflexivo”

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No meu desenvolvimento como treinador e como professor a reflexão teve um papel importantíssimo. Talvez devido à minha educação e experiência de vida fui obrigado a nunca me dar por satisfeito com nada que conquistara, pois sempre faltava algo ou poderia ser melhor. Isso talvez se tenha devido ao

feedback que recebia em casa sobretudo por parte da minha mãe, que muitas

vezes me dizia: “não fizeste mais do que a tua obrigação”. Se por um lado me tornou ambicioso e me fez ganhar a ambição de ser melhor a cada dia, penso que por vezes não encarei bem as situações de derrota. Porém nunca desisti, e insisti em ser sempre melhor.

A reflexão ajudou-me imenso a melhorar toda a minha prática e não considero qualquer minuto passado a refletir como tempo perdido, pois só as- sim me tornei no professor que sou hoje.

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