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5.1 Alguns princípios do nosso modelo de jogo

7 PLANEAMENTO DA EPÓCA DESPORTIVA

A necessidade de se ter uma visão clara acerca do futuro implica a existência de um processo de planeamento formalizado para o futuro que se aspira (Pires, 2005). Neste sentido, concordamos com Garganta (1991), que planear implica descrever e organizar previamente as condições em que o treino irá decorrer, os objetivos a atingir, bem como a metodologia a aplicar. Segundo Castelo (2004), a planificação diz respeito ao estabelecimento de linhas orientadoras gerais e específicas da trajetória da organização da equipa no futuro próximo. O planeamento permite, ao treinador controlar o trabalho desenvolvido assim como avaliar os pontos fracos e fortes da sua intervenção (Garganta, 1991). Enquanto parte integrante das tarefas do treinador, o planeamento assume-se como uma necessidade e uma ajuda para o seu trabalho, constituindo-se como uma fase fulcral de toda a organização do processo de treino. Assim, o planeamento visa o desenvolvimento qualitativo quer dos jogadores quer da equipa baseado num programa de atividades que deve exigir do treinador reflexão segundo certos princípios e a preparação metodológica do mesmo, assim como a sua capacidade de prever acontecimentos e de compreender os efeitos dos exercícios. (Teodorescu, 1984).

Assim sendo, o planeamento assume para nós uma especial importância no processo de treino, pois permite-nos ter um pensamento organizado sobre o que pretendemos, como pretendemos e quando pretendemos, tendo em conta o contexto no qual estamos inseridos (Garganta, 1991). No planeamento para a época desportiva, foi nossa principal intenção introduzir e assimilar os princípios específicos do jogo, sendo eles a base de toda a organização do jogo nos quatro momentos (organização ofensiva, transição ataque-defesa, organização defensiva e organização defensiva). Acreditamos que se os jogadores souberem aplicar os princípios específicos do jogo em qualquer momento, conseguirão assimilar mais facilmente os princípios que cada treinador tem no seu modelo de jogo. Relativamente à nossa forma de jogar, adotamos o aumento da complexidade na evolução dos treinos como ferramenta necessária à obtenção do nosso modelo de jogo através da configuração da interação dos jogadores entre várias escalas (sectorial, intersectorial e coletiva) como salienta Castelo (2004), obrigando os jogadores a estarem em constante assimilação.

Assim, se um exercício se torna básico, temos de o reestruturar de maneira a que os jogadores estejam numa evolução permanente para que consigam ter comportamentos cada vez mais complexos (Faria 2002). Mas, para tal, como afirma Campos (2008), o aumento da complexidade dos princípios só tem sentido quando conhecemos bem o jogar e percebemos o que é mais complexo, tendo em conta os princípios do nosso modelo de jogo. Pretendíamos no treino trabalhar um determinado momento do jogo nas diferentes escalas. Como a transição defesa-ataque está ligada à organização defensiva, a transição ataque-defesa também está intimamente ligada à organização ofensiva. Neste sentido, sempre que pretendíamos trabalhar a organização ofensiva, também estávamos a trabalhar a transição ataque-defesa, poes uma não existe sem a outra como refere Campos (2008), quando afirma que os momentos do jogo devem ser potenciados numa base de entendimento integral do jogo.

No que toca à gestão do espaço, criamos uma alternância entre exercícios construídos em espaços grandes e exercícios construídos em espaços reduzidos. Nos exercícios em espaços grandes pretendíamos privilegiar os princípios do nosso modelo de jogo num plano macro-tático, evidenciando os momentos do jogo em diferentes escalas. Nos exercícios construídos em espaços reduzidos, pretendíamos trabalhar os princípios específicos do jogo, especialmente aqueles que fazem parte do centro do jogo: no ataque (penetração, cobertura ofensiva, mobilidade): na defesa (contenção, cobertura defensiva; equilíbrio). Desta forma, poderemos trabalhar diferentes princípios em diferentes espaços.

Para cada unidade de treino estabelecemos objetivos gerais, traduzindo a grosso modo aquilo que pretendíamos trabalhar no treino. Após a definição de objetivos gerais definimos objetivos específicos, que traduziram o que pretendíamos trabalhar em cada exercício, indo de em conta ao objetivo geral. Foi do nosso interesse criar nos treinos um ambiente positivo de aprendizagem, onde os jogadores conseguissem assimilar a informação transmitida através de varias estratégias que passaram por: 1) evitar a construção de mais de três exercícios por treino, evitando assim o excesso de informação transmitida. 2) O princípio da complexidade crescente, princípio da gradualidade e princípio da continuidade foram respeitados em todas as unidades de treino. È de salientar que o princípio da continuidade foi muito importante no nosso planeamento por duas razões especiais:

Devido à sequencialidade dos exercícios, sendo que aquilo que os jogadores aprenderam no exercício anterior continua a ser trabalhado no exercício seguinte permitiu, por um lado, os jogadores perceberem melhor o que pretendíamos no exercício seguinte, pois percebendo a primeiro exercício, perceberiam o segundo e o terceiro pela semelhança entre eles, facilitando assim a aprendizagem. Por outro lado, permitiu-nos ter mais tempo útil de treino devido ao menor tempo em inatividade na passagem de um para outro exercício. Caso contrario, teríamos que perder mais tempo na construção de novos exercícios com diferentes estruturas e perderíamos mais tempo também na sua explicação aos jogadores, principalmente no momento da pré-instrução. Tendo em conta que o nosso processo de treino tem por base a componente tática, pretendíamos que o treino tivesse um grande volume de capacidades cognitivas, procurando que os treinos fossem intensos e competitivos onde os jogadores estivessem constantemente concentrados e, qualquer tempo de inatividade prolongado poderia levar os jogadores à desconcentração.

Durante os treinos procuramos que a nossa intervenção fosse concisa e objetiva em todos os momentos (pré-instrução, durante e após) dos exercícios. Deste modo recorremos bastante ao feedback interrogativo que podia ser direcionando a um jogador, grupo ou à equipa por completo, consoante o contexto da situação. Contudo, o feedback individual foi o mais valorizado porque foi aquele que nos permitiu ganhar mais empatia com os jogadores.

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