• Nenhum resultado encontrado

7.2 Microciclo padrão

8 REFLEXAO DA ÉPOCA DESPORTIVA

O trabalho desenvolvido durante uma época desportiva ao serviço dos infantis do Moreirense FC, foi uma experiência que ajudou-nos a crescer pessoalmente e profissionalmente. Ao longo do estágio deparamo-nos com algumas dificuldades a vários níveis, condicionando o bom desempenho do nosso trabalho e ao mesmo tempo permitiu-nos ganhar certas habilidades essenciais de um treinador. A primeira barreira que encontramos foi a falta de à vontade na comunicação com os jogadores, uma vez que nem sempre foi fácil encontrar vocabulário apropriado para a faixa etária em questão. Segundo Mesquita (1998), “ Treinar bem é o resultado de comunicações eficientes”, sendo que treino após treino fomos conseguindo adaptarmos a nossa linguagem à linguagem destes jovens jogadores.

A falta de recursos materiais também foi uma entrave no nosso caminho. Deparamo-nos com material insuficiente principalmente como o número de balizas e o número de bolas, o que achamos necessário e que nos condicionou no processo de treino. Para além disto, à quarta-feira tivemos que dividir o campo com a equipa Iniciados B, o que fez com que ficássemos com o espaço limitado não permitindo, em muitas situações, trabalhar aspetos que precisamos para a evolução dos jogadores e da equipa. O elevado número de jogadores foi outro fator que nos causou condicionamentos na qualidade de trabalho. Tratando-se de futebol 7, a equipa era constituída por 24 jogadores. Este facto fez com tivéssemos dificuldades na organização e gestão dos treinos e, alem disso, tivemos uma intervenção de qualidade dificultada devido a uma menor ocorrência de situações pertinentes do nosso jogar que merecem a sua atenção e intervenção, além de que no processo ensino-aprendizagem apesar de ser importante o desenvolvimento motor e cognitivo também é importante o desenvolvimento das relações afetivas entre treinador e jogadores.

Por último, a cedência de alguns dos nossos jogadores para realizarem jogos pelos infantis A e B dos respetivos campeonatos, levou a que a nossa equipa ficasse desfigurada sem rotinas nos jogos nossos jogos. Consequentemente, esses jogadores vivenciaram comportamentos que nada têm a ver com a nossa forma de jogar quando faziam jogos pelas outras equipas, influenciando assim na prestação em futuros jogos faziam pela nossa equipa.

Tendo em conta todos estes aspetos, fomos forçados a arranjar estratégias na tentativa de superar o que faltava, o que nem sempre foi fácil. Sentimos que gerir um plantel desequilibrado levou-nos a fazer constantes adaptações, o que foi negativo durante o processo de treino.

Neste ponto, fizemos ainda uma análise e reflexão remetente aos anexos 2,3,6 e 7, sendo que estes merecem especial atenção, pois eles mostram de uma forma clara, embora subjetiva, da qualidade do nosso trabalho ao longo de uma época desportiva.

Assim referente ao anexo 2, verificamos que na fase inicial da época desportiva, a nível das capacidades individuais, de um modo geral, os jogadores apresentavam uma boa relação com bola. No que toca às capacidades coordenativas e físicas, os jogadores apresentavam uma razoável coordenação motora e uma fraca capacidade física (resistência, força, velocidade). A nível das capacidades sociais, os jogadores denotavam de um forte fairplay, porém a nível psicológico uma pobre capacidade de concentração e empenho. A nível dos princípios específicos ofensivos e defensivos do jogo, a maioria dos jogadores realizavam uma contenção deficiente, entrando de primeira sobre o portador da bola devido a uma grande imprudência em querer conquistar a bola, fazendo com que fossem facilmente ultrapassados pelo adversário. Os jogadores embora executassem a cobertura defensiva, não a realizavam de forma consciente, ficando a uma larga distância do 1º defesa (contenção) e com um posicionamento desfasado, não estando colocados do lado que converge para o corredor central de modo a marcar o espaço de jogo a ser explorado pelo adversário com a posse de bola. No que toca ao equilíbrio, denotava-se as mesmas lacunas que aconteciam na cobertura defensiva. No que concerne às ações dos jogadores no processo ofensivo, no princípio de penetração, atacavam o espaço vazio e baliza adversária com muito pouca objetividade, demorando muito tempo a tomarem uma decisão acertada, fator importante na nossa forma de jogar. Enquanto isso, a cobertura ofensiva demorava também muito tempo aparecer ao 1º atacante (penetração), de modo a apoiar este jogador na manutenção da posse de bola.

A mobilidade foi de todos os princípios aquele que os jogadores menos dominavam, pois tinham a tendência de ficarem imoveis no ataque após executarem um passe para um colega de equipa, tendo pouca noção de ataque na tentativa de criar linhas de passe ao seu colega portador da bola e ocupar espaços livres e mais ofensivos o quanto possível.

A nível das capacidades individuais, no final do estágio, podemos verificar que os jogadores apresentavam melhorias a todos os níveis, salientando que os jogadores que mais evoluíram foram aqueles que apresentavam mais tempo total de treino e de jogo face a outros jogadores que tiveram menos tempo total de treino e jogo. Esses dados de tempo total de treino e de jogo encontram-se no anexo 6. Deste modo, as capacidades técnicas como a condução de bola, passe, receção e remate foram as melhorias mais evidentes. A finta/drible, proteção da bola, desarme, cruzamentos, marcação de faltas, marcação de penaltis e lançamentos melhoraram ligeiramente. Nas capacidades físicas, também houve melhorias notáveis principalmente na resistência e na força. Nas capacidades psicossociais observamos que os jogadores na generalidade adquiriram bons valores sociais. O reconhecimento da evolução dos jogadores no campo psicológico não foi generalizado sendo que em casos particulares os jogadores no final denotavam de uma melhor concentração e auto-confiança. Nos princípios específicos do jogo, conseguimos com que os jogadores melhorassem as suas capacidades táticas, ficando conscientes de “quando”, “onde” e “como” executa-las numa determinada situação do jogo. Contudo, o principio de mobilidade foi o menos assimilado pela maioria dos jogadores, pois é mais fácil atacar com bola do que sem bola. O 3º jogador atacante não se desmarcava convenientemente para solicitar a bola no espaço vazio.

No que respeita ao anexo 3, verificamos que as capacidades coletivas da equipa, no processo de organização ofensiva apresentava muitas lacunas na ocupação racional do espaço e, consequentemente apresentava uma qualidade muito baixa na circulação de bola. Relativamente ao processo de organização defensiva, a equipa também apresentava muitas fragilidades defensivas, não fechando os espaços vitais do jogo e demorava muito tempo à perda da bola. Além disso, como a equipa defendia homem-a- homem, saberíamos que iriamos ter um longo trabalho pela frente, na tentativa dos jogadores assimilarem novos princípios até se tornarem hábitos e esquecerem os princípios que nada tinham a ver com a nossa forma de jogar.

No que toca às transições defesa- ataque, a equipa apresentava uma razoável atitude ao ganho da bola, tentando atacar a baliza adversária, embora de uma forma mais individual do que coletiva. Nas transições ataque-defesa, a equipa tinha a tendência de não reagir rapidamente à perda da posse de bola, e quando faziam a pressão ao homem da bola, faziam-no de uma forma anárquica. Neste sentido, despendemos bastante tempo na introdução e assimilação dos princípios referentes à ocupação racional do espaço, ou seja, insistimos bastante no posicionamento dos jogadores em momento de organização ofensiva e defensiva e respetivas transições.

Chegando ao fim da época, a nível das capacidades coletivas, podemos atribuir algumas características à equipa que se traduzem na aprendizagem dos princípios da nossa forma de jogar. Em organização ofensiva, a equipa privilegiava a posse de bola, reconhecendo qual o momento que deveria jogar em profundidade e chegar rapidamente à baliza adversária. A equipa ficou mais consciente no instante que teria que dar largura e profundidade ao jogo, reconhecendo melhor os espaços para onde teria que circular a bola. No que respeita ao momento de organização defensiva, a equipa reconheceu que devia defender com os jogadores próximos uns dos outros, privilegiando a defesa à zona. As basculações da equipa em função da zona da bola foi um aspeto que teve grande melhoramento, bem como a pressão agressiva sobre o portador da bola, obrigando sempre o adversário com bola a errar.

Referente ao anexo 7, o calendário competitivo constatou de 26 jogos e, por isso, cada jogo foi um momento de reflexão e aprendizagem. No período inicial da época insistimos muito com os jogadores relativamente à concentração e empenho que deveriam ter em todos os treinos e jogos, pois estes dois aspetos são fundamentais para a aquisição das capacidades táticas que pretendíamos que a equipa assimilasse. Na 1ª volta do campeonato tivemos 6 derrotas, 1 empate e 5 vitórias. Os primeiros cinco jogos foram de grande instabilidade, sendo um momento de adaptação, precedendo a estes jogos um longo período positivo. O primeiro jogo que fizemos foi contra uma equipa muito difícil, o que deu para ver as principais fragilidades e qualidades que a equipa apresentava em todos os momentos. Essas fraquezas foram desaparecendo logo nas semanas seguintes, melhorando na ocupação racional do espaço e, consequentemente na melhora da circulação de bola que é privilegiada na nossa forma de jogar, dando impressões que se estavam a tornar uma equipa, com um espirito de equipa a crescer de

Na 2ª volta do campeonato foi possível verificar que estávamos no caminho certo na concretização dos objetivos estalecidos para a época desportiva. Nesta última fase tivemos apenas 3 derrotas, 3 empates e 8 vitórias, comparativamente à 1ª volta. No final do campeonato, verificamos que alguns princípios da nossa forma de jogar foram aprendidos pelos jogadores e que outros nem por isso, devido a hábitos antigos que estão enraizados no subconsciente dos jogadores e, por isso, muito difíceis de os perder. Consideramos que 28 semanas é um período curto para criar hábitos novos e, por conseguinte, vermos a nossa equipa jogar da forma como idealizamos o jogo, num tao curto espaço de tempo.

Salientamos que o melhoramento das capacidades individuais e coletivas deveu- se a um processo de treino planeado e consciencializado, tentando não deixar nada ao acaso. Isso foi possível através do controlo do processo de treino a vários níveis e sua posterior análise e reflexão.

Documentos relacionados