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2. PLANEJAMENTO ENERGÉTICO GOVERNAMENTAL

2.3.4 Planejamento Energético no Brasil: forma de atuação

Em resumo, o modelo institucional do Setor Elétrico Brasileiro, vigente desde 2004, tem como principais objetivos: i) a garantia à segurança de suprimento de energia elétrica; ii) a promoção da modicidade tarifária por meio da contratação eficiente de energia para os consumidores regulados; iii) a promoção da inserção social no Setor Elétrico, em particular pelos programas de universalização de atendimento.

Em 2004, foram aprovadas as Leis nº. 10.847 e 10.848, que instituíram as novas bases regulatórias e institucionais para o setor elétrico. O novo marco teve como incumbência a reorganização das atividades de planejamento, reestruturando

institucionalmente o setor, e também a regulação sobre o processo de comercialização da energia no mercado cativo, buscando ajustar a política setorial aos objetivos de modicidade tarifária, visando a um maior incentivo aos investimentos privados e de segurança de abastecimento (AGUIAR, 2007).

Prevê como ferramentas de expansão do sistema a realização de leilões para contratação da energia, inserindo novos empreendimentos e atualizando/configurando a matriz energética brasileira de acordo com a ocorrência de cada hasta. Foram estabelecidos no documento os seguintes tipos de leilões: leilão de contratação de nova geração, de contratação de geração existente e de contratação de ajuste. Dentro dessas três categorias já foram realizados nove tipos de leilões6:

 De Venda: visou a tornar disponíveis aos agentes distribuidores e comercializadores os lotes de energia ofertados por empresas geradoras federais, estaduais e privadas, assegurando-se igualdade de acesso aos interessados;

 De Fontes Alternativas: foi instituído com o objetivo de atender ao crescimento do mercado no ambiente regulado e aumentar a participação de fontes renováveis – eólica, biomassa e energia proveniente de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) – na matriz energética brasileira;

 De Excedentes: objetivou a venda dos excedentes de energia elétrica das concessionárias e autorizadas de geração decorrentes da liberação dos contratos iniciais, bem como os montantes estabelecidos nas Resoluções Aneel nº 267, 450 e 451, todas de 1998, compreendidos como energia de geração própria;

 Estruturantes: referem-se a empreendimentos que tenham prioridade de licitação e implantação, tendo em vista seu caráter estratégico e o interesse público. Buscam assegurar a otimização do binômio modicidade tarifária e confiabilidade do sistema elétrico, bem como garantir o atendimento à demanda nacional de energia elétrica, considerando o planejamento de longo, médio e curto prazos;

 De Energia Reserva: buscam a contratação da energia de reserva, foi pensado como forma de elevar a segurança no fornecimento de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN), com energia proveniente de usinas especialmente contratadas para esta finalidade – seja de novos empreendimentos de geração, seja de empreendimentos existentes. Em 2014, foi lançado um edital dentro dessa

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modalidade, que pela primeira vez incluía a fonte de energia solar e de resíduos sólidos como opções de geração;

 De Energia Nova: objetiva atender ao aumento de carga das distribuidoras. Neste caso, são vendidas e contratadas energias de usinas que ainda serão construídas. Este leilão pode ser de dois tipos: A-5 (usinas que entram em operação comercial em até cinco anos) e A-3 (em até três anos);

 De Energia Existente: foi criado para contratar energia gerada por usinas já construídas e que estejam em operação, cujos investimentos já foram amortizados e, portanto, possuem um custo mais baixo;

 De Compra: foram realizados nos anos 2003 e 2004. Sua implantação deu-se em virtude da Lei nº 9.648/1998, que estabeleceu a liberação do volume de energia atrelado aos contratos iniciais à proporção de 25% ao ano, considerando o montante contratado em 2002. Distribuidores e comercializadores puderam, então, comprar energia dos geradores, produtores independentes e comercializadores/distribuidores que possuíam sobras contratuais;

 De Ajuste: visa a adequar a contratação de energia pelas distribuidoras, tratando eventuais desvios oriundos da diferença entre as previsões feitas pelas distribuidoras em leilões anteriores e o comportamento de seu mercado. Como resultado desse leilão, são firmados contratos de curta duração (de três meses a dois anos).

No processo de expansão do parque gerador e das instalações de transmissão, os agentes privados e públicos decidem o montante de energia elétrica a contratar e os investimentos que serão necessários a partir da participação em leilões de usinas geradoras e de empreendimentos de transmissão.

Dessa forma, nesse processo, são os agentes de distribuição que decidem e se comprometem a pagar, por meio de contratos resultantes dos leilões, montantes de energia elétrica provenientes de novas instalações de geração, a serem entregues a partir do terceiro ou quinto ano futuro7.

Em texto que faz uma avaliação crítica do atual modelo institucional do Setor Elétrico Brasileiro (2010), o pesquisador Sergio Valdir Bajay analisa seis questões que

7 Esses leilões estão estabelecidos na legislação nacional (Lei nº 10.848 de 15 de março de 2004), em que

foram consideradas por ele como desafios no desenvolvimento da instituição do novo modelo. São eles:

(a) a dificuldade de se projetar, com uma razoável segurança, a demanda de eletricidade cinco anos à frente e se montar uma carteira de contratos bilaterais de suprimento para atender 100% desta demanda; (b) o risco do MME estipular tetos de preço irrealistas nos leilões de energia nova, na busca de modicidade tarifária; (c) a eventual incapacidade de o MME formular políticas energéticas claras e estáveis, e planos de expansão realistas; (d) a necessidade de se facilitar as negociações com os órgãos governamentais responsáveis pela regulação ambiental no País; (e) a falta de definição sobre os papéis a serem desempenhados pelas empresas estatais do setor; e (f) a garantia de autonomia e recursos financeiros para o funcionamento de uma estrutura regulatória estável (BAJAY, 2010, p. 1).

Bajay conclui que, com relação às questões levantadas acima, a implementação do novo modelo vem conseguindo obter sucesso, mesmo que se, de um lado, os objetivos almejados em sua formulação ainda não tenham sido completamente atingidos; por outro lado, os processos que foram montados visando a atingi-los estão bem encaminhados. No entanto, o autor elenca alguns desafios que têm de ser superados:

 Empresas geradoras não estão vendendo toda a sua produção potencial através dos contratos de longo prazo; além disso, as projeções da demanda de eletricidade estão s ndo “m ni u d s”, s conc ssioná i s dist ibuido s, com o obj tivo d conseguirem benefícios com relação às expectativas de preço favoráveis tanto nos i õ s d “ n i nov ”, como nos i õ s “d just ”;

 Foram observados baixos tetos de preço de energia em alguns leilões, o que afastou alguns geradores e alguns tipos de usinas;

 Os leilões organizados até agora têm atraído mais projetos de novas usinas termelétricas do que de demais fontes, caracterizando mais projetos de usinas termelétricas na matriz energética do que os que têm sido planejados nos planos do governo;

 A EPE tem encontrado problemas para obter as licenças ambientais prévias de projetos de novas usinas hidrelétricas;

 Nem o governo anterior nem o atual tiveram sucesso em equacionar os problemas estruturais recorrentes do MME, de orçamento próprio insuficiente, falta de

funcionários devidamente qualificados em diversas áreas e administração segmentada;

 Até agora tem havido pouca coordenação entre as políticas ambientais e de recursos hídricos, de um lado, e as políticas energéticas, do outro. Os efeitos práticos dessa falta de articulação governamental são dificuldades e elevados custos para se obterem licenças ambientais para usinas hidrelétricas;

 A centralização da formulação de políticas e do planejamento energético no governo federal contrasta com a descentralização existente nas áreas ambiental e de recursos hídricos, tornando acordos e ações conjuntas mais difíceis de ocorrerem;  A atual administração federal parou com as privatizações efetuadas pela

administração anterior, mas não definiu claramente os papéis a serem desempenhados pelas empresas estatais do setor elétrico, como Furnas, Chesf, Eletronorte, Eletrosul e Petrobrás;

 Os geradores privados argumentam que, sem diretrizes claras do governo, geradores estatais podem oferecer sua energia nos leilões abaixo de seus custos marginais;

 Os diferentes pontos de vista do governo e da oposição a respeito da autonomia das agências reguladoras representam uma grande fonte de incertezas para os agentes do setor elétrico (BAJAY, 2010).

Apesar da existência desses desafios, o pesquisador argumenta que todas essas questões podem ser equacionadas em curto prazo com o comprometimento do governo.

Como dito anteriormente, o processo de planejamento contempla três etapas, no novo modelo do sistema elétrico e que está vigente atualmente. Tais etapas consistem basicamente no planejamento de longo prazo, de médio prazo e no monitoramento, que já foram descritos anteriormente e que se constituem em um planejamento com uma visão ofertista do setor energético, com exceção do PNE 2030 e do PNEf, que foi inserido no planejamento em 2011.