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Planejamento Integrado de Recursos (PIR): uma sucinta definição

IV. Programas Internacionais

4. GESTÃO ENERGÉTICA DESCENTRALIZADA MUNICIPAL: EXPERIÊNCIAS

4.3.1 Planejamento Integrado de Recursos (PIR): uma sucinta definição

O PIR é o desenvolvimento combinado da oferta de eletricidade e de opções de gerenciamento do lado da demanda (DSM) para fornecer serviços de energia a custo mínimo, incluindo custos sociais e ambientais. Esse tipo de planejamento incorpora o esforço de se contabilizar o potencial de recursos em melhorias do uso de energia com o mesmo rigor empregado para se inventariar os recursos de oferta de energia. (JANNUZZI, 1997, p.7)

Segundo Jannuzzi (1997), o conceito do PIR surgiu nos Estados Unidos da América (EUA) dentro de um contexto de monopólio das companhias elétricas privadas, reguladas por agências federais e estaduais. O ativismo e a busca pela conservação de energia foram a estratégia adotada pelas agências reguladoras norte-americanas, que compeliram as companhias a adotar o PIR como forma de identificar o potencial de melhoria de eficiência energética que poderia ser obtido a custos socialmente menores do que os custos de geração.

Além disso, as agências reguladoras acabaram criando mecanismos de auto empoderamento. Segundo Hirsh (2001), pela adoção do discurso dos ambientalistas e de grupos de consumidores, os reguladores afirmaram-se como agentes poderosos, pois criaram uma demanda por serviços de monitoramento e aprovação das medidas e programas de conservação que seriam implementados a partir daquele momento (década de 1980):

As the idea of conservation gained adherents among regulators for dealing with utility system problems, it acquired further robustness. Changes in terminology i ust t th m tu tion oc ss. “ n y ici ncy” i st vo v d into “d m nd-sid m n m nt” (DSM). onsistin o cons v tion m su s, o d management, and other utility activities, DSM represented broader intellectual foundations than conservation. But even DSM metamorphosed, becoming part of least-cost nnin ”, t know s “int t d sou c nnin ”, n approach that presumed the functional equivalence of supply-side resources while explicitly considering environmental factors, public preferences, and risks (HIRSH, 2001, p. 189).

Além do PIR propor uma abordagem diferente do planejamento energético tradicional16, focando tanto no lado da demanda quanto no da oferta, para a EPE o PIR também tende a facilitar a extensão dos serviços de energia por meio da análise do custo total mínimo, contribuindo diretamente para a promoção do desenvolvimento social.

BAJAY e LEITE (2004) ressaltam ainda uma característica importante do PIR, que é o desenvolvimento de análises de riscos e incertezas mais abrangentes que ocorrem nesse método em função dos dados e informações disponíveis e coletados em sua aplicação.

Além disso, o PIR pressupõe a participação social e busca permitir e incorporar na seleção dos investimentos a ser feitos pelos agentes setoriais preocupações e prioridades dos próprios agentes, do governo, do órgão regulador, dos consumidores, de grupos ambientalistas e de outras organizações não governamentais interessadas na evolução do setor (EPE, 2005).

A abordagem do PIR difere do Planejamento Tradicional, uma vez que inclui os custos das externalidades que afetam a sociedade em sua concepção. Além disso, o PIR deve ser uma abordagem neutra, tratando as opções tanto do lado da demanda, como da oferta com a mesma importância; tal enfoque integrado entre oferta e demanda para ampliação dos serviços de energia busca a minimização dos custos totais, gerando um planejamento flexível que contempla incertezas de origens variadas e se adapta mais facilmente às mudanças do ambiente (EPE, 2005).

No entanto, ao analisar a figura abaixo, disponível na apostila de Aspectos Fundamentais do Planejamento Energético desenvolvida pela EPE (2005), é possível observar como é restrita a visão institucional governamental com relação às questões de planejamento energético, que, apesar de ser considerado um planejamento integrado,

16

A abordagem tradicional do planejamento considera basicamente apenas opções de oferta limitadas por algumas tecnologias dominantes numa perspectiva de análise de custo-benefício.

tem como resultado das ações do PIR somente o desenvolvimento de programas de eficiência energética:

Figura 3 – Processos Esquemáticos do PIR segundo a EPE.

Fonte: EPE, 2005, p. 16.

Já em 1995, Failing chamava atenção para esse fato; a análise pelo lado da demanda para os serviços energéticos é tradicionalmente focada na busca pela melhoria da eficiência energética, principalmente em prédios e equipamentos; no entanto, os padrões de consumo energéticos são também influenciados pela infraestrutura urbana, amplamente relacionada e sob o controle do governo municipal.

Com essa premissa em mente, o pesquisador apresenta o Planejamento Energético Comunitário (PEC), definido como um processo que busca integrar e endereçar questões de energia, sustentabilidade e objetivos sociais dentro do planejamento. É um conceito de planejamento que busca desenvolver uma política de influência em quatro áreas, principalmente: planejamento do uso do solo urbano; gestão do transporte; locais e projetos de construção; e uso de energias alternativas (FAILING, 1995).

Além disso, o PEC, quando desenvolvido no nível municipal, visa ao alcance de uma motivação e engajamento da comunidade local no planejamento, buscando impulsionar uma mudança política maior e balizada pela comunidade (FAILING, 1995).

O PEC é, portanto, um conceito que tem evoluído ao longo dos últimos anos, sob uma variedade de nomes. E no nível de utilidade, medidas do PEC representam opções adicionais - em ambas as opções do lado da oferta e da demanda - a ser avaliadas sob o guarda-chuva da utilidade do PIR, que envolve classificação de cada possibilidade de opções através da análise pelo lado da demanda, assim como para o lado da oferta, com base nos custos unitários (o custo unitário inclui os custos operacionais e custos de capital anualizados para ambos os lados, da oferta e da demanda, que são selecionados em ordem de menor custo, até que a demanda seja plenamente atingida pela oferta).

Apesar disso, o pesquisador aponta que o PIR e demais estratégias derivadas se mantiveram restritos de forma primária na busca pela melhoria da eficiência energética em edifícios e equipamentos, quando os padrões de consumo são influenciados pelas características espaciais de infraestrutura urbana, que, por sua vez, tem um impacto dramático sobre a sustentabilidade urbana. O autor defendia, já naquela época, a necessidade de reconhecimento da ampliação do foco de energia tradicional:

To date, the management of demand has focused primarily on efficiency improvements to buildings and equipment. Analysis has been dominated by an spatial modeling approach. Yet energy consumption patterns are not influenced by equipment choice and building design alone. At a macro level, they are influenced by the spatial characteristics of urban infrastructure. In turn, the spatial characteristics of urban infrastructure have a dramatic impact on urban sustainability. Today there is a growing recognition of the need to expand the traditional energy focus to address the question of how infrastructure impacts energy and sustainability objectives, and how policy might, in the long term, influence the shape and character of urban infrastructure (FAILING, 1995, p.1).