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Os dados provenientes desta pesquisa foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas, método que, segundo Flick (2009), tem atraído o interesse dos pesquisadores e que vem sendo bastante utilizado. Torna-se pertinente destacar a importância dessa técnica para o desenvolvimento de um estudo que visa a conhecer a percepção de pessoas acerca de determinado tema, pois, segundo o mesmo autor: “é mais provável que os pontos de vista dos sujeitos entrevistados sejam expressos em uma situação de entrevista com um planejamento aberto do que em uma entrevista padronizada ou em um questionário” (p. 143).

Ainda segundo Flick (2009), a coleta de dados verbais se constitui em uma das principais ferramentas do procedimento metodológico da pesquisa qualitativa, na qual diversas estratégias são estruturadas para cumprir com o objetivo da investigação. O autor destaca que, na situação de entrevista, torna-se oportuna a gravação das colocações orais dos entrevistados, com posterior transcrição, para que haja maior eficácia na análise e, consequentemente, nos resultados.

Nessa mesma perspectiva, para o caso das observações, apresentam-se como essenciais as anotações das interações entre pesquisador e pesquisado. Nas duas situações, o enriquecimento do contexto das declarações ou das ações de interação deve se configurar como um dos principais elementos da coleta de dados. Nesse sentido, ressalta Bardin (2011), que para a obtenção de dados por meio de entrevistas, apresenta-se como aspecto relevante a abstração do pesquisador de si mesmo e das entrevistas passadas.

Qu e Dumay (2011) também consideram que o mecanismo da entrevista se configura como um dos mais importantes meios de coleta de dados qualitativos e que ela é uma forma útil para compreensão do ponto de vista do entrevistado por parte do pesquisador. Assim, os autores abordam a relevância da cautela no planejamento e na condução da entrevista, pois esta não é um instrumento

simplista, requerendo a utilização de habilidades como escuta atenciosa e registro pormenorizado das observações. Além disso, exige do pesquisador conhecimento do tema norteador da entrevista para que possa interpelar os participantes com perguntas bem embasadas.

Quanto ao instrumento de pesquisa deste trabalho, a entrevista semiestruturada, Qu e Dumay (2011) defendem que o pesquisador precisa ter a capacidade de argumentar quanto ao uso desse método como forma de atingir a finalidade do estudo. Esses estudiosos orientam os pesquisadores a desenvolverem roteiros de entrevista consistentes e éticos, que possam ser utilizados de forma sistemática para atender às suas necessidades de investigação e que sejam capazes de provocar respostas mais consistentes.

Outra estratégia consiste na utilização de guias de entrevista que ajudem a direcionar a conversa para o ponto que interessa ao entrevistador, algo bastante salutar uma vez que esse tipo de método baseia-se na conversação humana e permite a modificação do ritmo da entrevista e da ordem dos questionamentos para que se possa aprofundar a narrativa do entrevistado de modo a conhecer melhor a percepção deste sobre o tema específico. Para Qu e Dumay (2011), o uso da forma semiestruturada, alicerçada em tópicos que devem ser compreensíveis para o entrevistado, oportuniza a obtenção do ponto de vista mais facilmente.

Outro autor que discorre sobre o tópico em questão é Rowley (2012), que publicou o estudo ‘Conducting research interviews’, no qual destaca a importância da realização de entrevistas para a realização de pesquisas qualitativas e para a condução daquelas desde a escolha do método até a análise dos dados obtidos. Inicialmente, a autora trata da relevância da utilização da entrevista como um dos meios mais importantes de levantamento de dados para abordagens qualitativas e realça a necessidade do esmero quanto ao planejamento e à realização. Isso se dá porque esse instrumento convida aquele que é alvo do estudo para, em uma situação presencial de trocas verbais, expor as próprias percepções, entendimentos, opiniões e experiências.

Em seguida, Rowley (2012) versa que as entrevistas são classificadas de acordo com o seu nível de estrutura, da mais rígida à mais flexível. Afirma que a forma semiestruturada é a mais comumente utilizada por apresentar-se de várias

maneiras e por permitir flexibilidade em sua aplicação, alternando os questionamentos dentro da ordem em que aparecem no roteiro pré-estabelecido e também devido à capacidade de adaptação ao contexto de cada situação de entrevista para melhor acomodar o entrevistado e proporcionar-lhe conforto para discorrer sobre as indagações. A autora orienta, ainda, que o guia da entrevista semiestruturada deve conter de seis a doze perguntas, podendo cada uma delas criar subdivisões para aprofundar o discurso do entrevistado. Ela também defende a utilização da entrevista no lugar do questionário pela capacidade que a primeira tem de alcançar maior profundidade em cada resposta. No tocante a como fazer para decidir o que será perguntado, o estudo indica que deve ser orientado para atender aos objetivos e para responder à pergunta da pesquisa, sendo suportado pela teoria que sustenta a investigação.

No que se refere ao tempo das entrevistas e a quantas devem ser realizadas, Rowley (2012) evidencia que depende da estratégia estabelecida para a condução do trabalho e da natureza das perguntas. Aponta que, como regra geral, doze entrevistas de aproximadamente trinta minutos atendem ao objetivo, variando para mais ou para menos de acordo com a amplitude da investigação. Entretanto, alerta o pesquisador sobre o fato de que o intuito das entrevistas é gerar dados suficientes para que se possa chegar a resultados consistentes. Dessa forma, faz-se necessário decidir cuidadosamente sobre o número de entrevistas e sobre a extensão delas para que não seja gerada uma sobrecarga de informações que impossibilite a análise e que comprometa a qualidade dos resultados e o objetivo final do trabalho.

Por último, Rowley (2012) salienta que o instrumento tem de ser organizado de tal forma que não pressione o entrevistado nem o ‘ameace’ com perguntas inapropriadas e, também, para que permita uma condução que leve naturalmente à conclusão da entrevista.

Com base no que foi exposto pela literatura estudada, o pesquisador estruturou um roteiro de pesquisa com onze perguntas, divididas em grupos, para atender aos quatro objetivos específicos do trabalho (apêndice A). Pelo fato de a pesquisa abordar o tema lobby e de poder gerar uma possível objeção em alguns dos pesquisados, optou-se por adotar a seguinte estratégia: após a primeira pergunta, foram colocadas definições do tema presentes na literatura revisada com

a finalidade de demostrar aos parlamentares qual era a real intenção do trabalho e de deixá-los mais à vontade para responderem aos demais questionamentos, dando continuidade à entrevista.

Salienta-se que uma das indagações foi retirada do roteiro pela identificação de que não agregava valor aos dados que estavam sendo coletados e por confundir e gerar resistência por parte dos pesquisados (ver apêndice A)2. Porém, uma nova questão surgiu a partir de uma colocação feita pelo primeiro entrevistado ao final de sua participação, o que provocou a curiosidade do pesquisador em conhecer a percepção dos demais sobre o tema levantado, acarretando o surgimento de uma subcategoria temática (ver subseção 4.4.4 e apêndice A).

Malhotra (2012) proporciona sustentação a uma eventual alteração do roteiro pelo fato de que o pesquisador deve estar atento aos novos insight’s e informações que surgem durante o processo da pesquisa, permitindo que se altere o curso da investigação em determinado momento para melhor elucidar pontos que sejam relevantes. Ademais, o autor considera a perspicácia de um pesquisador como sendo essencial para o desenvolvimento de uma pesquisa exploratória.

Esclarecido mais esse ponto, cabe informar que a coleta de dados ocorreu entre os meses de novembro e dezembro do ano de 2016 e que foram registrados com o auxílio de um gravador de voz. Além disso, cada entrevista teve a duração média de quinze minutos.

Faz-se importante ressaltar que foram necessárias vinte e duas visitas à Assembleia Legislativa para que fosse possível a realização da pesquisa de campo e que, em algumas delas, esperava-se em demasia pela entrevista agendada, o que sequer era garantia de ocorrência. Destaca-se que o tempo de espera nas recepções dos gabinetes variou de trinta minutos a quatro horas em cada situação de entrevista. Em outras ocasiões, o investigador conviveu com enormes obstáculos pelo fato de que, mesmo possuindo um ofício personalizado de apresentação feito pela Universidade de origem e endereçado a cada parlamentar, os chefes de gabinete informavam ter muita dificuldade para realizarem os agendamentos das entrevistas em virtude da existência de expressões como ‘Lobby’ e ‘Poder de

2 Faz-se necessário mencionar que não foi realizado o pré-teste do instrumento, uma vez que se trata

de um roteiro de entrevista semiestruturada e que o mesmo tem por característica a flexibilidade na sua elaboração e aplicação.

influência’. Mesmo sendo palavras-chave para delimitação do objeto da pesquisa, isso inibia a participação dos legisladores estaduais potiguares.

Uma percepção que se suscitou ao pesquisador, ao final de toda a coleta de dados, foi a de que a escolha de realizar a pesquisa por meio de entrevistas foi a forma que garantiu a obtenção de dados sem ‘ruídos’, ou seja, sem a necessidade de repasse de informações a/por terceiros: as informações de que se parte provêm diretamente dos próprios parlamentares.

Essas informações são necessárias, pois percebeu-se que, caso o estudo tivesse sido feito através da aplicação de questionários, muito provavelmente alguns seriam respondidos pelos assessores diretos, uma vez que a agenda dos parlamentares é muito agitada e que o tempo deles está, em geral, reservado para outras atividades. Essa observação tem como base a oferta de alguns assessores de serem eles a responderem às perguntas em lugar dos deputados. Registramos comentários como: “Essa entrevista tem que ser feita, necessariamente, com o deputado? Eu não posso falar para você como ele lida com isso, não?”; “Eu posso responder isto daqui e depois entregar a você? O deputado não terá tempo de lhe receber...”. Com efeito, cabe mencionar Malhotra (2012), que garante que a escolha da técnica de entrevista semiestruturada, por parte do investigante em estudos da natureza deste, está associada à conveniência de fazer uso de métodos menos rígidos e menos formais para auferir os dados que se deseja.

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